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INSEMINAÇÃO - A TODO VAPOR
rev 137 - julho 2009

Mercado de inseminação apresenta crescimento nos últimos anos. A cadeia acredita que essa elevação só tende a crescer, chegando a consolidar a prática em três anos. Apesar da criação bovina nacional ser a maior do mundo, não é, nem de longe, a mais tecnificada. Hoje, uma das principais técnicas usadas na pecuária mundial é a inseminação artificial (IA), que vem crescendo ano a ano no Brasil, mas ainda inseminamos apenas 7% das matrizes do País. Em comparação com a Europa – onde a porcentagem supera os 80% em países como a Holanda e Alemanha – e também com os EUA (65% gado leiteiro) e Israel (99% do rebanho), o Brasil está apenas “engatinhando” no assunto, apesar de já existir grandes projetos em algumas fazendas.O mercado nacional vem crescendo cerca de 10% ao ano nos últimos três. Em 2007, a comercialização aumentou 11,30% em relação ao ano anterior. Em 2008, foi registrado crescimento de 9,45%. Para 2009, é esperada uma porcentagem entre 10 e 12%, segundo Lino Rodrigues Filho, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). A pecuária leiteira tem grande participação nesse crescimento já que nos dois últimos anos aumentou em 39,2%, chegando a 4 milhões doses vendidas em 2008. Na área de corte, o crescimento foi muito menor, apenas 8,5% no mesmo período.

Segundo Lino Rodrigues Filho, o uso da tecnologia depende do valor pago pelo mercado sobre o leite e sobre a carne. “A pecuária leiteira teve um porcentual maior de crescimento porque o preço do leite no período também apresentou um bom aumento. O preço pago ao produtor pelo leite e pela carne está diretamente relacionado à inseminação artificial”, justifica o presidente da Asbia.

Gado de corte

O mercado de inseminação artificial relacionado ao gado de corte está praticamente divido entre Nelore (considerando Nelore e Nelore Mocho) e as demais raças, já que o Nelore representa 50,07% de todo sêmen comercializado no Brasil. E no último ano, o mercado da raça cresceu 10,29%, em relação a 2007, atingindo a marca de 2 milhões de doses vendidas.
A segunda raça que mais utiliza a inseminação artificial é o Red Angus que representa 25,69% de participação no mercado, com 1 milhão de doses comercializadas em 2008. Porém, cerca de 50% do sêmen de Red Angus utilizado é importado, já que em outros países a raça é mais trabalhada. “Um fator importantíssimo da inseminação artificial é o cruzamento industrial, o F1. Não há condições de usarmos touros Red Angus para cobrir rebanhos zebuínos, no Brasil tropical. O animal não se adapta, e a IA vem proporcionar a melhora do rebanho com o cruzamento industrial”, explica o diretor geral da ABS Pecplan, Márcio Nery.
A raça teve um crescimento de 20,64% em relação a 2007. Com o dobro do porcentual de aumento que a raça Nelore, o Red Angus poderá manter a taxa de crescimento já que a busca por cruzamento industrial na IA é vista com bons olhos por quem trabalha na área.
Na sequência, as raças Brahman e Guzerá aparecem em terceiro e quarto lugar, respectivamente. A primeira detém 4,63% do mercado, com um crescimento de 4,44% de 2007 para 2008, com um total de 192 mil doses. Já o Guzerá teve um total vendido, em 2008, de 141 mil, com crescimento de 26,79% em relação a 2007.
O mercado da IA na área de corte tende a crescer nos próximos anos. “A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) [veja matéria na pág. 42] vem colaborando para que grandes fazendas inseminem os rebanhos, gerando um forte crescimento no mercado para os próximos anos”, acredita Márcio Nery, diretor da ABS Pecplan. “A IATF dinamizou a IA, porque consegue inseminar um grande rebanho em apenas alguns dias e com maior resultado. Hoje, existem projetos em que a fazenda insemina 400 vacas por dia, o que resulta em 3.000 por semana”, explica o presidente da Asbia.
O mercado não consegue identificar o crescimento do uso da IA com a chegada da IATF, mas vê o aumento do uso da técnica pelos produtores. “Nós não conseguimos medir exatamente o quanto impactou no mercado a presença da IATF, mas cerca de 35% de nossas vendas é direcionada a IATF, enquanto há cinco anos não passava os 5%”, relata Nery.

Gado de leite

O Holandês possui mais da metade do comércio de sêmen na área leiteira respondendo por 55,62%, com 2,2 milhões de doses comercializadas no ano passado, sendo mais de 80% importado. O crescimento de 2007 para 2008 foi de 8,93%, abaixo do índice geral da IA de leite, que obteve 9,61%. O Gir Leiteiro, que apresentou o maior crescimento, com mais de 20%, é a segunda raça leiteira que mais comercializa sêmen. No ano passado, 805 mil doses foram vendidas (representando 19,87%), sendo 100% de genética nacional. O Jersey é o terceiro mais comercializado no Brasil, com 16,86% do mercado leiteiro, o que significa 683 mil doses vendidas.
Ao todo, o mercado de IA no Brasil vendeu 8,2 milhões de doses em 2008, somando a área de leite e de corte. Esta segunda representou 50,63%, enquanto a de leite 49,37%. Proporcionalmente ao rebanho, o mercado leiteiro utiliza muito mais a genética, porque são cerca de 20,8 milhões de cabeças no rebanho de leite, contra 179 milhões do gado de corte, sendo que comercializam praticamente a mesma quantidade. “A inseminação leiteira cresceu muito, principalmente nos dois últimos anos, quando obteve um incremento no preço pago pelo leite. A genética no gado de leite é fundamental, porque o investimento é a longo prazo. O animal vai produzir leite e bezerros por muitos anos, então é necessário pensar que cada vaca tem de dar o melhor”, explica Antônio Esteves, gerente comercial da CRV Lagoa.
Para o gerente de pecuária da Agropecuária Jacarezinho, Fernando Boveda, outro fator que esquenta o mercado de IA no leite é a praticidade de averiguar os resultados. “É muito mais simples mensurar a produtividade do rebanho leiteiro, já que se marca a quantidade de leite diariamente”, aponta Boveda. “Além disso, o pecuarista leiteiro faz mais conta, e consegue ver o retorno da genética. Já o pecuarista de corte é mais difícil ver esse tipo de controle, e não adianta falar em inseminação artificial se tem muitas fazendas que não têm nem estação de monta definida”, complementa o gerente da Agropecuária Jacarezinho. “Mesmo com a queda no preço do leite em 2009, a expectativa é que o mercado leiteiro cresça de 10 a 12% neste ano”, acredita o presidente da Asbia.

Fazenda Paquetá

Com mais de 16 mil cabeças de gado na propriedade, a genética não poderia deixar de fazer parte da reprodução desta fazenda que determina 90 dias para inseminação, sendo 30 dias para a IATF mais IA e 60 para a monta natural. No primeiro terço do período são realizadas a IATF, em 38% do gado, e a IA em 32%. Os outros dois terços são separados para a monta natural. “A taxa de prenhez ao final é de 86,29%. Na fazenda todos os números são marcados para registrarmos o andamento do processo”, explica Hélio Marcelino, zootecnista da Fazenda Paquetá (MS). Segundo ele, a meta é chegar a inseminar 85% do gado com a IATF e a IA, sendo 70% de IATF.
Os números mostram o aumento do uso da IATF nos últimos anos. Em 2004 foi inseminado apenas 7% com a IATF. Já em 2005 esse número chegou em 10,4%. Em 2006, 24,6%, em 2007, 28,8% e em 2008, 36%. “Hoje, consigo aumentar o peso do gado devido a um lote mais homogêneo. Em 2004, o gado ganhava 592 gramas por dia (g/dia), hoje ele engorda 706 g/dia. Assim, reduzi a idade de abate de 24 para 21 meses”, afirma Marcelino. Outro ponto de orgulho para a fazenda é a prenhez de nelore com um ano de idade. “Devido à seleção genética que realizamos na Paquetá, 55% das vacas emprenham logo no primeiro ano de vida. As novilhas chegam entre os 23 e 25 meses paridas”, comenta entusiasmado o zootecnista.

