“O produtor somente tem a ganhar com o melhor manejo
das pastagens. Em tempos de crise, saber manejar adequadamente
a pastagens, pode viabilizar economicamente a atividade e
definir a permanência do pecuarista na atividade”,
pondera. No entanto, o problema crônico na pecuária
de corte incide justamente no manejo desse alimento destinado
ao gado – a degradação do pasto. De acordo
com estudos da Embrapa, estima-se que cerca de 80% dos 45
a 50 milhões de hectares de área de pastagens
nos Cerrados do Brasil Central, que responde 60% da produção
da carne brasileira, apresentam algum grau de degradação.
Vários fatores podem estar relacionados com a degradação,
entre eles o principal é a redução da
fertilidade do solo, associada à redução
da disponibilidade do nitrogênio – elemento químico
(N) importante para o desenvolvimento das plantas. Também
podem contribuir com a degradação o plantio
de espécie forrageira não adaptada às
condições locais e o manejo inadequado das pastagens,
como, por exemplo, a baixa lotação de animais
por hectare de pasto (o subpastejo) ou o contrário,
número excessivo de animais por hectare (superpastejo).
Para contribuir para melhores resultados na engorda do gado,
o pecuarista deverá estar atento à manutenção
e reforma de pastagens. [Confira na tabela, um cronograma
anual para tirar o melhor proveito das forrageiras].
“A recuperação das pastagens, quando for
possível adotá-la, é uma prática
viável, tanto técnica quanto economicamente”,
analisa a pesquisadora Patrícia Anchão. “Se
em cada hectare de pastagem degradada se adotasse apenas as
primeiras etapas do processo de recuperação,
seria possível dobrar a média de lotação
animal do Brasil de algo ao redor de 1 para aproximadamente
2 unidade animal (UA) por hectare [1 UA significa 450 quilos
de peso vivo], fato que tornaria possível dobrar o
rebanho nacional, sem a derrubada de uma única árvore
ou ainda reduzir a área de pastagens pela metade, liberando
espaço para a agricultura”, calcula.
Em termos de valores, o custo de recuperação
pode corresponder a 78% do custo de implantação
de uma nova área de pastagem, segundo dados da pesquisadora
[confira um quadro de custos por hectare de reforma e recuperação
de uma pastagem degradada de Brachiaria brizantha cv. Marandu.]
Intensificação da produtividade
Para se ter um pasto produtivo, o pecuarista deve começar
com a escolha da espécie ou cultivar, a escolha da
área, o preparo e correção de solo, a
época adequada de plantio e adubação,
e, finalmente, o método de plantio. Estudos da unidade
da Embrapa de São Carlos (SP), apontam a viabilidade
da técnica de manejo intensivo rotacionado com as forrageiras
do tipo Tanzânia e Mombaça, Braquiarão,
e Coastcross. Segundo os especialistas, esse sistema permite
aproveitar o potencial máximo de crescimento das forrageiras
tropicais durante o verão.
“Quando o produtor decide intensificar a pastagem, ele
deve rever alguns conceitos”, esclarece Anchão.
“Ele deve considerar a pastagem como uma cultura. As
pastagens podem extrair mais nutrientes do solo do que a maioria
das plantas cultivadas, dependendo do grau de intensificação.
Também se torna imprescindível procurar ajuda
de profissional especializado e realizar amostragem de solo
e análise em laboratórios de qualidade reconhecida”,
destaca.
Com o apoio técnico especializado, a escolha da área
de cultivo deve ser baseada no tipo de gramínea adequado,
o estante (população de plantas por área),
a topografia do terreno (áreas planas ou com pequeno
declive apresentam vantagens em relação às
de maior declive, pois facilitam a distribuição
de corretivos e adubos), a infra-estrutura da propriedade,
o custo de implantação e a fertilidade original
do solo.
As variadas verdinhas do pasto
As forrageiras mais comuns e que podem ser utilizadas sob
manejo intensivo são o capim-braquiária, o capim-braquiarão,
o capim-colonião, o capim-tanzânia, o capim-tobiatã,
o capim-mombaça, o capim-coastcross, o capim-estrela
e o capim-tifton. A escolha da forrageira deverá se
adequar às características da região,
que apresentem condição de responder mais rapidamente
às adubações e não estejam em
processo de degradação.
Gênero Brachiaria. Teve um papel importante no País,
pois viabilizou a pecuária de corte nos solos ácidos
e de baixa fertilidade, predominantes na região dos
Cerrados, e constitui ainda hoje a base das pastagens cultivadas
brasileiras. [Confira na tabela ‘Gênero Brachiaria’
as principais características desse gênero].
Gênero Panicum. O Panicum maximum Jacq. é uma
das espécies de plantas forrageiras mais importantes
para a produção de bovinos nas regiões
de clima tropical e subtropical, sendo a cultivar Colonião
a mais difundida e de introdução mais antiga
no Brasil. Outras variedades ganharam destaque, em função
do potencial de produção de matéria seca
por unidade de área, ampla adaptabilidade, boa qualidade
de forragem e facilidade de estabelecimento. Entre elas se
podem listar as cultivares Tobiatã, Vencedor, Centenário,
Centauro, Aruana, Tanzânia, Mombaça e Massai.
[confira no quadro ‘Gênero Panicum’ as características
dessas forrageiras].
Gênero Cynodon. Apresenta-se como mais um recurso forrageiro
para as regiões tropicais e subtropicais. Existem duas
espécies principais: o capim-bermuda e o capim-estrela.
