Em termos de estimativas, as perdas anuais de produção
por doenças podem girar em cerca de 15% a 20%. Algumas,
entretanto, podem ocasionar perdas de quase 100%.
Nesse sentido, o estado de alerta do produtor para a ocorrência
de qualquer infecção na lavoura deve ser constante.
A prevenção e as medidas de controle logo no
início de surgimento ajudarão no desenvolvimento
da cultura e, consequentemente, nos ganhos do grão.
Devido a grande quantidade de doenças existentes
no País, e os ataques que cada uma delas faz à
planta, é difícil se observar a olho nu a incidência
de doenças na lavoura, diz o pesquisador da Embrapa
Soja, Ademir Assis Henning. Há algumas que é
possível ser observadas, mas o ideal é que o
produtor busque sempre o auxílio de uma assistência
técnica, seja de cooperativas ou particulares para
uma análise de como está a lavoura. Assim como
nós vamos ao médico para saber se estamos doentes,
o mesmo tem de ser feito com a lavoura da soja, aconselha.
Uma medida que ganhou muitos resultados no controle de doenças
foi o vazio sanitário da soja, que se caracteriza por
um período de 60 a 90 dias, sem plantas vivas dessa
espécie no campo. Essa prática foi inicialmente
implantada no inverno de 2006 na região dos cerrados,
em Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Com a garantia de
resultados, todas as regiões produtoras de soja do
País também aderiram ao vazio sanitário.
O objetivo era reduzir a quantidade de infecção
da ferrugem nos cultivos da safra de verão. Sem a planta,
os fungos causadores das ferrugens asiática e americana,
Phakopsora pachyrhizi e Phakopsora meibomiae, respectivamente,
não sobrevivem, garantindo maior sanidade à
safra subsequente.
Além do vazio, para a prevenção, ou redução
das perdas por doenças, os pesquisadores da Embrapa
Soja recomendam o uso de sementes certificadas, vindas de
lavouras sadias, beneficiadas adequadamente (livre de torrões,
restos de culturas e estruturas de patógenos) e tratadas
com fungicidas apropriados.
O controle fitossanitário, segundo os especialistas,
se baseia inicialmente em cultivares resistentes, pois se
torna a forma mais econômica e por isso
de melhor aceitação pelo agricultor. Só
que para muitas doenças ainda não há
variedades resistentes, como para o mofo branco, o tombamento
e a podridão radicular de rizoctonia. Ou ainda, o total
de cultivares resistentes é limitado, como no caso
de nematóides de galhas e nematóide de cisto.
Por isso, a convivência econômica com as doenças
depende da ação de vários fatores dentro
de um sistema integrado de manejo da cultura. Para ajudar
a melhor identificá-las, e saber o procedimento adequado
a cada uma, confira algumas das principais doenças
da lavoura atualmente.
Doenças
de final de ciclo
A mancha parda, o crestamento foliar de cercóspora
e a mancha púrpura da semente (causadas respectivamente
pelos fungos Septoria glycines e Cercospora kikuchii) podem
causar reduções de rendimento em mais de 20%.
Ambas doenças ocorrem na mesma época e, devido
às dificuldades para avaliá-las individualmente,
são consideradas como o complexo de doenças
de final de ciclo.
A incidência delas pode ser reduzida por meio da integração
do tratamento químico das sementes e a rotação
da soja com espécies não suscetíveis,
como o milho e a sucessão com o milheto. Desequilíbrios
nutricionais e baixa fertilidade do solo tornam as plantas
mais suscetíveis, podendo ocorrer severa desfolha antes
mesmo de a soja atingir a meia grana (estádio de desenvolvimento
R5.4, o qual compreende o enchimento dos grãos já
na metade). Confira na tabela Fungicidas
recomendados para controle das doenças de final de
ciclo as dosagens de cada produto. A ocorrência
de veranico (estiagem durante a estação chuvosa,
com dias de calor intenso e insolação) durante
o ciclo da cultura reduz a incidência dessas doenças,
não sendo preciso a aplicação de fungicidas.
Mancha
olho-de-rã
Identificada pela primeira vez em 1971, a doença causada
pelo fungo Cercospora sojina chegou a causar grandes prejuízos
na Região Sul e nos cerrados. Atualmente está
sob controle devido ao uso de cultivares resistentes, sendo
raramente observada. Devido à capacidade do fungo em
desenvolver raças (25 raças já foram
identificadas no Brasil), é importante que, além
do uso de cultivares resistentes, haja também a diversificação
regional de cultivares, com fontes de resistência distintas.
O uso de cultivares resistentes e o tratamento de sementes
com fungicidas, de forma sistemática, são fundamentais
para o controle da doença e para evitar a introdução
do fungo ou de uma nova raça em áreas onde a
doença não esteja presente.
Oídio
Causada pelo fungo Erysiphe diffusa sin. Microsphaera difusa,
desde a safra 1996/1997 a doença tem apresentado severa
incidência em diversas cultivares em todas as regiões
produtoras, desde os Cerrados ao Rio Grande do Sul. As lavouras
mais atingidas podem ter perdas de rendimento de até
40%.
Entre os sintomas, destaca-se a cobertura de uma fina camada
branca parecida como tufo ralo de algodão que pode
vir a cobrir toda a parte aérea da planta (essa seria
a forma visível do próprio fungo, que é
denominada cientificamente por micélio). Com o tempo,
a coloração branca passa para um castanho-acinzentado,
dando a aparência de sujeira em ambas as faces da folha.
A infecção severa compromete a fotossíntese
da planta, as folhas secam e caem prematuramente, dando à
lavoura aparência de soja dessecada por herbicida.
O método mais eficiente de controle do oídio
é através do uso de cultivares resistentes.
Nos estágios iniciais da doença indica-se usar
preferencialmente o enxofre (2 quilos de ingrediente ativo
por hectare). O momento da aplicação depende
do nível de infecção e do estágio
de desenvolvimento da soja. A aplicação deve
ser feita quando o nível de infecção
atingir de 40% a 50% da área foliar da planta como
um todo.
Mela
da soja
Ocorre principalmente em Mato Grosso, Maranhão, Tocantins
e Roraima, causando reduções médias de
produtividade de 30%, e pode chegar a 60%. A doença
se desenvolve bem em temperaturas entre 25°C e 30°C
com a umidade relativa do ar acima de 80%. Chuvas frequentes
e bem distribuídas faz tão bem à lavoura
quanto ao fungo. Toda a parte aérea da planta é
afetada, principalmente as folhas do terço médio,
surgindo inicialmente lesões encharcadas, de coloração
pardo avermelhada a roxa, evoluindo rapidamente para marrom-escura
a preta. As lesões podem ser pequenas manchas ou tomar
toda a folha, em forma de murcha ou podridão mole.
O controle é eficiente com a adoção de
medidas integradas, que envolve práticas como semeadura
direta, nutrição equilibrada das plantas (com
potássio, enxofre, zinco, cobre e manganês),
rotação de culturas não hospedeiras do
fungo, redução da população de
plantas, eliminação de plantas daninhas e palhada
de soja, e controle químico. A utilização
de cobertura morta do solo, através do sistema de semeadura
direta, é uma das medidas mais eficientes de controle.
Cancro
da haste
É
provocada pelo fungo Diaporthe phaseolorum var. meridionalis.
Uma vez introduzido na lavoura através de sementes
e de resíduos contaminados em máquinas e implementos
agrícolas, o fungo multiplica-se nas primeiras plantas
infectadas e, posteriormente, durante a entressafra, nos restos
de cultura. Iniciando com poucas plantas infectadas no primeiro
ano, a doença pode causar perda total, na safra seguinte.
O clima chuvoso também favorece a disseminação
dele.
Quanto mais cedo for a infecção da doença
e mais longo for o ciclo da cultivar, maiores serão
os danos. Em infecções tardias (após
50 dias da semeadura) e em cultivares mais resistentes, haverá
menos plantas mortas, com a maioria afetada parcialmente.
Dessa forma, o controle mais viável da doença
se baseia no uso de cultivares resistentes a ela. Também
servem de apoio o tratamento de semente, a rotação
ou a sucessão de culturas, a semeadura com maior espaçamento
entre as linhas e entre as plantas e adubação
equilibrada.
Antracnose
É
uma das principais doenças da soja nas regiões
dos Cerrados, causada pelo fungo Colletotrichum truncatum.
Sob alta umidade, ele causa apodrecimento e queda das vagens,
abertura das vagens imaturas e germinação dos
grãos em formação. O fungo também
infecta a haste e outras partes da planta, causando manchas
castanho escuras. A alta infestação da doença
nos Cerrados é atribuída à maior precipitação
e às altas temperaturas, porém, outros fatores
como o excesso de população de plantas, cultivo
contínuo da soja, estreitamento nas entrelinhas (35-43
cm), uso de sementes infectadas, infestação
e dano por percevejo e deficiências nutricionais, principalmente
de potássio, são também responsáveis
pela maior incidência da doença.