Fazenda Santa Thereza

Com 1.100 cabeças atualmente, a propriedade de Moacyr Frebonese é outro exemplo de como a genética pode transformar o negócio. “Há oito anos comecei a trabalhar com inseminação artificial, e mudou tudo na fazenda. Comprei alguns touros, mas a vacada era de baixa qualidade. Acabei matando todas e comecei tudo do zero. Comprei vacas da Agropecuária Jacarezinho e comecei a inseminar”, lembra Moacyr Frebonese. “Hoje, inseminamos 200 vacas por dia e a fazenda realiza IATF com índice de prenhez de 64,5%”. Nas que não emprenharam, é feita a IA simples. Ao final, as que não tiveram sucesso nem com a IATF, nem com a IA, vão para a monta natural, onde são usados cerca de um touro para cada 50 vacas. “O índice de prenhez da propriedade hoje é de 93%. Aqui a vaca tem de dar um bezerro por ano”, explica o proprietário dos 850 hectares de terra, localizados em Aparecida do Taboado (MS). O pecuarista aponta diversos benefícios em trabalhar com a IA na propriedade, entre eles a receita da fazenda que gira em maior número e com mais facilidade. O pecuarista conta que hoje tem maior nível de prenhez, as matrizes dão mais bezerros e de melhor qualidade e que o gado vai para o abate mais pesado e em menos tempo.
O problema enfrentado pelo pecuarista, na Fazenda Santa Thereza, e pelo zootecnista, da Fazenda Paquetá, é a falta de mão-de-obra qualificada para realizar a IA. “No início, quando comecei a trabalhar com genética vi que o peão que estava aqui há anos não gostou muito de se acertar com a mudança. Tive que mandar embora e saí procurando uma equipe que pudesse realizar o serviço”, lembra Moacyr Frebonese. Já no caso da Paquetá, não se insemina artificialmente 100% do rebanho devido à carência de mão-de-obra. “Realmente o resultado com a IA é ótimo e estamos aumentando a cada ano, mas trabalhamos no limite de pessoal. Precisamos de gente qualificada e hoje não temos o suficiente”, explica Hélio Marcelino.
As centrais de inseminação artificial e a Asbia concordam que a ausência de mão-de-obra especializada é um grande problema. “O gargalo da IA são pessoas especializadas para realizar esta técnica. Realmente esse é um ponto que tem de ser resolvido”, afirma Márcio Nery, diretor da ABS Pecplan. Para o presidente da Asbia, o maior problema é a cabeça dos pecuaristas. “Muitos pecuaristas são conservadores, e não querem mudar. Para se implantar a IA, é preciso tecnificar a propriedade e muitos não estão preparados para alterar a maneira que sempre conduziram a fazenda”, explica Lino Rodrigues Filho.

Futuro

Independente dos problemas, o mercado deverá crescer nos próximos anos, já que mesmo com a crise de 2008 o mercado apresentou elevação. “Não consigo enxergar outra coisa que não seja o crescimento da IA no Brasil. As demandas por proteína animal é um fator que irá influenciar muito o mercado de inseminação. Já está estabelecido que o Brasil será o maior fornecedor de carne vermelha para o mundo”, comenta Márcio Nery.
Outro fator que pode influenciar o mercado, segundo o presidente da Asbia, é a questão da sustentabilidade. “A genética aumenta a produtividade, principalmente com o cruzamento industrial. O mercado irá crescer muito nos próximos anos, e principalmente daqui a três anos”, afirma Rodrigues Filho.
Para o gerente da Agropecuária Jacarezinho, Fernando Boveda, o mercado em 2009 está bom, mas deverá ser melhor ainda para os próximos anos. “No momento da crise do ano passado, tivemos uma queda nas vendas, mas agora o pecuarista já percebeu que o problema passou, porque hoje estamos em crescimento. E, pelo que estamos percebendo dos nossos clientes, o sinal é de elevação para o ano que vem”, estima.
Para este ano a projeção é de crescimento tanto no corte como no leite, mesmo com uma queda no preço do litro do leite. Espera-se que o mercado cresça a cada ano e que em três, a IA se solidifique como a forma mais rentável de reprodução. O que não se pode projetar é o tamanho deste crescimento, segundo Lino Rodrigues Filho. “Se você me dizer quanto estará a arroba do boi e o litro do leite daqui a cinco anos, eu te falo quanto a inseminação artificial terá crescido”.


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