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                    Os preços do leite chegaram instáveis na entressafra 
                    (período que vai de abril a outubro) e na época 
                    que coincidiu com a crise financeira mundial. E até 
                    o momento há dúvidas sobre a manutenção 
                    dos preços pagos ao produtor. Sendo assim, as vendas 
                    de lácteos ainda alimentam a esperança de que 
                    seja mantido o equilíbrio do mercado e, com ele, a 
                    capacidade para que muitos continuem investindo na melhoria 
                    e no aumento da produção.  
                    De acordo com especialistas do setor, mesmo com previsões 
                    de baixa nos preços do leite, até agora os valores 
                    médios foram os melhores de anos recentes, o que animou 
                    os produtores a investirem. Na opinião do presidente 
                    da Associação Brasileira dos Produtores de Leite, 
                    Jorge Rubez, a crise do mercado financeiro poderá atingir 
                    o mercado de leite, porém, em menor proporção 
                    se comparado às outras cadeias produtivas. Uma vez 
                    também que os produtores dependem muito mais do mercado 
                    interno. Infelizmente, exportamos hoje apenas 3% da 
                    produção nacional de leite. O que aconteceu 
                    neste ano é que acenaram para o produtor que ele podia 
                    elevar a produção, isto ocasionou um aumento 
                    da produção em 16% no primeiro semestre, sendo 
                    que o consumo caiu 7,8%. Uma das causas da queda do consumo 
                    foi provocada pela inflação de outros alimentos, 
                    como arroz e feijão. Deve-se lembrar que o leite concorre 
                    com outros tipos de alimentos. Isto prejudicou o pecuarista 
                    que começou a desacelerar a sua produção, 
                    diz.  
                    De acordo com Rubez, neste momento, existem dois problemas 
                    internos, mais agravante e que sempre atingiram o produtor 
                    de leite, que sofre rapidamente a qualquer movimentação 
                    do mercado. O primeiro, é a falta de dinheiro, 
                    ou seja, crédito para quem realmente necessita. O crédito 
                    rural funciona bem, mas na prática não chega 
                    a quem mais precisa, nestes momentos, argumenta. O segundo, 
                    de acordo Jorge Rubez, é que há vários 
                    programas direcionados ao produtor, porém, faltam recursos 
                    e investimos para que estes projetos cheguem até as 
                    mãos de todos.  
                    Já na opinião do membro do Conselho Diretivo 
                    da Associação Brasileira dos Criadores do Gir 
                    Leiteiro, Eduardo Falcão, a tal comentada crise financeira 
                    mundial é especulativa. Para ele, hoje o produtor sofre 
                    muito mais com o mercado interno. No segundo semestre, 
                    o que ocorreu foi um decréscimo no preço do 
                    leite pago ao produtor. Isto acontece todos os anos, no período 
                    de safra e entressafra. O que vimos é que muitas vezes 
                    pode ser especulação das próprias indústrias 
                    querendo baixar o preço e querendo obter um lucro maior, 
                    arrecadar com a sobra do produto. O leite tirado hoje tem 
                    que ser comercializado hoje, por isso, o produtor não 
                    sabe o preço que a indústria pagará. 
                    Acredito que deveria haver uma união dos produtores 
                    para estabelecer a venda de forma coerente, conta ele. 
                    Neste momento, com o aumento do dólar, o produtor 
                    reduzirá o custo de produção e, conseqüentemente, 
                    produzirá com maior eficiência, acentua 
                    Falcão.
                   Pontos 
                    Semelhantes 
                    O diretor executivo da AgriPoint Consultoria, participante 
                    do Conselho Administrativo da Láctea Brasil e coordenador 
                    do site MilkPoint, Marcelo Pereira de Carvalho, lembra que 
                    há algum tempo o preço do leite estava ladeira 
                    abaixo, mas que nos últimos meses o preço 
                    estava melhorando e chegou a custar mais de R$ 1,00, o litro. 
                    As baixas ofertas mundiais, temperadas por uma demanda, 
                    trouxe um aumento significativo da produção 
                    interna, em comparação ao ano passado. O momento 
                    era positivo e talvez o melhor da história. Porém, 
                    houve excesso de oferta no mercado e os preços caíram 
                    atingindo de US$ 4,3 mil para US$ 2,5 mil. Com a forte retração 
                    de preços, os custos não acompanharam e o produtor 
                    colocou o pé no freio, garante. 
                    Para Carvalho, o mercado interno enfrenta situações 
                    distintas e talvez a mais agravante à crise externa. 
                    Quando chegamos no assunto de preços pago ao 
                    produtor, as expectativas são de preços menores, 
                    na faixa de 70 a 60 centavos de real por litro, com pouca 
                    retração de oferta. Já no Sul do País 
                    e em Minas Gerais, os preços caem mais, devido ao excesso 
                    de produção. Como estes produtores tem dificuldades 
                    para ingressarem em outros mercados, como São Paulo, 
                    por causa de políticas estaduais, resulta em preços 
                    pagos muito baixos, avalia. No Sul, ainda tivemos 
                    também problemas com a Argentina que ingressou fortemente 
                    no mercado brasileiro. Mas, este não foi o fator determinante 
                    para prejudicar o produtor brasileiro. Em contrapartida, este 
                    contou com a alta do dólar, que o auxiliou a reduzir 
                    esta demanda de produtos estrangeiros, comenta.  
