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CRISE FINANCEIRA - QUEM QUER DINHEIRO?
rev 130 - dezembro 2008

As instituições financeiras afirmam que garantem crédito e renegociação de dívidas em meio ao turbilhão da crise mundial. A aposta dos bancos é o Brasil sobressair-se da situação. A crise financeira que abala o mercado norte-americano terá pouca influência sobre o agronegócio brasileiro. É o que acreditam alguns analistas de crédito. Outros afirmam que é cedo para análise das conseqüências. Mas, uma coisa os analistas concordam: a alta do dólar em relação ao real dará novo fôlego ao agronegócio, principalmente porque esse setor depende das exportações. Na opinião das instituições financeiras, que atuam diretamente no setor, para isto acontecer a melhor receita é manter créditos para os produtores.

“A Nossa Caixa, desde o início da safra 2008/2009, disponibilizou recursos suficientes para atender a demanda do Estado de São Paulo e neste momento nós priorizamos o custeio para plantio da próxima safra. Manteremos esforços, para que não haja falta de recursos para o setor”, afirma o gerente do departamento de Suporte a Negócios Rurais e Industriais, do Banco Nossa Caixa, Gilberto Fioravante.
De acordo com gerente da instituição, haverá crédito para que o produtor saia fortalecido da crise. Mas, sem se descuidar das renegociações das dívidas. “O governo federal instituiu uma lei que regulamenta as dívidas e os bancos estão analisando. As instituições verificarão a condição de cada um e farão acordo de novas parcelas, seguindo as normas do Banco Central”, finaliza Fioravante.
Na opinião do secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de São Paulo, João de Almeida Sampaio Filho, esta crise financeira eleva as dificuldades em relação ao crédito. “Especificamente para pequenos produtores. Mas, o governo especificamente no Estado de São Paulo já se mobilizou por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, que já tinha recursos depositados no Banco Nossa Caixa, no qual beneficiará os produtores para que não sofram nenhuma retração de crédito”, afirma o secretário.
A situação financeira dos agricultores não é das melhores perante a crise, na opinião do Banco do Brasil (uma das maiores instituições que tem ampla atuação no setor do agronegócio). Na tentativa de dar mais proteção ao Tesouro Nacional e aos próprios produtores, a instituição afirma que o governo precisa fazer uma ampla mudança no sistema de crédito rural. Entre as alterações propostas há o estabelecimento de taxas de juros pelo risco da operação e a obrigatoriedade de adesão do agricultor ao seguro rural. O foco do banco é diminuir o custo anual de renegociação das dívidas, onde entre 2002 e 2006, foram gastos R$ 10,1 bilhões para rolar o montante devido. “O governo podia gastar de maneira mais inteligente e racional. Precisa se antecipar e assegurar subsídios ao seguro e ‘hedge’ – proteção contra a oscilação dos preços agrícolas. Com menos dinheiro, poderia dar garantia de renda e superar as renegociações”, comenta o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes.
Para ele, o instrumento que o governo tem e que dá sustentação aos preços agropecuários são as chamadas Aquisições do Governo Federal (AGFs), que garante as compras por meio da Conab. Também há outros mecanismos que o governo dispõe para atuar no sentido de dar uma sustentação aos preços e, conseqüentemente, a renda ao agricultor. “Este ano houve uma relativa retração de créditos dos produtores rurais oriundos de outros setores que financia a agricultura, as chamadas ‘tradings’ e revendedores. Onde a presença destas empresas é maior houve uma retração de crédito mais intensa, como no Centro-Oeste do País”, relata Guedes. “Entretanto, em relação ao Banco do Brasil, devo dizer que houve um aumento de crédito em comparação ao ano passado. Se compararmos o primeiro quadrimestre do ano agrícola do ano 2008/2009, com o mesmo período do ano passado, a instituição aumentou o financiamento e o custeio da agricultura em 46%, sendo que no caso do Mato Grosso, o nosso financiamento cresceu 73%, ou seja, o BB aumentou significativamente o seu financiamento agrícola, em comparação à retração de outros agentes que financiam a agricultura”, relata o vice-presidente de Agronegócios do BB.
Com bases na renegociação, o BB seguirá a cartilha do Banco Central, a partir das decisões do conselho monetário nacional. “Os produtores tem conhecimento destas normas e do prazo estabelecidos e dependendo do contrato, daqueles que se enquadrarem nestas normas, cujo acesso estava previsto, podem renegociar suas dívidas. É claro, que ao fazerem isto, o produtor incidem em outros dispositivos das normas, como o agravamento do risco da operação, ou seja, quando ele prorroga suas dívidas automaticamente, torna sua operação financeira de maior risco, portanto menos vantajosa. O recomendado é que sejam pontuais e cumpra os prazos previstos para manifestar junto ao sistema financeiro a questão de renegociação”, pontua.
Para o superintendente de Agricultura Familiar, Microfinanças Rurais e Crédito Fundiário do Banco do Nordeste do Brasil, Luís Sérgio Farias Machado, há diversos recursos que as instituições disponibilizam para que a crise financeira não afete o produtor. “No caso do Banco do Nordeste hoje constitui-se o Fundo Constitucional do Nordeste que representa importante instrumento de financiamento às atividades produtivas no Nordeste e contempla outros segmentos, além da agricultura. Até o momento, não houve nenhuma retração de crédito, pelo contrário, houve uma expansão voltada principalmente ao grande produtor”, conta Machado.
Em todo o Nordeste, o valor das dívidas dos produtores rurais junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) contabiliza R$ 11 bilhões com cerca de 500 mil clientes inadimplentes. O prazo para que eles possam assinar o termo de adesão para renegociarem seus débitos foi prorrogado. Os devedores têm até o dia 12 de dezembro para aderir ao contrato. O BNB já renegociou mais de R$ 277 milhões em crédito rural, beneficiando 71 mil clientes. “O agricultor familiar poderá receber um abatimento de até 40% no valor corrigido, enquanto os que puderem liquidar o débito todo de uma vez terão descontos ainda maiores”, diz.

