| Já na primeira quinzena de junho, a Assocon foi a campo para ouvir novamente a opinião dos pecuaristas e o resultado apresentado mostrou uma pequena variação negativa, de 1,2% em comparação ao 1º levantamento realizado em março. No total, estima-se para 2009, um volume de 492.008 bovinos confinados. Em 2008, a situação foi parecida com estimativa de 578 mil, no início do ano, crescimento da ordem 20% para o período, fato que não se confirmou e o fechamento mostrou um crescimento de 1,1% (471.389).
Outra pesquisa (de âmbito nacional), realizada pela Scot Consultoria (incluindo investidores, pecuaristas, frigoríficos e profissionais das indústrias da carne), apontou uma tendência de queda para o confinamento em 2009. A retração em relação ao número de animais confinados em 2008 é de cerca de 10%. De 2,73 milhões de cabeças em 2008, para 2,46 milhões em 2009.
Apesar do recuo para este ano, algumas entidades e instituições estão otimistas com o mercado e com esse sistema de engorda. “Considero positivo o cenário do confinamento uma vez que mais de 90% do gado já está comprado e os preços futuros sinalizam para uma arroba na casa dos R$ 90,00. O pecuarista que se programou com a compra de boi magro e insumos no início do ano, e apostou na atividade em 2009, colherá seus frutos agora com o retorno financeiro”, justifica o diretor executivo da Assocon, Juan Lebrón.
Segundo a Scot Consultoria, o melhor indicativo de preço para o boi gordo no segundo semestre, ou mais especificamente na época da saída de gado do confinamento, é a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). “Hoje a BM&F indica preços do boi gordo para outubro e novembro próximo a R$ 87,00 a arroba (@) e R$ 88,00/@. Ou seja, em relação ao preço atual do boi gordo, é esperado um aumento entre 6% e 7% para os preços entre outubro e novembro”, aponta Maria Gabriela Tonini, veterinária e consultora da Scot Consultoria.
Mas, o otimismo, segundo eles, tem justificativa. A realidade hoje é um pouco diferente daquela vivida pelo setor no início do ano, quando vieram a público todos aqueles problemas relacionados à situação financeira de alguns grandes grupos frigoríficos do País [leia “A queda dos Frigoríficos”), resultantes da crise de crédito que culminou com a falta de pagamento aos pecuaristas, segundo conta Juan Lebrón. “Entidades representativas e órgãos do governo resolvem agir para pelo menos tentar diminuir os efeitos do problema. De lá para cá, as conversas evoluíram no sentido de criar um modelo de comercialização mais próximo da nova realidade, no qual algumas medidas emergenciais foram tomadas, como a venda do boi à vista, socorro pela liberação de verba via bancos públicos e criação de linha de crédito especial para pecuária de corte. Tudo isso tem ajudado a diminuir a sensação de desamparo por parte do setor produtivo”, explica Juan Lebrón. “A tendência futura é que as coisas continuem melhorando até se sanarem por completo. Quando isso deve de fato acontecer, é difícil dizer. Mas as coisas finalmente começaram a caminhar”, acrescenta Lebrón. “Os preços futuros sinalizam uma melhora para outubro e novembro, situação que tem estimulado o ambiente de negócios dentro do setor. Se o valor ainda não é o ideal pelo menos já possibilita ao criador pagar as contas e ainda sobra uma pequena margem. A tendência é que o setor aos poucos vá retomando seus investimentos, o que é muito positivo”, diz o diretor executivo da Assocon.
De qualquer forma, boas notícias apontam que existem outros pontos que podem favorecer o confinamento em 2009: a inclusão de novas fazendas produtoras na lista de habilitadas a exportar para a União Européia, reabertura do mercado chileno, conquista de novos mercados e a queda da oferta de boi gordo para os frigoríficos. Para se ter uma ideia da falta de matéria-prima, acredita-se que boa parte dos frigoríficos tenha operado nos últimos meses de 2008 e início de 2009, com ociosidade em torno de 50%.
Na opinião de Maria Gabriela Tonini, da Scot Consultoria, ao contrário de alguns grupos de confinadores que sofreram com os problemas de crédito, os confinamentos dos frigoríficos é uma nova realidade que vem crescendo, neste ano, e garantindo a expansão deste sistema. “Cada vez mais os frigoríficos buscam garantir parte da matéria-prima, ainda mais em épocas de pouca oferta como a atual”, afirma.
Por outro lado
Na opinião de José Vicente Ferraz, diretor da AgraFNP (empresa de consultoria e análises do agronegócio do País) sem dúvida nenhuma o sistema de confinamento cresceu muito nos últimos anos. “Só que agora há um crescimento mais limitado no número de animais”, diz. De acordo com o diretor, o pecuarista teve grandes dificuldades para adquirir bois magros e quando os comprou, os preços estavam altos. Efeito ainda do grande número de abate de matrizes o que, consequemente, acabou repercutindo no mercado do confinamento, tornando a atividade mais arriscada, devido aos custos de insumos e de produção. “Haverá maior risco de não atingir um bom preço nas vendas. E o pecuarista não tem muita escapatória. Estamos numa época que os preços não estão satisfatórios”, avalia. “Os preços alcançados para outubro (período intenso da desova dos confinamentos), chegarão em torno de R$ 86 a R$ 87, remuneração muito baixa para o pecuarista. Então, estes são os aspectos do efeito denominado ‘catraca’, ou seja, custos altos e preços de vendas baixos. Mesmo assim é muito difícil hoje deixar de confinar. Quando se tem um pecuarista que adota o sistema de confinamento, ele adianta receita, e faz a terminação em apenas dois meses (...). Neste mercado, quem sofre é sempre o pequeno e o médio pecuarista. Assim, neste cenário, você encontra alguns otimistas e outros não”, diz Ferraz.
