Edições Anteriores


CONFINAMENTO – GADO PRESO, LUCRO Á SOLTA!
rev 127 - setembro 2008

O confinamento ainda representa uma pequena parte da criação bovina no Brasil, mas já existem casos de sucesso, e números que ilustram crescimento de 200% da atividade nos últimos cinco anos. Além de acelerar o processo de engorda, o confinamento otimiza a fazenda e deverá mexer com outros setores da economia. “Pode-se dizer que confinamento é o futuro. O processo vai demorar, mas a tendência é essa mesmo, aqui no Brasil”, afirma Juan Carlos Lebrón Casamada, diretor operacional da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon).

A alta no preço dos alimentos, o valor da terra e a destinação dos produtos da agricultura podem ser influenciados pelo aumento desta atividade no Brasil. Hoje, os confinamentos possuem pouco mais de três milhões de cabeças e este segmento está concentrado no estado de Goiás – que teve 48% do volume de animais abatidos em 2007 -, mas ainda não surte grandes efeitos na economia da região. No entanto, a previsão é que nos próximos anos o confinamento tenha grande força influenciando outras economias diretamente, como afirma Lebrón. “O confinamento pode atingir os mercados agrícolas do País, porque um produtor de milho do Mato Grosso, por exemplo, ao invés de enviar a carga para São Paulo para tentar concorrer com o milho produzido aqui no sudeste, ele pode vender para o confinador da região. Ou então, ele próprio poderia confinar e transformar o milho dele em carne, agregando valor ao produto”, explica Lebrón.

Entre os efeitos que a atividade pode causar no País, o principal deverá ser a migração de pecuaristas tradicionais e de agricultores para o confinamento. “Hoje, a média é de um hectare por cabeça de boi. Se um pecuarista implanta o confinamento ele pode aumentar o número de cabeças e ainda produzir a alimentação do gado confinado. Além disso, o excedente da agricultura pode ser vendido. A tão falada integração lavoura-pecuária, realmente deverá prosperar em diversas regiões do País”, afirma o diretor da Assocon.

Para o pesquisador da nutrição de ruminantes da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), Sergio Raposo de Medeiros, é mais fácil um agricultor implantar o confinamento do que um pecuarista. “Como o agricultor está acostumado com gestão na fazenda, e o confina-mento é mais com-plexo que a pecuária tradicional e precisa de mais acompanha-mento, ele está acos-tumado e deve aderir mais facilmente a prática. Já o pecua-rista não está acos-tumado a ter tanto planejamento e é mais difícil para ele tentar entrar no ra-mo”, explica o pesquisador. Medeiros acredita também que os pecuaristas ficam ressabiados quando conhecem algum colega que tentou implantar o confinamento e não obteve sucesso. “Mas nenhuma fazenda é igual à outra”, completa o pesquisador da Embrapa.

Com a otimização da terra, o Brasil poderá ter maior produção de alimentos com a mesma quantidade de área e os reflexos na economia seriam diversos. Um deles é o preço da terra. Usando menos área para produzir, poderíamos pensar que o valor em algumas regiões deveria cair, certo? Errado, pelo menos essa é a opinião de Medeiros. “Como não se pode confinar em qualquer local, já que é necessário implantar o sistema em áreas de agricultura forte, essas regiões vão acabar sendo supervalorizadas”, explica o pesquisador. O confinamento está diretamente ligado à agricultura e não há espaço para uma fazenda que tenha interesse em trabalhar exclusivamente com o confinamento. Além de a agricultura fornecer a alimentação do gado, os insumos do gado são usados para adubar a terra.

Com uma oferta de alimentos superior a atual, poderíamos supor que a concorrência abaixaria o preço dos alimentos. “Quem sabe o confinamento poderia suprir essa demanda crescente de alimentos, já que o País terá maior capacidade de produção”, comenta Juan Lebrón, presidente da Assocon. Por outro lado, o aumento dos confinamentos puxaria também o crescimento no consumo de grãos para alimentação desse gado, como explica Sergio Medeiros. “Terá mais alimento, mas também teremos maior demanda devido à quantidade de bovinos confinados. Mas não deverão ocorrer mudanças nos preços, até porque se o preço do milho subir, troca-se a alimentação, ou diminui a quantidade de boi confinado e o próprio mercado regula o preço e a demanda”, explica Medeiros.

Caso de sucesso

Rino Ferrari é um exemplo de confinamento bem sucedido no Brasil. Com mais de 12 mil cabeças estáticas e 40 mil abatidas por ano, a Fazenda Nova Sapé produz a maior parte da alimentação do gado. “A alimentação é extraordinária! Nós mesmos produzimos a alimentação do gado, nós temos capim colonial e temos cana. Compramos resíduo de laranja, cevada, milho e uréia, o que dá uma excelente ração a um preço razoável”, explica o proprietário que há 10 anos iniciou a criação na fazenda. Com essa alimentação a Fazenda Nova Sapé consegue engordar o boi cerca de 1,7 kg por dia.

Localizada na região de São Carlos, a 237 km da capital paulista, a propriedade só não engorda mais gado, segundo Ferrari, porque o preço da arroba do boi magro é superior ao valor pago pela arroba no frigorífico. “Os pecuaristas, com toda razão, estão cobrando um alto preço pelo boi magro porque passaram um longo período na pior. Eles estão querendo aproveitar e colocam preços impossíveis de comprar. Então a gente batalha muito para comprar um pouco de gado. Mas este é o momento do mercado e isso é natural. Agora na época de seca deve melhorar, porque quem tem gado no pasto tem que se desfazer dele, não tem jeito, principalmente os pequenos pecuaristas”, afirma Ferrari. Assim como ele, diversos confinadores sofrem com o alto preço do boi magro. Pesquisa realizada no início do ano com 47 confinadores apontou que eles tinham a intenção de crescer 20% neste ano, mas na segunda edição da pesquisa, realizada no segundo semestre, o resultado apontou que a perspectiva caiu para 6,7% devido a baixa oferta do boi magro no mercado.

Para tentar preencher os espaços vazios na Fazenda Nova Sapé, Rino Ferrari está investindo em parcerias com pecuaristas. São três tipos de contratos que podem ser firmados. A parceria que o Sr Ferrari mais aposta é a “Boitel”. A parceria consiste em um serviço de engorda do boi de terceiros, ou seja, o pecuarista paga uma diária, de aproximadamente R$ 4,50, para a propriedade alimentar o boi. Essa prática deverá nortear diversos pecuaristas daqui para frente para que o gado não sofra com o famoso problema da sanfona, quando engorda na época das chuvas e emagrece nas secas.

Outra parceria praticada é a do boi magro, conhecida como “Parceria da Arroba”. Os bois de terceiros são pesados assim que chegam ao confinamento e ficam por lá até o dia de abate. A diferença de peso entre o dia da chegada do boi e do dia de abate fica para a fazenda e o restante é pago ao dono do boi - esta é a parceria mais usual na Fazenda Nova Sapé, atualmente. Por último, ainda existe a “Parceria Total”. O investidor solicita todos os trabalhos da fazenda, ou seja, ele paga para a Nova Sapé procurar e comprar o boi magro, paga a diária do boi no confinamento e no final recebe integralmente o preço do boi vendido ao frigorífico.

Para implantar uma estrutura de confinamento não depende de grandes valores para um pecuarista. “Acredito que entre 70 e 80% do valor total para implantar um confinamento é boi. Ou seja, se você já tem o gado, basta investir na estrutura”, supõe o diretor da Assocon. Já para um agricultor, seria necessário desembolsar praticamente 560 do valor, ao menos que pratique parcerias como as realizadas na Fazenda Nova Sapé.

Conferência internacional

A Assocon promove o encontro de confinadores de diversos países em uma conferência, no mês de setembro. A idéia do evento é a troca de experiência de confinadores da Argentina, África do Sul, EUA, Austrália. “Os palestrantes são pessoas que trabalham no ramo e não pesquisadores. É gente que tem conhecimento do mercado e de como funcionam as coisas por lá”, explica Juan Lebrón, da Assocon.

O Brasil tem muita novidade para conhecer, já que ainda está iniciando o processo de confinamento. Um dos pontos principais para os brasileiros aprenderem, na opinião de Lebrón, é padronização de carcaças. “Já fomos piores, mas ainda temos muito que aprender na área de padronização de produtos. Nós sabemos manejar, alimentar, vendemos regularmente bem, mas temos problemas de carcaça padronizada em grande volume”, explica. O diretor da Assocon lembra da principal reclamação dos clientes quando vendia carne na Europa. “Eles pediam padronização. Poderia ser uma carne de menor qualidade, mas tinha que ser igual sempre. O Brasil está atrasado nesta área”, afirma Lebrón.


Edicões de 2008
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES