De
alguns anos pra cá, os produtos naturais deixaram de
ser meros figurantes e, cada vez mais, disputam
espaço às mesas. A tendência, segundo
especialistas, partiu lá na Europa e hoje se alastra
por todos os países, inclusive no Brasil. Alimentos
ecologicamente corretos, que usam pouco ou nada de defensivos
na fase de desenvolvimento do produto, ganham espaço
com velocidade vertiginosa e conquistam novos mercados. Neste
cenário, surge a hidroponia, uma técnica simples,
na qual se cultiva dentro de estufas e sem uso do solo, mas
com a utilização de água. Nesse sistema,
a planta recebe todos os nutrientes necessários para
garantir o seu desenvolvimento. Em tese, qualquer espécie
vegetal pode ser cultivada.
No caso do agricultor Adilson Steck, de Louveira (SP), a opção
foi pela cultura de alface (variedade crespa e lisa), almeirão,
chicória e rúcula. Há 15 anos, depois
de sofrer grandes perdas com os pés de goiaba (devido
às fortes geadas), ele decidiu apostar na hidroponia.
Steck adotou o sistema, após ser convencido pelo engenheiro
agrônomo da Universidade de Campinas (SP), Antônio
Bliska Júnior, que na época realizava um estudo
sobre essa técnica de cultivo. O resultado foi
excelente e imediato, declara Steck. Conseguimos
ampliar a produção e oferecer ao mercado verduras
diferenciadas, com qualidade superior. Além de ser
mais vigorosa e macia, a verdura é limpa porque sua
raiz fica submersa em água corrente. Isso agrada aos
olhos dos consumidores, diz. Quer mais vantagens?,
pergunta ele. Os hidropônicos duram mais na geladeira
e fora dela, pois permanecem com a raiz.
Hoje, o agricultor cumpre uma rotina diária que lhe
toma toda a manhã. Às cinco horas, ele retira
as verduras da água, embala uma a uma em sacos plásticos,
antes de iniciar as entregas. Dali, elas seguem ainda
frescas para diversos pontos de venda nas cidades de
Valinhos e Atibaia (SP), regiões próximas ao
sítio. Só de alface, ele colhe 1.800 pés
por semana. No período da tarde, é a vez de
fazer as mudas. É o agricultor mesmo que as produz,
e depois, elas são levadas para as grandes bancadas,
nas estufas. Lá, as hortaliças recebem nutrientes,
como: nitrogênio, potássio, fósforo e
magnésio, dissolvidos na forma de sais durante
sua fase de crescimento.
Segundo o engenheiro agrônomo, Antônio Bliska,
neste sistema a qualidade do alimento aumenta. Uma vez que
o cultivo é protegido e se reduz em 90% o uso de agrotóxicos
já que as culturas não entram em contato
com os contaminantes do solo, como bactérias, fungos,
insetos e vermes. Além disto, existe alta produtividade,
redução de mão-de-obra, manutenção
e espaço.
Para o agricultor Adilson Steck, a hidroponia ainda permite
uma produção o ano todo e bem mais rápida,
se comparada a convencional. Existe também a
economia de água. Não há perdas por escoamento
ou evaporação, pois o sistema é fechado.
Enquanto a produção de uma planta de alface
no solo pode gastar até 40 litros de água, no
processo hidropônico gastam-se, em média, 10
litros, do plantio à colheita. E pretendemos diminuir
ainda mais estes números, comenta.
Economia
de espaço e produção dobrada
De acordo com Bliska, o estado de São Paulo tem aproxidamente
quatro mil produtores. Por não ocupar espaços
relativamente grandes, a hidroponia é bastante usada
nos perímetros urbanos (estando próximo ao centro
consumidor), e em pequenas áreas. Um projeto hidropônico
comercial requer apenas uma estufa de 350 m² (medida
de sete metros de largura por 50 metros de comprimento).
A princípio pode até parecer estranho, mas é
dentro de um armário que começa o cultivo das
hortaliças. Dentro dele, ficam as bandejas onde as
sementes germinam. Isso porque, dentro do armário existem
condições ideais, com temperatura por volta
de 28°C e a ausência de luz. Depois de dois dias,
as mudinhas saem do armário e vão para outra
estufa, chamadas maternidades.
