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COGUMELOS - A ARTE DE CULTIVAR COGUMELOS
rev 134 - abril 2009

Considerado um alimento sofisticado, o cogumelo ganha cada vez mais popularidade. No interior de São Paulo, ele surgiu como fonte de renda e uma boa alternativa de cultura para muitos pequenos produtores.
Na Fazenda São José, no município de Cabreúva (SP), a produção de cogumelos é em larga escala. Hoje, as instalações em nada lembram aquelas do início do cultivo na década de 1950. As estruturas eram pequenas e bem simples. O proprietário, Américo Vasone (um empreendedor) costumava diversificar suas atividades, que além dos cogumelos apostava também no café fino para exportação. De acordo com a literatura nacional, os primeiros cogumelos (pertencentes ao reino dos fungos) foram introduzidos pelos chineses, na região de Mogi das Cruzes (SP). Mas, foi o italiano Oscar Molena, o grande precursor da cultura e que trouxe da Itália, as primeiras sementinhas do fungo mais popular da culinária mundial – o Champignon de Paris (nome científico Agaricus bisporus). Aliás, ele e a família Vasone contribuíram para a expansão da fungicultura no Brasil.

Naquela época, segundo as histórias da família Vasone, para venderem a produção, que variava de 50 a 100 quilos (kg), os cogumelos eram colocados em cestas e transportados em uma Kombi até os restaurantes da capital. Ali, os cogumelos faziam parte do cardápio dos imigrantes, acostumados ao sabor refinado daquela iguaria. Tempos depois, herdando os negócios do pai, o filho Hélio Vasone, viu a fungicultura expandir, graças à demanda de consumo (fatores como maior variedade e a queda no preço contribuíram para o cenário favorável). Daí, também veio à profissionalização, com planejamento de negócios e investimentos em pesquisas. A fazenda virou empresa e hoje a São José é uma das maiores produtoras de cogumelos do País. Em média são 80 toneladas por mês.
Para alcançar produtividade, a empresa até hoje importa algumas sementes, que são multiplicadas, processadas e cultivadas, para atender aos clientes mais exigentes no requisito qualidade. Segundo os fungicultores, sem este item não há como concorrer no mercado, principalmente no chinês, que produz em grandes quantidades. “Infelizmente, a produção no Brasil não é auto-suficiente e ainda temos de competir, com os importados para suprir a demanda interna”, conta o gerente geral da Fazenda São José, Cristiano Ortigosa Peraceli. “No entanto, a produção de cogumelos tem despertado um interesse cada vez maior devido a diversos fatores. O principal é que o cultivo exige pequenas áreas. O cogumelo tem um ciclo de vida curto e garante constantes safras, desde que haja planejamento certo para se produzir em cada estação do ano”, adverte Peraceli. “Porém, embora o consumo esteja crescendo no País, é indispensável a quem queira ingressar na atividade, conhecer bem o mercado”, orienta.
No Brasil, os cogumelos mais conhecidos são o Champignon de Paris (Agaricus bisphorus), Agaricus Blazei Murril ou Himematsutake (espécie descoberta no Brasil), Shitake (Lentinus Edodes), Shimeji (Pleurotus Ssp) e Hiratake (Pleurotus Osteratus). Todos estes são produzidos na Fazenda São José, conforme a demanda. Lá, também se produz o composto orgânico (substrato à base de capins, bagaço de cana, palhas de trigo dentre outros, que serve de alimento para o fungo). Atualmente, a venda dos compostos é responsável por 60% do faturamento da empresa. “Aí está todo o segredo da produção. O composto de qualidade faz toda a diferença”, diz o técnico agrícola, Rogério Schneider. Aliás, o aumento na produção de cogumelo faz com que a procura pelo composto cresça. Resultado: hoje na São José, as 360 toneladas de substrato preparadas por mês já não são suficientes para atender a todos os clientes, que estão nos municípios paulistas de Pinhalzinho, Arujá, Ibiúna, Mogi das Cruzes até Itamonte (MG). “No geral, são pequenos produtores que diversificam suas atividades. Hoje, o produtor vende o quilo cozido por R$ 11 reais. Já o ‘in natura’ ou fresco chega ao mercado a R$ 7,50”, diz Peraceli. Ainda, segundo ele, o custo inicial da produção gira hoje em torno de 25 mil reais, num sistema de câmaras climatizadas (que mantém a temperatura adequada, o que favorece o crescimento do cogumelo). Já em um sistema mais simples, o custo chega a R$ 5 mil reais.

