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FERRUGEM ASIÁTICA - A AMEAÇA CONTINUA!
rev 139 - setembro 2009

Quando a assunto é a saúde da lavoura de soja, a ferrugem asiática continua se configurando como o principal fantasma que assombra o produtor.
A notícia de uma nova doença chegara aos ouvidos dos produtores na safra de 2000/2001, mas não foi dado o devido crédito a ela. O resultado, alarmante, se deu na safra 2005/2006, com 1.358 casos de ferrugem asiática pelo País – o número representou um aumento da doença em 297% em relação à safra 2004/2005. Os grandes afetados naquela época foram o Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraná. Os dados são do Consórcio Antiferrugem, criado desde setembro de 2004, e que congrega mais de 130 entidades entre universidades, empresas, associações, cooperativas e centros de pesquisas.

Mesmo sendo considerada uma novidade para a sojicultura brasileira, a doença já possui status de ser a de maior importância para o controle. Ela foi constatada pela primeira vez, no Continente Americano, no Paraguai, em 5 de março, e, em 26 de maio de 2001, já estava no Paraná. Atualmente, é identificada em praticamente todas as regiões produtoras de soja do País, exceto em Roraima.

Sintomas

A grosso modo, a doença e a soja possuem algo em comum: gostam das mesmas coisas, como chuvas bem distribuídas e temperaturas quentes. No caso, do fungo causador da doença, Phakopsora pachyrhizi, a temperatura ideal para a infecção varia entre 18°C e 26,5°C. Em boas condições – para o fungo – as perdas na produtividade podem variar de 10% a 90%.
Os sintomas podem aparecer em qualquer estágio de desenvolvimento da planta. Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos (no máximo um milímetro (mm) de diâmetro) mais escuros do que o tecido sadio da folha, com coloração esverdeada a cinza-esverdeada, com correspondente protuberância (urédia), no verso da folha.
A doença pode também ser facilmente confundida com as lesões iniciais de mancha parda (Septoria glycines) que forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica, que é angular e castanho-avermelhada. Em ambos os casos, as folhas infectadas amarelam, secam e caem prematuramente.
Outras doenças com as quais a ferrugem pode ser confundida são o crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glycinea) e a pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines). A diferenciação das doenças é feita através da observação das estruturas de reprodução do fungo (urédias), no verso da folha. No caso da pústula bacteriana, há presença de saliência, porém a mesma não apresenta abertura. Para melhor visualização das lesões, deve-se tomar uma folha suspeita e olhá-la pela face superior, contra um fundo claro (o céu, por exemplo).

Disseminação

A infecção da ferrugem é feita principalmente pela dispersão dos uredósporos (estruturas expelidas pelo fungo) pelo vento. Ela causa rápido amarelecimento ou bronzeamento e queda prematura das folhas. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, consequentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade. Em casos severos, quando a doença atinge a soja na fase de formação das vagens ou no início da granação (enchimento dos grãos), pode causar o aborto e a queda das vagens, resultando em até perda total do rendimento.
Elevadas perdas de rendimento têm sido registradas na Austrália (80%), na Índia (90%) e em Taiwan (70%-80%). No Brasil, reduções de produtividade de até 80% têm sido observadas, quando se comparam áreas tratadas e não tratadas com fungicidas.

Controle

O método mais eficaz de manejo, para reduzir o risco de danos, se faz pelo uso de cultivares de ciclo precoce e plantio no início da época recomendada, para evitar a maior carga de esporos do fungo que irá iniciar a multiplicação nas primeiras semeaduras.
Uma particularidade do Phakopsora pachyrhizi é que ele pertence a uma classe de fungos biotróficos, ou seja, necessita do hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar. Por isso, a sobrevivência dele, na entressafra, pode ocorrer em cultivos de soja sob irrigação no inverno, na região dos Cerrados (em Mato Grosso e Tocantins) e no Nordeste (no Maranhão).
A medida funcionou em Mato Grosso, Goiás e Tocantins e logo todas as regiões produtoras de soja do País adotaram o vazio sanitário da soja. Sem as plantas vivas dessa espécie, por um período de 60 a 90 dias, o fungo não resiste e acaba diminuindo a transmissão da doença nos cultivos da safra de verão.

Tratamento químico

O monitoramento da doença e sua identificação nos estágios iniciais são essenciais para a utilização eficiente do controle químico, devendo ser realizada a vistoria frequente da lavoura. Essa inspeção é recomendada a partir da emissão das primeiras folhas no estágio vegetativo da planta, uma vez que a doença pode ocorrer em qualquer um. Essa prática deve ser intensificada, quase que diariamente, nas semeaduras mais tardias e uma vez detectada a ferrugem na região.
O controle com fungicidas deve ser feito após os sintomas iniciais da doença (traços da doença). A decisão sobre o momento ideal da aplicação deve ter respaldo técnico e ser baseada pela presença da ferrugem na região, pelas condições climáticas, pela logística (disponibilidade de equipamentos de pulverização e no tamanho da propriedade), pela presença de outras doenças, e, por fim, pelo custo.
É recomendada a utilização de produtos com maior eficiência de controle. O atraso na aplicação, após constatados os sintomas iniciais, pode acarretar em redução de produtividade, caso a condição climática favoreça o progresso da doença.

Resistência

Dois grupos químicos compreendem o tratamento do fungo na lavoura: os estrobirulinas e os triazóis. Na safra 2007/2008, de acordo com o pesquisador Rafael Soares, especialista em fitopatologia da Embrapa Soja (Londrina/PR), foram observadas populações de fungos mais resistentes aos triazóis em regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. “Em função disso, a recomendação que nós estamos fazendo é que o produtor, nessas regiões, faça uma mistura com os dois grupos químicos para melhor controle da doença”, destaca.
Alguns lançamentos, para as próximas safras, de variedades resistentes à ferrugem podem trazer algum alívio ao produtor. É o caso da BRSGO 7560, lançada pela Embrapa Soja em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás (Seagro), e das outras duas, TMG 801 e 803, desenvolvidas pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) em conjunto com a empresa Tropical Melhoramento Genético (TMG). Ambas cultivares não são totalmente imunes à ferrugem e necessitam do manejo com fungicidas. A resistência, nesse caso, é expressa na economia em aplicações. Segundo as instituições, se reduz em 50%. A limitação dessas variedades também se relaciona às áreas onde possui adaptação – as plantas se restringem a regiões do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e norte de São Pauto, no caso da BRSGO 7560, e no Estado de Mato Grosso, as TMG 801 e 803. As sementes já estarão dispostas aos produtores para a safra 2010/2011.

A americana

Outra doença, a ferrugem americana, também está presente no País. É causada pelo fungo Phakopsora meibomiae que ocorre naturalmente em diversas leguminosas desde Porto Rico, no Caribe, ao sul do Estado do Paraná (Ponta Grossa). Identificada no Brasil, em Lavras (MG), em 1979, a doença ocorre no final da safra, em soja “safrinha” (outono/inverno) e em soja guaxa, estando restrita às áreas de clima mais ameno. Não possui importância pelo fato de não oferecer risco à produção.

Unidos pela luta contra a ferrugem

A criação do Consórcio Antiferrugem se deu em função da seriedade da doença e da necessidade de um manejo integrado, não só do Brasil mas de países vizinhos produtores, como a Argentina. “Ações integradas, o melhor estudo sobre a doença e a difusão desse conhecimento foram essenciais para o trabalho do Consórcio”, declara o pesquisador Rafael Soares, que também atua no grupo. Um dos objetivos dessa parceria é levar ao agricultor todas as informações disponíveis sobre a doença e capacitá-lo em manejar a doença.
Uma das ferramentas mais importantes, segundo Soares, foi a criação do sítio de Internet do Consórcio, o www.consorcioantiferrugem.net. Nele há disponíveis informações sobre a doença, palestras técnicas, os resultados das reuniões anuais do grupo, e, ainda, um mapa que mostra o nível de infestação no País. Informação esta que só foi possível com o credenciamento de mais de 120 labotarórios de identificação da ferrugem no Brasil – trabalho também desenvolvido pelo consórcio.
As medidas como o vazio sanitário e a recomendação de misturas dos grupos químicos triazóis e estrobirulinas para a aplicação em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás também saíram do Consórcio.
Na safra passada, 2008/2009, o impacto com a ferrugem não foi tão expressivo se comparado às secas que atingiram muitas regiões produtoras. O saldo de ocorrências ficou em 2.884, quase 37% superior ao registrado na safra 2007/2008. Já o saldo de custo médio de aplicações de fungicidas ficou em US$ 1,97 bilhões – uma média de US$ 43,00 por hectare.


