O
processo de mecanização das lavouras foi e ainda é o responsável
por esses índices da agricultura brasileira. Tratores, colheitadeiras e
implementos agrícolas cada vez mais específicos fazem parte da necessidade
do produtor em garantir melhores resultados durante a colheita.
Para
Valdecir Monteiro, produtor de soja, milho e trigo no município de Cambé,
região de Londrina (PR), é com o investimento em máquinas
agrícolas potentes que os resultados aparecem. Ele comprou uma colheitadeira
da New Holland, a CR9060, para a safra de verão. Nós compramos
essa máquina com a intenção de se produzir bastante,
destaca Monteiro. Vendemos até um trator menor para comprá-la.
A colheitadeira nos surpreendeu muito. A nossa adaptação com ela
foi boa, e temos certeza de que ela vai garantir qualidade, com maior aproveitamento
da lavoura, diz.
A colheitadeira do produtor foi estreada com a
lavoura de trigo. Mas em função de chuvas na região, nas
primeiras semanas de agosto, a produção deve cair um pouco. Segundo
Monteiro, a área plantada de trigo foi de 800 alqueires paulistas (1.936
hectares). Tecnologia
a serviço do produtor Ao
todo, Valdecir possui cinco colheitadeiras, todas da New Holland. É cliente
da marca desde 2002. As outras máquinas estão bem conservadas
e respondendo bem em termos de produtividade, diz. Isso em função
da própria idade das máquinas e da hora de uso que, segundo ele,
giram em torno de 3 a 4 mil horas trabalhadas.
Presente no País,
ainda como um produto de importação desde a década de 60,
a New Holland passa a montar em 1973, em Curitiba (PR), as primeiras colheitadeiras
1530 as máquinas vinham da Bélgica incompletas e recebiam
aqui os pneus, motor e correias. Três anos mais tarde, a empresa já
produzia a colheitadeira 1530, 560 nacional.
De lá para cá,
a larga escala de produção na agricultura alavancou o setor de máquinas
agrícolas. O que demandava mais tecnologia para a produção
de máquinas mais eficientes.
Com o lançamento da colheitadeira
CR9060, a New Holland oferece a produtores de grandes áreas uma máquina
com dois rotores axiais, que realizam um tratamento mais suave do grão
em uma área de debulha e separação maior. Isso contribui
para a qualidade da colheita, reduzindo a perda de grãos por quebra. Concepção
e aplicação Em
nome da eficiência de uma máquina, o produtor tem de levar em conta
o trabalho que vai desenvolver com ela. Um investimento como esse da New Holland,
exige uma atenção especial quando o assunto é garantir a
durabilidade e maior aproveitamento da máquina.
Para falar
de aproveitabilidade remetemos à concepção de um novo produto,
explica Eduardo Nunes, gerente de marketing da New Holland para América
Latina. A NH efetua um grande número de pesquisas, clínicas
e visitas aos clientes, com as quais levantamos os mais diversos aspectos da necessidade
de utilização de um produto e de produtividade. Com esses
dados a montadora pode garantir ao produtor um maquinário com maior eficiência
por hectare, menor intervalo de paradas para manutenção, autonomia,
economia de combustível para máximo aproveitamento do dia de trabalho,
entre outros fatores.
A tecnologia proporciona, entre outros, dois
aspectos fundamentais: maior controle sobre a performance da máquina (monitoramento
e ajustes necessários) e soluções que facilitam as operações,
obtendo-se ganhos em produtividade em operações específicas,
frisa Nunes. Podemos citar a integração máquinas e
sistemas de agricultura de precisão, que podem trazer grande ganho de produtividade
ao agricultor. Durabilidade O
tempo de uso de uma máquina vai depender muito da maneira como ela é
utilizada e qual a aplicação no campo por ela desenvolvida. Há
lavouras que exigem mais, como é o caso da cana-de-açúcar,
que pode levar uma colheitadeira a trabalhar o dia todo, e outras que não,
como é o caso de grãos. Soja, trigo e milho, por exemplo,
o tempo de uso de uma máquina agrícola varia de 800 a 1000 horas
por ano, diz Jak Torretta Júnior, gerente de produtos e exportação
intercompany da Valtra, analisando a potencialidade dos produtos da companhia.
Na produção de cana-de-açúcar, por exemplo,
como ela é mais intensiva, a manutenção é feita no
próprio campo. Nossos clientes não podem perder tempo com conserto,
por isso garantimos 95% de disponibilidade no campo, destaca.
