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SAÚDE DA LAVOURA
rev 127 - setembro 2008

Elevação do clima também preocupa: O Brasil precisará investir fortemente em biotecnologia para desenvolver plantas mais resistentes ao que os especialistas chamam de estresse climático. "É um jogo para gente grande, mas o país já é grande nessa área. Nós temos pessoal qualificado, conhecimento e laboratórios. Entretanto, faltam recursos. Apenas para dar uma idéia do montante necessário para fazer frente a esses problemas, alguns cientistas estimam que o desenvolvimento de uma nova variedade de soja exigiria aporte de aproximadamente R$ 100 milhões. Até aqui, os órgãos governamentais e as agências de fomento têm falado na liberação de algumas dezenas de milhões de reais para o financiamento de pesquisas relacionadas ao aquecimento global. Além de ser pouco dinheiro, os programas ainda não saíram do plano das intenções", lamenta Eduardo Assad.

Simplificando, os pesquisadores envolvidos em estudos de melhoramento genético não poderão mais se preocupar em desenvolver plantas que sejam apenas altamente produtivas. Antes disso, elas terão que ser resistentes ao estresse climático. "De modo geral, as plantas ‘trabalham’ bem até 32 ou 33 graus. Acima disso, elas podem até crescer e gerar folhas, mas dificilmente geram frutos. Em Foz do Iguaçu, cidade de clima úmido e quente, nós temos um claro exemplo disso. Lá, os pés de café atingem até quatro metros de altura, mas não produzem um fruto sequer", compara o professor Hilton. Eduardo Assad completa o raciocínio dizendo que o desafio que se impõe ao Brasil exigirá, sim, o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados, para fazer frente à demanda por alimentos e energia – leia-se biocombustíveis. "Estamos falando da adoção de transgênicos de segunda geração, com ou sem críticas", afirma.

Embora se classifique como um "simpatizante" da agroecologia, o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária diz que esse modelo dificilmente dará conta de responder às futuras necessidades do país. "Se a temperatura subir nas proporções previstas, pouco adiantará que a planta tenha sido cultivada com base nos princípios da agroecologia. Ela certamente vai morrer, a despeito da filosofia que esteja por trás dela", diz. Eduardo Assad lembra, ainda, que as conseqüências que podem ser causadas pelo possível agravamento das mudanças climáticas não se restringirão à perda de áreas cultiváveis ou à redução do faturamento do agronegócio natural. Elas também deverão gerar implicações sociais importantes.

A soja é a cultura que mais deve sofrer com a elevação de temperatura. As simulações mostram que as regiões ao sul do país e as localizadas nos cerrados nordestinos serão fortemente atingidas. No pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, em decorrência do aumento da deficiência hídrica e do possível impacto dos veranicos mais intensos. O grão, que atualmente apresenta o maior valor de produção da agricultura brasileira – R$ 18,4 bilhões (segundo dados de 2006) – e é o principal produto agrícola exportado pelo país, pode apresentar já em 2020 uma perda de R$ 3,9 bilhões a R$ 4,3 bilhões (cenários B2 e A2, respectivamente), promovida por uma redução de área de baixo risco ao cultivo que vai de 21,62% a 23,59%.

Em 2050, o prejuízo pode subir para algo entre R$ 5,47 bilhões (B2) e R$ 6,3 bilhões (A2), como reflexo de uma área apta entre 29,6% e 34,1% menor que a atual. Para 2070, no melhor cenário o prejuízo será de R$ 6,4 bilhões (34,86% de área favorável), chegando a R$ 7,6 bilhões (41,39%) no pior cenário. Isso equivale à metade das perdas que a agricultura brasileira deve ter nesta ocasião.


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