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MAMONA - A RENDA DA MAMONA
rev 132 - fevereiro 2009

Em meados de 2005, a região do semi-árido alagoano poderia vir a se tornar uma grande produtora de mamona, incentivada pelo Programa do Biodiesel de Alagoas (Probiodiesel). Eram 13 municípios identificados por meio de um zoneamento agrícola e que foram considerados como potenciais produtores da planta. O projeto iniciou-se com a implantação de unidades experimentais da Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri/AL), nos municípios de Palmeira dos Índios e Igaci.
Quatro anos depois, a cultura da mamona – também denominada como ricinocultura –constituiu-se realmente como uma atividade economicamente rentável e que tem favorecido muitos pequenos agricultores.

Hoje, as plantações vão aos poucos ganhando espaço na agricultura alagoana. De acordo o Sebrae/AL (um dos 15 parceiros do programa), o zoneamento agrícola, que inicialmente envolvia poucos municípios, já conta com 33 com aptidão climática. Atualmente, são quase 500 agricultores (que em média ocupam entre seis a 15 hectares (ha), podendo chegar até 100 ha) que cultivam aproximadamente 56 toneladas de mamona, em uma área próxima a 800 ha.
Apesar da cultura da oleaginosa em Alagoas ainda estar em fase de expansão, o estado já é produtor e exportador de sementes para as regiões circunvizinhas, graças ao avanço de novas tecnologias, adubação, irrigação e a dedicação de agricultores, como Antonio Fidelis. Em sua propriedade, localizada no município de Ibateguara – a 110 quilômetros de Maceió – dos 16 hectares, oito são destinados para a produção de mamona. Atualmente, a Sementeira Renascer (nome da empresa que o agricultor fundou), não só produz como também comercializa sementes certificadas.
Segundo Fidelis, hoje o alto índice de germinação deve-se às qualidades das sementes que receberam a aprovação da Embrapa Meio Norte e do Ministério da Agricultura. Atualmente, o agricultor diz trabalhar com as variedades mais recomendadas e solicitadas pelo mercado: BRS Paraguaçu e a BRS Nordestina. “Neste ano outras variedades devem ser inseridas, como a BRS Energia, uma variedade de ciclo curto. O que assegura boa produção e rentabilidade aos produtores rurais”, diz. Os principais compradores das sementes produzidas na Sementeira Renascer são produtores da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Na última safra, Fidelis comercializou 22 toneladas. “Esse número deve crescer ainda mais porque nós iremos ampliar a área de plantio. Em 2010 deve dobrar”, comenta o agricultor de Ibateguara, que se diz animado com o negócio da mamona.
A procura é grande principalmente pelas indústrias químicas, farmacêuticas e, é claro, o biocombustível. A ricinocultura é intensiva em mão-de-obra (gera empregos) e um dos benefícios é a renda do produtor, principalmente pelo fato de se fazer o plantio em conjunto com outras culturas.
Para a gestora do projeto do Sebrae/AL, Rita Gonçalves, a mamona é o que dá para plantar no semi-árido e gerar renda. “Além disso, a plantação é aliada ao cultivo de feijão, levando também alimento para as famílias”, comenta a gestora. “Com isto, o produtor recebe um ganho extra. Um agricultor que cultiva a mamona em cinco hectares, com a cultura do feijão pode agregar até R$ 300 por mês à renda dele”, acrescenta Fidelis.
Na opinião do agricultor Antonio Fidelis, a cultura da mamona é ideal para a agricultura familiar. “A cada 90 dias a planta tem cachos no pé e a colheita pode ser feita durante nove meses”, explica. “A produção de mamona se torna uma forma de agregar valor num período que a terra não é utilizada para outras culturas”.
Além disto, Fidelis destaca os rendimentos. “Basta comparar com a cana-de-açúcar. Enquanto um pequeno produtor obtém R$ 1.500,00/ha, considerando uma produtividade de 50 toneladas de cana, nessa mesma área, com o plantio de mamona, ele pode dobrar o rendimento da propriedade”, avalia. “Pode-se alcançar uma receita de R$ 3.400,00/ha. Por isso, a mamona surge como um bom negócio, principalmente, depois de comprovado sua eficiência na produção de biodiesel”, diz Fidelis.

