Lá, as linhas de estudo guiam um sistema intensivo
de produção de cria, recria, seleção
de reprodutores e terminação em confinamento
que, através de uma alimentação rica
e balanceada em energia, proteína, fibras, minerais
e vitaminas, ao final de 90 dias, resulta num animal na faixa
de 18 a 24 meses de idade, com 500 a 520 kg de peso vivo.
A partir de experiências e pesquisas da própria
instituição de ensino, bem como pelos resultados
obtidos na prática em fazendas acompanhadas pelos pesquisadores
da universidade, a alimentação do rebanho, constituído
pelas raças Nelore e Canchim, teve uma atenção
especial. Em cinco anos de estudos, considerando a necessidade
de cada categoria animal (vaca, novilha, bezerro, boi magro
ou mesmo reprodutor), a nutrição de melhor desempenho
mostrou-se através da oferta de um pasto de qualidade,
bem adubado, como fonte protéica; uma suplementação
de concentrado energético disponibilizado ainda em
pasto, no qual o milho e os derivados dele podem ser a grande
fonte; e a oferta balanceada de mineral, equilibrando a dieta
para uma produção satisfatória de carne.
Vaca bem nutrida é vaca fértil
Os estudos começam com a parição de bezerros.
Para o produtor que tem o sistema de cria como parte do processo
produtivo, é essencial a disponibilidade de uma boa
alimentação para novilhas e vacas. O fator
mais importante para a lucratividade, nesse sistema,
aponta Flávio Augusto Portela Santos, pesquisador Esalq/USP,
é a vaca parir um bezerro todo o ano. Essa fertilidade
da vaca, essa habilidade de desmamar um bezerro pesado, em
boas condições, depende em grande parte do manejo
nutricional.
Pasto bem manejado, adubado e farto, com alta lotação,
e suplementação com mineral, durante o verão,
e suplementação no cocho com cana-de-açúcar,
ureia e sal mineral, na seca, é a dieta que essa vaca
receberá para garantir a produção da
bezerrada. De acordo com Santos, o fundamental para isso é
o pecuarista ter essa vaca em condições corporais
adequadas no momento do parto. Numa escala visual de 1 a 9
na qual, 1, é uma vaca muito magra, e 9, obesa
o ideal ter esse animal em condição corporal
6. Isso vai garantir que ela vá parir e ter reserva
suficiente para produzir bastante leite para o bezerro, para
que se possa desmamá-lo pesado lá na frente.
E essa reserva de alimento também terá um impacto
muito grande na fertilidade dela, garantindo que a vaca fique
prenhe, de forma efetiva, na próxima estação
de monta, explica Santos. Com esse trabalho, num período
de monta de 90 dias com 100 vacas, estima-se que, no mínimo,
85 delas fiquem prenhes no final.
Recria
Com a desmama a partir de maio a junho, dentro do sistema
de produção da Esalq/USP, os bezerros são
recriados no inverno, com oferta de pasto e suplementação,
e entram no período das águas, a partir de outubro,
no sistema intensivo de recria, com pasto altamente adubado
mais suplementação com concentrado energético
no cocho. Segundo Santos, o bezerro entra nesse sistema com
200 quilos (kg) ou mais, aproximadamente, e é recriado
com um ganho que vai de baixo a moderado, durante a seca.
No verão, o animal mantém um ganho médio
próximo a 900 gramas (g) por dia.
O manejo adequado com as forragens garantirá a riqueza
em proteína. Uma variedade, como a Brachiaria brizantha
cultivar (cv.) Marandu, comumente conhecida como braquiarão
uma das culturas estudadas pela Esalq/USP quando
bem manejada e adubada, produz um alto teor de proteína
bruta, quando colhida no ponto certo. Ao contrário
do que o pecuarista acredita, e que muitas vezes a indústria
vende a ideia de que o teor de proteína bruta está
relacionado a tal cultivar, ou a tal espécie de gramínea,
na realidade, isso depende basicamente de dois fatores: (1)
a dose de nitrogênio que se põe no adubo (adubo
nitrogenado, como ureia, nitrato de amônio, sulfato
de amônio); (2) e o ponto ideal de colheita desse pasto,
esclarece Santos. No caso do braquiarão,
esse ponto ideal de colheita será com 25 centímetros
(cm) de altura e a retirada do lote do pasto quando a cultura
estiver com 15 cm. Cada variedade ou espécie terá
um ponto específico de colheita (que se refere à
entrada dos animais para pastejo) e saída dos lotes.
