campo,
como a soja, a carne bovina, o frango, o feijão, o
tomate, a uva, o suco de laranja, a borracha, a madeira, o
açúcar ou álcool, por exemplo.
Dentro desse mar de diversidade, há mercados consagrados,
como o da soja. De acordo com dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o resultado
de exportação, do período de janeiro
a maio deste ano, só com a comercialização
do grão, representou 19,7% do total de produtos ex-portados
no País esse negócio trouxe à
economia brasileira US$ 4.754.871.035,00. Mesmo diante de
um mundo em recessão, esse rendimento foi superior
em 11,71%, em relação ao mesmo período
de 2008.
Outros mercados, como o de carne (bovina, suína e de
aves) e o sucroalcooleiro também têm um prestígio
na exportação respectivamente eles correspondem
a 18,3% e 12% do montante negociado lá fora.
Mas antes de se planejar a exportação, ou mesmo
o abastecimento do mercado interno, o produtor rural precisa
se aprimorar numa área que até então
parecia estar muito distante da realidade da fazenda: a gestão
administrativa e de riscos do negócio. Fazer as contas
do que e como produzir é a ferramenta que o guiará
diante desse mercado. Hoje, o que se observa é
que o mercado está cheio de mudanças,
analisa Rosemeire dos Santos, chefe do departamento de economia
da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária
(CNA). Os negócios do País possuem muita
correlação com diversos mercados, e isso força
com que os produtores se adaptem a essa nova realidade.
O desenvolvimento da atividade agrária brasileira,
segundo Santos, teve três momentos. O primeiro, com
a chamada Revolução dos verdes,
a qual pregava uma produção menos tóxica
possível, com insumos modernos o mercado consumidor
pedia isso; o segundo momento veio com a Revolução
da biotecnologia, que contribuiria com a dinamização
dos resultados nas lavouras mais em menos área
por hectare e com maior segurança contra as pragas;
e, por fim, o terceiro momento é marcado justamente
pela gestão da propriedade, fator que busca promover
a profissionalização no campo.
Administração
dos custos
A administração familiar era, até então,
modesta, para Aluir Dalposso, produtor de grãos, como
soja e milho, e cereais como trigo e aveia, em Toledo, na
região oeste do Paraná. Agora, a conversa é
outra. A partir de um curso de gestão de custos e riscos,
o produtor pode se inteirar um pouco mais sobre ferramentas
e informações que não dava tanto valor:
o cálculo dos custos de produção e o
próprio acompanhamento do mercado das commodities.
Saber como anda o fluxo de demanda por um produto diz ao produtor
o quanto ele deve produzir, e se detém recursos para
isso, ou se consegue administrar os recursos que dispõe
para atender o mercado.
Mesmo com a iniciação de pôr no papel
todos os custos para se produzir com menos riscos, não
há conta que sobreviva sob os efeitos adversos do clima.
A safra passada de soja foi uma das piores dos nossos
históricos, declara Dalposso. A seca reduziu
drasticamente a produção. Tivemos produtividade
de aproximadamente 15 sacas por hectare (sc/ha), ou 0,9 toneladas
(t), nos primeiros plantios, e os mais tardios, 37 sc/ha.
Como média, ficamos com 32 sc/ha. De acordo com
as contas do produtor, a estimativa era de uma produtividade
de 53 sc/ha, com os custos totais de produção
por saca de R$ 41,00. Se considerarmos a produtividade
média obtida, 32 sc/ha, o custo da saca seria de R$
68.
Já com o trigo, por um lado, sobre a produtividade,
foi bom, com um rendimento de 42 sc/ha (2,52 t), e do outro,
sobre o preço, ruim. Os custos para a produtividade
alcançada, com o nível de tecnologia adotado,
para se produzir uma saca de trigo foram de R$ 37,00 e comercializamos
a R$ 28,32 por saca, ou seja, abaixo do mínimo estabelecido
pelo governo federal que era de R$ 28,80 por saca, declara.