Parte da estrutura de produção da propriedade
de Adilson Steck é feita de canos de PVC e outra de
folhas de amianto onduladas, também usadas na cobertura
de residências. As mudas ficam dispostas em buracos
de calhas por onde passa a água corrente (que contém
os nutrientes que a planta precisa, para se desenvolver).
Para isto ocorrer, um sistema hidráulico (composto
de uma moto bomba mais um registro de saída e um de
retorno) faz o trabalho automaticamente. Toda a tubulação
é mantida por baixo das bancadas, que são instaladas
com uma pequena inclinação. Desse jeito,
a solução é bombeada até a extremidade
superior da bancada e desce por gravidade, passando por todas
as mudas. A água fica circulando o dia inteiro e é
reaproveitada. Em alguns pontos, até criamos obstáculos
para que ela corra bem devagar e dê à planta
o subsídio que ela precisa para se desenvolver,
explica o agricultor.
Lá na propriedade de Steck, existem dois tipos de bancada,
a horizontal e a chamada pirâmide ou arquibancada, que
economiza espaço, permitindo dobrar a produção,
mas exige um manejo mais aprimorado. Esta última,
perfeita para a rúcula e almeirão, mas imprópria
para a alface, que necessita de iluminação para
o desenvolvimento, comenta. A temperatura da estufa
é controlada com cobertura e aberturas laterais. O
custo varia de acordo com o material usado na estrutura da
estufa. O prazo entre a colocação das mudas
nas canaletas de água até a retirada para venda
é de 45 dias, aproximadamente.
Dê
olho no consumidor
Na opinião do agricultor, infelizmente, nas prateleiras
dos supermercados a inovação passa despercebida
aos olhos dos consumidores. Hoje a diferença
de preço é muito pequena, chega entre 10% a
20%, diz Steck. Ele também lembra que é
preciso elevar os preços, uma vez que existem gastos
diferenciados na cultura, como insumos e a energia elétrica.
Relativamente, a diferença para a cultura convencional
é de R$ 0,20, diz Steck. Ele também lembra
que é possível reduzir os custos na cultura
hidropônica. Quando comecei, o custo era em torno
de R$ 0,70 centavos por pé. Hoje, está em torno
de R$ 0,06, sendo que vendo a R$ 1,30, avalia. Porém,
o preço pago ao agricultor pode sofrer uma queda, agora
com a chegada do inverno, avalia.
O que falta é investimento em marketing, para
maior divulgação dos produtos hidropônicos,
e um entendimento para o produtor, uma vez que eles investem
em técnica e cultivam um produto diferenciado e natural,
porém, não conseguem manter valor agregado ao
produto e aumentar a margem de lucro deles, diz Antônio
Bliska.
Este é o caminho que o agricultor Adilson Steck tenta
percorrer. Hoje são 3.600 pés de hortaliças
que saem das estufas para as vendas, mas ele pretender ir
mais longe. Em conjunto com um grupo, ainda informal, já
adquire insumos e sementes com preços mais baixos,
o que diminui os gastos. Dê olho no futuro, teremos
em breve logotipo da nossa própria marca, nas embalagens,
diz satisfeito.
A prática da hidroponia nas Américas tem como
alicerce o cultivo de hortaliças e plantas ornamentais.
Na África, existem grandes empresas de exploração
do cultivo hidropônico voltadas para a alimentação
de seus funcionários. Na Inglaterra, cultiva-se na
maior parte das instalações hidropônicas
flores, tomates e pepinos. No Brasil, o sistema ainda precisa
ser bem difundido como meio de obtenção de alimentos.
Comercialmente, tudo que se cultiva na hidroponia dá,
a exemplo do tomate, morango, berinjela, pepino e até
flores ornamentais. O que falta é apenas o conhecimento
para aqueles que desejam ingressar neste ramo, diz o
engenheiro Antonio Bliska.
Para isto, hoje já existem cursos para este segmento.
Neste caso, o interessado pode entrar em contato pelos telefones
(19) 3262-0598, ou pela Internet, no endereço: www.hidroponia.com.br.
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