O controle, nas condições dos Cerrados, só
será possível através de rotação
de culturas, maior espaçamento entre as linhas (50
a 55 cm), população adequada (250.000 a 300.000
plantas/ha), tratamento químico de semente e manejo
adequado do solo, principalmente, com relação
à adubação potássica. Não
há fungicidas registrados no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da doença.
Seca
da haste e da vagem
É
uma das doenças mais tradicionais da soja e, anualmente,
pode ser responsável pelo descarte de grande número
de lotes de sementes. Os agentes causadores da doença
são fungos Phomopsis ssp. O maior dano dele é
observado em anos quentes e chuvosos, nos estádios
iniciais de formação das vagens e na maturação,
quando ocorre o retardamento de colheita por excesso de umidade.
Em solos deficientes em potássio, há sério
abortamento de vagens. O fungo se torna inviável com
o armazenamento das sementes sob condições de
ambiente. Já câmaras frias mantêm por mais
tempo a viabilidade do Phomopsis sojae e de Phomopsis spp.
O controle do fungo é eficiente com o tratamento de
sementes.
Mancha
alvo e podridão da raiz
Surtos severos têm sido observados, desde as zonas mais
frias do Sul às chapadas dos Cerrados. Cultivares suscetíveis
podem sofrer completa desfolha prematura, apodrecimento das
vagens e intensas manchas nas hastes. Através da infecção
na vagem, o fungo atinge a semente e, desse modo, pode ser
disseminado para outras áreas. A infecção
pode resultar em necrose, abertura das vagens e germinação
ou apodrecimento dos grãos ainda verdes. A podridão
de raiz causada pelo fungo Corynespora cassiicola é
também comum, principalmente em áreas de semeadura
direta. Todavia, severas infecções em folhas,
vagens e hastes, geralmente não estão associadas
com a correspondente podridão de raiz. A podridão
de raiz é mais frequente e está aumentando com
a expansão das áreas em semeadura direta. O
controle deve ser feito por variedades resistentes.
Podridão
parda da haste
De desenvolvimento lento, a doença mata as plantas
na fase de enchimento de grãos. O sintoma característico
é o escurecimento castanho escuro a arroxeado da medula
da planta, em toda a extensão da haste e seguida de
murcha, amarelecimento das folhas e frequente necrose entre
as nervuras das folhas. A doença não produz
sintoma externo na haste.
Observações preliminares têm indicado
a existência de cultivares comerciais com alto grau
de resistência na Região Sul. A doença
ainda não foi constatada na Região Central do
Brasil, estando restrita aos estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná. Para evitar a introdução
da doença nos Cerrados será necessária
a adoção de medidas preventivas, como o tratamento
com fungicidas das sementes introduzidas daqueles três
estados e a limpeza completa dos caminhões, máquinas
e implementos agrícolas vindos também daqueles
estados. Em áreas afetadas indica-se a rotação
com milho ou a semeadura de cultivares de soja que não
tenham sido afetadas na região.
Podridão
branca da haste ou mofo branco
É
uma das mais antigas doenças da soja, ocorrendo em
diversas regiões produtoras, porém merece preocupação
com a expansão da soja para as regiões altas
dos cerrados. Os primeiros sintomas são manchas aquosas
que evoluem para coloração castanho-clara e
logo desenvolvem abundante formação de micélio
branco e denso. Em poucos dias, o micélio transforma-se
numa massa negra e rígida, o esclerócio, que
é a forma de resistência do fungo. Uma vez na
lavoura, o patógeno é de difícil erradicação
devido à ampla gama de hospedeiros e a longa sobrevivência
dele no solo.
Como medidas de controle, recomenda-se evitar a introdução
do fungo na área utilizando semente certificada livre
do patógeno; em campos de produção de
semente, caso a doença esteja bem difundida, é
preciso condená-lo para a produção de
sementes; porém, se a doença estiver localizada
em baixadas, deixar 15 metros de bordadura colhendo apenas
o restante do campo para semente; acompanhar o beneficiamento
da semente passando pela pré-limpeza (máquinas
de ar e peneira), separador espiral (para remover os esclerócios)
e finalmente pela mesa de gravidade ou densimétrica
(acabamento). Se mesmo assim, durante o exame de pureza, no
laboratório, for constatada a presença e um
esclerócio em 500 gramas de semente, o lote deverá
ser condenado como semente. Além de todos esses cuidados,
semente proveniente de campos suspeitos, ou com a presença
de mofo branco, devem obrigatoriamente ser tratadas com mistura
de fungicidas (de contato associado aos sistêmicos)
contendo benzimidazóis (thiabendazole, carbendazin
ou tiofanato metílico). Em áreas de ocorrência
da doença, fazer a rotação ou sucessão
de soja com espécies não hospedeiras como milho,
aveia branca ou trigo; eliminar as plantas hospedeiras do
fungo; fazer adubação adequada; aumentar o espaçamento
entre linhas, reduzindo a população ao mínimo
recomendado, para evitar o acamamento e facilitar a ventilação
e a penetração dos raios ultravioletas do sol.
