Esses
foram os dados apresentados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), e que ainda revelam que a redução das exportações
de carne bovina in natura para a União Européia foi mais do que
compensadas pelo crescimento para outros destinos, com destaque para Rússia
(114,3%), Irã (451,5%), e Venezuela (403%).
Nesse ritmo, a pecuária
brasileira mostra as potencialidades de um negócio que tem muito ainda
a desenvolver, seja sob técnicas melhores de manejo, controle rigoroso
em sanidade, melhoramento genético, e sustentabilidade, que é atualmente
a bandeira que se levanta para o agronegócio como uma tendência mundial,
uma exigência do próprio mercado.
O conceito de sustentabilidade
ainda não possui uma definição absoluta. O que se pode dizer
de uma produção sustentável é que ela se caracteriza
como economicamente viável, que respeita e valoriza as condições
sociais (trabalho, cultura e educação), além de estar em
equilíbrio com o meio ambiente.
Nesse sentido, pode-se pensar
numa pecuária produtiva e sustentável? De acordo com diversos especialistas
e personalidades da pecuária e agronegócio do País, isso
é possível e não é uma tarefa difícil.
Trabalhar a pecuária produtiva e sustentável é absolutamente
possível, o Brasil tem condições favoráveis quanto
a isso, afirma Sebastião Costa Guedes, presidente do Conselho Nacional
de Pecuária de Corte (CNPC). Não precisamos derrubar mais
nenhuma árvore no Brasil para termos pecuária moderna e produtiva.
Estamos estabelecendo diretrizes para melhorar a sustentabilidade da pecuária
brasileira e a imagem no mercado internacional, aponta. A
busca do equilíbrio Emissões
de gases, a derrubada de árvores para abertura de pastagens, o tratamento
dado ao rebanho são pontos de discussão que tem tomado em encontros,
congressos e reuniões de debate sobre a sustentabilidade. Através
de um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea),
da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade
de São Paulo (USP), encomendado pelo Fórum Nacional Permanente da
Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), é a partir do investimento de recursos públicos
e privados em recuperação de pastagens e a adoção
de melhores tecnologias de manejo que está a resposta mais eficaz para
neutralizar os impactos ambientais provocados pelas mudanças climáticas
e os efeitos da emissão de gases efeito estufa (GEE) do rebanho bovino
brasileiro.
Fala-se no mal das emissões de gases produzidas pelos
animais. Há dados que, segundo Guedes, mostram um efeito de equilíbrio,
no qual as pastagens absorveriam esses gases, garantindo a qualidade do meio ambiente
[confira a tabela apresentada pelo Cepea sobre as emissões líquidas
da pecuária de corte, que podem ser substancialmente reduzidas pelo seqüestro
(absorção) de carbono pelas pastagens]. Em termos de emissão
de carbono, na atividade pecuária tem de se lembrar que há também
a fixação de carbono através das próprias pastagens,
destaca. Temos de trabalhar a questão a produção de
pecuária através do balanço entre os índices de emissão
e de fixação, e não somente pelas emissões. Se nós
intensificarmos mais a pecuária, através de semi-confinamentos,
reforma de pastagens, entre outras medidas vamos contribuir enormemente pela redução
da emissão de gases, analisa.
A pecuária gera
muito mais benefícios do que custos em seu processo produtivo, explica
o doutor em economia aplicada e coordenador do grupo de pesquisa em economia da
produção pecuária (Cepea/Esalq/USP), Sergio De Zen. Então
a gente tem de mistificar a visão de que a pecuária só gera
causas negativas, mas ela também gera efeitos muito positivos. Para
o especialista, para se alcançar a sustentabilidade da pecuária
é preciso, primeiramente, melhorar o sistema produtivo, como o aumento
dos investimentos na reforma e manutenção de pastagens. Pelas conta
de De Zen, para reforma e manutenção de 100 milhões de hectares
de pastagens são necessários R$ 58 bilhões. Só
que nesses R$ 58 bilhões a gente gera R$ 110 bilhões de receita,
então a análise benefício-custo é positiva e dá
1,8, ou seja ela é quase 80% de retorno sobre aquilo que é investido,
conclui.