Apesar dos resultados, as estimativas para esse ano, de acordo
com Dalposso, são as mais positivas possíveis.
Isso porque, para ser produtor rural tem de ser otimista
ao extremo, diz, bem humorado.
Campo
futuro
Aluir foi um dos 520 produtores de 10 estados do País
a receber a capacitação pelo projeto Campo
Futuro, idealizado pela CNA, e desenvolvido com a parceria
das Federações de Agricultura nos estados, da
Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), do Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São
Paulo (Cepea/USP) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA),
em Minas Gerais. O objetivo é capacitar os produtores
rurais a calcular, com metodologia adequada, os custos de
produção de suas propriedades e utilizar as
operações em mercado como instrumento de gestão
de riscos de preços da atividade. Esse projeto
é voltado para pequenos e médios produtores,
tem uma carga horária de uma semana [40 horas, ao todo],
com o horário adaptado às condições
e à realidade da região, destaca Rosemeire
dos Santos, da CNA.
Além de ser um mecanismo de capacitação,
o projeto, com o tempo, também servirá como
um sistema de informação de custo de produção
e do mercado agropecuário, a ser disponibilizado diretamente
ao produtor rural.
Para o assessor do Senar-AR/MT e especialista em operações
em Bolsa, Luis Heraldo Padilha, o curso teve aspectos distintos
apresentados aos produtores rurais dos municípios mato-grossenses
de Tangará da Serra, Sorriso e Rondonópolis,
como, por exemplo, logística, simulação
de operações na Bolsa de Valores e cálculo
de custos de produção. Mesmo com a crise
mundial e a dificuldade de fixação de preços
futuros, os participantes fazem uso imediato do aprendizado,
destaca Padilha. A partir desse passo, o produtor passa
a ter o poder de decisão, sem precisar depender de
mais ninguém.
Preço
futuro
Na opinião do sojicultor gaúcho, Júnior
Ceccon, do município de Espumoso, a cerca de 265 quilômetros
de Porto Alegre (RS), o curso, em especial, sobre a parte
fundamentada pela equipe da Bolsa de Valores, serviu como
uma ferramenta para o produtor poder fixar um preço
mesmo antes de colher é o Mercado Futuro. Nele
o produtor negocia contratos referentes a uma quantidade de
produto agropecuário, de acordo com uma especificação
de qualidade e classificação, não existindo,
necessariamente, a intenção de comercializar
produtos físicos diretamente na Bolsa, ou seja, o mercado
futuro em Bolsa é um mercado de contratos, de intenções,
no qual, na realidade, são negociados preços
futuros de uma mercadoria.
O ideal é poder fazer essa capacitação
mais vezes, ter um segundo módulo para melhor fixar
os conteúdos e discutir mais o uso e aplicação
das ferramentas de mercado, argumenta Ceccon.
A mesma necessidade de maior tempo para absorver todo o conteúdo
do Campo Futuro, foi destacada pelo pecuarista,
Marcos Henrique Barbosa, que possui uma fazenda na região
do Araguaia, em Rondonópolis (MT). Com mais horas,
significaria mais segurança na hora de se aplicar os
conceitos aprendidos pelo curso, inclusive para compreender
melhor o modelo de planilha de custos e fazer bater as contas
no final. O produtor, que está há três
anos na atividade, acredita que é a partir de iniciativas
como essa que se poderá desenvolver melhor os negócios
no campo.
Planilhas
de custos
Sem conhecimento algum, na prática, inicialmente, o
pecuarista passou a tomar conhecimento de detalhes que fazem
a diferença na hora de se organizar a atividade. Para
saber se a atividade está lucrativa é preciso
cuidar dos custos, e isso, esse curso ajuda muito, até
para desfazer mal-entendidos, como por exemplo, a gente se
enganava na hora de calcular os custos achava que estava
bem, quando na verdade estava mal. É importante, fazer
o cálculo bem completo, inserindo todos os itens, o
que foi investido, o tanto que lucrou, o que foi depreciado,
no caso de bens como máquinas, o valor da terra, entre
outros itens, que no final, resultará numa conta do
quanto se gasta para produzir, destaca Barbosa.
Nesse mesmo sentido, em saber exatamente o que significa produzir,
o grupo formado pelos produtores paranaenses o qual
Aluir fez parte desenvolveu uma planilha própria
e adequada às necessidades deles. Com um pouco de discussão
e acertos entre os participantes chegou-se ao consenso de
um modelo que representasse a realidade para a produção
de soja na região.
Cursos
futuros
Essa primeira leva de produtores do País fez parte
do projeto-piloto do Campo Futuro. Este ano o
projeto terá continuidade com novas turmas em novas
regiões, que além de atender produtores de soja
e milho e pecuaristas de corte, também atenderá
produtores de cana-de-açúcar.
Os cursos, segundo a CNA, são sempre no segundo semestre
do ano. Para conhecer melhor o projeto acesse o sítio
da CNA, www.canaldoprodutor.com.br, logo que se abre a página
principal, há um link que lhe encaminhará à
página do projeto Campo Futuro. Para a
formação de turmas ou saber se a tua região
será atendida este ano, procure o sindicato rural ou
a unidade do Senar mais próxima.
Projeções
futuras
Um estudo detalhado da produção agropecuária
brasileira vem a calhar bem para os ânimos da classe
produtora do País que agora tem a oportunidade
de conhecer melhor o mercado futuro e precisam de informações
que possam assegurar a produção. O estudo Projeções
do Agronegócio - Brasil - 2008/09 a 2018/19,
divulgado em fevereiro deste ano pelo Mapa pode servir de
uma boa notícia. Pelo relatório, as dificuldades
de reposição de estoques mundiais, o aumento
do consumo de grãos como milho, soja e trigo, e o processo
de urbanização mundial criam condições
favoráveis para as produções brasileiras
de soja, milho, trigo, carnes, etanol, farelo de soja, óleo
de soja e leite.
Esses produtos indicariam um elevado potencial de crescimento
nos próximos anos. A produção de grãos
(soja, milho, trigo, arroz e feijão) deverá
passar de 139,7 milhões de toneladas (2007/08) para
180 milhões em 2018/19. A produção de
carnes (bovina, suína e aves) deverá aumentar
em 12,6 milhões de toneladas. Isso representa um acréscimo
de 51% em relação à produção
de carnes de 2008. Três outros produtos com elevado
crescimento previsto, são, o açúcar (14,5
milhões de toneladas a mais), o etanol, com 37 bilhões
de litros e o leite, que totalizará 9 bilhões
de litros. Também é prevista uma mudança
de posição do Brasil perante o mercado mundial.
A relação entre exportações brasileiras
e o comércio mundial mostra que em 2018/19, as exportações
de carne bovina brasileira representarão 60,6% do comércio
mundial; a carne suína, representará 21% do
comércio, e a carne de frango deverá representar
89,7% do comércio mundial.
Esses resultados indicam que o Brasil continuará a
manter sua posição de primeiro exportador mundial
de carne bovina e de carne de frango. Apesar do País
apresentar nos próximos anos forte aumento das exportações,
o mercado interno será um forte fator de crescimento.
Do aumento previsto nos próximos 11 anos na produção
de soja e milho, 52% deverá ser destinado ao consumo
interno, distribuídos da seguinte forma: 57,9% do aumento
da produção de milho devem ir para o mercado
interno em 2018/19, e 44,9% do aumento da produção
de soja deverá ir para o consumo interno. Haverá,
assim, uma dupla pressão sobre o aumento da produção
nacional, o crescimento do mercado interno e as exportações.
Nas carnes, também haverá uma forte pressão
do mercado interno. Do aumento previsto na produção
de carnes, de 12,6 milhões de toneladas entre 2007/08
a 2018/19, 50% deverão ser destinados ao consumo interno
e o restante dirigido às exportações.
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