“Situação semelhante acontece com a tuberculose”,
acrescenta José Ricardo Lobo, coordenador do PNCEBT.
“A doença leva a prejuízos com a queda
no ganho de peso, diminuição na produção
de leite, descarte precoce, eliminação de animais
de alto valor zootécnico, condenação
de carcaças, morte de animais e perda de credibilidade
da unidade de criação”. Em 2007, segundo
dados do governo federal, foram abatidos/sacrificados 6.121
animais reagentes positivos para brucelose e 2.265 para tuberculose.
As perdas com o rebanho, se agravam ainda mais com o descrédito
do produtor que fica impedido de vender a produção
dele em função dessas doenças. Para se
ver longe desses prejuízos e garantir a sanidade adequada
ao gado, o pecuarista deve estipular um cronograma de vacinação
e exames nos animais. Segundo pesquisadores da Embrapa Gado
de Corte, a vacinação, no caso da brucelose,
pode ser ministrada dos meses de novembro a junho, sendo fevereiro
a melhor época para a vacinação. Em Ponta
Porã (MS), o rebanho da fazenda Paquetá tem
um programa de vacinas de controle da brucelose que vai de
janeiro a março. Este ano serão imunizadas cerca
de 2.300 fêmeas, de acordo com o zootecnista da propriedade,
Hélio de Biasi. “Os exames de brucelose, nas
novilhas é realizado em maio. Em 2008, este exame foi
feito com cerca de 4.800 fêmeas, e cerca de 83 delas
tiveram um laudo de suspeitas a positivas – todas descartadas”,
conta.
As regras do jogo
Em relação à brucelose, é obrigatória
a vacinação de todas as fêmeas bovinas
e bubalinas, entre três e oito meses de idade, com amostra
B19. É de praxe marcá-las na cara com um “V”,
por facilitar a identificação. Em propriedades
certificadas recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas
até os 6 meses de idade, para reduzir a possibilidade
de reações da própria vacina nos testes
de diagnóstico.
A vacinação só pode ser realizada sob
responsabilidade de médicos veterinários devidamente
cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária
animal do estado em que ele atua, de acordo com PNCBET. Com
base nos dados de 2007 do Programa, 7.800 médicos veterinários
de todo o país já passaram por Cursos de Treinamento
em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose
e da Tuberculose Animal, destes, cerca de 3.400 já
estão habilitados.
A expectativa, segundo o governo federal, é de reduzir
a prevalência da brucelose a um nível em que
se possa passar à fase de erradicação,
com a vacinação de cerca de 75% da população
de fêmeas de três a oito meses de idade. Mas isso
ainda vai levar um bom tempo para acontecer. “Acredito
que dentro de um espaço de 20 anos o País poderá
ter essas doenças erradicadas”, prevê a
pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo,
Eliana Roxo, que participa do Comitê Científico
Consultivo sobre Brucelose e Tuberculose Animal (CCBT).
Atualmente, o trabalho coordenado pelo PNCBET está
voltado para o controle sanitário dessas doenças,
segundo ela, com a implantação de sistemas de
fiscalização em todos os estados, pesquisas,
produção de vacinas, capacitação
de médicos veterinários, certificações
e inspeções em propriedades rurais, o descarte
de animais infectados, e, principalmente, o trabalho de envolvimento
do produtor no combate a essas zoonoses.
Tuberculose
Há três testes de tuberculinização
que identificam a doença: (1) o Teste Cervical Simples
(TCS), adotado como prova de triagem devido à boa sensibilidade
dele; (2) o Teste da Prega Caudal (TPC), também utilizado
como prova de triagem, porém, exclusivamente em gado
de corte; e (3) o Teste Cervical Comparativo (TCC), única
prova confirmatória, podendo ainda ser usado como prova
de triagem em rebanhos com histórico de reações
inespecíficas, em estabelecimentos certificados como
livres e em estabelecimentos com criação de
búfalos, visando garantir um diagnóstico mais
preciso com esse tipo de animal.
Sem uma forma de tratamento viável até o momento,
a identificação da doença no rebanho
é controlada com o descarte da rês que tiver
o diagnóstico positivo. A doença afeta tanto
a produção de gado de corte como o de leite,
no entanto, a maior incidência dela recai sobre a atividade
leiteira, em função do longo tempo de vida produtiva
dos animais e a maior proximidade entre os animais em função
do manejo nessa atividade.
A prevalência das doenças no País
Em relação à brucelose (a qual os estudos
avançaram mais), de acordo com o coordenador do PNCEBT,
José Ricardo Lobo, entre 2001 e 2006, 14 estados brasileiros
realizaram estudos de prevalência dessa doença,
dois outros concluíram a colheita de amostras e os
exames estão em processamento. O que se pode dizer,
com base nesses dados, é que a região Centro-Oeste
apresenta os maiores índices de prevalência da
brucelose. A menor, foi registrada em Santa Catarina. “Devido
a isso, o estado está excluído da obrigatoriedade
de vacinação contra a brucelose desde 2004,
devendo adotar medidas de vigilância visando à
erradicação dela”, diz Lobo.
