Edições Anteriores
BANANA - DINHEIRO EM PENCA!
rev 134 - abril 2009

Segunda fruta mais produzida no Brasil com mais de sete toneladas por ano, a banana demanda de mão-de-obra qualificada e cuidados com as pragas.O manejo em bananais, cultura das mais populares no Brasil, está se tornando mais tecnificada a cada ano, mas ainda é um processo que demanda muita mão-de-obra.Novas pragas surgiram, mas com a pulverização aérea o problema vem sendo controlado pelos produtores.
O Vale do Ribeira, em São Paulo, é um local propício ao cultivo da fruta e é onde há um dos maiores pólos de produção do País. São 40 mil hectares de bananais na região, totalizando cerca de 8,8 milhões de bananeiras, a maioria delas da variedade Nanica.“A bananeira é uma cultura razoavelmente simples, se você plantar, cresce, mas se é para obter renda, aí tem uma série de cuidados que devem ser tomados para chegar a uma produção de qualidade”, afirma Jéferson Magário, produtor de Sete Barras, na região do Vale do Ribeira.

Na propriedade, Fazenda São Carlos, a produção de banana Nanica é desenvolvida há mais de 60 anos.
Hoje, são 70 hectares de bananeiras, o que significam cerca de 150 mil pés, estimando a presença de 220 pés por hectare. Nos últimos oito anos, Jéferson começou a tomar conta do negócio e afirma que tinha alguns pés em área de morro, mas que com o passar dos anos percebeu que não valia a pena e trocou por palmito pupunha. “Calculo que gastávamos cerca de 40% a mais, contando com adubação a mais para a região. Além disso, os funcionários acabam cansando muito e mesmo assim os cachos não eram tão bons quanto os do terreno plano. Com isso, no momento de venda eu tinha de abaixar o preço para ter mercado e acabava desvalorizando os bons cachos, porque o preço nivelava por baixo”, explica Magario.
Mas nesses 60 anos de plantação, a principal mudança ocorreu no desbaste, que é a poda das bananeiras. Ao redor de cada pé, nascem outros quatro ou cinco. Imaginava-se que quanto mais pés, melhor, já que teriam mais cachos. Mas com o tempo os produtores observaram que as bananeiras concorriam entre elas para absorver os nutrientes e caso deixasse apenas uma, os cachos e as bananas seriam maiores. “Antes os bananais eram bem mais densados (repletos de pés), além da quantidade de cachos, muitos produtores imaginavam que também teriam mais matéria orgânica no solo, após a poda. Mas o tempo mostrou que a falta de luz solar também atrapalhava o desenvolvimento, então hoje nós trabalhamos com apenas um pé”, afirma Magário.
O engenheiro agrônomo, Agnaldo José de Oliveira, trabalha na região e afirma que muitos produtores continuam privilegiando a quantidade do que a qualidade. “É difícil mudar a mentalidade de quem produz banana a vida inteira de uma maneira. Mas, hoje nós podemos dar certeza que utilizando a desbasta é realmente mais rentável. Hoje, nós deixamos cerca de 2,3 metros de distância entre um pé e outro. É claro que quanto mais anos se passam, é mais difícil de deixar o bananal ajeitado, mas é importante que se tenha essa diferença entre os pés”, explica.
Tomar conta do bananal é fundamental para obter boa produtividade. Os solos dos bananais são compostos de muita matéria orgânica, já que todas as folhas são deixadas ali mesmo e se tornam alimento para o solo. “A única coisa que sai do bananal é a fruta, o resto vira adubo, uma matéria orgânica muito boa. A tendência é o solo ficar cada vez melhor”, afirma o produtor Jéferson Magário.
Ao colher o cacho, o produtor pode cortar a parte mais alta da planta deixando apenas cerca de 1,5 metro (m) da bananeira. Com isso, essa planta acaba alimentando a que está ao lado, com toda a água que possui e que com os dias acaba descendo até a raiz da planta vizinha. Depois de 15 dias, o ideal é cortar o mais baixo possível e deixar o toco ali mesmo para se tornar matéria orgânica para o solo.

