Naquela
época, segundo as histórias da família
Vasone, para venderem a produção, que variava
de 50 a 100 quilos (kg), os cogumelos eram colocados em cestas
e transportados em uma Kombi até os restaurantes da
capital. Ali, os cogumelos faziam parte do cardápio
dos imigrantes, acostumados ao sabor refinado daquela iguaria.
Tempos depois, herdando os negócios do pai, o filho
Hélio Vasone, viu a fungicultura expandir, graças
à demanda de consumo (fatores como maior variedade
e a queda no preço contribuíram para o cenário
favorável). Daí, também veio à
profissionalização, com planejamento de negócios
e investimentos em pesquisas. A fazenda virou empresa e hoje
a São José é uma das maiores produtoras
de cogumelos do País. Em média são 80
toneladas por mês.
Para alcançar produtividade, a empresa até hoje
importa algumas sementes, que são multiplicadas, processadas
e cultivadas, para atender aos clientes mais exigentes no
requisito qualidade. Segundo os fungicultores, sem este item
não há como concorrer no mercado, principalmente
no chinês, que produz em grandes quantidades. Infelizmente,
a produção no Brasil não é auto-suficiente
e ainda temos de competir, com os importados para suprir a
demanda interna, conta o gerente geral da Fazenda São
José, Cristiano Ortigosa Peraceli. No entanto,
a produção de cogumelos tem despertado um interesse
cada vez maior devido a diversos fatores. O principal é
que o cultivo exige pequenas áreas. O cogumelo tem
um ciclo de vida curto e garante constantes safras, desde
que haja planejamento certo para se produzir em cada estação
do ano, adverte Peraceli. Porém, embora
o consumo esteja crescendo no País, é indispensável
a quem queira ingressar na atividade, conhecer bem o mercado,
orienta.
No Brasil, os cogumelos mais conhecidos são o Champignon
de Paris (Agaricus bisphorus), Agaricus Blazei Murril ou Himematsutake
(espécie descoberta no Brasil), Shitake (Lentinus Edodes),
Shimeji (Pleurotus Ssp) e Hiratake (Pleurotus Osteratus).
Todos estes são produzidos na Fazenda São José,
conforme a demanda. Lá, também se produz o composto
orgânico (substrato à base de capins, bagaço
de cana, palhas de trigo dentre outros, que serve de alimento
para o fungo). Atualmente, a venda dos compostos é
responsável por 60% do faturamento da empresa. Aí
está todo o segredo da produção. O composto
de qualidade faz toda a diferença, diz o técnico
agrícola, Rogério Schneider. Aliás, o
aumento na produção de cogumelo faz com que
a procura pelo composto cresça. Resultado: hoje na
São José, as 360 toneladas de substrato preparadas
por mês já não são suficientes
para atender a todos os clientes, que estão nos municípios
paulistas de Pinhalzinho, Arujá, Ibiúna, Mogi
das Cruzes até Itamonte (MG). No geral, são
pequenos produtores que diversificam suas atividades. Hoje,
o produtor vende o quilo cozido por R$ 11 reais. Já
o in natura ou fresco chega ao mercado a R$ 7,50,
diz Peraceli. Ainda, segundo ele, o custo inicial da produção
gira hoje em torno de 25 mil reais, num sistema de câmaras
climatizadas (que mantém a temperatura adequada, o
que favorece o crescimento do cogumelo). Já em um sistema
mais simples, o custo chega a R$ 5 mil reais.
Unidos
pela produtividade
A produção da Fazenda São José
é grande, mas ainda assim, insuficiente para suprir
o mercado. Por isso, a empresa decidiu investir em parcerias.
Trabalhamos da mesma forma que os integrados de frangos.
Esta é uma boa comparação, já
que muitos por aqui abandonaram a criação para
investir em cogumelos. A eles são oferecidos a sacaria
do composto, os insumos e a assistência técnica.