Nematóides
de galhas
O gênero de nematóide Meloidogyne compreende
um grande número de espécies. Entretanto, M.
incognita e M. javanica são aquelas que mais limitam
a produção de soja no Brasil. Nas áreas
onde ocorrem, observam-se manchas em reboleiras (áreas
de plantas mortas) nas lavouras, onde as plantas de soja ficam
pequenas e amareladas. As folhas das plantas afetadas apresentam
manchas cloróticas (amareladas) ou necroses entre as
nervuras. Às vezes, pode não ocorrer redução
no tamanho das plantas, mas, por ocasião do florescimento,
nota-se intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro
das plantas atacadas. Em anos de veranicos, na fase de enchimento
de grãos, os danos tendem a ser maiores. Nas raízes
das plantas atacadas observam-se galhas em números
e tamanhos variados, dependendo da suscetibilidade da cultivar
de soja e da densidade populacional do nematóide.
Para culturas de ciclo curto como a soja, todas as medidas
de controle devem ser executadas antes da semeadura. Ao constatar
que uma lavoura de soja está atacada, o produtor nada
poderá fazer naquela safra. Todas as observações
e todos os cuidados deverão estar voltados para os
próximos cultivos na área. O primeiro passo
é a identificação correta da espécie
de Meloidogyne predominante. Com essa informação
se traçará um programa de manejo adequado.
As medidas de controle mais eficientes são a rotação
ou sucessão com culturas não ou más hospedeiras
e a utilização de cultivares de soja resistentes.
Se a espécie M. incognita for a predominante, podem
ser semeados o amendoim ou milho resistente. O método
de controle mais econômico, barato e de fácil
assimilação pelos agricultores é o uso
de cultivares resistentes.
Nematóide
de cisto
É
uma das principais pragas da cultura. O agente Heterodera
glycines penetra nas raízes da planta de soja e dificulta
a absorção de água e nutrientes, o que
acarreta porte e número reduzido de vagens, clorose
e baixa produtividade. O sistema radicular (raízes)
fica reduzido e infestado por minúsculas fêmeas
do nematóide. Após ser fertilizada pelo macho,
cada fêmea produz de 100 a 250 ovos, armazenando a maior
parte deles no corpo. Quando morre, o corpo dela se transforma
numa estrutura dura, um cisto, cheio de ovos, resistente à
deterioração e à dessecação
e muito leve, que se desprende da raiz e fica no solo.
O cisto pode sobreviver no solo, na ausência de planta
hospedeira, por mais de oito anos. Assim, é praticamente
impossível eliminar o nematóide nas áreas
onde ele ocorre.
As estratégias de controle incluem a rotação
de culturas, o manejo do solo e a utilização
de cultivares de soja resistentes, sendo ideal a combinação
dos três métodos. O uso de cultivares resistentes
é o método mais econômico e eficiente,
porém, seu uso exclusivo pode provocar pressão
de seleção de raças, devido à
grande variabilidade genética do parasita.
Nematóides
das lesões radiculares
O Pratylenchus brachyurus está bem disseminado no País,
contudo, quase não existem estudos sobre os efeitos
do parasitismo dele em outras culturas. No caso da soja, especialmente
no Brasil Central, as perdas têm aumentado muito nas
últimas safras. O nematóide foi beneficiado
por mudanças no sistema de produção e
a incorporação de áreas com solos de
textura arenosa (índice maior de 85% de areia).
O comportamento das cultivares brasileiras de soja em áreas
infestadas não tem indicado a existência de materiais
resistentes ou tolerantes. Todavia, avaliações
em casa-de-vegetação têm mostrado que
as mesmas diferem muito com relação à
capacidade reprodutiva do parasito. Cultivares com fator de
reprodução (FR) menor, ou seja, que limitam
a multiplicação dos nematóides, são
as mais indicadas para semeadura em áreas infestadas.
Considerando que na maioria das lavouras afetadas, normalmente,
as populações do parasito são muito elevadas,
o uso da cultivar de soja mais resistente deve ser sempre
precedido de, pelo menos, um ano de rotação
com uma espécie vegetal não hospedeira, como
espécies de Crotalária, uma planta que serve
na adubação e fixação de nitrogênio
no solo.
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