As pragas do bananal

Um dos maiores problemas em relação às pragas, enfrentado atualmente no Brasil, é a Sigatoka Negra. “A doença chegou no País em 1998, na Amazônia, e veio parar aqui no Vale do Ribeira, em 2004. É a pior praga que temos hoje. Ela ataca as folhas, e como o pé da bananeira é predominantemente folha, perde-se toda a estrutura da planta”, explica o agrônomo. Oliveira afirma que a praga queima as folhas e com isso perde-se a condição de fotossíntese, não conseguindo transformar a água e os nutrientes do solo para engordar o cacho.
A praga é um fungo e uma das maiores dificuldades é que a bananeira precisa das mesmas condições que o fungo para se desenvolver, calor e umidade, o que dificulta o controle da praga. Atualmente, os produtores utilizam a pulverização aérea na região para controlar a infestação. “A última ferramenta é a química, que é usada quando a gente detecta que a doença vai estragar a produção. E isso é feito de forma aérea, a pulverização aérea utiliza um volume muito reduzido de calda e dá para colocar o defensivo muito bem na planta”, explica Oliveira.
Segundo o agrônomo, são realizadas de seis a 10 aplicações por ano para controlar a praga no Brasil. “Em países exportadores da fruta, como a Costa Rica, Honduras e Equador, chega-se a fazer até 60 aplicações. E nós, que fazemos 10% disso, muitas vezes somos questionados sobre nosso produto”, afirma o engenheiro agrônomo.
Outra praga, inclusive muito parecida com a Sigatoka Negra, é a Sigatoka Amarela. “Essa doença é antiga, sempre atingiu os bananais, mas nunca causou grandes prejuízos. Em comparação, a Amarela é um fusquinha e a Negra é uma Ferrari”, argumenta Oliveira, comparando o avanço entre os fungos.
Uma terceira praga que causa grandes estragos no bananal é a Broca, que atua no rizoma da planta (área localizada entre o caule a raiz da bananeira), onde perfura a região e a planta acaba perdendo a capacidade de fornecer nutrientes para o cacho, diminuindo assim a produtividade da planta. A Broca nada mais é que um besouro que bota o ovo na base do rizoma, e desse ovo eclode uma lagarta que se desenvolve e ao final vira o besouro novamente. Para controlar a praga, são feitas armadilhas. Coloca-se o inseticida em uma bananeira recém-cortada e por cima deixa um pseudocaule. O besouro irá se alojar entre o caule e o pseudocaule e ali mesmo acabará morrendo.
“Outro problema recorrente são os nematóides, que atacam as raízes. Eles são vermes microscópios e causam danos à elas. Como as bases das plantas são atacadas, elas perdem toda a sustentação e podem cair, até porque o cacho pesa cerca de 50 quilos (kg) e fica pendurado por quase seis meses”, comenta Oliveira.

Fazenda Tiatâ

Outro produtor também de Sete Barras é Marc Pierre Medaets, que há 30 anos cultiva a fruta. Com 230 mil pés plantados em 100 hectares, o produtor implantou na Fazenda Tiatâ, o sistema com cabos na propriedade. Com isso, as bananas não precisam ser carregadas por longos caminhos e assim não são machucadas. “A intenção do cabo é diminuir o manuseio dos cachos, enquanto o pessoal carrega a fruta até o caminhão. Além disso, tínhamos de ter estradas para os caminhões passarem por dentro do bananal, e hoje temos apenas um local para limpar e encaixotar a fruta”, afirma Medaets.
O sistema de cabo na propriedade também foi decorrente do aumento da qualidade da fruta. “Mudou a exigência do mercado em relação à qualidade e isso influencia no custo de produtividade. Todos os funcionários têm curso de manuseio de produtos, tem EPI (equipamento de proteção individual), lugar próprio para armazenar defensivos e as embalagens”, explica Marc Medaets. Além disso, os funcionários moram na propriedade e têm carteira assinada, o que contribui para melhorar a condição dos trabalhadores e, consequentemente, a produtividade da fazenda.

Fora da lavoura
Além dos problemas na lavoura, os produtores sofrem em outras áreas. “Sempre comercializamos banana por caixa e aí o comerciante ia aumentando o tamanho da caixa para poder levar mais fruta. De 21 kg de fruta chegou a 35 kg. E não contente, passou a colocar o alongador, com a desculpa de proteger a fruta. Aí não tem fim. E o produtor, quando vai comprar qualquer produto, compra por quilo ou unidade”, explica o agrônomo Agnaldo Oliveira.
No estado de São Paulo, o governador José Serra sancionou a lei 13.174 que obriga a comercialização da banana por peso, o que deverá alterar drasticamente a condição de venda dos produtores. “Nós ainda continuamos vendendo por caixa, mas estamos aguardando a regulamentação da lei e de como será cobrada a multa para que a banana seja vendida por kg. Assim, cada caixa terá 21 kg cada, no máximo 22 kg e vai beneficiar e muito a nós, os produtores”, afirma Marc Meadaets.


Edicões de 2006
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES