Em Pombal, a 371 quilômetros da capital João Pessoa (PB), o engenheiro civil Raimundo Queiroga Neto apostou alto na escolha da atividade. Assim, há sete anos, entre hotelaria, avestruz e gado leiteiro, ele optou pela criação de ovinos Santa Inês.
A decisão foi tomada por várias questões técnicas e também pela boa valorização da atividade, inclusive com preços elevados de animais em leilões. Também pesou o fato de a cidade de Pombal já ser conhecida pela qualidade genética, rusticidade, pureza e raça e, principalmente, pela certeza de que quem adquirisse animais da região comprovadamente melhoria a qualidade do seu plantel. Um resultado que segundo o criador “só Deus pode explicar”. E os anos mostraram que a escolha do engenheiro estava certa. “Quando iniciei a criação, ninguém conhecia Raimundo Queiroga. Hoje, sete anos depois, o Rebanho Agromassa é promotor de grandes eventos e que atingiu vendas superiores a R$ 1,2 milhão”, conta satisfeito o criador.
Já hoje, a aposta de Raimundo Queiroga é no potencial genético da raça Santa Inês. Tanto que há um trabalho focado neste sentido buscando atender às exigências dos mercados quanto à produção de carne com foco principal no aprimoramento da raça. “Buscamos os melhores acasalamentos em função dos produtos já nascidos. Viabilizamos as melhores técnicas de inseminação artificial, transferência de embriões e FIV [fertilização in vitro], sempre utilizando os reprodutores de Pombal ou com a genética daqui”, diz.
Atualmente o rebanho de Queiroga é composto por 300 animais, sendo 180 matrizes e 20 reprodutores, 100 borregas e borregos em seleção. A criação é mantida em 15 hectares, dividida em 20 piquetes. Os animais do Rebanho Agromassa recebem tratamento diferenciado, de acordo com a idade e finalidade. Tudo supervisionado por veterinários que dão uma consultoria especializada. Lá, podemos dizer que matrizes e reprodutores são “vips”. “Nós últimos anos, o sucesso de Pombal quanto à criação de Santa Inês ocorre porque os criadores têm adotado uma seleção genética. Só para ter idéia, nos últimos anos saíram daqui cinco grandes Campeões Nacionais”, ressalta.
Sem dúvida, a raça Santa Inês se adaptou muito bem ao semi-árido brasileiro e, quem diria virou marca registrada da cidade de Pombal. “Hoje existem diversos criadores buscando cruzamentos voltados para um melhor rendimento na produção de carne e utilizam principalmente o Dorper, de origem Sul Africana, uma raça que vem se adaptando muito bem”, conta Neto, que dá sinais que uma outra raça poderá crescer também no nordeste .
Outro exemplo de fortalecimento da Santa Inês na região é o criatório da Estância Vale Encantado, localizada no município de Serra Preta, a 200 quilômetros de Salvador (BA). Há muito tempo, a família Moreira tinha em suas terras uma pequena criação de ovinos. Mas só a partir de 1990 é que o criador Agnaldo Moreira decidiu investir em genética e na seleção de raça. Hoje, há 300 hectares destinados a um rebanho de 800 animais, entre caprinos Anglo Nubiano – uma raça inglesa e que se adaptou muito bem ao clima sertanejo –, e ovinos Santa Inês. “Agora como nosso objetivo é o melhoramento genético para produzir carne de alta qualidade, damos maior ênfase à criação de Santa Inês, uma raça que nos pareceu ideal, principalmente pela precocidade, assim como produção de uma carne mais magra e bem aceita no mercado”, diz o criador Agnaldo Moreira.
Com um trabalho que envolveu tempo e paciência, o criador foi descartando animais com características desfavoráveis. Além de conduzir os cruzamentos de animais com caracteres complementares, buscando a homogeneidade no rebanho. “Para isto, temos investido na inseminação artificial, utilizando os principais reprodutores, campeões nacionais de progênie”, conta Moreira.
Na propriedade, para aumentar o ganho de peso dos animais, a recomendação é o pasto com uma suplementação mineral à vontade, sendo que nos períodos de seca, é oferecido uma ração balanceada. “Usamos também a palma [cacto típico do semi-árido brasileiro, que é rica em energia e de fácil digestão], que na seca se torna fundamental à sobrevivência dos animais e o sorgo. Damos também com ração balanceada e alfafa”, diz.
