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                    De acordo com ele, a crise afeta todo o mundo globalizado, 
                    mas há muita informação negativa sendo 
                    repassada, e com isso ela se agrava ainda mais, espera-se 
                    ela passar, e isso gera uma redução em todas 
                    as atividades. Tem de se olhar as coisas concretas que 
                    estão ocorrendo. No Brasil, com o plantio já 
                    feito, ao final da safra, há boas perspectivas de produção, 
                    argumenta. 
                    Mesmo com um olhar moderado sobre os impactos dessa crise 
                    financeira mundial, Pallaro estima reduções 
                    no crédito, e um crescimento da empresa, em 2009, igual 
                    ao de 2008. Segundo os dados da Anfavea de outubro, a New 
                    Holland teve uma superação, no comparativo de 
                    2007-2008, de 54,1% em vendas de tratores de rodas  
                    considerando o acumulado de janeiro a outubro. No mesmo período, 
                    o grande destaque foi no setor de colheitadeiras, com 123% 
                    de aumento no número de vendas. 
                    Para Case IH, está cedo para se reconhecer os reflexos 
                    dessa crise, de acordo com Ari Kempenich, gerente de marketing 
                    da empresa. Os dados consolidados em outubro ainda não 
                    refletem nenhuma mudança em nossos resultados de vendas 
                    e faturamento, diz. Quando a crise chegou, a maioria 
                    dos produtores já estava preparado para o plantio ou 
                    com o próprio plantio feito. Portanto, muitos deles 
                    não serão afetados pelo cenário econômico 
                    atual, mas sim pela previsão do que irá acontecer 
                    quando a colheita começar, ou seja, a partir de março 
                    do próximo ano, declara Kempenich. 
                    O atual problema, e que agravou uma situação 
                    que vem sendo arrastada desde 2004 (por conta da rolagem de 
                    dívidas daquela safra), é a falta de crédito 
                    enfrentado por grandes produtores da região Centro-Oeste. 
                    Eles sofrem também com problemas de fluxo de 
                    caixa, garantias para obtenção de crédito 
                    e a ausência das linhas tradicionais das tradings. Isso 
                    provoca um duplo impacto: o alongamento das dívidas 
                    de bens que estão depreciados (ou se depreciando rapidamente) 
                    e, ao mesmo tempo, diminui a capacidade de tomar novos empréstimos, 
                    observa. Já os produtores das regiões Sul e 
                    Sudeste não vivem a mesma situação, pois 
                    utilizam um porcentual de recursos próprios no financiamento 
                    das safras, motivo que contribui para que o impacto do crédito 
                    seja menor naquelas regiões, de acordo com o gerente 
                    de marketing da Case IH. 
                    Ainda com os planos de investimento propostos para o próximo 
                    ano com a da fábrica de Sorocaba (SP), que chega a 
                    quase R$ 1 bilhão, a empresa se diz atenta ao mercado 
                    e estima para este ano uma superação nos índices 
                    de crescimento, em termos de vendas e produção. 
                     
