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Brasil, ele é o Simental (na nossa grafia, é escrito com apenas 
um m). A raça atualmente corresponde a um rebanho de 370.078 
cabeças no País, de acordo com Alan Fraga, presidente da Associação 
Brasileira dos Criadores das Raças Simental e Simbrasil (Abcrss). Este 
número representa os animais puros de origem, puros com cruza e mestiços 
registrados na associação. Fraga estima que o rebanho total chegaria 
a cerca 1 milhão de cabeças. 
   As primeiras importações 
da raça Simental para o Brasil foram em 1904, 1907, 1910 até 1912, 
lembra Fraga. Depois a gente ficou um longo período sem a entrada 
de genética no Brasil. Voltou a ter outras importações na 
década de 70. As primeiras importações foram de animais vindos 
da Suíça, que é o país berço da raça 
Simental. Na década de 70, quando aconteceram as outras importações, 
foram também da Suíça, depois Alemanha, e depois teve importação 
da Áustria e França. 
   Falar no desenvolvimento e disseminação 
da raça Simental no País é falar no trabalho da família 
Fraga. O ano era 1927, e chega-va na propriedade de João Vieira da Fraga, 
em Muqui (ES), um touro reprodutor vindo da região da mata de Minas Gerais, 
Leopoldina. Meu bisavô era um grande pecuarista da época, mas 
ele não era um selecionador, conta Alan. E meu pai [Agostinho 
Caiado Fraga, o Fraguinha, como era conhecido] começou [esse 
trabalho de seleção] na década de 40, mais ou menos. Ele 
observava que os produtos vindos desse reprodutor, que havia chegado lá, 
eram animais superiores. Eram animais que produziam muito leite, eram animais 
pesados, lembra. A partir desse tra-balho, começou um pro-cesso de 
seleção bastante forte  o que valorizou bastante a dupla aptidão 
desse gado, que pode ser destinado tanto para a produção de leite 
como para a produção de carne.  O 
princípio A 
pecuária brasileira nos primórdios, principal-mente quando o País 
era apenas uma colônia de Portugal, não era destinada a produção 
de carne e leite para o consumo da população e o rebanho predominante 
era o Caracú, de acordo com os estudos históricos feitos pelo médico-veterinário 
e especialista na raça Simental, Fernando Antônio Nunes de Carvalho. 
No livro, A saga do Simental no Brasil, publicado em 1998, Carvalho 
traça os principais pontos dessa raça que trouxe muitos benefícios 
ao País. Com a introdução do Simental, o Brasil podia 
melhorar a genética dos animais, conta. Segundo a obra dele, os criadores, 
por volta de 1880, estavam divididos em três correntes: uma que preconizava 
o uso do Zebu, para a melhoria do rebanho crioulo existente no País; outra 
que queria o melhoramento do Caracu e a disseminação deste para 
constituir o rebanho nacional; e a terceira, que tendia para o uso de raças 
especializadas européias para serem utilizadas no rebanho crioulo e no 
Caracu. 
   A partir desse quadro, começa a se traçar os caminhos 
da pecuária brasileira, e a importância histórica do Simental 
como uma das raças que melhor se adaptou no País. Segundo Carvalho, 
as importações iniciais foram promovidas pela Secretaria de Agricultura 
do Estado de São Paulo, e anos mais tarde o Ministério da Agricultura 
incentivaria essa prática. O governo brasileiro, para fazer o fomento 
e promover a melhoria da pecuária brasileira, fez importações 
e fazia o fomento com esse rebanho aqui, explica Alan Fraga. Nem sempre 
esses animais eram comercializados. Alguns sim, mas outros eram emprestados por 
um período a um determinado pecuarista, e depois aquele touro era passado 
para outro pecuarista, numa forma de fomento. O trabalho de seleção 
de Agostinho Caiado Fraga foi bastante importante para o Simental. Ele fez 
uma seleção em cima de um cruzamento absorvente com o Guzerá, 
inicialmente. E daí, para frente, já na década de 70 e 80, 
nós já tínhamos um Simental brasileiro, conta Alan. 
 O 
surgimento do Simbrasil Além 
de ser um personagem marcante para a raça Simental, Fraguinha foi o idealizador 
e responsável por uma nova linhagem, que é 62% de sangue Simental 
e 38% Zebu  o Simbrasil. Isso foi já nos idos de 1947. Isso 
aí é uma coisa importante, porque o Simental é uma raça 
extremamente precoce e o Zebu, muito rústico. Então você tem 
a fertilidade do Simental, a precocidade, a qualidade de sua carne, aliada a rusticidade 
do Zebu. Isso foi muito importante para a nossa eco-nomia  e isso foi um 
trabalho de Agostinho Caiado Fraga, destaca Alan. Atualmente o rebanho Simbrasil, 
considerando os animais registra-dos pela associa-ção, é 
de 35.151 cabeças, de acor-do com a asso-ciação. No final 
das contas, Fraguinha conseguiu fazer um gado rústico, precoce, com alta 
fertilidade e produtividade de carne e leite, com habilidade materna, qualidade 
de carcaça, docilidade, tolerância ao calor, robustez, capacidade 
de pastejo com boa conversão alimentar e longevidade produtiva e reprodutiva. 
 Simental 
por batismo Desde 
a criação da associação em 1963, na época, 
dos criadores de Simental (Abcrs), até o fim da vida, em 2000, Agostinho 
Caiado Fraga presidiu a associação. As eleições 
na associação, para a diretoria, para os mandatos da diretoria eram 
feitas de dois em dois anos. E ele sempre foi reeleito sem nunca ter uma chapa 
contrária, dado a maneira dele de aglutinar e fazer com que a associação 
trabalhasse para todos, lembra Alan sobre o trabalho que o pai desenvolveu 
durante toda a vida dele na pecuária, na criação e disseminação 
do Simental e Simbrasil no País. 
