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CRIAÇÃO - TRATO INICIAL GARANTIDO:
rev 131 - janeiro 2009

Pesquisa desenvolve método econômico para a utilização do colostro – leite produzido após o parto – que antes era descartado. Imagine utilizar uma técnica simples, de fácil apropriação pelo pequeno produtor de leite e o mais importante, sem requer altos investimentos em insumos, instalações ou maquinários. A médica veterinária e pesquisadora, Mara Helena Saalfeld, provou que isto era possível quando desenvolveu uma tecnologia para utilização de um subproduto da pecuária leiteira: o colostro (substância semelhante ao leite, produzido pela vaca desde o parto até o quinto dia pós-nascimento). “Sem valor comercial, ele é rejeitado pela indústria. Em comparação ao leite comum, apresenta cinco vezes mais proteínas para as terneiras (bezerras). Porém, o consumo é pouco e o excedente sempre é jogado fora”, diz Mara Saalfeld.

Há alguns anos, a pesquisadora da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ascar-RS/ Emater) saiu à procura de uma alternativa, de baixo custo ao produtor e, que utilizasse mais o colostro. “Li um artigo sobre produtores uruguaios que coletavam o colostro e armazenavam em latões abertos. Eles coletavam durante os quatro dias de produção e a cada ordenha acrescentavam mais colostro e homogeneizavam. A fermentação acontecia de forma aeróbica (em contato com o ar). E o produto era usado por cerca de 20 dias. No entanto, este tinha um cheiro muito ruim, provocava diarréia e alopecia (perda dos pêlos) nos animais e apodrecia rapidamente”, comenta.
A pesquisadora decidiu prosseguir com o mesmo método, mas chegar à conclusão de sucesso. “Trocamos os latões por garrafas pets e ao fechá-las e armazená-las em um galpão, descobri que fazia a silagem de colostro [um processo de fermentação anaeróbica (sem a presença de ar), num recipiente de plástico, com transformação de lactose em ácido láctico e com Ph de 3,5]”.
No entanto, a experiência não foi tão simples assim. “Abrimos as garrafas e oferecemos as terneiras, que não quiseram beber por ter um sabor desconhecido e muito forte. Assim diluímos em igual quantidade de água e oferecemos novamente. Notamos que elas não beberam, pois o sabor era salgado e ácido, o que era necessário acostumá-las”, recorda.
Acrescentando a silagem de colostro aos poucos ao leite, em quatro dias as terneiras (bezerras) acostumaram com o sabor e passaram a beber a mistura. A experiência não só deu certo como também recebeu até o reconhecimento do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, edição 2007. “Recentemente estive em quatro países da Europa para divulgar o trabalho”, comenta. “O produtor que conhece a tecnologia passa a adotá-la e o leite que era destinado para a terneira passou a ser comercializado, o que torna economicamente viável. Outro fator é que cada vez que uma vaca dava cria, litros de colostros eram jogados fora”.
Segundo a médica veterinária Mara Saalfeld, alguns produtores de ovinos tem utilizado a silagem de colostro para suplementar cordeiros gemelares ou que perderam a mãe. Outro ganho com a silagem de colostro é com o meio ambiente. “Nas propriedades rurais não existe sistema de tratamento de esgoto. Assim o excedente do colostro ou vai para a esterqueira ou para o meio ambiente. Muitas vezes é desprezado nos fundos de galpões e acaba escorrendo para açudes, córregos e rios. Sendo o leite um dos melhores meios de cultura para microorganismos há uma proliferação de insetos, baratas, entre outros”, conclui.

Produto Valioso

Segundo Mara Saalfeld, um produtor precisa de no mínimo 200 litros de leite para criar uma “terneira” corretamente. O que representa um impacto de R$ 120,00 por animal. “Até dar a primeira cria, a novilha apresenta um dispendioso investimento”, avalia. “Neste período, a terneira necessita, em média de 4,5 litros de leite por dia para um completo desenvolvimento, o que obriga o criador a deixar de comercializar parte da produção diária para atender a essa demanda”, diz.
Na opinião da médica veterinária Lílian Pereira e professora do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça (Cavg) de Pelotas (RS), a utilização da silagem de colostro representa uma economia para o produtor de leite. “Serão 200 litros a mais para produção de leite comercial e subprodutos, que contribui para a renda final deste produtor. Cientificamente ainda não há nada comprovado da eficiência da silagem de colostro, mas em comparação aos outros derivados que substitui o leite neste período, o desenvolvimento das bezerras é melhor. Existem casos, onde é necessário que o animal tome o colostro, até mais de 60 dias, e a silagem veio contribuir para isto. Com a redução do uso do colostro, muitos produtores passaram até a criar os bezerros na propriedade, que dentro de uma criação de pecuária leiteira é normalmente descartado, agregando nova opção de renda, com produção de novilho”, comenta a veterinária Lílian Pereira, que ensina aos alunos da Cavg, a importância deste trabalho.
Milhões de litros de colostro são desprezados diariamente e este colostro poderia ser usado como fonte riquíssima de nutrientes para as bezerras. O colostro tem mais proteínas, minerais, gorduras e vitaminas do que o leite. Enquanto o leite tem em média 3% de proteína, o colostro do dia do parto tem 14% de proteína. No segundo dia após o parto, a proteína baixa para cerca de 8%, e no terceiro dia fica em torno de 5%, valores ainda significativos se comparados ao leite.
O produtor Claudino Renato Raichow há seis anos faz a silagem de colostro. Ele afirma que com a economia obtida com a silagem está conseguindo pagar a metade da parcela anual do Pronaf-Investimento, que contratou para construção de salas de ordenha. “Obtivemos o valor de R$ 100 reais a mais com o uso da tecnologia. O rendimento do colostro é dobrado, o que uma vaca produz 45 litros de leite, dobramos este número para 90 litros e o que possibilita também dar as terneiras, o colostro por muito mais tempo. Sem dúvida, elas se desenvolvem bem melhor”, conta o produtor.
Novos estudos estão sendo elaborados, como determinar o tempo de fermentação necessário para a silagem de colostro ficar pronta. “O parâmetro que usávamos eram os 21 dias de silagem de milho. Com este trabalho ficou determinado que em sete dias a silagem de colostro está pronta para consumo. Em ambientes com maior luminosidade e maior calor, em quatro dias está pronta para consumo”, menciona a pesquisadora responsável.
“Outra pesquisa é sobre a resistência de microorganismos na silagem de colostro após a fermentação. Constatamos que após sete dias não existem bactérias patogênicas na mistura. Outras constatações é que o consumo da silagem de colostro por ser ácido torna o ambiente gástrico mais resistente à infecção de bactérias”, avalia Mara Saalfeld.

Como produzir

Tendo boa disponibilidade e fácil armazenamento, o colostro é engarrafado e fermentado por 30 dias em temperatura ambiente - sem a incidência de sol. A silagem pode ser armazenada por tempo indeterminado até a sua utilização.

Como fazer

1) Coloque o colostro excedente em garrafas pets limpas:
2) Encher a garrafa até a boca, tampando-a devidamente, garantindo ausência total de ar, o que permitirá uma fermentação correta;
3) Guarde as garrafas em local limpo, fresco e sombreado;
4) Com os novos estudos, entre 07 a 21 dias de fermentação, a mistura estará pronto para ser utilizado como substituto do leite. O odor deve ser semelhante a queijo com sabor ácido e levemente salgado. O aspecto da silagem pode ser homogêneo ou separado em partes de acordo com o dia coletado. (Utilizar o colostro coletado no primeiro e segundo dia para alimentar bezerras até 35 dias e colostro coletado no terceiro e quarto dia para bezerras após 35 dias).

Como usar

1) Misturar uma porção de silagem de colostro a uma igual quantidade de água morna (50ºC);
2) Misturar bem, colocar no balde ou mamadeira para oferecer à bezerra;
3) Acostumar a bezerra ao sabor da silagem de colostro adicionando a mistura, aos poucos, ao leite (1º dia, 25% da mistura, mais leite – 2º dia, 50% da mistura mais leite – 3º dia, 75% da mistura mais leite e 4º dia, em diante somente a mistura).




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