                    A força é da agricultura familiar 
                     
                    Diante dessa nova realidade, a linha de tratores mais leves 
                    de até 75 cavalos (cv) deve garantir mais ânimo 
                    à produção nas fábricas, por conta 
                    da linha de crédito do governo federal, através 
                    do Programa Mais Alimentos, e também pelo Programa 
                    Pró-Trator (do governo do Estado de São Paulo) 
                    que oferecerá tratores de 50 a 120 cv, a juro zero, 
                    aos produtores paulistas  este programa está 
                    em fase de oficialização e, em breve, o governo 
                    estadual deverá divulgar as regras para se participar 
                    do programa. 
                    Para Francesco Pallaro, da New Holland, essas iniciativas 
                    servirão para conter os impactos da crise. Temos 
                    de adequar um pouco o nosso trabalho, reforçar um pouco 
                    mais a produção de tratores pequenos que estarão 
                    disponíveis nesses programas, declara. 
                    Além disso, uma maior liberação 
                    de crédito por parte do governo e a busca de estratégias 
                    criativas para financiar máquinas também podem 
                    gerar melhorias no panorama em médio prazo, acrescenta 
                    Kempenich. 
                    Montadoras e indústrias, voltadas ao atendimento do 
                    médio e pequeno produtor, enquadrado como agricultor 
                    familiar, não estarão imunes, mas deverão 
                    passar um tanto longe dessa crise  pelo menos, se o 
                    quesito for disponibilidade de crédito. Oitenta 
                    e cinco porcento do setor de máquinas agrícolas 
                    são dependentes de financiamento, e sem essa ajuda 
                    do governo fica complicado o setor, destaca Júlio 
                    Cercal, gerente comercial da Tramontini. A empresa, localizada 
                    em Venâncio Aires (RS), fabrica tratores 100% nacionais, 
                    como microtratores, trator transportador agrícola, 
                    geradores, conjuntos marítimos, entre outros itens. 
                    Existe uma previsão de liberação 
                    de verbas por parte do governo federal para a agricultura. 
                    Mas [esses recursos] não chegam, os produtores estão 
                    esperando até quatro meses para a liberação 
                    da verba, diz Cercal. Segundo o gerente comercial da 
                    empresa, pelo Programa Mais Alimentos, cerca de 500 máquinas 
                    aguardam a liberação do crédito, referentes 
                    aos pedidos feitos em toda a rede da Tramontini, no Brasil. 
                    Antes da crise, estimávamos um crescimento em 
                    torno de 35% para o próximo ano, agora nosso alvo é 
                    20%. O que pode vir a significar 1.200 tratores por ano, 
                    estima Cercal. A empresa fechou o ano de 2007 com uma produção 
                    de mil unidades. 
                    Na mesma expectativa de aceleração de aprovação 
                    do crédito pelo programa Mais Alimentos, está 
                    a empresa Land Track do Brasil, especializada nesse nicho 
                    de mercado voltado a atender o pequeno e médio agricultor. 
                    Até o momento não sentimos nenhum impacto 
                    desta crise que está acontecendo no mundo, a não 
                    ser que as aprovações de créditos estão 
                    um pouco mais lentas, declara Vanessa Marquesan, sócia-gerente 
                    da empresa, localizada em Santa Cruz do Sul (RS). 
                    A demora, de acordo com o secretário de Agricultura 
                    Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário 
                    (SAF/MDA), Adoniram Sanches Peraci, partiu da necessidade 
                    de regulamentação e sistematização 
                    para se operar essa nova linha de crédito no âmbito 
                    dos sistemas de Assistência Técnica e Extensão 
                    Rural (ATER) do País e dos agentes financeiros que 
                    operam-na. Mas essa situação já 
                    foi superada. Os créditos estão assegurados 
                    e operando com desenvoltura na maioria dos estados brasileiros, 
                    assegura Peraci. 
                    Os recursos anunciados em julho deste ano para a safra 2008/2009 
                    da agricultura familiar estão garantidos, segundo Peraci. 
                    São R$ 13 bilhões que estão à 
                    disposição da agricultura familiar. Até 
                    2010, o volume de crédito da linha Mais Alimentos chegará 
                    a R$ 25 bilhões e vai beneficiar 1 milhão de 
                    agricultores familiares, prevê. O balanço 
                    do programa até o final de outubro, segundo dados da 
                    SAF/MDA, mostra que cerca de 1.250 tratores e motocultivadores 
                    já foram comercializados, e outras 1.200 unidades já 
                    tinham status de negócio assegurado, com sinal verde 
                    dos bancos. 
                    O incentivo do governo federal vem mostrando resultados nas 
                    vendas da Agritech Lavrale, que desenvolve e produz tratores 
                    e cultivadores motorizados desde 1957. Quem estiver 
                    fora desse programa deverá sentir mais o baque da crise, 
                    diz Nelson Watanabe, gerente nacional de vendas da Yanmar 
                    Agritech. Pelo programa a empresa já contabiliza cerca 
                    de 220 tratores destinados a agricultores familiares. Em termos 
                    de produção de máquinas, este ano deve 
                    fechar 20% superior ao ano passado. A estimativa, para 2009, 
                    é manter o crescimento da empresa de 5 a 10%. 
                    Embalada no mesmo ritmo de otimismo com o plano de crédito 
                    do governo federal, está também a Landini, voltada 
                    à produção de tratores de 40 a 250 cv, 
                    além de pulverizadores  estes últimos, 
                    inclusos no programa. Localizada em São José 
                    dos Pinhais (PR), a empresa de origem italiana se uniu através 
                    de uma joint venture com a empresa brasileira 
                    Montana Indústria de Máquinas, em 2005 e fabrica 
                    a linha de tratores desde 2006. Uma joint venture 
                     literalmente empreendimento em conjunto 
                     é uma associação de empresas, 
                    que pode ser definitiva ou não, com fins lucrativos, 
                    para explorar determinados negócios, sem que nenhuma 
                    delas perca sua personalidade jurídica. 
                    Os efeitos da crise devem afetar menos a linha específica 
                    de tratores pequenos de 40 a 75 cv, segundo Edson Stefani, 
                    gerente comercial de tratores da Landini. Há uma estimativa 
                    de 10 a 15% de queda em vendas desse tipo de máquinas. 
                    Agora, para os tratores maiores, que possuem maior valor 
                    agregado, são necessários financiamentos junto 
                    a bancos. Para esses, deverá ter uma queda maior, cerca 
                    de 30 a 45%, estima Stefani. 
                    Os meses de novembro a janeiro, de acordo com o gerente comercial 
                    de tratores da empresa, não são tão favoráveis 
                    para a venda de máquinas agrícolas, por isso 
                    a crise ainda não repercutiu. Estimamos que vamos 
                    passar pelo primeiro trimestre do ano com uma baixa de demanda, 
                    mas o impacto para nós não será tão 
                    grande quanto de empresas maiores. Nós detemos uma 
                    pequena fatia do mercado de máquinas do País, 
                    e por isso o impacto deve ser menor, conclui. 
                     
                    Aparentemente alheia à crise 
                     
                    Longe de querer comentar sobre a crise, a AGCO, fabricante 
                    e distribuidor mundial de equipamentos agrícolas, detentora 
                    das marcas Massey Fergunson e Valtra, diz-se, através 
                    de uma nota publicada pela assessoria de imprensa, otimista 
                    sobre os resultados que o grupo obteve na América do 
                    Sul, em função das condições agrícolas 
                    favoráveis no mercado brasileiro e argentino sobre 
                    as vendas no varejo. De acordo com a nota, as condições 
                    estáveis de mercado forte durante o terceiro trimestre 
                    de 2008 geraram um crescimento de vendas de mais de 58% no 
                    Brasil. Na América do Sul, as vendas das unidades de 
                    tratores aumentaram aproximadamente 36% e as vendas das unidades 
                    de colheitadeiras aumentaram aproximadamente 87% nos primeiros 
                    nove meses de 2008 em comparação com o mesmo 
                    período do ano anterior. 
                    Até o fechamento da edição, a John Deere 
                    não deu nenhuma resposta sobre a situação 
                    da empresa diante da crise iniciada nos Estados Unidos.
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