Este
consumo reflete no produtor já que a exigência por bons grãos
é crescente. Apesar de grande parte da produção nacional
ser comercializada no exterior, o que significa que esses grãos são
de boa qualidade, a tendência é que cada vez mais o cafeicultor venda
para o mercado interno devido ao crescimento do consumo de café de qualidade
no País. A safra 2008 deverá atingir 45,85 milhões de sacas
de 60 kg, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso significa
27,1% a mais que a safra anterior, quando produzimos 36 milhões de sacas.
Se a safra se confirmar, a produção de 2008 é a segunda maior
dos últimos 10 anos, atrás do ciclo 2002/03 quando o País
atingiu as 48,48 milhões de sacas.
Minas Gerais continua dominando
a produção nacional com pouco mais de 50% da área plantada
no País (23,38 milhões de sacas). Na seqüência, Espírito
Santo, com 10,23 milhões de sacas, e São Paulo, com 4,6 milhões
de sacas, vêm em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Somando a produção
de todos os estados do sudeste (38,51 milhões de sacas), a região
produz aproximados 84% do total colhido no País. No quesito variedade,
a arábica ainda predomina nos cafezais brasileiros com praticamente 77%
da produção (35,27 milhões de sacas) e outras 10,58 milhões
de sacas conilon, também conhecida como robusta.
E nesse mercado
que demanda qualidade, um dos fatores que contribuem é a altitude em que
a planta se desenvolve. É comprovado que produções
acima de 900 metros produzem cafés de maior qualidade. Tecnicamente, uma
região muito baixa encurta o ciclo da planta devido à alta temperatura
o que certamente diminui o desenvolvimento do café. Se um produtor busca
qualidade, ele tem que buscar altitude, explica o engenheiro agrônomo
do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Roberto Tomazzielo. Cidade
gourmet Pardinho,
cidade de 5.500 habitantes, localizada a 210 km da capital paulista tem muito
prestigio entre os cafeicultores por ser uma região de boa altitude para
a cultura da planta. Aqui temos terra acima dos 800 metros, tornando uma
boa área para o plantio do café, com clima ameno e baixa umidade.
Tudo isso reflete em grãos de qualidade na região, afirma
a engenheira agrônoma, Andréa Bosco. A região é repleta
de pequenos produtores do grão que somados devem atingir 1 milhão
de pés, segundo a engenheira.
Adilson Pauletti produz café
há oito anos na cidade, desde quando resolveu retomar os trabalhos na fazenda
praticamente abandonada da família. Na época, o café
estava com preço bom e eu comecei a plantar novamente. Meu pai já
plantava café há um bom tempo, mas na década de 1990 já
não tinha mais pés do grão. Em 2000, comecei a plantar e
a buscar informação para poder ter uma boa colheita, afirma
o produtor de 40 anos. Hoje, são 17 hectares de café no Sítio
Santo Antônio, que está mecanizando a plantação em
busca de produtividade. Agora eu plantei uma parte da lavoura para fazer
todo o processo mecanizado, porque assim é muito mais ágil a pulverização
e me traz bem mais produtividade, explica Pauletti.
O produtor
trabalha praticamente sozinho na lavoura durante o ano e contrata mão-de-obra
apenas em época de colheita. Um dos pilares para ter sucesso com o cafezal
é a redução de custos. Produzo minhas próprias
mudas o que já me traz uma boa economia e, além disso, conservo
muito bem o solo, isso é fundamental na lavoura de café. A questão
é não mexer muito no solo, porque se não você acaba
tirando a matéria prima, diz o produtor que reclamou da chuva neste
ano. O problema desta safra é a chuva que acabou deixando o café
no chão antes da colheita. No ano passado, isso não aconteceu e
acabei tendo uma qualidade muito boa no café que vendi, lembra Pauletti.
Para o produtor Alcides Bosco, proprietário da Fazenda Água
Santa, também localizada em Pardinho, e que trabalhou com café durante
toda a vida, a cidade é uma das melhores para a cultura. Eu tenho
outras duas propriedades em que produzo café, uma delas fica aqui perto,
em Botucatu (28 km de distância), e o grão que dá melhor qualidade
de café é esse aqui de Pardinho mesmo, confirma o cafeicultor
que atualmente planta 15 hectares. Esse ano realmente a chuva acabou estragando
um pouco a nossa colheita. Eu sempre coloquei lona no solo para colher e poder
separar o que já estava no chão dos melhores grãos, mas como
a chuva derrubou muito, eu resolvi não usar a lona e juntar tudo,
explica Bosco. Com a altitude das terras, o produtor sempre conseguiu exportar
a produção. Antes eu vendia direto para os exportadores, hoje
continuo vendendo para exportação, mas não de forma direta,
afirma o produtor de 78 anos. Mudanças
no campo Com
a maior demanda por grãos de qualidade provavelmente teremos algumas mudanças
no campo. Adilson Pauletti, que há oito anos produz café, está
buscando conquistar certificações, devido ao valor que o mercado
internacional dá para esses documentos. O consumo de café
de alta qualidade, o gourmet, representa 4% do mercado nacional, são 600
mil sacas por ano, e o quesito faturamento representa 7% de todo o café
que é produzido no Brasil, explica Nathan Herskowicz, diretor executivo
da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
Para o produtor, essa demanda é ótima porque ele pode investir
em qualidade, em certificação porque ele sabe que será valorizado
por isso, afirma Herskowicz.
Algo muito importante para os cafeicultores
é a instrução normativa que o governo está para implantar
que determinará um limite de qualidade mínimo do café. O
Ministério da Agricultura está finalizando estudo para uma instrução
normativa que vai limitar a qualidade do café no Brasil. Acredito que até
o final do ano isso já esteja resolvido, diz o diretor da Abic. Realmente
o assunto está ganhando espaço no Brasil e no mundo e Andrea Illy,
presidente da Asic, a maior conferência mundial do café, comenta
a mudança sobre a produção de café. Antigamente,
nós discutíamos produtividade por hectare, hoje as coisas mudaram
e nos preocupamos com qualidade, sabor e saúde. Hoje o produtor tem que
focar em qualidade e consumo, afirma Illy.
Muito se fala sobre
as mudanças na produção de café com o aumento da temperatura
global. Alguns cafeicultores da região de São Paulo e Minas Gerais
estavam com medo do calor acima da média acabar com as lavouras. Mesmo
que o aumento de temperatura do planeta ocorra, nós já temos tecnologia
para solucionar o problema. Basta arborizar os cafezais, o que já é
muito usado na Colômbia, por exemplo. Temos dados do Paraná e no
interior de São Paulo que a arborização abaixou 2º.C.
Se a temperatura variar, bastar ter uma mudança na atitude que atenua o
problema da temperatura, explica o engenheiro agrônomo do IAC, Roberto
Tomazzielo. Maior
conferência do mundo (ASIC 2008) Em
setembro, o Brasil sediou a maior conferência do café do mundo, a
ASIC (Associação para ciência e informação
sobre café, traduzido literalmente). Hoje o Brasil é
o maior produtor de café e o segundo em consumo. Mas em 10 anos o País
já deverá ser o maior consumidor também, ultrapassando os
EUA, afirma o presidente da conferência, Andrea Illy.
Os
principais temas da ASIC 2008 foram as tendências de consumo, a ciência
do café e a saúde. Experiências que demonstraram a relação
entre a ingestão da bebida e a melhora ou prevenção de doenças
como Alzheimer, por exemplo, foram expostas na conferência que ocorreu em
Campinas, no interior de São Paulo. |