A Nossa Caixa, desde o início da safra 2008/2009,
disponibilizou recursos suficientes para atender a demanda
do Estado de São Paulo e neste momento nós priorizamos
o custeio para plantio da próxima safra. Manteremos
esforços, para que não haja falta de recursos
para o setor, afirma o gerente do departamento de Suporte
a Negócios Rurais e Industriais, do Banco Nossa Caixa,
Gilberto Fioravante.
De acordo com gerente da instituição, haverá
crédito para que o produtor saia fortalecido da crise.
Mas, sem se descuidar das renegociações das
dívidas. O governo federal instituiu uma lei
que regulamenta as dívidas e os bancos estão
analisando. As instituições verificarão
a condição de cada um e farão acordo
de novas parcelas, seguindo as normas do Banco Central,
finaliza Fioravante.
Na opinião do secretário de Agricultura, Pecuária
e Abastecimento do Estado de São Paulo, João
de Almeida Sampaio Filho, esta crise financeira eleva as dificuldades
em relação ao crédito. Especificamente
para pequenos produtores. Mas, o governo especificamente no
Estado de São Paulo já se mobilizou por meio
do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista,
que já tinha recursos depositados no Banco Nossa Caixa,
no qual beneficiará os produtores para que não
sofram nenhuma retração de crédito,
afirma o secretário.
A situação financeira dos agricultores não
é das melhores perante a crise, na opinião do
Banco do Brasil (uma das maiores instituições
que tem ampla atuação no setor do agronegócio).
Na tentativa de dar mais proteção ao Tesouro
Nacional e aos próprios produtores, a instituição
afirma que o governo precisa fazer uma ampla mudança
no sistema de crédito rural. Entre as alterações
propostas há o estabelecimento de taxas de juros pelo
risco da operação e a obrigatoriedade de adesão
do agricultor ao seguro rural. O foco do banco é diminuir
o custo anual de renegociação das dívidas,
onde entre 2002 e 2006, foram gastos R$ 10,1 bilhões
para rolar o montante devido. O governo podia gastar
de maneira mais inteligente e racional. Precisa se antecipar
e assegurar subsídios ao seguro e hedge
proteção contra a oscilação
dos preços agrícolas. Com menos dinheiro, poderia
dar garantia de renda e superar as renegociações,
comenta o vice-presidente de Agronegócios do BB, Luís
Carlos Guedes.
Para ele, o instrumento que o governo tem e que dá
sustentação aos preços agropecuários
são as chamadas Aquisições do Governo
Federal (AGFs), que garante as compras por meio da Conab.
Também há outros mecanismos que o governo dispõe
para atuar no sentido de dar uma sustentação
aos preços e, conseqüentemente, a renda ao agricultor.
Este ano houve uma relativa retração de
créditos dos produtores rurais oriundos de outros setores
que financia a agricultura, as chamadas tradings
e revendedores. Onde a presença destas empresas é
maior houve uma retração de crédito mais
intensa, como no Centro-Oeste do País, relata
Guedes. Entretanto, em relação ao Banco
do Brasil, devo dizer que houve um aumento de crédito
em comparação ao ano passado. Se compararmos
o primeiro quadrimestre do ano agrícola do ano 2008/2009,
com o mesmo período do ano passado, a instituição
aumentou o financiamento e o custeio da agricultura em 46%,
sendo que no caso do Mato Grosso, o nosso financiamento cresceu
73%, ou seja, o BB aumentou significativamente o seu financiamento
agrícola, em comparação à retração
de outros agentes que financiam a agricultura, relata
o vice-presidente de Agronegócios do BB.
Com bases na renegociação, o BB seguirá
a cartilha do Banco Central, a partir das decisões
do conselho monetário nacional. Os produtores
tem conhecimento destas normas e do prazo estabelecidos e
dependendo do contrato, daqueles que se enquadrarem nestas
normas, cujo acesso estava previsto, podem renegociar suas
dívidas. É claro, que ao fazerem isto, o produtor
incidem em outros dispositivos das normas, como o agravamento
do risco da operação, ou seja, quando ele prorroga
suas dívidas automaticamente, torna sua operação
financeira de maior risco, portanto menos vantajosa. O recomendado
é que sejam pontuais e cumpra os prazos previstos para
manifestar junto ao sistema financeiro a questão de
renegociação, pontua.
Para o superintendente de Agricultura Familiar, Microfinanças
Rurais e Crédito Fundiário do Banco do Nordeste
do Brasil, Luís Sérgio Farias Machado, há
diversos recursos que as instituições disponibilizam
para que a crise financeira não afete o produtor. No
caso do Banco do Nordeste hoje constitui-se o Fundo Constitucional
do Nordeste que representa importante instrumento de financiamento
às atividades produtivas no Nordeste e contempla outros
segmentos, além da agricultura. Até o momento,
não houve nenhuma retração de crédito,
pelo contrário, houve uma expansão voltada principalmente
ao grande produtor, conta Machado.
Em todo o Nordeste, o valor das dívidas dos produtores
rurais junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) contabiliza
R$ 11 bilhões com cerca de 500 mil clientes inadimplentes.
O prazo para que eles possam assinar o termo de adesão
para renegociarem seus débitos foi prorrogado. Os devedores
têm até o dia 12 de dezembro para aderir ao contrato.
O BNB já renegociou mais de R$ 277 milhões em
crédito rural, beneficiando 71 mil clientes. O
agricultor familiar poderá receber um abatimento de
até 40% no valor corrigido, enquanto os que puderem
liquidar o débito todo de uma vez terão descontos
ainda maiores, diz.
Efeitos
contrários à crise
Na opinião do vice-presidente de Agronegócios
do BB, Luís Carlos Guedes, o fator crise pode gerar
resultados positivos. De modo geral, os preços
dos produtos agropecuários estão no padrão
da média histórica, alguns favoráveis,
outros não. Os preços dos produtos são
diretamente influenciados pelo dólar. Aquele agricultor
que comprava com dólar baixo, na hora de vender recebia
menos. Este ano ele teve suas compensações.
Claro tivemos exceção de alguns produtos, como
o algodão. Segundo a Conab, a safra 2008/2009 deverá
ser similar a de 2007/2008. Podendo ocorrer uma variação
de 2 a 3% menos, devido ao clima e em algumas regiões,
pelo uso menor de fertilizantes, argumenta Guedes.
Já na opinião do gerente do departamento de
Suporte a Negócios Rurais e Industriais, do Banco Nossa
Caixa, Gilberto Fioravante, o cenário externo está
muito comprometido principalmente quando o assunto são
commodities e isto traz naturalmente um certo grau de incerteza
a todos. Porém o Brasil é considerado
como um celeiro do mundo e precisa aproveitar este momento
para ter maior participação no mercado internacional,
ao invés de se retrair. O que a gente vê é
que existe um grau de especulação que preocupa
o produtor, conta.
Por meio da assessoria de imprensa, o Banco Santander (outra
instituição que atua fortemente no setor) emitiu
uma nota afirmando que ainda é muito cedo para avaliar
os impactos da crise no setor. Os bancos Caixa Econômica
Federal e Bradesco, até o final desta edição,
não se pronunciaram.
Crise tem Solução?
Na opinião do ex-ministro da agricultura do Governo
Lula, Roberto Rodrigues, estamos perante a um processo onde
plantamos com menos dinheiro a custo maior, conseqüentemente
haverá uma diminuição da área
plantada e da tecnologia usada. Muito provável
é que os preços caiam na colheita. Mas é
possível também que esta crise americana se
estenda por mais tempo, em outros países, o que haveria
uma queda dos preços daqueles países. Agora
você imagina com safra cara com pouco crédito,
baixa produtividade e preços maiores poderá
acontecer um desastre, pois descapitalizará o setor
e a potência de investimento para frente. E isto é
ruim para o Brasil, pois poderá ter uma safra pequena
em 2009/2010, diz.
Segundo Rodrigues, uma safra pequena reduziria a oferta de
produtos exportados, destruiria o saldo comercial, aumentaria
os preços dos alimentos, portanto, haveria perdas na
economia brasileira. Portanto, teremos que evitar que
isto aconteça, criando oportunidade no Brasil durante
a crise. E ela é muito simples e só inverter
um instrumento legal que existe há mais de 30 anos
que se chama Política Garantida de Preços Mínimos,
que compete ao governo, comenta. O governo ao
rever isto e calcular os preços, informa ao mercado
e os bancos, por sua vez, terão mais confiança
e segurança para liberarem crédito e, assim,
possibilitarem uma safra mais expressiva. Com isto, os agricultores
terão menos riscos em relação ao produto,
lá na frente, e ainda a garantia da renda. Só
assim abre possibilidades de se ter uma grande safra em 2009
e o Brasil ocupar espaços no mercado mundial em 2010.
Transformar a crise em oportunidade é bom senso por
parte do governo, finaliza o ex-ministro.
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