Nova
variedade de guandu é de dupla aptidão, pois
serve tanto como forragem para o gado como cultura para se
rotacionar com a lavoura de cana-de-açúcar
Guandu BRS Mandarim é a nova variedade de guandu lançada
oficialmente no final de abril pela Embrapa Pecuária
Sudeste, de São Carlos (SP). Leguminosa sempre utilizada
como forrageira, para recuperação de solos e
na alimentação humana, principalmente como feijão,
o guandu agora possui uma variedade voltada principalmente
a produtores de cana-de-açúcar, que podem fazer
o uso da planta para rotação da lavoura, garantindo
fixação de nitrogênio e descompactação
do solo, e a pecuaristas leiteiros, que buscam um alimento
nutritivo e palatável às novilhas.
A nova variedade apresenta uma alta produtividade de forragem
(parte verde da planta), que é 10% superior à
variedade de guandu mais usada no Brasil, portanto indicada
para a alimentação de bovinos, segundo as análises
do pesquisador Rodolfo Godoy, especialista em melhoramento
de plantas forrageiras e responsável pela pesquisa
dessa nova variedade de guandu. A produção de
forragem está relacionada ao tipo de solo, idade da
planta, entre outros fatores. De acordo com Godoy, em solos
muito fracos, por exemplo, pode-se produzir cerca de quatro
a cinco toneladas por hectare ao ano, sem adubação,
com três cortes da cultura. Já num manejo da
variedade a partir de um solo extremamente fértil,
foi possível chegar a 16 toneladas por hectare de matéria
seca, em quatro meses, com apenas um único corte.
Outra característica é a uniformidade das sementes,
o que proporciona o desenvolvimento de plantas iguais e uniformes.
A forrageira tem ainda boa persistência, o que
permite uma vida útil de quatro anos (quatro ciclos),
quando bem manejada, ao passo que a produção
das variedades já existentes chega apenas ao segundo
ano. Além disso, é moderadamente resistente
à macrophomina, fungo que ataca as raízes e
mata a planta, problema comum nas outras variedades,
destaca o pesquisador.
Em experimentos realizados com novilhas leiteiras, o uso do
guandu mandarim levou a uma redução de 21% no
custo de alimentação. Também foi verificada
uma diminuição de 8% no custo por quilo de ganho
de peso nessas novilhas, devido ao menor uso de concentrado
(soja, milho, ou rações) e ao fornecimento de
aproximadamente 20% da ingestão total de matéria
seca na forma de guandu picado.
Canavial
A nova variedade é também indicada para os produtores
de cana, para uso na rotação de parte do canavial
a cada cinco anos, descompactando o solo e nele fixando nitrogênio.
As diversas variedades de guandu fixam nitrogênio no
solo a partir da atmosfera, têm alto teor de proteínas
cerca de 20% boa resistência à
seca por possuir raízes profundas que conseguem buscar
água nas camadas mais fundas do solo, além de
boa digestibilidade nos bovinos, o que leva a maior ganho
de peso. A leguminosa é rústica, o que facilita
a implantação e manejo, inclusive em solos de
baixa fertilidade, mas não tolera encharcamento e necessita
alta luminosidade durante a formação das vagens.
Banco
genético
A cultivar foi obtida através de um programa de seleção,
no qual foram avaliadas cerca de 200 genótipos provenientes
de instituições nacionais e do Instituto de
Pesquisa Internacional de Plantações para Trópicos
Semiáridos (ICRISAT, sigla em inglês), da Índia.
Godoy explica que, a partir desses 200 genótipos, foram
escolhidas 40 amostras genéticas (acessos) que passaram,
posteriormente por um processo de purificação
em casas de vegetação, por várias gerações
até que se obtivessem linhagens puras, ou seja, linhagens
homogêneas com características morfológicas
iguais ou semelhantes às predominantes no material
original. Essas 40 linhagens foram reavaliadas agronomicamente
em vários locais. Uma dessas linhagens era a g3-94,
que foi então novamente selecionada por suas características
favoráveis e foi registrada e protegida como BRS Mandarim,
explica.
Origens
O nome mandarim foi dado devido à origem
asiática do guandu, pois a China, além de ser
seu provável berço, é também um
país com proximidade política, econômica,
científica e técnica com o Brasil e que mantém
grande intercâmbio com a Embrapa.
A obtenção dessa nova variedade foi feita através
dos trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Pecuária Sudeste
e em parceria com a Associação para o Fomento
à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras Tropicais
(Unipasto) e a Embrapa Transferência de Tecnologia,
unidade localizada em Campinas (SP).
Plantio
- A época de semeadura é determinada pelas condições
climáticas e principalmente pela finalidade da cultura.
Em todos os casos, recomenda-se aplicar corretivos e fertilizantes
com base na análise de solo.
- Para produção de forragem, quando se busca
maior volume de massa verde, recomenda-se que seja semeado
na estação chuvosa (dias longos), pois haverá
tempo para o desenvolvimento vegetativo e o guandu poderá
ser cortado ou pastejado ainda na mesma estação.
- Para produção de grãos ou sementes,
o período de desenvolvimento vegetativo deve ser abreviado,
pois o excesso de massa verde pode dificultar a colheita.
Há ainda a possibilidade de reaproveitamento da massa
verde e das sementes ou grãos na rebrota.
- Para recuperação e áreas degradadas:
a época ideal de plantio vai depender da cultura principal,
mas o guandu deve ter pelo menos um período de 60 dias
de desenvolvimento vegetativo, para poder expressar seu potencial.
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