Resta ao produtor a mão-de-obra, que fica aos cuidados
da própria família. Daí, ele nos entrega
o cogumelo pronto. O que exigimos é somente qualidade,
descreve Peraceli.
Atualmente, são 15 integrados. Vagner Biasin é
um deles, do Sítio Laerte Galvitti. A propriedade fica
bem perto da Fazenda São José, a uma distância
de dois quilômetros (estar o mais próximo possível
é um requisito exigido para facilitar a entrega dos
cogumelos e trazê-los o mais fresco possível).
Ali, Biasin cuida para que as sementes se transformem
dentro do composto e num prazo de até três
dias, brotem os primeiros cogumelos. O rendimento é
razoável, diz o fungicultor, satisfeito com a
última safra. Apesar do clima quente não
favorecer muito o cultivo, aponta. Os antigos galpões
do sítio, onde existia uma granja, deram espaço
para centenas de sacarias de cogumelos. A previsão
é que nos próximos dois meses, os demais barracões
da propriedade operem com capacidade máxima.
Cogumelo
medicinal
Já no Sítio São João as instalações
são rústicas, mas tudo bem ajeitado. Em uma
pequena sala, o proprietário Arcângelo Iscaro
lava, seca e fatia os cogumelos. Desde os anos 1990, está
na fungicultura e tem focado numa produção diferenciada.
Ele produz o Agaricus Blasei Murril, que se tornou muito famoso
no outro lado do mundo. Hoje, 95% de toda a produção
brasileira dessa espécie é exportada para o
Japão.
Ao contrário dos Biasin, Arcângelo Iscaro adquire
o composto que precisa lá, na São José.
Porém, sua produção tem destino certo:
um grande cliente, que compra os cogumelos, também
conhecidos como produtos medicinais. Diariamente são
produzidos três quilos dessa espécie (o que pode
parecer pouco, mas que tem grande rentabilidade). Quando perguntado
sobre a renda, o fungicultor desconversa um pouco e responde:
Do sítio é boa... Mas é preciso
qualidade, capricho, zelo e disciplina, senão a gente
perde o cliente, adverte.
Por ser de uma espécie bem procurada no segmento farmacêutico,
em média, um quilo é vendido a R$ 140 reais.
No entanto, para produzir um quilo seco são necessários
10 kg frescos. Mesmo assim, os sacos cheios de cogumelos mostram
que a produtividade também é boa. A gente
faz um trabalho bom do começo ao final da safra. Então,
isso ajuda muito. Graças a Deus, este ano não
teve doenças, conta Arcângelo Iscaro.
Box:
Na terra do Cogumelo
Desde 2006, alguns produtores de cogumelos em Pinhalzinho
(SP) formaram uma associação. Hoje são
300 toneladas por ano produzidas, por 27 fungicultores. Porém,
o objetivo da Associação dos Produtores Rurais
e Artesãos de Pinhalzinho é ter volume suficiente
para comercializar em outros mercados e quem sabe atender
a grandes empresas. Estamos nos preparando para formar
uma cooperativa, diz Paulo Eraldo Torres Neto, presidente
da entidade. Com isto, o sonho pode ser tornar realidade e
ter mudanças significativas na vida de muitos produtores.
Seja na comercialização, no custo de produção
e no beneficiamento do cogumelo. O produtor também
poderá se dedicar à atividade e usar seu tempo
para melhorar a técnica do cultivo. Outra mudança
esperada é a redução dos preços
dos insumos, pelo poder de negociação que a
cooperativa terá em razão do grande volume de
compra, enfatiza Neto.
Além disto, os produtores pretendem ir mais longe:
querem o reconhecimento do município como a Terra
do Cogumelo. Mas, enquanto este dia não chega,
eles promovem anualmente a Festa do Cogumelo,
que é realizada no mês julho. Ali, eles garantem
a venda do produto considerado versátil, que pode ser
comercializado fresco, seco e até mesmo defumado.
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