Usinas
investem em produção de energia elétrica
a partir do bagaço da cana. A atividade deve ser a
segunda, em valor, superando o açúcar.
Um
novo cenário começa a aparecer nas usinas de
cana-de-açúcar brasileiras. Cada vez mais a
energia elétrica entra como fonte de renda proveniente
da queima do bagaço e da palha. Não é
energia alternativa, é uma realidade, garante
o vice-presidente executivo da Associação Paulista
de Cogeração de Energia (Cogen-sp), Carlos Silvestrin.
Investimentos na área estão em crescimento e
a tecnologia das novas caldeiras é exigida para implantação
nas usinas em busca de melhores resultados. O bagaço
resultante do esmagamento da cana sempre foi usado como combustível
nas caldeiras das usinas para fornecimento de energia elétrica
dentro da própria empresa.
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Mas as caldeiras eram de baixo rendimento, mais baratas e
de pouca tecnologia. Neste processo, não se usava a
palha como combustível, já que o bagaço
bastava, e a matéria era usava para melhorar as condições
do solo.
A comercialização e a distribuição
de energia elétrica no Brasil eram controladas exclusivamente
pelo Estado. Com a regularização do sistema,
no final da década de 1990, as usinas começaram
a pensar na viabilidade econômica em investirem em caldeiras
mais potentes e vender o excedente, explica Marcelo
Junqueira, da Clean Energy Brazil, empresa atuante no mercado
sucroenergético brasileiro. Após o governo regularizar
a comercialização e distribuição
de energia elétrica no Brasil, autorizando empresas
a venderem energia, algumas usinas já começaram
a comercializar e outras estão investindo em caldeiras
mais potentes para participarem do mercado.
As caldeiras antigas trabalhavam com pressão de 21
bar medida usada para pressão - e as caldeiras
mais novas estão sendo produzidas para atingirem 100
bar. O maior problema enfrentado pelas usinas é a substituição
do equipamento, já que há grandes diferenças
de espaço e até mesmo de funcionamento. Mas
a tendência é que as usinas se esforcem para
fazer a mudança.
Segundo especialistas, a cana-de-açúcar gera
1/3 de vinhaça, 1/3 de palha e 1/3 de bagaço.
Ou seja, pode-se usar 2/3 para a produção de
energia elétrica. A estimativa é que em 2020
a produção nacional de cana-de-açúcar
atinja um bilhão de toneladas - hoje são 496
milhões de toneladas. Com esta projeção
a produção de energia elétrica através
das usinas deverá igualar a produção
da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que tem capacidade
instalada de produção de 14 mil megawatts (MW).
A utilização de uma energia limpa e sustentável
é claramente favorável em relação
à energia nuclear que gera lixo radioativo e risco
de acidentes. Mesmo assim, o governo federal deverá
investir cerca de R$ 7,3 bilhões na construção
da Usina Nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro. A expectativa
é que a usina tenha capacidade instalada de 1.350 MW.
A utilização da palha e do bagaço na
produção de eletricidade não poderia
vir em melhor hora já que a colheita mecanizada aumenta
ano a ano. Se antes era lei, pelo menos em São Paulo,
agora é questão de lucratividade. A palha antes
desperdiçada nas queimadas, agora vira energia elétrica.
Segundo Silvestrin, hoje são cerca de 50 usinas aptas
a vender energia elétrica, sendo 40 só em São
Paulo. Este número mostra a possibilidade de crescimento,
já que temos cerca de 400 usinas no País. Além
destas, outras 86 estão em fase de construção
e devem ser finalizadas até 2012, isso se a crise financeira
não atingir as usinas em construção.
A tendência para os próximos anos é que
cresça a demanda por instalações de caldeiras
eficientes nas usinas brasileiras, já que a energia
elétrica deverá ser o segundo produto do das
usinas em valor -o etanol seria o primeiro e o açúcar
ficaria em terceiro. Um usineiro que me apresentou o
balanço em 2008 mostrou que do total das receitas,
74% foi de etanol, 14% do açúcar e 12% de energia
elétrica. E no ano seguinte a energia já deverá
ultrapassar o açúcar, conta Silvestrin.
Apesar da certeza de crescimento na área, especialistas
não arriscam palpites sobre quantidade de usinas preparadas
para a comercialização. Com certeza essa
área irá crescer, mas não há a
menor condição de passar uma projeção
devido à crise no setor financeiro, explica executivo
da Cogen-sp.
Os investimentos das usinas serão apenas na aquisição
de novas caldeiras, já que os gastos com a infra-estrutura
da transmissão de energia elétrica ficam por
conta do governo. As usinas serão responsáveis
apenas pela infra-estrutura de dentro das propriedades, do
portão para fora, é da concessionária
que venceu o leilão realizado pelo governo.
Entre tantos pontos positivos para a produção
de energia elétrica nas usinas (produção
através de subproduto bagaço uso
da palha ao invés de queimá-la nos canaviais,
representar o segundo produto em valor, não precisar
preparar a infra-estrutura da rede elétrica para distribuição)
o período da safra também ajuda. A melhor época
de geração de energia em hidrelétricas
é no período das chuvas, entre novembro e março.
Já a safra de cana-de-açúcar começa
a ser colhida justamente na época em que diminui o
fluxo nos rios. Ou seja, uma fonte de energia encobre a outra.
Para Marcelo Junqueira, da Clean Energy Brazil, o histórico
do preço da energia prevê retorno ao investimento.
Os preços da energia elétrica sempre foram
bons, definitivamente é uma boa oportunidade para as
usinas, avalia.
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