Efeitos contrários à crise
Na opinião do vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís Carlos Guedes, o fator crise pode gerar resultados positivos. “De modo geral, os preços dos produtos agropecuários estão no padrão da média histórica, alguns favoráveis, outros não. Os preços dos produtos são diretamente influenciados pelo dólar. Aquele agricultor que comprava com dólar baixo, na hora de vender recebia menos. Este ano ele teve suas compensações. Claro tivemos exceção de alguns produtos, como o algodão. Segundo a Conab, a safra 2008/2009 deverá ser similar a de 2007/2008. Podendo ocorrer uma variação de 2 a 3% menos, devido ao clima e em algumas regiões, pelo uso menor de fertilizantes”, argumenta Guedes.
Já na opinião do gerente do departamento de Suporte a Negócios Rurais e Industriais, do Banco Nossa Caixa, Gilberto Fioravante, o cenário externo está muito comprometido principalmente quando o assunto são commodities e isto traz naturalmente um certo grau de incerteza a todos. “Porém o Brasil é considerado como um celeiro do mundo e precisa aproveitar este momento para ter maior participação no mercado internacional, ao invés de se retrair. O que a gente vê é que existe um grau de especulação que preocupa o produtor”, conta.
Por meio da assessoria de imprensa, o Banco Santander (outra instituição que atua fortemente no setor) emitiu uma nota afirmando que ainda é muito cedo para avaliar os impactos da crise no setor. Os bancos Caixa Econômica Federal e Bradesco, até o final desta edição, não se pronunciaram.

“Crise tem Solução?”
Na opinião do ex-ministro da agricultura do Governo Lula, Roberto Rodrigues, estamos perante a um processo onde plantamos com menos dinheiro a custo maior, conseqüentemente haverá uma diminuição da área plantada e da tecnologia usada. “Muito provável é que os preços caiam na colheita. Mas é possível também que esta crise americana se estenda por mais tempo, em outros países, o que haveria uma queda dos preços daqueles países. Agora você imagina com safra cara com pouco crédito, baixa produtividade e preços maiores poderá acontecer um desastre, pois descapitalizará o setor e a potência de investimento para frente. E isto é ruim para o Brasil, pois poderá ter uma safra pequena em 2009/2010”, diz.
Segundo Rodrigues, uma safra pequena reduziria a oferta de produtos exportados, destruiria o saldo comercial, aumentaria os preços dos alimentos, portanto, haveria perdas na economia brasileira. “Portanto, teremos que evitar que isto aconteça, criando oportunidade no Brasil durante a crise. E ela é muito simples e só inverter um instrumento legal que existe há mais de 30 anos que se chama Política Garantida de Preços Mínimos, que compete ao governo”, comenta. “O governo ao rever isto e calcular os preços, informa ao mercado e os bancos, por sua vez, terão mais confiança e segurança para liberarem crédito e, assim, possibilitarem uma safra mais expressiva. Com isto, os agricultores terão menos riscos em relação ao produto, lá na frente, e ainda a garantia da renda. Só assim abre possibilidades de se ter uma grande safra em 2009 e o Brasil ocupar espaços no mercado mundial em 2010. Transformar a crise em oportunidade é bom senso por parte do governo”, finaliza o ex-ministro.


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