Minas Gerais, que já adotava ações de
combate à brucelose mesmo antes da instituição
do PNCEBT, em 2001, segundo Lobo, especialmente em relação
ao uso da vacina B19, registrou considerável queda
da prevalência da doença, revelando a eficácia
da vacinação.
Quanto à tuberculose, só Minas Gerais e o Distrito
Federal possuem um estudo epidemiológico mais recente:
Em 1999 (MG) e em 2004 (DF). Os índices de prevalência
estimados, no estado mineiro, foram de 0,8% de animais infectados
e 5,0% de propriedades com animais reagentes, subindo esse
valor para 15% em propriedades com algum grau de mecanização
da ordenha e tecnificação da produção.
No Distrito Federal foram encontrados 0,0305% de animais infectados
e 0,419% de propriedades com animais reagentes.
O PNCEBT
Implantado desde 2001, esse programa sanitário do governo
federal se caracteriza como um referencial de trabalho para
uniformizar as ações de controle da brucelose
e tuberculose no País. Segundo a pesquisadora do IB,
Eliana Roxo, é a partir dessa linha de trabalho que
o combate dessas duas doenças terão melhores
resultados.
Em busca de uma maior interação no território
nacional, de acordo com o coordenador do PNCEBT, José
Ricardo Lobo, o programa envolve diversos segmentos dos setores
público e privado, como os serviços oficiais
de defesa sanitária animal, médicos veterinários,
universidades, centros de pesquisa, laboratórios, pecuaristas
e a agroindústria.
“A principal estratégia do programa, desde a
implantação, é a vacinação
obrigatória de fêmeas bovinas e bubalinas contra
a brucelose, uma vez que a prevalência da doença
é de média a alta em quase todo o País”,
destaca Lobo. “Quanto à tuberculose, o desconhecimento
dos índices de prevalência dela, na grande maioria
dos estados, ainda não nos permite mensurar com precisão
os avanços, mas podemos afirmar que a padronização
dos métodos de diagnóstico e o controle da doença,
instituídos pelo PNCEBT são importantes para
o controle e erradicação da doença”,
avalia.
Para 2009, as perspectivas são de incrementar o número
de propriedades livres e monitoradas contra brucelose e tuberculose,
aumentar a cobertura de vacinação contra brucelose
onde ainda é insuficiente, realizar levantamentos epidemiológicos
das doenças nos estados que ainda faltam, buscar soluções
junto à indústria de carnes para facilitar o
abate sanitário de animais positivos, e promover junto
à agroindústria a concessão de incentivos
aos produtores que aderirem ao processo de certificação
de propriedades livres e monitoradas contra a brucelose e
tuberculose.
Brucelose
Doença infecciosa altamente transmissível, tanto para os bovinos e bubalinos quanto para o homem, que acomete, preferencialmente, fêmeas em idade reprodutiva ativa causando abortamento e eventualmente, acomete machos. Entre os fatores que a ocasionam pode-se destacar a ingestão de água ou alimento contaminado com restos de abortamento.
Os sintomas, nas fêmeas, são: (1) abortamentos – por volta de cinco a seis meses de gestação, aos sete a oito meses na segunda gestação, podendo ou não ocorrer uma terceira vez ao final da gestação; (2) retenção de placenta e secreção vaginal purulenta ou não e, freqüentemente, fétida de coloração cinza ou de tem avermelhado, e (3) podendo manifestar-se infecção da glândula mamária. Nos machos, observam-se inflações nas articulações, nos testículos e formação e acúmulo de pus na pele do animal.
O diagnóstico da doença são feitos por exames laboratoriais, e em caso de resultado positivo os animais devem ser descartados.
As medidas preventivas, em termos gerais, começa na compra de animais com certificado negativo para brucelose, adoção de um cronograma sanitário rigoroso por parte dos criadores, tratamento adequado com os restos de abortamentos, e vacinação de bezerras entre três e oito meses de idade com vacina viva cepa S19 (vacina B19).
Tuberculose
Doença infecciosa bacteriana crônica não contagiosa caracterizada pela forma pulmonar que acomete a bovinos, bubalinos, suínos, caprinos, ovinos e animais domésticos de estimação (cães e gatos), animais silvestres e o homem. A transmissão é feita de animais doentes através de secreções oronasal, fezes, leite e urina por via aérea ou ingestão de leite, alimentos e água contaminados.
Quando a transmissão é por via aérea, é comum observar lesão na mucosa nasal e oral, e no aparelho respiratório. Quando a infecção é oral, tem-se a doença no aparelho digestivo. Até então o sacrifício do animal doente é única forma de eliminar a zoonose.
Entre as medidas de prevenção podem-se destacar a disposição adequada de dejetos animais, limpeza de instalações e utensílios utilizados no manejo com os animais. Em termos gerais, os produtores devem estar atentos à educação sanitária da propriedade e seguir as medidas de profilaxia recomendadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Tuberculose (PNCEBT).
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