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do clima também preocupa: O Brasil precisará investir fortemente 
em biotecnologia para desenvolver plantas mais resistentes ao que os especialistas 
chamam de estresse climático. "É um jogo para gente grande, 
mas o país já é grande nessa área. Nós temos 
pessoal qualificado, conhecimento e laboratórios. Entretanto, faltam recursos. 
Apenas para dar uma idéia do montante necessário para fazer frente 
a esses problemas, alguns cientistas estimam que o desenvolvimento de uma nova 
variedade de soja exigiria aporte de aproximadamente R$ 100 milhões. Até 
aqui, os órgãos governamentais e as agências de fomento têm 
falado na liberação de algumas dezenas de milhões de reais 
para o financiamento de pesquisas relacionadas ao aquecimento global. Além 
de ser pouco dinheiro, os programas ainda não saíram do plano das 
intenções", lamenta Eduardo Assad.  |  
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 |     Simplificando, 
os pesquisadores envolvidos em estudos de melhoramento genético não 
poderão mais se preocupar em desenvolver plantas que sejam apenas altamente 
produtivas. Antes disso, elas terão que ser resistentes ao estresse climático. 
"De modo geral, as plantas trabalham bem até 32 ou 33 
graus. Acima disso, elas podem até crescer e gerar folhas, mas dificilmente 
geram frutos. Em Foz do Iguaçu, cidade de clima úmido e quente, 
nós temos um claro exemplo disso. Lá, os pés de café 
atingem até quatro metros de altura, mas não produzem um fruto sequer", 
compara o professor Hilton. Eduardo Assad completa o raciocínio dizendo 
que o desafio que se impõe ao Brasil exigirá, sim, o desenvolvimento 
de organismos geneticamente modificados, para fazer frente à demanda por 
alimentos e energia  leia-se biocombustíveis. "Estamos falando 
da adoção de transgênicos de segunda geração, 
com ou sem críticas", afirma. 
   Embora se classifique como 
um "simpatizante" da agroecologia, o pesquisador da Embrapa Informática 
Agropecuária diz que esse modelo dificilmente dará conta de responder 
às futuras necessidades do país. "Se a temperatura subir nas 
proporções previstas, pouco adiantará que a planta tenha 
sido cultivada com base nos princípios da agroecologia. Ela certamente 
vai morrer, a despeito da filosofia que esteja por trás dela", diz. 
Eduardo Assad lembra, ainda, que as conseqüências que podem ser causadas 
pelo possível agravamento das mudanças climáticas não 
se restringirão à perda de áreas cultiváveis ou à 
redução do faturamento do agronegócio natural. Elas também 
deverão gerar implicações sociais importantes. 
   A 
soja é a cultura que mais deve sofrer com a elevação de temperatura. 
As simulações mostram que as regiões ao sul do país 
e as localizadas nos cerrados nordestinos serão fortemente atingidas. No 
pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, em decorrência 
do aumento da deficiência hídrica e do possível impacto dos 
veranicos mais intensos. O grão, que atualmente apresenta o maior valor 
de produção da agricultura brasileira  R$ 18,4 bilhões 
(segundo dados de 2006)  e é o principal produto agrícola 
exportado pelo país, pode apresentar já em 2020 uma perda de R$ 
3,9 bilhões a R$ 4,3 bilhões (cenários B2 e A2, respectivamente), 
promovida por uma redução de área de baixo risco ao cultivo 
que vai de 21,62% a 23,59%. 
   Em 2050, o prejuízo pode subir para 
algo entre R$ 5,47 bilhões (B2) e R$ 6,3 bilhões (A2), como reflexo 
de uma área apta entre 29,6% e 34,1% menor que a atual. Para 2070, no melhor 
cenário o prejuízo será de R$ 6,4 bilhões (34,86% 
de área favorável), chegando a R$ 7,6 bilhões (41,39%) no 
pior cenário. Isso equivale à metade das perdas que a agricultura 
brasileira deve ter nesta ocasião.    |