Unidos pela produtividade

A produção da Fazenda São José é grande, mas ainda assim, insuficiente para suprir o mercado. Por isso, a empresa decidiu investir em parcerias. “Trabalhamos da mesma forma que os integrados de frangos. Esta é uma boa comparação, já que muitos por aqui abandonaram a criação para investir em cogumelos. A eles são oferecidos a sacaria do composto, os insumos e a assistência técnica. Resta ao produtor a mão-de-obra, que fica aos cuidados da própria família. Daí, ele nos entrega o cogumelo pronto. O que exigimos é somente qualidade”, descreve Peraceli.
Atualmente, são 15 integrados. Vagner Biasin é um deles, do Sítio Laerte Galvitti. A propriedade fica bem perto da Fazenda São José, a uma distância de dois quilômetros (estar o mais próximo possível é um requisito exigido para facilitar a entrega dos cogumelos e trazê-los o mais fresco possível). Ali, Biasin cuida para que as sementes se transformem – dentro do composto – e num prazo de até três dias, brotem os primeiros cogumelos. “O rendimento é razoável”, diz o fungicultor, satisfeito com a última safra. “Apesar do clima quente não favorecer muito o cultivo”, aponta. Os antigos galpões do sítio, onde existia uma granja, deram espaço para centenas de sacarias de cogumelos. A previsão é que nos próximos dois meses, os demais barracões da propriedade operem com capacidade máxima.

Cogumelo medicinal

Já no Sítio São João as instalações são rústicas, mas tudo bem ajeitado. Em uma pequena sala, o proprietário Arcângelo Iscaro lava, seca e fatia os cogumelos. Desde os anos 1990, está na fungicultura e tem focado numa produção diferenciada. Ele produz o Agaricus Blasei Murril, que se tornou muito famoso no outro lado do mundo. Hoje, 95% de toda a produção brasileira dessa espécie é exportada para o Japão.
Ao contrário dos Biasin, Arcângelo Iscaro adquire o composto que precisa lá, na São José. Porém, sua produção tem destino certo: um grande cliente, que compra os cogumelos, também conhecidos como produtos medicinais. Diariamente são produzidos três quilos dessa espécie (o que pode parecer pouco, mas que tem grande rentabilidade). Quando perguntado sobre a renda, o fungicultor desconversa um pouco e responde: “Do sítio é boa... Mas é preciso qualidade, capricho, zelo e disciplina, senão a gente perde o cliente”, adverte.
Por ser de uma espécie bem procurada no segmento farmacêutico, em média, um quilo é vendido a R$ 140 reais. No entanto, para produzir um quilo seco são necessários 10 kg frescos. Mesmo assim, os sacos cheios de cogumelos mostram que a produtividade também é boa. “A gente faz um trabalho bom do começo ao final da safra. Então, isso ajuda muito. Graças a Deus, este ano não teve doenças”, conta Arcângelo Iscaro.

Box: Na terra do Cogumelo
Desde 2006, alguns produtores de cogumelos em Pinhalzinho (SP) formaram uma associação. Hoje são 300 toneladas por ano produzidas, por 27 fungicultores. Porém, o objetivo da Associação dos Produtores Rurais e Artesãos de Pinhalzinho é ter volume suficiente para comercializar em outros mercados e quem sabe atender a grandes empresas. “Estamos nos preparando para formar uma cooperativa”, diz Paulo Eraldo Torres Neto, presidente da entidade. Com isto, o sonho pode ser tornar realidade e ter mudanças significativas na vida de muitos produtores. “Seja na comercialização, no custo de produção e no beneficiamento do cogumelo. O produtor também poderá se dedicar à atividade e usar seu tempo para melhorar a técnica do cultivo. Outra mudança esperada é a redução dos preços dos insumos, pelo poder de negociação que a cooperativa terá em razão do grande volume de compra”, enfatiza Neto.
Além disto, os produtores pretendem ir mais longe: querem o reconhecimento do município como a “Terra do Cogumelo”. Mas, enquanto este dia não chega, eles promovem anualmente a “Festa do Cogumelo”, que é realizada no mês julho. Ali, eles garantem a venda do produto considerado versátil, que pode ser comercializado fresco, seco e até mesmo defumado.


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