Para o pecuarista Alberto Pereira, os preços da arroba estão ladeira a baixo. Na cidade de Bauru, no interior de São Paulo, ele mantém um confinamento para cinco mil cabeças. Hoje, tenta equilibrar e fechar as contas do orçamento. “Não temos boas perspectivas que os preços subam. O mercado que está muito desequilibrado, para recuperamos seria necessário que o sistema de crédito voltasse e as exportações voltassem a subir”, avalia o pecuarista, que há 12 anos faz o sistema de confinamento. Segundo ele, o setor de carne, dependente da oferta de financiamentos para o comércio exterior, e esse foi um dos que mais sofreu com a crise de crédito, que deixou os empréstimos mais caros e mais escassos. “Diante de tantos problemas, a cadeia da carne sofre. Houve uma redução da demanda e de oferta no mercado. Os dois caíram e o pecuarista está hoje no prejuízo”, diz.
“Santo de casa faz milagre”
Para ganharem escalas, equilibrarem a oferta, num período de entressafra e garantir a concorrência do mercado, os frigoríficos montam também seus próprios confinamentos. O Bertin e o Minerva são os exemplos de como as empresas estão investindo e fazendo milagre, em casa. São eles que também são responsáveis pelo mercado e garantem ao pecuarista, que sua produção será escoada.
Com três confinamentos, nos estados de Goiás e São Paulo, com capacidade para terminação de 197 mil bois/ano, a Bertin Agropecuária investiu pesado para garantir a demanda do mercado, com bons resultados. “Há alguns anos, na prática, não sentimos mais os efeitos da entressafra. Isso se deve ao aumento do número de confinamentos em todo o País, que totalizam aproximadamente 2,5 milhões de cabeças”, diz José Antônio Lima, gerente de compra de gado da empresa. “Na Bertin especificamente, os bovinos vindos de confinamento começam a ser abatidos no segundo semestre, sendo que em outubro (quando essa participação é maior) entre 30% e 40% do que é abatido vem de confinamento. Em algumas unidades da Bertin, esse porcentual é ainda maior: nas plantas de Lins, Mozarlândia e Ituiutuba, no mês de outubro, o abate confinado chega a 75%. Dessa forma, na entressafra, mantemos o número de abate normal, que está em 11.000 cabeças de gado por dia. Vale destacar que recentemente iniciamos as operações na nova unidade industrial da Divisão Carnes, em Diamantino. Em fase de testes operacionais, lá estamos abatendo 400 cabeças por dia, devendo chegar a 1.500 cabeças por dia até o fim do ano”, acrescenta Lima.
Quando têm animais próprios para abate, os frigoríficos ficam menos fragilizados. Porém, uma unidade de abate nunca vai produzir todo o volume necessário, uma vez que seu negócio é produzir carne. “A estratégia da Companhia continua sendo a de possuir uma menor capacidade instalada, mas com alta utilização, inclusive podendo desossar carcaças de terceiros, desta forma obtém-se maior rentabilidade nas operações em momentos de boi caro”, diz o superintendente de Relações com Investidores do Frigorífico Minerva, Eduardo Puzziello. Hoje, a empresa conta com confinamento próprio e também tem um sistema de parceria.
Queda dos Frigoríficos
Hoje, a situação vivida pela cadeia da carne em nada se compara há quase quatro meses, quando o pecuarista vivia um tempo sombrio e de incertezas. Tudo foi provocado pelo anúncio, em março, do fechamento das três unidades do Frigorífico Independência (duas em Mato Grosso e uma em Mato Grosso do Sul). Segundo a assessoria de imprensa, de uma das maiores companhias do setor de carne bovina do Brasil, na época a empresa passava por uma reestruturação e nada estava autorizado a ser divulgado na mídia. Outro que fechou as portas, logo após, foi o frigorífico Torlim. A empresa, pertencente ao grupo Garantia, em Amambaí (MS), dispensou na época 300 funcionários.
Sob esse clima, os frigoríficos divulgaram naquele mês seus balanços financeiros do quarto trimestre de 2008. Na maior parte dos casos, as dívidas aumentaram devido à valorização do dólar. “O que aconteceu naquela época afetou a cadeia, houve queda de preço acentuado no mercado interno, justamente um movimento contrário ao de 2008. Neste cenário, o pecuarista tinha um preço menor em relação ao ano passado, com o custo de produção igual ou maior”, conta Juan Lebrón.
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