No grupo das bermudas, vários híbridos estão
disponíveis: Coastcross, Florakirk, Tifton 44, Tifton
68 e Tifton 85. No grupo das estrelas estão disponíveis
as cultivares: Florico, Florona e Ona. [Confira na tabela
‘Gênero Cynodom’ as principais características
dessa planta].
Implantação do sistema
De posse dos resultados da análise de solo, do número
de animais e qual categoria (vaca, novilha, garrote, bezerro)
vão se alimentar da pastagem, do peso deles e com a
ajuda de um técnico especializado, deve-se definir
as doses de calcário e nutrientes utilizadas, assim
como a fontes de fertilizantes a serem empregadas, segundo
a pesquisadora Patrícia Anchão.
O preparo do solo deve ser feito de forma a criar condições
ideais para a germinação das sementes e para
o crescimento da planta. Nesse estágio é importante
permitir o maior contato da semente com as partículas
de solo, além de garantir a colocação
das sementes em profundidade adequada – para a maioria
das espécies forrageiras, a profundidade de plantio
recomendada é de 2 a 4 cm. As forrageiras tropicais
devem ser plantadas durante o período chuvoso e quente
do ano, quando as condições climáticas
são mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas.
Calagem
A calagem deve ser a primeira prática de correção
no solo. “A função dela é corrigir
a acidez do solo [fornecendo Cálcio (Ca) e Magnésio
(Mg)], e é muito importante porque a acidez do solo
afeta o crescimento das plantas de várias formas e
diminui a eficiência de uso de nutrientes aplicados
por meio de fertilizantes”, explica a pesquisadora da
Embrapa Pecuária Sudeste.
Essa correção no solo é realizada 30
a 90 dias antes do plantio, de acordo com o Poder Relativo
de Neutralização Total (PRNT) do calcário.
“Esse índice reflete o PRNT da acidez do solo
e quanto maior o valor dele menor a dose de calcário
para diminuir a acidez do solo”, explica Anchão.
Adubação
Cinco elementos estão presentes na adubação
do solo e devem ser manejados de forma e doses corretas para
melhores resultados na produtividade da cultura de forrageira.
São eles: fósforo (P), potássio (K),
enxofre (S), nitrogênio (N) e micronutrientes. Para
a obtenção de uma maior quantidade de forragem,
é necessário considerar que as gramíneas
forrageiras são tão ou mais exigentes do que
as culturas tradicionais. Dessa forma, para a exploração
intensiva das pastagens nos solos de cerrado, a correção
e a adubação estão entre os fatores mais
importantes a determinar o nível de produção
das forrageiras.
Nos programas de correção e adubação
de solo são destacados sete erros comuns, de acordo
com Patrícia Anchão: (1) a falta de uma amostragem
e análise de solo; (2) o uso de fertilizantes, sem
verificar a necessidade de calagem; (3) recomendação
de doses de fertilizantes, principalmente de N, sem considerar
a lotação animal pretendida; (4) correção
e fertilização de pastagens para atender animais
de genética comprometida, que não ganham peso
e nem produzam leite; (5) Adubação de pastagens,
principalmente com N, sem possuir número de animais
suficiente para consumir a forragem produzida; (6) a falta
de monitoramento de fatores climáticos, como chuvas
e temperatura mínima; e, finalmente, (7) a falta de
consulta de um profissional para realizar as recomendações
de fertilização.
Lotação Contínua
Os principais objetivos do manejo das pastagens são
assegurar a longevidade e a produtividade da planta, além
de fornecer alimento em quantidade e qualidade para atender
às exigências nutricionais do rebanho. O manejo
das espécies forrageiras está relacionado às
características de forma, estrutura e funções
orgânicas das plantas. Há dois métodos
clássicos de pastejo que podem ser utilizados, o contínuo
e o rotacionado.
No pastejo com lotação contínua, os animais
permanecem na mesma área durante toda a estação
de pastejo ou durante o ano. A vantagem do método de
pastejo com lotação contínua é
a possibilidade de se obter desempenho animal mais elevado.
No entanto, com o decorrer de oferta elevada de forragem,
ocorre o acúmulo de material morto, o que prejudica
a produção futura de pasto. Assim, à
medida que se intensificar a produção das pastagens
com essas forrageiras, o pastejo rotacionado também
passa a ser indicado, por permitir controle do resíduo
pós-pastejo de forma mais adequada.
As plantas do gênero Brachiaria, principalmente a B.
decumbens e a B. humidicola, e as do gênero Cynodon
podem apresentar bom desempenho sob pastejo contínuo,
de acordo com a Embrapa. Nesse caso é recomendado manter
a altura das forrageiras entre 20 e 40 cm. Outra forma de
se ajustar o manejo é por meio da disponibilidade de
forragem. No caso de plantas forrageiras do gênero Cynodon,
de forma geral, é recomendado manter a altura das plantas
entre 15 e 25 cm. Já para os capins do grupo estrela,
que são de porte mais elevado do que os capins do grupo
bermuda, é indicado manter altura de pastejo acima
de 30 cm.
Rotacionado
O sistema de pastejo rotacionado, que se caracteriza pela
mudança periódica e freqüente dos animais
de um piquete para outro dentro da mesma pastagem, é
o mais indicado, por garantir maior uniformidade e melhor
eficiência do consumo da forrageira e maior controle
do estoque do alimento ao gado. Esse sistema facilita, assim,
a determinação da oferta de forragem, que é
definida em termos de quilogramas de matéria seca ofertada
por dia por 100 kg de peso vivo (% PV).
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