                    Na opinião do diretor será um ano difícil. 
                    Ninguém sabe dimensionar sobre a crise. O impacto 
                    no setor lácteo poderá ser menor, sim. Os preços 
                    poderão se regularizar. Entretanto, neste momento é 
                    preciso ter cautela. Será um ano que não permitirá 
                    grandes vôos para o produtor, que deverá otimizar 
                    custos, argumenta. 
                    Produtor de leite há 11 anos, com fazenda na região 
                    de Leopoldina (MG), Enismar Evangelista de Resende detém 
                    um plantel de 80 fêmeas, entre vacas holandesas e Jersey-holandesas, 
                    das quais produzem cerca de 1,6 mil litros por dia. Ele calcula 
                    que recebeu, no primeiro semestre deste ano, 0,76 centavos 
                    de real por litro, valor maior que o obtido no ano anterior. 
                    Mas agora o mercado está ruim, por causa desta 
                    crise, mas a perspectiva e que nos próximos 60 dias, 
                    os preços melhorem. Esperamos receber mais do que R$ 
                    0,50 centavos, que nos pagam hoje. Já estamos com isto 
                    fazendo as nossas economias, reduzindo custos, empregados 
                    e ficando no limite para produzir, comenta o produtor. 
                  Ponto 
                    de vista das indústrias 
                    As indústrias também dão o tom da conversa 
                    quando o assunto é a crise financeira. Nós, 
                    como empresa, acreditamos que o mercado poderá melhorar 
                    nos próximos meses, diz o consultor comercial 
                    da Sulinox Ordenhadeiras, Jorge Leite.  
                    O consultor é otimista sobre o futuro do mercado lácteo, 
                    perante a crise. O mercado leiteiro está recessivo, 
                    contraiu-se um pouco devido à crise financeira, o ano 
                    político e somando-a isto, as verbas destinadas aos 
                    bancos ainda não vieram e o nosso público que 
                    é o produtor rural ficou na pendência dos financiamentos. 
                    Mas, prevemos uma reviravolta neste processo o produtor poderá 
                    retomar seus investimentos, argumenta. Hoje, o 
                    produtor investe pouco e com cautela, acentua Leite. 
                    Para Fernando Falco, diretor executivo do Grupo Vigor, a crise 
                    financeira não demonstrou sua potencialidade no mercado 
                    lácteo. Segundo ele, em 2007 os produtores brasileiros 
                    viveram situações atípicas. Aconteceram 
                    grandes adequações no setor. Grandes empresas 
                    adquiriram outras de portes menores, surgindo até novas 
                    fusões no mercado lácteo. Os preços do 
                    leite e o maior poder de compra dos consumidores criaram um 
                    cenário favorável para o produtor. A Nova Zelândia 
                    e Austrália, grandes produtores de leite, tiveram no 
                    ano uma oferta muito baixa, devido à seca daqueles 
                    países, o que propiciou uma demanda maior de produto 
                    para o mercado, conta.  
                    Segundo Falco, as empresas como o Grupo Vigor, que atua no 
                    setor de lácteo e alimentício, continua com 
                    a previsão otimista de crescimento. O poder aquisitivo 
                    dos consumidores para bens duráveis já se vê 
                    numa queda acentuada. Perante a situação, muitas 
                    empresas tentam reduzir os seus custos. Mas, na questão 
                    de consumo alimentício acreditamos que não haverá 
                    redução significativa, conta. De acordo 
                    com ele, o que falta neste período é apenas 
                    uma organização interna do setor agropecuário. 
                    Mas, segundo suas previsões, mesmo diante do cenário 
                    desfavorável, a produção nacional poderá 
                    crescer. Uma vez que o País apresenta condições 
                    favoráveis. Algumas cadeias produtivas poderão 
                    lucrar com a alta do dólar, no caso da exportação. 
                    Por outro lado, o produtor pode se adequar barateando o custo 
                    de produção, para ter o retorno justo, principalmente 
                    o produtor do Sul do País. 
                    O diretor executivo aposta que como sua produção 
                    é constante, o efeito da recessão ainda não 
                    foram sentidos entre os produtores. O problema já 
                    vinha acontecendo, o leite sobrou no mercado interno, derrubando 
                    o preço do litro, menciona. Falco acredita que 
                    como a soja e o milho têm impacto grande no custo do 
                    leite a longo prazo o pecuarista também terá 
                    o seu custo de produção reduzido. Outro ponto 
                    é que o consumo de leite e derivados no País, 
                    em comparação aos outros países, ainda 
                    é pouco, o que reduz o aproveitamento do leite que 
                    sobra no mercado, o que impediria a baixa de preços. 
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