A Brachiaria bizantha cv. Xaraés pode ser manejada
de 30 cm (entrada) até 15 cm (saída). No gênero
Panicum, por exemplo, o capim Tanzânia está bom
com 70 cm de altura (entrada) e saída com 30 cm; já
o Mombaça pode ser pastejado com 90 cm de altura e
com a saída dos animais quando atingir 30 cm.
Se a adubação é zero em nitrogênio,
o teor de proteína bruta na planta vai ficar entre
8% a 12%, colhido pelo animal. Mas como se quer por uma lotação
alta por hectare, a adubação com nitrogênio
deve chegar a 300 kg por hectare no período das águas.
Nós chegamos a jogar, 600 a 800 kg de ureia por
hectare, ou 1.000 kg de nitrato de amônio por hectare,
com isso a planta chega a ter 20 a 22% de proteína
bruta, calcula Santos.
Aliado ao pasto, o lote de recria intensiva da Esalq/USP também
recebe uma suplementação energética durante
as águas. Quando suplementamos esse animal o
que nós damos a ele é uma fonte energética,
à base de milho ou polpa cítrica, pode ser a
mistura desses ingredientes, ou casquinha de soja, ou sorgo,
ou farelo de trigo mais milho, enfim, uma série de
combinações, para se aproveitar ao máximo
a proteína do pasto, explica. Esse processo garante
a melhor conversão alimentar do bezerro.
Custos
Uma área rica em adubação nitrogenada
poderá comportar uma lotação alta no
verão, com a disposição de seis a nove
Unidades Animais (UA que corresponde a um animal de
450 kg) por hectare isso significa de 10 a 14 bezerros,
de 200 kg por hectare. Num ciclo de sete meses, no período
das águas (que pode ser compreendido de outubro a abril,
ou de novembro até o final de maio), com uma lotação
próxima a 10 bezerros por hectare, a adubação
poderá custar R$ 1.200 por hectare, R$ 120 por animal
(95% disso é função do custo do fertilizante,
inclusos ainda os 5% restantes a mão-de-obra,
o maquinário, a manutenção de cerca e
água, e a formação do pasto).
Com a oferta do concentrado energético o custo diário
por animal poderá ficar próximo a R$ 0,50. Dependendo
da região do País, o bezerro poderá comer
1.800 g de concentrado, em média já incluindo
o mineral e um promotor de crescimento nessa mistura.
No final das contas, os custos totais ficam próximos
a R$ 260 reais, por animal, nesses sete meses, com a suplementação
e a adubação. Isso, de acordo com Santos, faz
algo entre 180 a 200 kg de peso vivo (ou seis a sete arrobas).
Esse custo tem se reproduzido em condições
comerciais, em grande escala, como a gente tem observado.
E pode ser implantado tanto para o pequeno e médio
produtor. Não é porque esse sistema é
adubado, que é caro, que não é viável
para produção. Ele produz uma arroba altamente
competitiva, e torna a produção de carne por
área, e a rentabilidade por área, da pecuária
de corte, competitiva com os sistemas modernos de agricultura,
aqui na região de São Paulo, por exemplo, como
a cana-de-açúcar, e em outras regiões,
como a soja e o milho, compara Santos.
Terminação em confinamento
Por receber uma alimentação suplementada enquanto
estava a pasto, o animal garantirá melhores resultados
na fase de terminação em confinamento. Quando
esse animal recebe essa suplementação com concentrado
durante as águas, antes de entrar no confinamento final,
ele entra mais adaptado a esse sistema, observa Santos.
Ele se torna um animal mais manso, não sentirá
a diferença na dieta de alta energia disponibilizada
durante o confinamento. Além disso, esse animal, ao
entrar no piquete, não vai ficar no fundo do confinamento
nos primeiros dias, assustado. Ele já vai saber o que
tem no cocho para comer, relata o especialista. Esse
tipo de comportamento será o diferencial desse animal,
o que lhe garantirá maior vantagem em termos de ganho
de peso diário em relação aos que não
receberam essa suplementação.
No confinamento, de acordo com o pesquisador, o maior custo
será da própria compra do boi magro isso
no caso de quem só fará a terminação
do animal. No entanto, se for analisado o custo operacional
da atividade, será o manejo nutricional que trará
maiores custos ao pecuarista, que pode variar de R$ 3 a R$
4 reais por boi ao dia, dependendo da região do País
e dos preços praticados no mercado.
Dois fatores são essenciais para a garantia de rentabilidade
no negócio de confinamento, segundo o pesquisador Flávio
Santos: (1º) é o comercial, com uma boa compra
do boi magro, ou bezerro. Se ele comprar uma arroba
muita cara, ele já vai ter dificuldade de diluir esse
custo por isso ele tem de comprar bem e saber vender
bem, com todos os recursos que existem hoje de garantia de
preço e mercado futuro, aconselha; (2º)
é necessário o melhor desempenho técnico
da atividade, o qual se refere ao manejo nutricional dos animais,
a uma dieta bem formulada e o tratamento adequado aos animais.
Dieta balanceada
Dependendo das condições de mercado, dos preços
praticados e das opções da própria fazenda,
o pecuarista faz a decisão sobre como vai disponibilizar
a ração de cocho, para a terminação
dos animais. A opção de oferecer concentrado
aos animais nessa fase tem se mostrado favorável devido
à viabilidade de mercado atual, segundo Santos. Nesse
sentido, também segue a produção lá
no setor de confinamento da universidade. No cocho, a ração
é constituída de 12% de volumoso (que pode ser
a silagem de milho, sorgo ou capim, cana-de-açúcar
picada ou ensilada, ou até mesmo o bagaço dela)
e 88% de concentrado, no qual o milho e os derivados dele
apresentam-se como fontes principais nos estudos da Esalq/USP.
Nada a mais e nada a menos o equilíbrio nutricional
tem de dispor aos animais energia, proteína e mineral
para o desenvolvimento de ganho de peso. Com base nas especificações
nutricionais da ração, poderá avaliar
o que sobra e o que falta no sal mineral. Em termos gerais,
os minerais mais importantes, que tem de estar presente nessa
mistura, são cálcio (Ca), fósforo (P),
sódio (Na), zinco (Zn), cobre (Cu), iodo (I), cobalto
(Co) e selênio (Se), de acordo com o pesquisador e especialista
em nutrição de ruminantes da Embrapa Gado de
Corte, em Campo Grande (MS), Sergio Raposo de Medeiros.
A quantidade necessária de cada um desses minerais
na composição do sal, ou mesmo se há
outros mais que necessitem entrar na mistura, como o enxofre
(S), por exemplo, vai depender da quantidade e da qualidade
de matéria seca ingerida pelo animal. A matéria
seca corresponde simplesmente a todo alimento consumido pelo
boi descontado a água (o capim, por exemplo, tem uma
porção de água nele, quando dessecado
se torna apenas a matéria seca). Assim, por exemplo,
se um animal ingere 10 kg ao dia de matéria seca e
sua exigência é de 0,11% de sódio, significa
que ele deve ingerir 11 g de sódio por dia, explica
Medeiros.
Outra atenção que se deve ter também,
na composição da mistura do sal, está
na relação de quantidade de Ca por P. Ainda
usando o exemplo de consumo diário de 10 kg de matéria
seca, se o animal tiver exigência de 0,4% de Ca, significa
que essa dieta precisaria ter 40 g de Ca e, portanto, o P
deveria, idealmente, ficar próximo a 20 g, para dar
uma relação 2:1 [duas partes de cálcio
para cada uma parte de fósforo]. Na verdade, dietas
com até 7:1 não apresentariam problemas. O mais
importante é não deixar a relação
menor do que 1:1, e, outra coisa, mais importante que essa
relação entre Ca e P é, obviamente, o
atendimento das exigências nutricionais dos animais,
declara.
Fontes alternativas
Dependendo do que for oferecido de concentrado, as quantidades
disponibilizadas no sal mineral poderão variar. Por
exemplo, uma ração com alto teor de concentrado,
onde o energético é o milho e o sorgo, isso
é rico em fósforo, então um boi que tem
uma dieta como essa, com alta concentração de
milho, ou quem usa sorgo, fósforo já está
sobrando na ração. O mineral dele não
precisa ter fósforo na composição, ele
precisa ter cálcio, além dos outros minerais,
então é isso que ele tem de fazer para economizar,
diz o pesquisador da Esalq/USP. Outro exemplo, é o
concentrado a base de polpa cítrica, como fonte energética.
Segundo Santos, ela é rica em cálcio, mas pobre
em fósforo. Não há uma fórmula
milagrosa e o pecuarista não pode formular algo de
cabeça. Tem de ter todo um acompanhamento técnico
para isso, e hoje as próprias indústrias que
vendem esse mineral fazem esse tipo de trabalho, fornecendo
o que realmente for necessário ao rebanho do produtor,
explica.
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