A força da mamona alagoana

A 120 quilômetros de Maceió, no município de Arapiraca, é fácil encontrar novos adeptos da ricinocultura, como Edmilson Castro Alves, que tomou conhecimento da cultura por intermédio de outro agricultor. Em 2007, ele iniciou o plantio numa pequena área e no ano passado expandiu para 100 ha, onde espera colher a safra no primeiro semestre de 2009. “Aqui, 90% dos agricultores que estão plantando mamona abandonaram a cultura do fumo”, conta Alves. “O mercado para os fumicultores era forte quando existiam empresas, que até exportavam o produto. Porém, gradativamente elas foram embora restando apenas compradores da região que monopolizaram o preço. Não compensava mais. Agora, troco fumo pela mamona”. O produtor conta que também há anos utilizava o farelo da oleaginosa para produzir adubo para os pés de fumo. “A mamona trouxe uma nova esperança para os agricultores que não tinham outra saída”, ressalta o produtor de Arapiraca.
No ano 2007, em Alagoas foram colhidas e comercializadas 237 toneladas de bagas de mamona, o que representou uma média de 70% da produção agrícola e negociada ao preço entre R$ 1,02 a R$ 1,30 para as indústrias farmacêuticas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e para a unidade de beneficiamento de pesqueira, em Pernambuco.
Segundo dados do Sebrae/AL, grande parte desse sucesso se deve ao clima favorável da região. Além disto, por meio do Probiodiesel foram firmadas parcerias com usinas de biodiesel (fora do estado), o que garantiu a comercialização do produto e o benefício de vários agricultores, assim como Fidelis. Para ele, o programa desenvolve um papel fundamental. “Já houve várias tentativas de implantar esse projeto em Alagoas. Mas sempre havia problemas na hora da comercialização. Hoje está mais organizado, com produtores cadastrados, zoneamento para a cultura e acompanhamento técnico”, comemora o agricultor que, de olho no futuro, objetiva agora a comercialização do óleo de mamona refinado, para garantir uma renda maior.

Contribuição das parcerias

O fortalecimento e o desenvolvimento do plantio de mamona na região começou a partir da criação da Lei 1.109/05, pelo governo federal, junto à criação do Conselho Nacional de Políticas Energéticas. Além disso, há parcerias do Sebrae/AL, da Seplan (Secretaria Executiva do Planejamento e Orçamento) e da Seagri (Secretaria Executiva de Agricultura), que iniciaram o Programa com a sensibilização e mobilização de agricultores nos municípios zoneados para a cultura da mamona.
Há dois meses, o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, participou das atividades relacionadas ao Probiodiesel, no município de Arapiraca. Na ocasião, foram feitas demonstrações do processamento da mamona nas batedeiras adquiridas pelo governo do estado para atender aos agricultores. Além da visita de campo, o grupo ainda participou da reinauguração da indústria de Óleos Vegetais de Alagoas – Oleal, com perspectiva de que passe a operar ainda neste ano.
Enquanto aguardam novos investimentos, os produtores anseiam por novos mercados. Isso porque a mamona, cuja tecnologia de produção está ainda em fase de estruturação, pode ter vários destinos como: o óleo, para a indústria de ricinoquímica e diversos co-produtos são gerados dos resíduos, e o biodiesel, que Alagoas ainda não produz. Para completar um cenário perfeito aos agricultores ainda falta assistência técnica, garantias de preço e insumos básicos para eles e linhas de crédito específicas para o desenvolvimento da mamona e o reconhecimento como agricultor familiar, pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Hoje os produtores alagoanos só contam com uma unidade de esmagamento de mamona, onde é extraído o óleo bruto e a torta de mamona, utilizada como adubo orgânico. Mesmo assim, esse é um exemplo que vem a ser seguido por outros estados nordestinos.

Matéria Mamona
Título: A renda da mamona
Por: Fátima Costa
Fotos Divulgação Sebrae/AL
Linha Fina: Pequenos agricultores ganham nova opção de renda no interior de Alagoas com a cultura da mamona


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