Para combatê-la é preciso aplicar agrotóxicos nas lavouras,
o que causa prejuízos ainda maiores. Além de aumentar o custo da
produção, esses "venenos" podem contaminar o meio ambiente,
a pessoa que o aplica e o próprio milho. Uma alternativa, identificada
por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, é contar com a ajuda de um
inimigo natural dessa praga: Trichogramma, uma vespa minúscula que parasita
o ovo da lagarta-do-cartucho.
As vespinhas, como foram apelidadas, custam
50% menos que os agrotóxicos e são inofensivas. Basta soltá-las
na lavoura que elas encontram os ovos da praga e, dentro deles, botam os seus.
Em alguns dias, as larvas das vespinhas nascem e passam a se alimentar das futuras
lagartas-do-cartucho. Com a introdução das vespinhas na lavoura,
o ciclo biológico da praga é interrompido e o uso de agrotóxicos,
descartado.
Adotar recursos da própria natureza no combate a pragas,
como no caso da vespinha e da lagarta-do-cartucho, caracteriza o controle biológico.
Na Embrapa, uma equipe de pesquisadores coordenada pelo engenheiro agrônomo
e entomologista Ivan Cruz acredita que essa seja a melhor alternativa para proteger
os milharais. Com o apoio da FAPEMIG, eles identificam, estudam e criam esse e
outros inimigos naturais da S. frugiperda. O resultado são produtos mais
baratos e de melhor qualidade.
O Brasil é um dos maiores produtores
mundiais de milho. São 13 milhões de hectares de área plantada
e uma produção anual estimada em 40 milhões de toneladas
de grãos. Mas no caminho entre a lavoura e o consumidor, há muitas
perdas. Parte da produção é deixada para trás na colheita,
no armazenamento e, principalmente, devido ao ataque da lagarta-do-cartucho que
reduz de 15 a 34% o rendimento do grão. Os prejuízos econômicos
causados por essa praga, somente na cultura de milho, são estimados em
400 milhões de dólares, por ano. Mas a S. frugiperda também
causa danos às plantações de sorgo, trigo, arroz, alfafa,
feijão, amendoim, tomate, algodão, batata, repolho, espinafre, abóbora
e couve. Nos últimos anos, sua ação tem sido cada vez mais
severa. Segundo os pesquisadores da Embrapa, isso se deve ao desequilíbrio
ecológico e, no caso do milho, ao aumento da exploração da
cultura que, hoje, é cultivada em todas as regiões do País
e, praticamente, durante o ano todo.
Sem escolha, resta aos produtores
lançar mão de uma série de produtos químicos em suas
lavouras. Mas, além de serem prejudiciais ao homem e ao meio ambiente,
os agrotóxicos podem criar pragas super-resistentes. "Eles engordam
a lagarta-do-cartucho", brinca Ivan Cruz. O pesquisador explica que o uso
inadequado desses "venenos" ocasiona uma seleção da praga,
em que as espécies mais fracas são eliminadas e as mais fortes,
preservadas.
Com o aparecimento das superpragas, a tendência é
aumentar a dose de agrotóxico e diminuir os intervalos de aplicação.
No entanto, a seleção da espécie continua, pragas cada vez
mais resistentes vão surgindo e o ciclo recomeça com doses ainda
maiores de "venenos" ou mistura de diferentes produtos químicos.
O que muitos produtores rurais ignoram é que a lagarta-do-cartucho,
assim como todas as pragas, tem inimigos naturais. Para utilizar o controle biológico,
o primeiro passo é identificar esses inimigos, que podem ser predadores
ou parasitas. A joaninha é um exemplo de predador, pois ela mata a presa
para comer. Já a vespinha Trichogramma é um parasita. Ela depende
de um hospedeiro para sobreviver, que nesse caso é o ovo da lagarta-do-cartucho.
É possível identificar inimigos naturais para cada fase
da vida da praga. A vespinha ataca o ovo, mas o agente do controle biológico
poderia atuar na larva, na pupa ou no adulto. Segundo Ivan Cruz, a vespinha é
a melhor opção para a cultura de milho, pois atua na primeira fase
biológica da praga e a elimina antes das plantas serem atacadas. Mas, por
precaução, os pesquisadores da Embrapa criam também um predador
de ovos e lagartas da praga: um inseto popularmente chamado de tesourinha.
A tesourinha mora no milho, como diria o pesquisador. Ela bota os ovos no cartucho
(folhas) e seus filhotes, que ali crescem, comem ovos e as lagartas da praga,
além dos pulgões presentes na planta. Os pássaros também
atuam como agentes do controle biológico, pois muitas pragas são
presas fáceis para eles. Outros inimigos naturais conhecidos dos pesquisadores
são os microrganismos, como os vírus (baculovírus), os fungos
e as bactérias. Milho
não é a única vítima A
Spodoptera frugiperda é conhecida como lagarta-do-cartucho porque seu habitat
preferido é o cartucho do milho. No entanto, seu hábito alimentar
é diversificado e ela se alimenta também de outros hospedeiros,
como as plantas de sorgo, trigo e arroz. É um inseto com metamorfose completa
, já que seu ciclo de vida passa por quatro fases distintas: ovo, larva,
pupa e adulto (mariposa).
As mariposas costumam descansar nas folhas
fechadas do cartucho do milho, durante o dia. Suas atividades começam ao
pôr-do-sol, quando a temperatura é mais favorável. O acasalamento
ocorre nessa ocasião e a oviposição (postura dos ovos), depois
de três ou quatro dias. Mesmo sem copular, as fêmeas podem botar.
Basta que elas estejam bem alimentadas com néctar. No laboratório,
o açúcar, o mel ou a cerveja são opções para
uma dieta alternativa.
Cada fêmea faz no máximo 13 oviposições,
mas esse número varia bastante e em apenas um dia, ela pode botar até
oito vezes. O número de ovos por postura também varia, com médias
entre 143 e 250 ovos. O período de incubação depende da temperatura.
Quando a média gira em torno de 26ºC, as larvas nascem em dois dias.
Em temperaturas mais baixas a incubação é mais longa.
As larvas recém-nascidas se alimentam da própria casca do ovo. As
jovens podem caminhar até 47 metros em uma hora e vão ao encontro
de uma planta apropriada para sua alimentação. Como em outras espécies
de insetos, as larvas de S. frugiperda podem ser canibais. Esse hábito
serve como controle natural da população. A longevidade dos adultos
depende não só da temperatura, mas também de sua alimentação.
Tanto as fêmeas quanto os machos vivem cerca de 13 dias quando alimentados
e quatro quando não comem nada. O ciclo de vida dura, em média,
30 dias no verão e nos períodos mais frios pode chegar a 50 dias.
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