Porém, quando encontra condições ideais
de multiplicação, passa para a forma vegetativa
e produz toxinas que causam o botulismo se forem ingeridas.
A doença afeta o sistema nervoso do animal, que fica
com o andar cambaleante, evoluindo para a paralisia dos músculos
da locomoção, mastigação e deglutição;
normalmente os animais atingidos morrem por paralisia respiratória.
Para evitar esta clostridiose, além da vacinação
dos animais contra o botulismo, são indicados alguns
cuidados no manejo, tais como: queimar ossos e carcaças
dos animais mortos e enterrar os restos; controlar a qualidade
da água e dos alimentos fornecidos; realizar a mineralização
adequada do rebanho, de forma a garantir a quantidade necessária
de fósforo. "É preciso ficar atento aos
animais que tenham o hábito de roer ossos ou comer
restos de outros animais mortos: pode ser sinal de que está
faltando fósforo nesse rebanho, aumentando o risco
de ingestão de toxinas", adverte o médico
veterinário Odilon Cerqueira César, responsável
pelo controle sanitário da fazenda Santa Tereza, em
Aquidauana, MT. Lá, a vacinação é
acompanhada de várias medidas para controlar e evitar
a propagação de qualquer tipo de enfermidade
deste tipo.
Deve-se, ainda, evitar o uso de camas de frango oriundas de
granjas que não fazem a limpeza das carcaças
das aves mortas do criatório e proteger os silos e
a ração animal, de forma a evitar a entrada
de roedores. "A presença de roedores mortos pode
permitir a multiplicação dos clostrídeos
e, conseqüentemente, a formação de toxinas
do botulismo", alerta.
Já as enterotoxemias, são clostridioses quase
sempre fatais, de evolução rápida, com
sinais gerais graves, normalmente seguidos de sintomas nervosos.
Acometem tanto bezerros como animais adultos. Nos animais
afetados, podemos observar andar cambaleante, diarreia, prostração,
convulsões e alta mortalidade.
As bactérias responsáveis pelas enterotoxemias
vivem normalmente na flora digestiva dos animais sadios e
acredita-se que elas se multipliquem de forma descontrolada
quando há um fator de desequilíbrio na digestão
dos bovinos. Entre os fatores que facilitam a proliferação
destas bactérias estão mudanças nos hábitos
alimentares, alimentação pobre em fibras, ração
rica em proteína e carboidratos, que facilitam a fermentação,
ou insuficiência hepática. "Daí a
importância de se evitar mudanças bruscas na
alimentação dos animais e fornecer uma alimentação
balanceada", alerta o técnico.
Segundo o médico veterinário, a escolha de uma
vacina de boa qualidade é o primeiro passo para o controle
das clostridioses e deve ser feita com base na titulação
em laboratório dos diferentes clostrídeos que
entram na sua composição. Além disso,
a eficácia destas vacinas deve ser comprovada no campo
em regiões com mortalidade elevada.
No caso de bovinos em programa de confinamento, que já
foram vacinados contra clostridioses, Odilon observa que é
necessário aplicar, em dose única, duas a quatro
semanas antes do confinamento, a vacina contra clostridioses
e a de botulismo. Já os animais que nunca foram vacinados,
devem receber as duas vacinas seis a oito semanas antes do
confinamento, com uma dose de reforço duas a quatro
semanas antes de começar o confinamento.
Boa
mineralização ajuda, mas não faz milagres.
Nessa
guerra contra as clostridioses a eficácia na prevenção
depende de uma série de ações, que vão
além da vacinação, e devem ser feitas
de forma conjugada e constante. O controle do botulismo, por
exemplo, principal causa de mortes de bovinos no Brasil, depende
da vacinação periódica do rebanho, da
suplementação mineral adequada e do monitoramento
constante das pastagens e aguadas. A adoção
parcial desses cuidados, embora diminua os riscos de surgimento
da doença, não conferem a eficácia preventiva
desejável.
Alguns produtores fazem apenas a suplementação
e abrem mão da vacina, o que pode até proporcionar
uma certa proteção à maior parte dos
animais, em razão do fornecimento de fósforo,
visto que a deficiência do mineral é que leva
à osteofagia. Há aqueles animais, no entanto,
que mesmo recebendo a complementação de fósforo
não abandonam o hábito de mastigar ossos.
Para o pecuarista Célio Ferreira Lemos, que faz cria,
recria e engorda na região de Rondonópolis,
esse é um motivo incontestável para se levar
a sério a preocupação com o destino dos
animais mortos: Não basta enterrá-los.
Antes disso, é preciso incinerá-los, caso contrário,
o local pode sofrer rebaixamento após a decomposição
do cadáver, que geralmente é enterrado muito
inchado.
Quando chove, formam-se poças de água nas depressões,
estabelecendo-se, no local, uma fonte de contaminação.
Além disso, existe a possibilidade de animais selvagens
e até cães domésticos desenterrarem as
carcaças e espalharem os ossos pelo pasto.
A aplicação de uma única dose da vacina
é suficiente para imunizar o rebanho? No caso de vacinas
inativadas, a recomendação é que seja
dada uma segunda dose de reforço, quatro a seis semanas
após a primeira. Em condições de criação
extensiva, no entanto, esse manejo torna-se muito difícil.
Há casos, porém, de sucesso com uma única
aplicação da vacina. Uma experiência realizada
pelo professor da Universidade Estadual Paulista, Iveraldo
dos Santos Dutra, em uma fazenda em Euclides da Cunha Paulista,
tomou como laboratório um pasto onde havia mortalidade
muito alta. Os animais foram divididos em dois grupos de 106
cabeças. Um deles recebeu uma única dose de
vacina e o outro nenhuma.
O rebanho foi colocado no pasto e a fonte de infecção,
um tatu morto dentro do cocho de água, mantida. Em
uma semana, do grupo vacinado morreu um único animal,
e do grupo não vacinado morreram 36 animais. Nesse
caso, uma única dose foi suficiente para dar uma boa
proteção. Em regime de confinamento, no
entanto, a facilidade de manejo e a maior possibilidade de
contaminação do alimento, principalmente quando
se trata da cama de frango, exigem a aplicação
da segunda dose, recomendam os técnicos.
Anos atrás, as vacinas utilizadas no Brasil eram bastante
deficientes e chegava-se a usar de três a seis doses
por ano para imunizar o rebanho.
Hoje existem as vacinas bivalentes e de dupla emulsão
oleosa, de largo espectro e que conferem imunidade por um
período maior de tempo. A vacina contra a aftosa,
por exemplo, quando era aquosa, só protegia por quatro
meses e a gente tinha que fazer a vacinação
três a quatro vezes por ano, compara o pesquisador.
Inimigo
resistente e oportunista
Os
clostrídeos são bactérias anaeróbias,
isto é, se multiplicam na ausência do ar. Podem
desenvolver formas resistentes, os esporos, capazes de permanecer
nas áreas contaminadas durante muito anos. Estão
presentes normalmente no solo e no tubo digestivo dos animais,
mesmos sadios. Produzem substâncias tóxicas poderosas,
responsáveis pelos sintomas e lesões observados
nos animais doentes. Provocam a morte de bovinos de corte
e leite, confinados ou a campo, terneiros ou adultos. Também
são responsáveis por surtos de mortalidade em
ovinos ou caprinos.
Sintomas
semelhantes
Botulismo
Andar duro e cambaleante
Animal permanece deitado
Cabeça apoiada no flanco
Em média, 72 horas até a morte
Enterotoxemia
Dificuldade para andar
Prostração em decúbito lateral
Eventual diarréia hemorrágica
Em média, 24 horas até a morte
Gangrenas gasosas
Carbúnculo Sintomático
Edema maligno
Enterotoxemias
Tétano
Botulismo
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