Com
uma participação forte no setor caniveiro, a Valta vem desde 2004
impulsionando este setor. Segundo Torretta, daquele ano pra cá, foi o setor
que mais desenvolveu demanda por máquinas, e foi o que estimulou a produção
da empresa. Nosso conceito de produção é de máquinas
simples e de fácil conserto. Para se ter uma idéia nossos tratores
funcionam 16 mil horas sem precisar trocar a transmissão e 20 mil horas
sem fazer retífica, diz.
Em 2006, a Valtra lançou
um novo sistema hidráulico: o Hi-Flow, que proporciona maior vazão
hidráulica e com a flexibilidade ideal para trabalhar com todos os implementos
que necessitam de alto fluxo hidráulico e controle de vazão. Para
se ter uma idéia do que isso significa, a máquina é capaz
de desenvolver quatro funções, o transbordo, cultivo/tríplice
operação, plantadora de cana inteira ou picada e carreta distribuidora
de torta de filtro. Cada um desses implementos com regulagens diferentes sem prejudicar
o desempenho do trabalho no campo.
Historicamente, a Valtra acompanha
a necessidade de mercado, introduzindo a cada ano, modificações
e melhorias com objetivo de aumentar a resistência dos tratores para atender
as necessidades do mercado brasileiro, destaca Manoel José Lino,
analista de pós-vendas. Este trabalho foi bem desenvolvido graças
à parceria e ao estreito relacionamento direto com o cliente, que participou
ativamente na identificação das necessidades, bem como nas soluções
para evolução do produto. Acompanhamento
técnico Uso
correto do trator ou colheitadeira e a manutenção periódica
vai proporcionar um melhor aproveitamento da máquina, assim como vai garantir
que ela dure por mais tempo. Nesse sentido que as empresas montadoras vêem
no atendimento do cliente a melhor maneira para garantir o bom desempenho das
máquinas.
A questão da durabilidade está relacionada
à manutenção, aponta Omar Zilch, suporte técnico
pós-vendas da Massey Fergunson. Um dos trabalhos que se faz para
esse objetivo é a entrega técnica. Para isso, nos preparamos com
a produção de materiais técnicos e treinamento com os concessionários.
No País, são 200 pontos e oito centros de treinamento. Tudo isso
para visar um bom treinamento para aqueles que vão estar em contato com
os clientes e estar efetivamente capacitados em demonstrar o produto, explica
Zilch.
Temos clientes que dizem que só fazem negócio
se houver um treinamento quanto ao uso correto da máquina, ressalta
Eduardo Sousa Filho, gerente de marketing do produto da Massey. Eles valorizam
esse tipo de comunicação, a questão da informação.
Além dessas entregas técnicas são organizados cursos e atualizações
para esses clientes. E é uma demanda crescente.
Fabricada
no País pela AGCO do Brasil, a marca Massey Ferguson possui uma tradicionalidade
na produção de tratores. Em 1975, a marca despontou nas vendas com
o MF 275. E é justamente com o sucesso da série 200 de tratores
que a empresa é impulsionada a garantir melhor qualidade aos produtos da
marca.
A Massey produz tratores para 100 países distintos
cada qual possui suas especificidades em termos de máquinas, explica
Sousa. Temos uma tecnologia adequada para o Brasil. Em carros, existe o
conceito de tropicalização, que seria adaptar o veículo
para as condições do país e região onde ele vai ser
utilizado. Esse mesmo conceito também empregado para as máquinas
agrícolas. Nossos tratores possuem plataformas padronizadas, nossos projetos
seguem um padrão, no entanto, o uso da máquina, o tipo de trabalho
que ele vai desempenhar no campo, em que região, se mais quente, úmida
ou fria todos esses fatores são levados em consideração
na hora da produção da máquina. Escolha
para a rentabilidade Diante
de um mercado promissor, a produção de máquinas agrícolas
vem ganhando mais força. Segundo os dados da Associação Nacional
de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) o crescimento da produção
chega a 34,62%, considerando os meses de janeiro a julho deste ano com os dados
de 2007. Em termos de vendas, comparando esse mesmo período, o crescimento
foi de 45,08%.
Resultados que evidenciam a priorização
da produtividade na lavoura a partir de um maquinário adequado. Há
duas razões para o produtor trocar de máquina, analisa Jeferson
de Oliveira, gerente de marketing estratégico para a América do
Sul da John Deere. A primeira está relacionada a vida tecnológica
das máquinas agrícolas e a segunda, que está em função
da redução de custos. Com uma máquina capaz de aumentar a
produtividade em mais hectares por hora o custo da máquina se dilui.
Temos investidos em tecnologia de motor mais leves, que consomem pouco,
destaca Oliveira.
