uma espécie de hotel só para bois montado
exclusiva-mente pela Cooperativa dos Produtores de Cana do
Estado São Paulo (Coplacana). A experiência inédita
no País, feita por uma cooperativa, trata-se de uma
boa alternativa para os pequenos e médios pecuaristas
enfrentarem o período da escassez de pastagem
que vai de julho a outubro. Até o mês de
junho, 174 animais deram entrada no confinamento. Em média,
eles permanecerão aqui entre 90 a 150 dias, com um
ganho de peso médio de 1,2 a 1,4 quilo por dia,
diz o coordenador da Coplacana, Evandro Nasato.
Lá, o tratamento é de cinco estrelas a preço
de pensão: o gado come o dia inteiro, para ganhar peso,
e é acompanhado por uma equipe de veterinários
de plantão. O preço da diária de cada
cabeça pode variar de R$ 4,50 a R$ 4,95. Com a vantagem
de o cooperado pagar, com um prazo de até 30 dias,
após a retirada dos animais. Com os denominados boitéis,
pequenos e médios pecuaristas de outras regiões
do País encontraram facilidades para confinar seus
animais. De acordo com o superintendente da Coplacana, Klever
José Coral, o sistema permite que o pecuarista acrescente
renda no seu negócio em menor tempo e a custos facilitados.
O objetivo também é permitir que os cooperados
diversifiquem suas atividades e possam utilizar a pecuária
intensiva, explica. O boitel requer pouco investimento,
por parte dos cooperados, uma vez que enquanto o boi engorda
na fazenda vizinha, ele pode explorar em sua propriedade outras
atividades paralelas, como a pecuária leiteira, o milho
e a soja, argumenta Coral.
Na opinião do produtor Arlindo Batagin Júnior,
ficaria inviável fazer a engorda e a terminação
devido aos custos e ao número baixo de cabeças.
Além disto, minha área de criação
é pequena e eu planto ainda cana e eucalipto,
esclarece.
Outro que aderiu ao sistema foi o pecuarista e empresário,
João Luiz Erlo. Em sua propriedade, localizada em Saltinho,
distante a 180 km da capital paulista, as principais atividades
são a cana-de-açúcar e a pecuária
de corte. No mês de junho, 20 animais (na média
com 14 arrobas) do pecuarista seguiram para o boitel, em Piracicaba
(SP). Lá, os animais permanecerão até
setembro, quando ganharão peso ideal para o abate.
Dos 8.500 cooperados da Coplacana, hoje 50% deles diversificam
suas atividades entre elas, a pecuária
que ocupam em média até 40 ha, de seus módulos
rurais. Diante desta produtividade diversificada, a cooperativa
investiu 700 mil reais, nas instalações para
abrigar a boiada. No ano passado (primeiro ano de funcionamento),
o sistema de boitel, baseado no modelo de produção
cooperativista, recebeu 1.100 animais de 17 cooperados. A
meta é chegar a 5.000 cabeças por ano até
2010, com novos cooperados aderindo ao sistema, afirma
o superintendente da Coplacana. O boitel cada vez mais
é uma tendência, principalmente, no estado de
São Paulo com terras escassas para a extensão
da pecuária, opina.
Possibilidade
de ganhos
Para os adeptos da nova ferramenta de terminação
intensiva, as vantagens do sistema vão desde o rendimento
de carcaça ao auxílio nas vendas com os frigoríficos.
O confinamento permite a produção de carne
de elevada qualidade com rendimento de carcaça superior
à média do mercado e com cobertura adequada
de gordura, conta o produtor Arlindo Batagin Júnior.
Já para o pecuarista João Luiz Erlo, uma das
vantagens do boitel é o ganho de peso a curto espaço
de tempo. Se a engorda acontecesse a pasto, nesta invernada,
levaríamos dois anos para que os animais chegassem
ao peso ideal. No boitel, são necessários apenas
75 dias, argumenta. Se o gado engordar 1,2 kg/cab/dia,
alcançarei uma terminação mais cedo e,
logo, dinheiro mais cedo também, ressalta Erlo.
Só quando se fala em lucros é que os pecuaristas
são cautelosos. Segundo Erlo, somente em setembro,
época do abate, que é possível fazer
projeções. Quando enviei os animais para
o boitel, há aproximadamente 40 dias, o preço
da arroba era de R$ 70,00. Agora, vamos ver qual será
o preço pago na hora das vendas, aponta o pecuarista.
A mesma opinião é a do produtor Arlindo Batagin
Junior. Se a arroba não subir na época
de entressafra o pecuarista arca com os prejuízos.
Mas, normalmente isto não acontece, esclarece.
De acordo com os pecuaristas, um ponto contra o sistema ainda
é o custo da diária do boitel, que segundo eles,
ainda pesa no bolso. Então, se no final eu ganhar
10% a mais e pagar os custos da permanência dos bois,
já saio no lucro, explica o pecuarista João
Luiz Erlo.
Para o coordenador da Coplacana, Evandro Nasato, muitas vezes,
os pecuaristas não fazem todas as contas e só
avalia os gastos com a diária do boitel. Mas
se ele pensar, gastará menos. Os custos têm de
ser diluídos desde a aquisição do bezerro
até a terminação do animal. Além
disto, o sistema permite que o produtor renove seu rebanho
e a sua pastagem. Outro fator importante são os preços
diferenciados pagos pelos frigoríficos, diz o
coordenador da Coplana, Evandro Nasato. Eles sempre
acabam pagando melhor quando o pecuarista tem volume de gado
para fechar. E aqui você consegue uma melhor avaliação
do mercado, pois está amparado por uma cooperativa,
que consegue impor algumas condições de preços
aos frigoríficos e ainda vender lotes fechados. Um
lucro certo para o pecuarista, frisa Klever José
Coral. Quando mais pecuaristas ingressarem nesse sistema,
maior será o nosso volume de animais e menor os custos.
É importante ressaltar que aqui não fazemos
a comercialização do gado, apenas orientamos
o cooperado com relação ao preço pago
pelo mercado. Outro ponto é que neste sistema, o boi
engorda e o dono vê os resultados no bolso, esclarece.
No
futuro, os boitéis
No sistema do boitel, os animais são alimentados pelos
resíduos industriais, como a cana-de-açúcar,
principal produto da Coplacana, e o farelo de soja, resultante
da fabricação do biodiesel, também produzido
pela própria cooperativa. Com isto há uma redução
acentuada de custos de produção. O rebanho é
bem diversificado, há animais diversas raças
e cruzamentos.
No sistema de boitel, o velho ditado que diz, que o
olho do dono é que engorda o gado, existe e funciona.
Por um sistema integrado, o produtor tem acesso às
informações de seus lotes, como o ganho de peso
diário. Sem dúvida, o boitel é
uma tendência mundial em que a agroindústria
profissionaliza a gestão da produção
no meio rural, facilitando a criação de projetos
que integram a lavoura e a pecuária, diz o superintendente
da Coplacana, Klever José Coral.
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