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SANIDADE - FIQUE DE OLHO NELAS!
rev 131 - janeiro 2009

Brucelose e tuberculose são doenças que devem pautar qualquer planejamento sanitário para garantia de um rebanho saudável e produtivo. Duas zoonoses provocadas por bactérias – a primeira, Brucella abortus (que causa a brucelose) e a segunda, Mycobacterium bovis (causadora da tuberculose) – devem fazer parte do controle sanitário do rebanho de qualquer propriedade brasileira – seja a de bovino como a de bubalinocultura. Dados da coordenadoria do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) estimam, num rebanho com brucelose, a diminuição na produção de leite da ordem de 10 a 24%, a diminuição na produção de carne da ordem de 10 a 15% e a redução do tempo de vida produtiva dos animais, o que exigirá uma taxa de reposição da ordem de 30%, fora os custos que isso trará.

“Situação semelhante acontece com a tuberculose”, acrescenta José Ricardo Lobo, coordenador do PNCEBT.
“A doença leva a prejuízos com a queda no ganho de peso, diminuição na produção de leite, descarte precoce, eliminação de animais de alto valor zootécnico, condenação de carcaças, morte de animais e perda de credibilidade da unidade de criação”. Em 2007, segundo dados do governo federal, foram abatidos/sacrificados 6.121 animais reagentes positivos para brucelose e 2.265 para tuberculose.
As perdas com o rebanho, se agravam ainda mais com o descrédito do produtor que fica impedido de vender a produção dele em função dessas doenças. Para se ver longe desses prejuízos e garantir a sanidade adequada ao gado, o pecuarista deve estipular um cronograma de vacinação e exames nos animais. Segundo pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, a vacinação, no caso da brucelose, pode ser ministrada dos meses de novembro a junho, sendo fevereiro a melhor época para a vacinação. Em Ponta Porã (MS), o rebanho da fazenda Paquetá tem um programa de vacinas de controle da brucelose que vai de janeiro a março. Este ano serão imunizadas cerca de 2.300 fêmeas, de acordo com o zootecnista da propriedade, Hélio de Biasi. “Os exames de brucelose, nas novilhas é realizado em maio. Em 2008, este exame foi feito com cerca de 4.800 fêmeas, e cerca de 83 delas tiveram um laudo de suspeitas a positivas – todas descartadas”, conta.

As regras do jogo

Em relação à brucelose, é obrigatória a vacinação de todas as fêmeas bovinas e bubalinas, entre três e oito meses de idade, com amostra B19. É de praxe marcá-las na cara com um “V”, por facilitar a identificação. Em propriedades certificadas recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas até os 6 meses de idade, para reduzir a possibilidade de reações da própria vacina nos testes de diagnóstico.
A vacinação só pode ser realizada sob responsabilidade de médicos veterinários devidamente cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal do estado em que ele atua, de acordo com PNCBET. Com base nos dados de 2007 do Programa, 7.800 médicos veterinários de todo o país já passaram por Cursos de Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e da Tuberculose Animal, destes, cerca de 3.400 já estão habilitados.
A expectativa, segundo o governo federal, é de reduzir a prevalência da brucelose a um nível em que se possa passar à fase de erradicação, com a vacinação de cerca de 75% da população de fêmeas de três a oito meses de idade. Mas isso ainda vai levar um bom tempo para acontecer. “Acredito que dentro de um espaço de 20 anos o País poderá ter essas doenças erradicadas”, prevê a pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo, Eliana Roxo, que participa do Comitê Científico Consultivo sobre Brucelose e Tuberculose Animal (CCBT).
Atualmente, o trabalho coordenado pelo PNCBET está voltado para o controle sanitário dessas doenças, segundo ela, com a implantação de sistemas de fiscalização em todos os estados, pesquisas, produção de vacinas, capacitação de médicos veterinários, certificações e inspeções em propriedades rurais, o descarte de animais infectados, e, principalmente, o trabalho de envolvimento do produtor no combate a essas zoonoses.

Tuberculose

Há três testes de tuberculinização que identificam a doença: (1) o Teste Cervical Simples (TCS), adotado como prova de triagem devido à boa sensibilidade dele; (2) o Teste da Prega Caudal (TPC), também utilizado como prova de triagem, porém, exclusivamente em gado de corte; e (3) o Teste Cervical Comparativo (TCC), única prova confirmatória, podendo ainda ser usado como prova de triagem em rebanhos com histórico de reações inespecíficas, em estabelecimentos certificados como livres e em estabelecimentos com criação de búfalos, visando garantir um diagnóstico mais preciso com esse tipo de animal.
Sem uma forma de tratamento viável até o momento, a identificação da doença no rebanho é controlada com o descarte da rês que tiver o diagnóstico positivo. A doença afeta tanto a produção de gado de corte como o de leite, no entanto, a maior incidência dela recai sobre a atividade leiteira, em função do longo tempo de vida produtiva dos animais e a maior proximidade entre os animais em função do manejo nessa atividade.

