Mesmo sendo considerada uma novidade para a sojicultura brasileira,
a doença já possui status de ser a de maior
importância para o controle. Ela foi constatada pela
primeira vez, no Continente Americano, no Paraguai, em 5 de
março, e, em 26 de maio de 2001, já estava no
Paraná. Atualmente, é identificada em praticamente
todas as regiões produtoras de soja do País,
exceto em Roraima.
Sintomas
A grosso modo, a doença e a soja possuem algo em comum:
gostam das mesmas coisas, como chuvas bem distribuídas
e temperaturas quentes. No caso, do fungo causador da doença,
Phakopsora pachyrhizi, a temperatura ideal para a infecção
varia entre 18°C e 26,5°C. Em boas condições
para o fungo as perdas na produtividade podem
variar de 10% a 90%.
Os sintomas podem aparecer em qualquer estágio de desenvolvimento
da planta. Os primeiros sintomas são caracterizados
por minúsculos pontos (no máximo um milímetro
(mm) de diâmetro) mais escuros do que o tecido sadio
da folha, com coloração esverdeada a cinza-esverdeada,
com correspondente protuberância (urédia), no
verso da folha.
A doença pode também ser facilmente confundida
com as lesões iniciais de mancha parda (Septoria glycines)
que forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica,
que é angular e castanho-avermelhada. Em ambos os casos,
as folhas infectadas amarelam, secam e caem prematuramente.
Outras doenças com as quais a ferrugem pode ser confundida
são o crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi
pv. glycinea) e a pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis
pv. glycines). A diferenciação das doenças
é feita através da observação
das estruturas de reprodução do fungo (urédias),
no verso da folha. No caso da pústula bacteriana, há
presença de saliência, porém a mesma não
apresenta abertura. Para melhor visualização
das lesões, deve-se tomar uma folha suspeita e olhá-la
pela face superior, contra um fundo claro (o céu, por
exemplo).
Disseminação
A infecção da ferrugem é feita principalmente
pela dispersão dos uredósporos (estruturas expelidas
pelo fungo) pelo vento. Ela causa rápido amarelecimento
ou bronzeamento e queda prematura das folhas. Quanto mais
cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos
e, consequentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade.
Em casos severos, quando a doença atinge a soja na
fase de formação das vagens ou no início
da granação (enchimento dos grãos), pode
causar o aborto e a queda das vagens, resultando em até
perda total do rendimento.
Elevadas perdas de rendimento têm sido registradas na
Austrália (80%), na Índia (90%) e em Taiwan
(70%-80%). No Brasil, reduções de produtividade
de até 80% têm sido observadas, quando se comparam
áreas tratadas e não tratadas com fungicidas.
Controle
O método mais eficaz de manejo, para reduzir o risco
de danos, se faz pelo uso de cultivares de ciclo precoce e
plantio no início da época recomendada, para
evitar a maior carga de esporos do fungo que irá iniciar
a multiplicação nas primeiras semeaduras.
Uma particularidade do Phakopsora pachyrhizi é que
ele pertence a uma classe de fungos biotróficos, ou
seja, necessita do hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar.
Por isso, a sobrevivência dele, na entressafra, pode
ocorrer em cultivos de soja sob irrigação no
inverno, na região dos Cerrados (em Mato Grosso e Tocantins)
e no Nordeste (no Maranhão).
A medida funcionou em Mato Grosso, Goiás e Tocantins
e logo todas as regiões produtoras de soja do País
adotaram o vazio sanitário da soja. Sem as plantas
vivas dessa espécie, por um período de 60 a
90 dias, o fungo não resiste e acaba diminuindo a transmissão
da doença nos cultivos da safra de verão.
Tratamento
químico
O monitoramento da doença e sua identificação
nos estágios iniciais são essenciais para a
utilização eficiente do controle químico,
devendo ser realizada a vistoria frequente da lavoura. Essa
inspeção é recomendada a partir da emissão
das primeiras folhas no estágio vegetativo da planta,
uma vez que a doença pode ocorrer em qualquer um. Essa
prática deve ser intensificada, quase que diariamente,
nas semeaduras mais tardias e uma vez detectada a ferrugem
na região.
O controle com fungicidas deve ser feito após os sintomas
iniciais da doença (traços da doença).
A decisão sobre o momento ideal da aplicação
deve ter respaldo técnico e ser baseada pela presença
da ferrugem na região, pelas condições
climáticas, pela logística (disponibilidade
de equipamentos de pulverização e no tamanho
da propriedade), pela presença de outras doenças,
e, por fim, pelo custo.
É recomendada a utilização de produtos
com maior eficiência de controle. O atraso na aplicação,
após constatados os sintomas iniciais, pode acarretar
em redução de produtividade, caso a condição
climática favoreça o progresso da doença.
Resistência
Dois grupos químicos compreendem o tratamento do fungo
na lavoura: os estrobirulinas e os triazóis. Na safra
2007/2008, de acordo com o pesquisador Rafael Soares, especialista
em fitopatologia da Embrapa Soja (Londrina/PR), foram observadas
populações de fungos mais resistentes aos triazóis
em regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Em função disso, a recomendação
que nós estamos fazendo é que o produtor, nessas
regiões, faça uma mistura com os dois grupos
químicos para melhor controle da doença,
destaca.
Alguns lançamentos, para as próximas safras,
de variedades resistentes à ferrugem podem trazer algum
alívio ao produtor. É o caso da BRSGO 7560,
lançada pela Embrapa Soja em parceria com a Secretaria
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado
de Goiás (Seagro), e das outras duas, TMG 801 e 803,
desenvolvidas pela Fundação de Apoio à
Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação
MT) em conjunto com a empresa Tropical Melhoramento Genético
(TMG). Ambas cultivares não são totalmente imunes
à ferrugem e necessitam do manejo com fungicidas. A
resistência, nesse caso, é expressa na economia
em aplicações. Segundo as instituições,
se reduz em 50%. A limitação dessas variedades
também se relaciona às áreas onde possui
adaptação as plantas se restringem a
regiões do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais
e norte de São Pauto, no caso da BRSGO 7560, e no Estado
de Mato Grosso, as TMG 801 e 803. As sementes já estarão
dispostas aos produtores para a safra 2010/2011.
A
americana
Outra doença, a ferrugem americana, também está
presente no País. É causada pelo fungo Phakopsora
meibomiae que ocorre naturalmente em diversas leguminosas
desde Porto Rico, no Caribe, ao sul do Estado do Paraná
(Ponta Grossa). Identificada no Brasil, em Lavras (MG), em
1979, a doença ocorre no final da safra, em soja safrinha
(outono/inverno) e em soja guaxa, estando restrita às
áreas de clima mais ameno. Não possui importância
pelo fato de não oferecer risco à produção.
Unidos
pela luta contra a ferrugem
A criação do Consórcio Antiferrugem se
deu em função da seriedade da doença
e da necessidade de um manejo integrado, não só
do Brasil mas de países vizinhos produtores, como a
Argentina. Ações integradas, o melhor
estudo sobre a doença e a difusão desse conhecimento
foram essenciais para o trabalho do Consórcio,
declara o pesquisador Rafael Soares, que também atua
no grupo. Um dos objetivos dessa parceria é levar ao
agricultor todas as informações disponíveis
sobre a doença e capacitá-lo em manejar a doença.
Uma das ferramentas mais importantes, segundo Soares, foi
a criação do sítio de Internet do Consórcio,
o www.consorcioantiferrugem.net. Nele há disponíveis
informações sobre a doença, palestras
técnicas, os resultados das reuniões anuais
do grupo, e, ainda, um mapa que mostra o nível de infestação
no País. Informação esta que só
foi possível com o credenciamento de mais de 120 labotarórios
de identificação da ferrugem no Brasil
trabalho também desenvolvido pelo consórcio.
As medidas como o vazio sanitário e a recomendação
de misturas dos grupos químicos triazóis e estrobirulinas
para a aplicação em Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul e Goiás também saíram do Consórcio.
Na safra passada, 2008/2009, o impacto com a ferrugem não
foi tão expressivo se comparado às secas que
atingiram muitas regiões produtoras. O saldo de ocorrências
ficou em 2.884, quase 37% superior ao registrado na safra
2007/2008. Já o saldo de custo médio de aplicações
de fungicidas ficou em US$ 1,97 bilhões uma
média de US$ 43,00 por hectare.
Apoio na hora de identificar e tratar as doenças
Digilab
A tarefa de identificação de doenças
não é fácil. E o apoio para não
errar e sair do prejuízo começou com um trabalho
desenvolvido pela empresa química alemã, BASF.
Era os Mini Labs. Alguns produtores devem se lembrar de uma
van que corria os campos de soja, Brasil a fora, com um profissional
treinado para identificar a ferrugem asiática, com
o auxílio de um microscópio e um banco de imagens
da doença.
Agora, esse programa está reformulado. Ao invés
do microscópio, um pequeno aparelho, um microscópio
digital faz a leitura da folha da planta, com
capacidade de ampliação em 200 vezes. O equipamento,
associado a um programa de computador, faz o reconhecimento
da doença e já dá as informações
adequadas de tratamento. É o Digilab. Trata-se
de um serviço gratuito que a BASF oferece para ajudar
os agricultores no diagnóstico precoce de importantes
doenças de difícil visualização,
explica o gerente de Desenvolvimento de Mercado Brasil de
Proteção de Cultivos da empresa, Sérgio
Zambon. A partir do diagnóstico da doença,
são apresentados os melhores procedimentos para combater
o avanço dela e também a prevenção
para as safras futuras, destaca.
Em caso de suspeita de uma eventual infecção
na lavoura, o produtor pode recolher algumas partes da planta
de amostra e levá-las até um técnico
da BASF mais próximo. De acordo com Zambon, há
700 técnicos em treinamento pela empresa para operar
o microscópio digital portátil. Agora não
só a ferrugem asiática pode ser detectada, mas
cerca de 40 outras doenças também. Além
da soja, as culturas que podem ser observadas são do
milho e do feijão. Segundo a empresa, a previsão
é que até o final deste ano sejam inseridas
informações com as principais doenças
e pragas que afetam as lavouras de outras 15 culturas.
Aplique
Bem
Já quando o assunto é o tratamento químico
com a segurança devida, o Programa Aplique Bem, serve
de muito apoio ao produtor. A iniciativa é uma pareceria
da empresa de defensivos agrícolas, Arysta, com o Instituto
Agronômico de Campinas (IAC). Trata-se de um serviço
itinerante que orienta os produtores sobre correto uso de
defensivos e equipamentos de proteção individual
(EPIs), além de auxiliar a correta regulagem de pulverizadores,
para evitar prejuízos ao ambiente e à saúde
humana. O programa é feito em todo o País em
duas vans. Uma que fica no interior do Estado de São
Paulo e outra que circula o resto do Brasil.
São desenvolvidas aulas teóricas e práticas
dentro de uma propriedade escolhida. Os interessados se inscrevem
e participam gratuitamente. Para saber mais do programa e
como participar, entre em contato com um representante da
Arysta mais próximo, ou por e-mail: liria.hosoe@arysta.com.br.
Esse serviço existe desde 2007 e já atendeu
cerca de 5 mil produtores em diversos cultivos em todo o País.
Apoio
técnico especializado
Com o objetivo de compartilhar e difundir cada vez mais o
conhecimento tecnológico com os agricultores, para
uma produção satisfatória e com menos
impacto ao meio ambiente, técnicos de Desenvolvimento
Tecnológico da Monsanto, empresa multinacional de biotecnologia,
dá orientações a sojicultores quanto
às melhores variedades para cada região, a melhor
época para o plantio, o controle de plantas daninhas,
pragas e doenças. Essa prestação
de serviço é disponibilizada gratuitamente aos
agricultores de todo o Brasil durante o ano inteiro e se intensifica
nos períodos de safra e colheita, afirma o gerente
de Estratégia de Soja da empresa no País, Marcelo
Miguel.
Em uma primeira etapa, segundo Miguel, técnicos, como
engenheiros agrônomos, procuram os principais produtores
de soja da região e propõem a instalação
de ensaios na lavoura. Objetivo desses estudos é
identificar quais são as melhores variedades de soja
RR (variedade transgênica tolerante ao herbicida Roundup
Ready) para aquela região, além do melhor sistema
de produção. O produtor que aceita receber os
ensaios tem acompanhamento técnico para toda a lavoura
dele e recebe visitas periódicas por quatro meses,
explica.
Para ter acesso a esse serviço o produtor pode procurar
a área comercial ou técnica da empresa que estiver
mais próxima a ele, cooperativas ou revendas.
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