   Para ser um criador oficial da 
raça, havia um tradicional ritual que consagrava o pecuarista  era 
o batizado feito pelo senhor Fraguinha. Era uma brincadeira, uma forma carinhosa, 
que meu pai usava para aqueles novatos que entravam na raça, na Associação, 
conta o atual presidente da Abcrss. O batismo era um juramento. Ele segurava 
a mão da pessoa, assim para cima, com uma mão segurava o braço, 
e a com a outra ele botava no peito da pessoa. Tinha um boton, que era a logo 
da associação. Ele dava um tapa no peito [justamente onde estava 
o boton]. Mas aquilo era uma brincadeira, todo mundo gostava, sempre que ele fazia 
um novo criador, aqueles que estavam pre-sentes gostavam dessa come-moração, 
recorda.  A 
introdução do sulafricano Outro 
personagem de grande influência para a raça Simental no País, 
e que contribui nos trabalhos de seleção de gado, foi o responsável 
por trazer a linhagem sul-africana do Simental para cá. Antônio Carlos 
Pinheiro Machado Júnior, diretor de pecuária da AgroZurita, iniciou 
um trabalho com essa linhagem que rendeu bastante resultado. Há anos 
a África do Sul e outros países do continente africano vêm 
desenvolvendo uma linhagem mais voltada para a produção de carne, 
sem perder sua aptidão leiteira, característica essa intrínseca 
à raça, diz Machado. Segundo ele, os animais dessa linhagem, 
trazidos da Alemanha e adaptados às condições do continente 
africano, possuem carcaça de excelente cobertura muscular, pêlo fino, 
bem pigmentado, e alta tolerância ao calor. 
   O trabalho desenvolvido 
na Agropecuária Zurita, de propriedade de Ivan Fábio Zurita, elevou 
a qualidade do rebanho e principalmente nos animais de pista e a genética 
disponibilizada atualmente em leilões da empresa. O primeiro touro dessa 
linhagem foi o Vuurslag 420K. Adquiri-o em março de 2001, quando 
ele se apresentava com 14 meses de idade. Foi o primeiro exemplar que comprei 
para a AgroZurita. Na época, ele foi o primeiro animal da linhagem sulafricana 
a ser ofertado em leilão no Canadá, conta Machado. Vuurslag 
420K é um produto de embrião exportado da África do Sul para 
o Canadá. É um digno representante da linhagem sul-africana no Brasil. 
Para se ter uma idéia da impor-tância dele, basta dizer que já 
foram comercializadas mais de 50.000 doses de seu sêmen, destaca. 
    Pinheiro Machado Júnior relembra bem os tempos que conheceu o 
senhor Fraguinha no sentido de melhoramento da pecuária do País. 
Trabalhamos juntos visando o desenvolvimento da pecuária brasileira, 
de uma maneira geral, independente da raça em questão. Nossa maior 
atuação em parceria foi quando o Ministério da Agricultura, 
em 1991, queria tirar das Associações, e transferir para as Centrais 
de Inseminação e a Associação Brasileira de Inseminação 
Artificial (Asbia), a responsabilidade de emissão do parecer técnico 
para importação de material multiplicativo (sêmen e embriões). 
A briga foi boa, e vence-mos. Até hoje, quem dá o pa-recer técnico 
para as importações, são as associações. 
 A 
luta para disseminar a raça no País Não 
foi fácil para Fraguinha divulgar a a raça no Brasil. Segundo Alan 
Fraga, o pai teve de enfrentar muitas barreiras até que as raças 
Simental e o Simbrasil fossem conhecidas em todo o território nacional. 
O grande trabalho, numa época difícil porque, inicialmente, 
ninguém conhecia nem o Simental, e o Simbrasil que veio depois. Hoje não. 
Hoje o mundo da pecuária moderna, que temos no Brasil, já conhece 
as raças. Outra coisa, a genética, a disponibilidade genética 
era muito difícil  você não tinha. Por conta daquele 
período longo (...) sem importação [período que o 
país ficou sem a importação de gado Simental de 1912 a 1970, 
aproximada-mente]. Hoje, nós temos a ge-nética que tem no mundo 
(...), igual ou melhor. Então, hoje a gente pode dizer que nós viramos 
uma referência. Não só das raças Simental e Simbrasil, 
mas como das ou-tras raças também. Hoje nós somos exportadores 
de genética, destaca Fraga. Segundo o presidente da ABCRSS, países 
vizinhos, na América do Sul e na América Central, têm procurado 
o Brasil ultimamente para adquirir essa genética. A As-sociação 
Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbrasil (ABCRSS) está 
localizada em Cachoeiro de Itapemirim (ES) e congrega atualmente 2.067 criadores 
de todos os cantos do país. Em 1984, a raça Simental passa a integrar 
ainda mais os pecuaristas da entidade. Entre outros objetivos, a associação 
tem como finalidade básica executar e manter o registro genealógico 
dos bovinos em todo o território nacional, promover ou facilitar as importações 
de reprodutores com as melhores características racionais, selecionar os 
exemplares da raça visando adaptabilidade as diferentes regiões 
do país, selecionar o tipo padrão de gado para o Brasil, manter 
o Serviço de Controle de Desenvolvimento Ponderal e Controle Leiteiro, 
promover teste de progênie e Avaliação de Rendimento de Carcaça 
e Provas de Ganho de Peso.   |