A prevalência das doenças no País

Em relação à brucelose (a qual os estudos avançaram mais), de acordo com o coordenador do PNCEBT, José Ricardo Lobo, entre 2001 e 2006, 14 estados brasileiros realizaram estudos de prevalência dessa doença, dois outros concluíram a colheita de amostras e os exames estão em processamento. O que se pode dizer, com base nesses dados, é que a região Centro-Oeste apresenta os maiores índices de prevalência da brucelose. A menor, foi registrada em Santa Catarina. “Devido a isso, o estado está excluído da obrigatoriedade de vacinação contra a brucelose desde 2004, devendo adotar medidas de vigilância visando à erradicação dela”, diz Lobo.
Minas Gerais, que já adotava ações de combate à brucelose mesmo antes da instituição do PNCEBT, em 2001, segundo Lobo, especialmente em relação ao uso da vacina B19, registrou considerável queda da prevalência da doença, revelando a eficácia da vacinação.
Quanto à tuberculose, só Minas Gerais e o Distrito Federal possuem um estudo epidemiológico mais recente: Em 1999 (MG) e em 2004 (DF). Os índices de prevalência estimados, no estado mineiro, foram de 0,8% de animais infectados e 5,0% de propriedades com animais reagentes, subindo esse valor para 15% em propriedades com algum grau de mecanização da ordenha e tecnificação da produção. No Distrito Federal foram encontrados 0,0305% de animais infectados e 0,419% de propriedades com animais reagentes.

O PNCEBT

Implantado desde 2001, esse programa sanitário do governo federal se caracteriza como um referencial de trabalho para uniformizar as ações de controle da brucelose e tuberculose no País. Segundo a pesquisadora do IB, Eliana Roxo, é a partir dessa linha de trabalho que o combate dessas duas doenças terão melhores resultados.
Em busca de uma maior interação no território nacional, de acordo com o coordenador do PNCEBT, José Ricardo Lobo, o programa envolve diversos segmentos dos setores público e privado, como os serviços oficiais de defesa sanitária animal, médicos veterinários, universidades, centros de pesquisa, laboratórios, pecuaristas e a agroindústria.
“A principal estratégia do programa, desde a implantação, é a vacinação obrigatória de fêmeas bovinas e bubalinas contra a brucelose, uma vez que a prevalência da doença é de média a alta em quase todo o País”, destaca Lobo. “Quanto à tuberculose, o desconhecimento dos índices de prevalência dela, na grande maioria dos estados, ainda não nos permite mensurar com precisão os avanços, mas podemos afirmar que a padronização dos métodos de diagnóstico e o controle da doença, instituídos pelo PNCEBT são importantes para o controle e erradicação da doença”, avalia.
Para 2009, as perspectivas são de incrementar o número de propriedades livres e monitoradas contra brucelose e tuberculose, aumentar a cobertura de vacinação contra brucelose onde ainda é insuficiente, realizar levantamentos epidemiológicos das doenças nos estados que ainda faltam, buscar soluções junto à indústria de carnes para facilitar o abate sanitário de animais positivos, e promover junto à agroindústria a concessão de incentivos aos produtores que aderirem ao processo de certificação de propriedades livres e monitoradas contra a brucelose e tuberculose.

Brucelose

Doença infecciosa altamente transmissível, tanto para os bovinos e bubalinos quanto para o homem, que acomete, preferencialmente, fêmeas em idade reprodutiva ativa causando abortamento e eventualmente, acomete machos. Entre os fatores que a ocasionam pode-se destacar a ingestão de água ou alimento contaminado com restos de abortamento.
Os sintomas, nas fêmeas, são: (1) abortamentos – por volta de cinco a seis meses de gestação, aos sete a oito meses na segunda gestação, podendo ou não ocorrer uma terceira vez ao final da gestação; (2) retenção de placenta e secreção vaginal purulenta ou não e, freqüentemente, fétida de coloração cinza ou de tem avermelhado, e (3) podendo manifestar-se infecção da glândula mamária. Nos machos, observam-se inflações nas articulações, nos testículos e formação e acúmulo de pus na pele do animal.
O diagnóstico da doença são feitos por exames laboratoriais, e em caso de resultado positivo os animais devem ser descartados.
As medidas preventivas, em termos gerais, começa na compra de animais com certificado negativo para brucelose, adoção de um cronograma sanitário rigoroso por parte dos criadores, tratamento adequado com os restos de abortamentos, e vacinação de bezerras entre três e oito meses de idade com vacina viva cepa S19 (vacina B19).

Tuberculose

Doença infecciosa bacteriana crônica não contagiosa caracterizada pela forma pulmonar que acomete a bovinos, bubalinos, suínos, caprinos, ovinos e animais domésticos de estimação (cães e gatos), animais silvestres e o homem. A transmissão é feita de animais doentes através de secreções oronasal, fezes, leite e urina por via aérea ou ingestão de leite, alimentos e água contaminados.
Quando a transmissão é por via aérea, é comum observar lesão na mucosa nasal e oral, e no aparelho respiratório. Quando a infecção é oral, tem-se a doença no aparelho digestivo. Até então o sacrifício do animal doente é única forma de eliminar a zoonose.
Entre as medidas de prevenção podem-se destacar a disposição adequada de dejetos animais, limpeza de instalações e utensílios utilizados no manejo com os animais. Em termos gerais, os produtores devem estar atentos à educação sanitária da propriedade e seguir as medidas de profilaxia recomendadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Tuberculose (PNCEBT).




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