A
alta no preço dos alimentos, o valor da terra e a destinação
dos produtos da agricultura podem ser influenciados pelo aumento desta atividade
no Brasil. Hoje, os confinamentos possuem pouco mais de três milhões
de cabeças e este segmento está concentrado no estado de Goiás
que teve 48% do volume de animais abatidos em 2007 -, mas ainda não
surte grandes efeitos na economia da região. No entanto, a previsão
é que nos próximos anos o confinamento tenha grande força
influenciando outras economias diretamente, como afirma Lebrón. O
confinamento pode atingir os mercados agrícolas do País, porque
um produtor de milho do Mato Grosso, por exemplo, ao invés de enviar a
carga para São Paulo para tentar concorrer com o milho produzido aqui no
sudeste, ele pode vender para o confinador da região. Ou então,
ele próprio poderia confinar e transformar o milho dele em carne, agregando
valor ao produto, explica Lebrón.
Entre os efeitos que a
atividade pode causar no País, o principal deverá ser a migração
de pecuaristas tradicionais e de agricultores para o confinamento. Hoje,
a média é de um hectare por cabeça de boi. Se um pecuarista
implanta o confinamento ele pode aumentar o número de cabeças e
ainda produzir a alimentação do gado confinado. Além disso,
o excedente da agricultura pode ser vendido. A tão falada integração
lavoura-pecuária, realmente deverá prosperar em diversas regiões
do País, afirma o diretor da Assocon.
Para o pesquisador
da nutrição de ruminantes da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande
(MS), Sergio Raposo de Medeiros, é mais fácil um agricultor implantar
o confinamento do que um pecuarista. Como o agricultor está acostumado
com gestão na fazenda, e o confina-mento é mais com-plexo que a
pecuária tradicional e precisa de mais acompanha-mento, ele está
acos-tumado e deve aderir mais facilmente a prática. Já o pecua-rista
não está acos-tumado a ter tanto planejamento e é mais difícil
para ele tentar entrar no ra-mo, explica o pesquisador. Medeiros acredita
também que os pecuaristas ficam ressabiados quando conhecem algum colega
que tentou implantar o confinamento e não obteve sucesso. Mas nenhuma
fazenda é igual à outra, completa o pesquisador da Embrapa.
Com a otimização da terra, o Brasil poderá ter
maior produção de alimentos com a mesma quantidade de área
e os reflexos na economia seriam diversos. Um deles é o preço da
terra. Usando menos área para produzir, poderíamos pensar que o
valor em algumas regiões deveria cair, certo? Errado, pelo menos essa é
a opinião de Medeiros. Como não se pode confinar em qualquer
local, já que é necessário implantar o sistema em áreas
de agricultura forte, essas regiões vão acabar sendo supervalorizadas,
explica o pesquisador. O confinamento está diretamente ligado à
agricultura e não há espaço para uma fazenda que tenha interesse
em trabalhar exclusivamente com o confinamento. Além de a agricultura fornecer
a alimentação do gado, os insumos do gado são usados para
adubar a terra.
Com uma oferta de alimentos superior a atual, poderíamos
supor que a concorrência abaixaria o preço dos alimentos. Quem
sabe o confinamento poderia suprir essa demanda crescente de alimentos, já
que o País terá maior capacidade de produção,
comenta Juan Lebrón, presidente da Assocon. Por outro lado, o aumento dos
confinamentos puxaria também o crescimento no consumo de grãos para
alimentação desse gado, como explica Sergio Medeiros. Terá
mais alimento, mas também teremos maior demanda devido à quantidade
de bovinos confinados. Mas não deverão ocorrer mudanças nos
preços, até porque se o preço do milho subir, troca-se a
alimentação, ou diminui a quantidade de boi confinado e o próprio
mercado regula o preço e a demanda, explica Medeiros. Caso
de sucesso Rino
Ferrari é um exemplo de confinamento bem sucedido no Brasil. Com mais de
12 mil cabeças estáticas e 40 mil abatidas por ano, a Fazenda Nova
Sapé produz a maior parte da alimentação do gado. A
alimentação é extraordinária! Nós mesmos produzimos
a alimentação do gado, nós temos capim colonial e temos cana.
Compramos resíduo de laranja, cevada, milho e uréia, o que dá
uma excelente ração a um preço razoável, explica
o proprietário que há 10 anos iniciou a criação na
fazenda. Com essa alimentação a Fazenda Nova Sapé consegue
engordar o boi cerca de 1,7 kg por dia.
Localizada na região de
São Carlos, a 237 km da capital paulista, a propriedade só não
engorda mais gado, segundo Ferrari, porque o preço da arroba do boi magro
é superior ao valor pago pela arroba no frigorífico. Os pecuaristas,
com toda razão, estão cobrando um alto preço pelo boi magro
porque passaram um longo período na pior. Eles estão querendo aproveitar
e colocam preços impossíveis de comprar. Então a gente batalha
muito para comprar um pouco de gado. Mas este é o momento do mercado e
isso é natural. Agora na época de seca deve melhorar, porque quem
tem gado no pasto tem que se desfazer dele, não tem jeito, principalmente
os pequenos pecuaristas, afirma Ferrari. Assim como ele, diversos confinadores
sofrem com o alto preço do boi magro. Pesquisa realizada no início
do ano com 47 confinadores apontou que eles tinham a intenção de
crescer 20% neste ano, mas na segunda edição da pesquisa, realizada
no segundo semestre, o resultado apontou que a perspectiva caiu para 6,7% devido
a baixa oferta do boi magro no mercado.
Para tentar preencher os espaços
vazios na Fazenda Nova Sapé, Rino Ferrari está investindo em parcerias
com pecuaristas. São três tipos de contratos que podem ser firmados.
A parceria que o Sr Ferrari mais aposta é a Boitel. A parceria
consiste em um serviço de engorda do boi de terceiros, ou seja, o pecuarista
paga uma diária, de aproximadamente R$ 4,50, para a propriedade alimentar
o boi. Essa prática deverá nortear diversos pecuaristas daqui para
frente para que o gado não sofra com o famoso problema da sanfona, quando
engorda na época das chuvas e emagrece nas secas.
Outra parceria
praticada é a do boi magro, conhecida como Parceria da Arroba.
Os bois de terceiros são pesados assim que chegam ao confinamento e ficam
por lá até o dia de abate. A diferença de peso entre o dia
da chegada do boi e do dia de abate fica para a fazenda e o restante é
pago ao dono do boi - esta é a parceria mais usual na Fazenda Nova Sapé,
atualmente. Por último, ainda existe a Parceria Total. O investidor
solicita todos os trabalhos da fazenda, ou seja, ele paga para a Nova Sapé
procurar e comprar o boi magro, paga a diária do boi no confinamento e
no final recebe integralmente o preço do boi vendido ao frigorífico.
Para implantar uma estrutura de confinamento não depende de grandes
valores para um pecuarista. Acredito que entre 70 e 80% do valor total para
implantar um confinamento é boi. Ou seja, se você já tem o
gado, basta investir na estrutura, supõe o diretor da Assocon. Já
para um agricultor, seria necessário desembolsar praticamente 560 do valor,
ao menos que pratique parcerias como as realizadas na Fazenda Nova Sapé.
Conferência
internacional A
Assocon promove o encontro de confinadores de diversos países em uma conferência,
no mês de setembro. A idéia do evento é a troca de experiência
de confinadores da Argentina, África do Sul, EUA, Austrália. Os
palestrantes são pessoas que trabalham no ramo e não pesquisadores.
É gente que tem conhecimento do mercado e de como funcionam as coisas por
lá, explica Juan Lebrón, da Assocon.
O Brasil tem
muita novidade para conhecer, já que ainda está iniciando o processo
de confinamento. Um dos pontos principais para os brasileiros aprenderem, na opinião
de Lebrón, é padronização de carcaças. Já
fomos piores, mas ainda temos muito que aprender na área de padronização
de produtos. Nós sabemos manejar, alimentar, vendemos regularmente bem,
mas temos problemas de carcaça padronizada em grande volume, explica.
O diretor da Assocon lembra da principal reclamação dos clientes
quando vendia carne na Europa. Eles pediam padronização. Poderia
ser uma carne de menor qualidade, mas tinha que ser igual sempre. O Brasil está
atrasado nesta área, afirma Lebrón. |