Debates como esse, segundo o presidente do CNPC, fortalecerão
a discussão e esclarecerão melhor ao produtor o que se refere a
sustentabilidade na atividade e o empenho em se investir numa pecuária
economicamente mais ativa. Ainda há uma deficiência muito grande
sobre do que se trata uma produção sustentável na pecuária.
Nosso objetivo é reunir esses cientistas da agronomia, da fisiologia,
geologia, nos estudos de solos, entre outras áreas que possam juntos discutir
formas para se alavancar mais a questão da produção da pecuária
responsável, destaca Sebastião Guedes. A
questão da Amazônia Os
conflitos para se estabelecer uma produção sustentável se
agravou ainda mais com o Decreto 6.514, de 22 de julho deste ano, do governo federal
ele fala sobre as infrações e sanções administrativas
ao meio ambiente, estabelecendo o processo administrativo federal para apuração
destas infrações. Muito rígido, o documento impossibilita
o desenvolvimento da atividade econômica, segundo especialistas. Para Monika
Bergamaschi, diretora da Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG),
a revisão da legislação é necessária para garantia
da viabilidade econômica do agronegócio, bem como a sustentabilidade
que ele deve se pautar.
Durante o 7º Congresso Brasileiro de Agribusiness,
realizado em agosto em São Paulo (SP) pela ABAG, muitos especialistas debateram
sobre a questão da sustentabilidade. Concluiu-se que é por ela que
deve se pautar a produção, mas que deve ser garantidos, na legislação,
meios viáveis para se chegar nela. Em discurso no evento, o próprio
ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes está preocupado com a rigidez
do decreto, e com o comprometimento, cada vez maior, de áreas produtivas.
Sabemos que 38% da área brasileira está comprometida apenas
com três itens: assentamentos e quilombolas, indígenas e reservas.
Temos um estudo completo de todas as formas de reservas, inclusive legais e de
preservação permanente. (...) Estamos com 70% da área brasileira
congelada. Tenho medo de extinção da área agricultável
do Brasil, declara.
No caso da pecuária, ela não
deve ser tomada como a grande propulsora de derrubada de árvores na floresta.
O presidente do CNPC lembra que é importante ressaltar que existe um processo
no qual, primeiro vem a ação de madeireiros no desmatamento. Depois
vem o minerador, daí vem o pecuarista e agricultura, geralmente familiar,
por último, enumera Guedes.
A pecuária, em especial
a desenvolvida na região norte do País, segundo Guedes, fica caracterizada
como a que está contribuindo com o desmatamento da Amazônia, lá
fora. Nós temos 30% de nossas florestas, enquanto que os europeus
se considerarmos a porção ocidental não tem
praticamente nada. E eles nos acusam de acabar com as florestas, ironiza.
Outra questão relacionada ao desmatamento incide na abertura
de estradas, de acordo com Virgílio Viana, diretor geral da Fundação
Amazonas Sustentável (FAS), durante a exposição dele no congresso
da ABAG. A maior parte do desmatamento da Amazônia, 75%, está
concentrado nas margens em um raio de 50 quilômetros das estradas. Sempre
que ocorre uma construção ou asfaltamento de estradas há
um aumento do desmatamento, declara. A saída, segundo Viana, deve
se pautar no melhor desenvolvimento da ferrovia e hidrovia.
Conservar
a floresta é fundamental para a sustentabilidade do Brasil, e do Agronegócio
por duas razões, explica Viana. Primeiro, por causa da imagem.
O agronegócio tem a incômoda imagem de ser o vilão da Amazônia.
Segundo, pela importância do ponto de vista de produtividade de agropecuária,
relacionada com a chuva. |