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MEL - O LADO DOCE DE SER ORGÂNICO
rev 128 - outubro 2008

Converter a criação de convencional para orgânico e conseguir mais lucro com o mel. Muitos apicultores recorreram a esta prática e estão obtendo sucesso na produção. Além disso, eles preservam o meio ambiente e salvam espécie ameaçadas de extinção. A produção de mel apenas nas floradas silvestres é uma prática cada vez mais difícil. A apicultura tem dependido de culturas agrícolas que em muitos sistemas produtivos, recebem produtos agroquímicos de forma inadequada. Isso prejudica a qualidade do mel, dos produtos apícolas, elimina as abelhas e assim as colméias. Na tentativa de mudar essa realidade, nos últimos anos, muitos apicultores têm escrito uma nova história para a apicultura, transformando sistemas convencionais em orgânicos.

“Para isso, a produção é inspecionada e certificada por entidades reconhecidas pelo mercado ao qual se destina o mel, seja interno ou externo”, diz o diretor presidente Henrique Breyer, da Breyer e Cia Ltda., empresa criada desde 1980 e que comercializa os produtos das abelhas e seus derivados.

Hoje, a indústria beneficiadora de mel – localizada no município União da Vitória (PR) – produz de 8 a 10% do mel processado. O restante da produção vem de pequenos e grandes apicultores dos Estados do Paraná e Santa Catarina. São mais de 150, que mantêm um número aproximado de 40 mil colméias e uma produção anual de 1.000.000 kg de mel, só orgânico e que tem destino certo, como explica o diretor presidente da empresa. “Não só o mercado interno pode ser uma boa opção para o apicultor, mas o externo também. Com mel orgânico, o apicultor atenderá a uma demanda crescente e comercializará o produto com maior valor agregado. Mas para isto acontecer, a produção de mel passa por um rigoroso controle, que se inicia em cada colméia do apiário. A intenção é a produção do mel puro e natural”, diz Breyer.

Uma das principais exigências feitas pelas empresas certificadoras, para fornecer a certificação e um selo para o produto orgânico, é a garantia de uma distância mínima de três quilômetros entre os apiários orgânicos e as áreas de agricultura convencional. “Isto porque as abelhas coletam alimentos num raio de até três quilômetros de suas colônias”.

Para produzir mel orgânico é preciso seguir normas, que vão desde a alimentação das abelhas até o processo de coleta do mel e a higiene. Desde o manejo das colméias – onde o uso de medicamentos não autorizado é proibido – as caixas de colméias também não podem ser pintadas. As embalagens para comercialização devem aprovadas pelos órgãos competentes e homologadas pelas certificadoras, medidas estas precisam ser adotadas contra a contaminação. “Não adianta nada ter todo os equipamentos e retirar o mel dentro de um estábulo. As legislações trabalhista e ambiental também devem ser respeitadas. A qualidade é um ponto essencial nesta produção, é o que diferencia o orgânico do convencional”, conclui Breyer.

Depois de retirado, o produto ainda precisa estar dentro de especificações técnicas, como conter no máximo 19% de água e não ser aquecido acima de 38ºC. Isso porque, com o excesso de água, o produto pode fermentar e, aliado à alta temperatura, destrói substâncias orgânicas do mel, importantes principalmente para a saúde humana.

De acordo com a Embrapa Meio-Norte, o mel pode ser definido como substância viscosa, aromática e açucarada obtida a partir do néctar das flores que as abelhas melíficas produzem. Seu aroma, paladar, coloração, viscosidade e propriedades medicinais estão diretamente relacionados com a fonte de néctar que o originou e também com a espécie de abelha que o produziu. Além de ser usado como adoçante é mais conhecido por suas propriedades terapêuticas. Neste contexto, o mel é alimento rico em vitaminas C, D, E e do Complexo B. Possui ainda um teor considerável de anti-oxidantes (flavonóides e fenólicos). Contêm minerais como: cálcio, cobre, ferro, magnésio, fósforo, ácidos orgânicos, entre outras substâncias benéficas ao equilíbrio dos processos biológicos do nosso corpo. “No Brasil, a população de maneira geral, consome mel como remédio caseiro do que como alimento diário, passando a comprá-lo apenas nas épocas mais frias do ano, quando ocorre um aumento de doenças relacionadas aos problemas respiratórios. O ideal seria se todos mudassem esta postura de consumo”. “O mel é um produto que serve para todas as crianças, de 02 a 90 anos”, brinca Breyer.

Para Henrique Breyer, o que falta são programas específicos que divulguem o mel como alimento, seja o convencional ou orgânico. Há também fraudes e um mercado paralelo que comercializa o produto de porta em porta e nas feiras, sem identificação. “As associações e entidades tentam fazer o possível na intenção de coibir as falsificações e conquistar de vez a confiança dos consumidores”, enfatiza.

Unanimidade à mesa: Puro orgânico

Outra questão, na qual os apicultores são unânimes. Eles afirmam que as abelhas fazem o serviço completo, que a produção de mel tem um rendimento considerável e promove a fixação do homem no campo. Segundo o diretor presidente da Breyer e Cia, o País tem grandes extensões nas quais é possível investir na apicultura orgânica, principalmente a região no sul do País, que ainda guarda reservas de mata atlântica. “Nossa agricultura é de subsistência e possuímos uma flora silvestre bastante diversificada”, argumenta.

Outra empresa no Sul que apostou no mel orgânico foi a Apis Nativa Produtos Naturais Ind. Comércio Ltda, proprietária da marca Prodapys Produtos Naturais. A indústria, localizada no município de Araranguá (SC), processa mel e se interessa em bancar os custos de produção dos 107 apicultores parceiros, que só produzem mel orgânico. “Oferecemos suporte e assistência técnica. Neste caso, existe a parceria. Os apicultores vendem o mel convencional para outros mercados, mas somente os orgânicos são vendidos para nós. Aqui, existem também bonificações do que é produzido”, conta Tarciano Santos da Silva, sócio-gerente de exportação da Prodapys.

Hoje, entre os apicultores que fornecem mel para a indústria são de pequenos a grandes apicultores (nesta ordem, o pequeno mantém de 5 a 10 colméias já um grande apiário é possível encontrar aproximadamente 200 colméias ou acima disto). “Neste caso especificamente é necessário a utilização de muita mão-de-obra, mas a produtividade compensa”, diz Silva.

Desde 1979, a Prodapys mantém a atividade de processamento e também de produção de mel. Em 2003, ingressaram no mercado orgânico. “Grande parte da nossa comercialização é para a exportação. Países como a Europa e os Estados Unidos recebem o mel que produzimos. Outra parte vão para as grandes redes de supermercados”, comenta Tarciano Santos, que contabiliza uma produção de 600 toneladas ao ano de mel orgânico. “Uma das regras que constitui um orgânico é não a utilização de antibióticos, que garante a qualidade do produto. Casos recentes, como o botulismo em crianças, mostram que o mel precisa ser manipulado corretamente. Todos os casos da doença, foram em crianças com menos de 1 ano de idade, sendo 93% pacientes com menos de seis meses. Crianças com mais de 1 ano de idade, a ingestão dos esporos do C. Botulinum, por comidas contaminadas, não desenvolve a doença. Sem dúvida, uma das fontes de contaminação do esporos no mel, é o ar, a manipulação de alimentos, contaminação cruzada e equipamentos. O apicultor certificado como orgânico tem suas instalações inspecionadas pela certificadora, garantindo assim melhor manipulação do produto e minimizando o risco de contaminação com o esporos no mel”, menciona o sócio-gerente de exportação da Prodapys.

Consumo do mel

No Brasil, o consumo do mel ainda é muito baixo: o consumo per capita está na margem de uns 300 gramas de mel por ano. A Alemanha, por exemplo, é de 1 litro e 700 gramas, sendo o maior consumidor de orgânicos da Europa. Os Estados Unidos também possuem um consumo per capita acima de um quilo/ano por habitante. E são estes dois, respectivamente, são os principais destinos do mel orgânico produzido no Brasil.

Dados da Associação Paulista dos Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias (APACAME) mostram que 80% da produção de mel são de pequenos produtores. “O Brasil tem um potencial muito grande para produzir mel orgânico. E um nicho de mercado diferenciado. O nosso País tem matas fantásticas e o mel orgânico tem uma outra função, além da produção de mel, a preservação ambiental. Mas, hoje infelizmente as empresas que atuam com a exportação de mel orgânico – para onde é destinado a maior parte da produção – não chegam a ordem de 2%. O custo para atender as exigência das certificação são um dos fatores para que este número não cresça. Ainda há uma falta de instruções técnicas de manejo para a produção orgânica”, menciona o presidente executivo da APACAME, Constantino Zara Filho.

Segundo o presidente da associação, – que agrega mais de 7147 associados – hoje existem cerca de 350 mil produtores no País, espalhados principalmente pelas regiões sul, norte e nordeste. “Há alguns anos, a apicultura sofreu mudanças de produção. Devido à mancha da cana na região do sudeste, muitos apiários migraram para outras localidades, como o norte de Goiás, considerado pelos apicultores um ‘bom pasto’ para as abelhas. De acordo com Zara Filho, nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul é possível encontrar 60 mil colméias de abelhas Apis melifera, destinadas à polinização de pés de maçãs (fruta). Também há uma outra modalidade que vem sendo adotada pelos apicultores: é o aluguel das colméias para a polinização (neste caso as colméias são alugadas para as floradas de maçãs (fruta) e o apicultor recebe um valor por colméia que ele leva para as floradas). E por último o mel orgânico. “O que se produz aqui está sendo exportado em grande quantidade. É um mel de altíssima qualidade e que chega ao mercado num patamar de US$ 45, um vidro de 350 gramas. Apenas 2% deste mel fica em território nacional e tem valor diferenciado no mercado, já que o custo de produção aumenta, principalmente por causa da certificação internacional necessária, para atestar o produto como sendo orgânico. É sem dúvida, um mercado novo. E que pode custar ao consumidor 20% a mais se comparado ao convencional”, comenta o presidente da APACAME.

A apicultura é, sem dúvida, uma das raras atividades que promove simultaneamente os fatores econômico, social e ambiental para a melhoria da qualidade de vida de uma população, pois é capaz de gerar renda em áreas de até clima semi-árido. E tem acertado a mão. Estados como Piauí, o Ceará e a Bahia, já respondem por quase 80% do mel nordestino. O Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Maranhão foram os Estados que mais exportaram mel, no primeiro semestre deste ano. À frente estão: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul (um dos maiores produtores de mel nacional) e Santa Catarina, segundo os registros do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Já segundo dados da APACAME, em termos mundiais, a liderança pertence à China, seguido do México. O Brasil aparece em 10ª posição, com uma produção de 18 quilos por colméia ao ano, contra 38 da Argentina.

No Brasil, a produção de mel é feita predominantemente com a Apis mellifera africanizada, uma abelha mais agressiva e mais resistente aos ácaros parasitas (varroase – ácaro que suga o “sangue” da abelha desde a fase de larva até a adulta e prejudica a capacidade produtiva da colônia).

Alternativa viável

Preocupados com a alimentação, cada vez mais os consumidores exigem a garantia da qualidade dos produtos que retiravam das gôndolas dos supermercados. E por sua vez, os produtores buscam cada vez mais se enquadrar dentro desta exigência do mercado. Com isto, nos últimos anos, a agricultura natural (produção de alimentos e produtos animais e vegetais, que não faz uso de produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados) vem ganhando mais espaço.

Uma das que atuam neste segmento é a Korin Agropecuária, uma empresa brasileira ligada à Igreja Messiânica Mundial que utiliza os preceitos de agricultura natural – preconizados pelo pensador japonês Mokiti Okada – onde há um absoluto e total respeito à natureza, ao produtor e ao consumidor. Os produtos comercializados pela empresa são: frangos, água, ovos, frutas, verduras e legumes e mel. “Anos atrás, a demanda por orgânicos não era tão significativo. E não existiam pontos de vendas. Agora a realidade é outra. Temos vários produtos que atendem as exigências dos consumidores. O nosso ‘carro chefe’ é o frango Korin, mas agora, o mel vem atendendo também o nicho de mercado. Se o mel já faz bem a saúde, imagine um orgânico, que tem garantia certificada de qualidade”, diz o gerente comercial da Korin Agropecuária, Edson Shiguemoto. “O objetivo da Korin é desenvolver o consumo por alimentos mais saudáveis. Nos últimos anos houve um aumento considerável nas vendas de mel. Não é tão alto, consideramos um aumento sazonal, principalmente no frio”, completa Shiguemoto.

A Korin Agropecuária comercializa mel orgânico há três anos. Além de atender grandes redes de supermercados existem também os empórios. A empresa também é uma das clientes da Breyer e Cia. Hoje, os preços dos potes de mel orgânico variam de acordo com o peso e são vendidos a um preço entre R$ 8,00 a R$ 17,95.

Regulamentação

A lei n.º 10.831, de 23 de dezembro de 2003, descreve normas de produção, processamento sobre a agricultura orgânica, incluindo o mel. Porém, existe uma regulamentação que ainda está em votação e, que certifica os produtos orgânicos e suas exigências. Mas, nesta área orgânica, é possível encontrar certificadoras, como a Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD), uma empresa brasileira sem fins lucrativos, que desenvolve atividades de inspeção e certificação agropecuária, de processamento e de produtos extrativistas, orgânicos e biodinâmicos.

Há vinte anos atuando no campo da pesquisa e desenvolvimento da agricultura orgânica e biodinâmica, auxiliando no desenvolvimento de um padrão de agricultura sustentável, a IBD busca adequar-se às exigências cada vez maiores do mercado. Em 1995, a empresa conquistou o credenciamento da International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM). Quatro anos depois, o ISO 65 (mercado europeu) e, em 2002, a aprovação do USDA - United States Department of Agriculture (mercado norte americano), tornando-se a única entidade brasileira habilitada internacionalmente a conceder a certificação para produtos orgânicos e biodinâmicos.


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