Em 2001, por exemplo, chegamos a ter até 339.883 kg comercializados com
outros países. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado (RS), Luis Eduardo
Antunes, diz que o real motivo para a queda no número de exportações
é a desvalorização do dólar. O mercado externo
tem interesse em nossas frutas, em especial as pequenas, tipo morango, amora-preta
e framboesa. Mas há a questão de preço e logística,
aponta Antunes. Como a moeda norte-americana desvalorizou em relação
ao real, os produtos nacionais ficaram mais caros para os estrangeiros.
Com a desvalorização do dólar os produtos estrangeiros se
tornaram mais acessíveis aos consumidores e passamos a importar mais morangos
nos últimos meses. Em 2008 entraram no Brasil 13.316 kg da fruta (até
o mês de junho o que representou U$ 55.737), enquanto que no ano passado
foram importados apenas 5.668 kg. Mas os números deste ano não deverão
aumentar muito já que a safra nacional segue, praticamente, até
o final do ano.
O Brasil tem potencial para exportar muito mais do que
vende atualmente. Essa é a opinião do pesquisador da Embrapa que
culpa a falta de estrutura. Somos muito amadores na questão exportação!,
afirma Antunes, já que o País não exporta nem 0,5% do que
produz.
Um outro problema que o País enfrenta é que o morango
é um vilão quando o assunto é agrotóxico. É
de conhecimento de todos que a lavoura convencional de morango recebe grande quantidade
de defensivos. Em abril de 2008, o Programa Nacional de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) divulgou uma pesquisa, que analisou
1.198 amostras de frutas e verduras no Brasil. O resultado coloca o morango como
líder em reprovação. A fruta teve índice de 43,6%
de frutas que continham excesso de agrotóxico. Tomate, com índice
de 44,7% e o alface, com 40%, estavam em segundo e terceiros lugares respectivamente
como produtos inadequados para a Ingestão Diária Aceitável
(IDA), o que é prejudicial à saúde. Algumas amostras de morango
continham agrotóxicos não autorizados para o cultivo da fruta, 14
ao todo, e outros defensivos liberados foram usados inadequadamente e ultrapassaram
o Limite Máximo Permitido (LMP).
Este resultado mostra a preocupação
do agricultor com a sua lavoura, porque acaba usando mais produtos do que o liberado
por medo de perder a fruta para as pragas. Ácaros
Rajados: Uma alternativa no combate ao uso de agrotóxicos Uma
das pragas que mais afetam o cultivo de morango é o ácaro rajado.
Ele permanece durante todo o período de colheita e acaba trazendo prejuízos
ao produtor. Para combatê-lo, o agricultor usa acaricida, o que na verdade
pode criar um problema ainda maior. Muitos produtos matam populações
de outras espécies que fazem o controle natural de outras pragas. Ao jogar
o acaricida, você pode erradicar o ácaro, mas acaba atraindo outros
problemas, explica o Pesquisador do Centro Experimental Central do Instituto
Biológico de São Paulo, Mário Eidi Sato.
Como os
acaricidas são usados na época de colheita, muitos produtores não
respeitam o tempo de carência (a partir do dia que foi feita a aplicação
o agricultor deve esperar um período para colher o fruto) e acabam colhendo
o morango antes do tempo, levando à mesa do consumidor uma fruta com resquícios
de agrotóxico, o que é proibido.
Uma alternativa para o
combate dos ácaros rajados é a liberação de ácaros
predadores na propriedade. Por se alimentar dos próprios rajados, os predadores
se multiplicam e acabam com a infestação dos rajados que destroem
os morangueiros. Apesar do custo inicial ser maior, ao final do período
de colheita o produtor acaba gastando menos. Além de a lavoura ficar protegida
e render mais frutos, a liberação dos ácaros rajados pode
ser realizada apenas uma ou duas vezes, enquanto o uso do acaricida deve ser feito
diversas vezes e, em muitos casos, não surtem mais efeito porque a praga
já se tornou resistente ao acaricida. Além da economia de mão-de-obra
o valor também é menor. O custo de uma liberação
de ácaros é maior que o custo de uma aplicação de
acaricida, mas é mais barato uma ou duas liberações do que
15 ou 20 aplicações de acaricida, explica Sato.
Além
do uso de ácaros predadores no lugar de acaricidas, o agricultor pode produzir
usando somente produtos orgânicos. Este tipo de lavoura vem apresentando
bons resultados para os adeptos. Os
adeptos dos Orgânicos Ronaldo
Pereira produz morango há 30 anos e nos últimos quatro se especializou
na produção orgânica. Com auxilio da Agência Paulista
de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o agricultor passou a ter uma lavoura
de 25 mil pés de morango com 560 de adubação natural. É
muito bom trabalhar com orgânico porque diminui os gastos de produção,
afirma Pereira.
O produtor de Monte Alegre do Sul, a 130 km de São
Paulo, não usa nenhum sintético químico, mas não possui
nenhum selo que certifique sua colheita como orgânica.
Com isso,
ele não vende o produto oficialmente como orgânico, mas já
está criando um plantel de consumidores fiéis. A cada ano
a minha freguesia está melhorando, porque o pessoal que compra está
confiando no meu trabalho, afirma Pereira.
Sobre os problemas com
pragas o produtor diz que nos anos com a plantação natural tem menos
incidência. O cultivo orgânico controla até melhor que
o cultivo convencional. Ele acaba tendo menor incidência de pragas que o
convencional, diz Pereira. O pesquisador científico da APTA, Joaquim
Adelino de Azevedo Filho, explica os motivos para essa melhora. Devido à
adubação mais equilibrada no sistema orgânico, dentro da planta
existe menos aminoácido livre, que é o alimento dos ácaros,
então no sistema convencional existe uma quantidade muito grande (de aminoácido
livre) e os ácaros se reproduzem mais facilmente, o que não acontece
no cultivo orgânico, explica o pesquisador.
A afirmação
é confirmada ao analisar a lavoura de um produtor de morango convencional
na mesma cidade. O agricultor Roberto Moreira de Souza diz que o vermelhão,
doença causada por fungos na raiz do pé que torna o morango impróprio
ao consumo, está destruindo uma parte considerável da lavoura. A
razão para o aparecimento, segundo ele, seria a chuva. Mas na lavoura orgânica,
localizada a poucos metros de distância, não há nenhum sinal
do vermelhão. Morango
sem preconceitos Antigamente
se tinha a idéia de que o produto orgânico era menor em tamanho e
em quantidade, mas hoje já não é assim. Na lavoura do produtor
Ronaldo Pereira, houve ano que foi colhido mais de seiscentos gramas de morango
por pé. Apesar de ainda ser a primeira colheita (que geralmente é
menor que a segunda), o tamanho do morango já prova que a cultura orgânica
não é defasada em relação à convencional. Existe
esse preconceito com relação aos produtos orgânicos, mas não
é verdade. Hoje nós temos produtos com a mesma qualidade, forma
e tamanho que o convencional, devido às tecnologias produzidas explica
o pesquisador da APTA.
Ricardo Schiavinato é outro produtor de
morango orgânico. Há 10 anos no ramo, ele chega a produzir entre
10 e 15 mil bandejas anualmente. Ele possui o selo da ECOCERT BRASIL certificando
o produto como orgânico o que lhe permitiu vender com um preço superior.
Para Schiavinato vale à pena produzir orgânico, mas só se
garimpar o mercado consumidor. Os supermercados esfolam a gente.
Hoje eu faturo mais do que quando vendia para grandes empresas porque hoje tem
gente que quer consumir produtos orgânicos, mas a gente tem que pesquisar,
afirma o produtor de Serra Negra, a 150 km da capital paulista. Ele passou a adequar
a produção à quantidade de compradores. Quando tenho
um morango plantado, ele já está vendido, explica.
O agricultor vende diretamente para lojas pequenas e especializadas em produtos
orgânicos. Elas, por sua vez, têm um público seleto que se
preocupa com questões ambientais, de saúde e que apreciam o sabor
da fruta sem defensivos. Se você comer um morango de lavoura orgânica
e outro de uma convencional, você consegue sentir a diferença,
diz o Pesquisador da APTA, Joaquim Filho.
Devido às tecnologias,
os produtores orgânicos têm menos custos de produção
com as mesmas quantidades, tamanho e forma que o convencional. Outros pontos positivos
são: a venda com preço mais elevado ao convencional e a qualidade
do produto final, oferecendo mais saúde para os consumidores. |