Presente no Brasil desde 1979, produzindo inicialmente
colheitadeiras e plantadeiras no município gaúcho de Horizontina
(primeira fábrica), a John Deere é uma das indústrias de
máquinas agrícolas de destaque no País. Hoje a empresa possui
três fábricas no Brasil, em Catalão (GO), na produção
de colhedoras de cana, e a terceira inaugurada em maio deste ano, em Montenegro
(RS), especializada em tratores.
Com o uso da tecnologia, a empresa tem
buscado potencializar a colheita, garantindo maior aproveitamento da lavoura.
Antes o produtor deixava um espaço durante a colheita, não
colhia com a plataforma cheia, deixava um espaço para poder manobrar o
trator. Com o uso da tecnologia do GPS, a máquina faz a colheita com a
plataforma cheia e não há perdas, enfatiza Oliveira.
Um exemplo dessa tecnologia é a série STS de colheitadeiras de grãos.
De acordo com Oliveira, ela é uma máquina rotativa e, conforme o
esforço, ela muda automaticamente o padrão de trabalho. Isso
gera um consumo de combustível menor no final do dia e garante menos perdas
na lavoura.
A John Deer possui um setor de desenvolvimento
de tecnologia próprio para o setor de agricultura que, em termos de investimentos,
significa cerca de US$ 0,5 milhão por dia, afirma Oliveira. Estamos
em expansão de concessionários e fazendo muito treinamento com eles
se por algum acaso houver algum problema com nossas máquinas eles
estarão aptos a atender o cliente o mais rápido possível,
assegura. De
essencial a inevitável O
processo de mecanização para os trabalhos na agricultura tem se
mostrado em pleno crescimento no País. É a busca por maiores resultados,
seja no tratamento do solo, no plantio e na colheita. Dependo das culturas
a mecanização se faz necessária. No caso de grãos,
não tem jeito, é necessária uma colhedora. No caso do café
arábico, a mecanização é algo inevitável,
analisa Celso Luis Rodrigues Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Aplicada
(IEA), órgão que faz parte da Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios (APTA).
A redução de custos com
a mecanização da lavoura de café é bastante significativa,
de acordo com Vegro. Fazendo as contas, o pesquisador encontrou uma redução
de 2/3 [cerca de 67%], em dinheiro, nos custos de produção. Considerando
um custo total, o qual se insere a depreciação da máquina,
por exemplo, o custo cai para 1/3 [cerca de 33%], mas ainda assim é uma
boa redução, analisa. Segundo o pesquisador, o setor cafeeiro
está tão disposto a mecanização que há filas
de espera por máquinas.
Na cultura de laranja tentou se mecanizar,
mas não houve resultados positivos, de acordo com Vegro. Ainda tem
de se pensar em um maquinário mais eficiente para esse tipo de cultura,
avalia.
Mesmo com um resultado crescente na produção e
vendas, o mercado de máquinas agrícolas sofreu nos últimos
anos com a alta no preço do aço, segundo o artigo Mercado
de máquinas agrícolas automotrizes: alta dos suprimentos estratégicos,
de Vegro e Célia Regina Ferreira, também pesquisadora do IEA. Segundo
Vegro e Ferreira, com base em publicações e dados da Anfavea, o
preço do aço corresponde a quase 20% do custo de produção
de um veículo de passeio, enquanto que para máquinas agrícolas
essa porcentagem é estimada em 15% do custo final do equipamento.
Em função dessa alta nos preços do aço, os preços
de máquinas agrícolas tiveram reajustes. Entre 1999 e 2008 a elevação
no preço do ferro, aço e derivados alcançou 527%, com significativo
repique no último trimestre. Incentivo
à mecanização Um
dos fatores que contribuíram na expansão de vendas de máquinas
agrícolas no início de 2000, de acordo com os pesquisadores do IEA,
foi a implantação do Moderfrota, um programa do governo federal,
com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ele se destina ao financiamento de aquisições de máquinas,
com o objetivo de promover a modernização dos equipamentos no campo.
O segmento de máquinas agrícolas automotrizes robusteceu-se,
e esse esquema de equalização dos juros com suporte do tesouro tornou
a política mais favorável para a aquisição de tratores
e demais máquinas, explicam Vegro e Ferreira.
Incentivos
como esse propiciaram a renovação de mais de um terço da
frota de máquinas agrícolas do País além de conferirem
maior conteúdo tecnológico para os equipamentos, com o aumento produção
e vendas.
Ao término deste ano, os pesquisadores estimam uma produção
de mais de 70 mil máquinas. Um número recorde na história
desse segmento, o que confirmaria a hipótese de que a indústria
brasileira de máquinas agrícolas alcançou o patamar de maturidade
tecnológica e integração de processos capazes de manter a
competitividade internacional mesmo sob ambientes de negócios desfavoráveis.
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