Apoio na hora de identificar e tratar as doenças

Digilab
A tarefa de identificação de doenças não é fácil. E o apoio para não errar e sair do prejuízo começou com um trabalho desenvolvido pela empresa química alemã, BASF. Era os Mini Labs. Alguns produtores devem se lembrar de uma van que corria os campos de soja, Brasil a fora, com um profissional treinado para identificar a ferrugem asiática, com o auxílio de um microscópio e um banco de imagens da doença.
Agora, esse programa está reformulado. Ao invés do microscópio, um pequeno aparelho, um microscópio digital faz a ‘leitura’ da folha da planta, com capacidade de ampliação em 200 vezes. O equipamento, associado a um programa de computador, faz o reconhecimento da doença e já dá as informações adequadas de tratamento. É o Digilab. “Trata-se de um serviço gratuito que a BASF oferece para ajudar os agricultores no diagnóstico precoce de importantes doenças de difícil visualização”, explica o gerente de Desenvolvimento de Mercado Brasil de Proteção de Cultivos da empresa, Sérgio Zambon. “A partir do diagnóstico da doença, são apresentados os melhores procedimentos para combater o avanço dela e também a prevenção para as safras futuras”, destaca.
Em caso de suspeita de uma eventual infecção na lavoura, o produtor pode recolher algumas partes da planta de amostra e levá-las até um técnico da BASF mais próximo. De acordo com Zambon, há 700 técnicos em treinamento pela empresa para operar o microscópio digital portátil. Agora não só a ferrugem asiática pode ser detectada, mas cerca de 40 outras doenças também. Além da soja, as culturas que podem ser observadas são do milho e do feijão. Segundo a empresa, a previsão é que até o final deste ano sejam inseridas informações com as principais doenças e pragas que afetam as lavouras de outras 15 culturas.

Aplique Bem
Já quando o assunto é o tratamento químico com a segurança devida, o Programa Aplique Bem, serve de muito apoio ao produtor. A iniciativa é uma pareceria da empresa de defensivos agrícolas, Arysta, com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Trata-se de um serviço itinerante que orienta os produtores sobre correto uso de defensivos e equipamentos de proteção individual (EPIs), além de auxiliar a correta regulagem de pulverizadores, para evitar prejuízos ao ambiente e à saúde humana. O programa é feito em todo o País em duas vans. Uma que fica no interior do Estado de São Paulo e outra que circula o resto do Brasil.
São desenvolvidas aulas teóricas e práticas dentro de uma propriedade escolhida. Os interessados se inscrevem e participam gratuitamente. Para saber mais do programa e como participar, entre em contato com um representante da Arysta mais próximo, ou por e-mail: liria.hosoe@arysta.com.br. Esse serviço existe desde 2007 e já atendeu cerca de 5 mil produtores em diversos cultivos em todo o País.

Apoio técnico especializado
Com o objetivo de compartilhar e difundir cada vez mais o conhecimento tecnológico com os agricultores, para uma produção satisfatória e com menos impacto ao meio ambiente, técnicos de Desenvolvimento Tecnológico da Monsanto, empresa multinacional de biotecnologia, dá orientações a sojicultores quanto às melhores variedades para cada região, a melhor época para o plantio, o controle de plantas daninhas, pragas e doenças. “Essa prestação de serviço é disponibilizada gratuitamente aos agricultores de todo o Brasil durante o ano inteiro e se intensifica nos períodos de safra e colheita”, afirma o gerente de Estratégia de Soja da empresa no País, Marcelo Miguel.
Em uma primeira etapa, segundo Miguel, técnicos, como engenheiros agrônomos, procuram os principais produtores de soja da região e propõem a instalação de ensaios na lavoura. “Objetivo desses estudos é identificar quais são as melhores variedades de soja RR (variedade transgênica tolerante ao herbicida Roundup Ready) para aquela região, além do melhor sistema de produção. O produtor que aceita receber os ensaios tem acompanhamento técnico para toda a lavoura dele e recebe visitas periódicas por quatro meses”, explica.
Para ter acesso a esse serviço o produtor pode procurar a área comercial ou técnica da empresa que estiver mais próxima a ele, cooperativas ou revendas.


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