Selecionados em ambientes hostis, a raça consegue reverter praticamente tudo o que comem em proteínas. Na Estância Vale Encantado, a boa genética resulta em reprodutores e matrizes valiosos. Da Bahia para o mundo, o plantel já conta com até celebridades, de títulos que vai de Reservada Campeã e a Grandes Campeões, que percorrem o País em feiras e exposições.
Foi uma história de sucesso que começou há 30 anos, no estado de Alagoas, e que passou por muitas gerações. Esta é a saga do criatório do Rebanho Mumbuca, que teve o município de Cajueiro, a 78 quilômetro da capital Maceió, como sede da primeira fazenda e local de plantel da raça Santa Inês. Anos depois, o rebanho foi transferido para a São Luiz do Quintude, região da mata de alagoana e fez da Mumbuca uma referência de boa genética das ovelhas conhecidas como “pêlo-de-boi”. Só então em 2006, a cabeceira do rebanho foi transferida para o interior paulista. “A raça oferece muitas vantagens, entre elas, a precocidade e a rusticidade, se adaptando com facilidade a qualquer sistema de criação e pastagem”, diz o sócio-proprietário, Fábio Cotrim Rodriguez.
O plantel de elite da Mumbuca se divide na unidade Sudeste, em Amparo; enquanto na unidade Nordeste, em Alagoas, se destina à reprodução. Em Amparo, o rebanho é constituído de 120 doadoras, 200 matrizes, 10 reprodutores e cerca de 600 crias (entre mamando e apartadas) de animais puros. Obviamente, cada propriedade tem o seu manejo específico, condicionado às características regionais. “De todas as formas, visamos o bem estar animal necessário para que os ovinos expressem o seu máximo potencial genético – seja pelo desempenho nas pistas de julgamento e no ganho de peso, como na fertilidade que resulta em produtividade”, ressalta Rodriguez.
Empolgado com os resultados, a Mumbuca investe cada vez mais em melhoramento genético, estrutura que inclui até TE (Transferência de Embriões). Além disso, é atualmente uma das responsáveis pela entrada de novos investidores na raça Santa Inês. Tudo graças aos títulos conquistados ao longo dos anos, entre eles, o ranking “Cabanha do Ano 2007” da Aspaco – Associação Paulista de Criadores de Ovinos. Isto porque, segundo o sócio-proprietário, a Mumbuca ainda não atua, de forma comercial, na produção de carne.
Para Fábio Rodriguez, a busca pelo melhoramento genético, as parcerias com instituições governamentais e universidades para pesquisas e a profissionalização de exposições e leilões, fez do nordeste o cenário perfeito para escrever grandes histórias na ovinocultura, principalmente a da Santa Inês.
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De acordo com os dados da Embrapa Caprinos e Ovinos, em geral, no nordeste brasileiro, a comercialização de caprinos e ovinos caracteriza-se por canais de comercialização informais, em zonas rurais e pequenas cidades, com pouca participação de agroindústrias (frigoríficos) e de pontos comerciais formais. “Entretanto, o desenvolvimento de alguns pólos econômicos na região Semi-Árida, como o de Petrolina em Pernambuco, e o de Juazeiro na Bahia, tem estimulado investimentos públicos e privados na atividade, com o surgimento de novas formas de exploração e de pontos de venda com características empresariais”, revela o pesquisador da unidade, Expedito Cezário, engenheiro agrônomo e especialista em economia rural.
Um grande avanço para regiões e principalmente para Santa Inês. A raça pode preencher a lacuna que separava a ovinocultura nacional de uma criação em larga escala. “O semi-árido sempre foi forte na ovinocultura. Proporcionalmente, quando a ovinocultura laneira do Sul era forte, parecia que o nordeste não criava muito ovino. No entanto, a criação veio de encontro com as necessidades das populações do semi-árido, onde as condições ambientais que não permitem agricultura forte ou a exploração de bovinos”, comenta o pesquisador Raimundo Lobo, da Embrapa Caprinos e Ovinos.
Matéria: Ovinos no Nordeste
Ovinocultura
Título: A típica raça nordestina
Por: Fátima Costa
Fotos: Divulgação
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