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Mas essa vantagem tem um alto preço. Não é só 
pegar a carne no frigorífico e embalar com a marca. O consumidor quer carne 
diferenciada, então, você emprega valor, explica o zootecnista 
da Agrozurita, Antonio Carlos Sciamarelli Jr. A empresa é uma das que passaram 
a atuar neste nicho de mercado com diversos cortes. Há diferentes processos 
para padronizar o corte e agregar valor à carne, mas, de maneira geral, 
existe a preocupação com a genética. Há um trabalho 
envolvendo a genética dos animais vindos dos nossos parceiros, com controle 
rigoroso da sanidade e, principalmente, com as matrizes. Nós ainda fazemos 
o confinamento e o abate, diz Sciamarelli. 
   As marcas chegam ao 
mercado buscando atender o público final e com a incumbência de se 
fixarem na mente dos consumidores até a próxima compra. Para 
um chef de cozinha você não precisa de um apelo de marketing, mas 
para o público sim e é por isso que você traz a marca, 
afirma o gerente do Marfrig, Renato Galindo. A intenção dos grandes 
frigoríficos é mudar o hábito do consumidor no momento da 
compra passando confiança para os produtos de grife. A meta é 
colocar a marca na mente do consumidor, dar confiança a ele, ter sempre 
uma expectativa de qualidade e padrão da carne, diz Flávio 
Saldanha, gerente de marketing do Friboi. 
   Entre as marcas disponíveis 
no mercado brasileiro, a Organic Beef, do Friboi, vem apresentando 
um bom rendimento. Lançada em 2004, a carne provém de um gado orgânico 
 uma produção que alia um bom tratamento com o rebanho e condições 
trabalhistas adequadas aos peões e tratadores dos animais; esse sistema 
de produção é a pasto sem o uso de agrotóxicos, com 
medicamentos homeopáticos, e área de criação deve 
estar dentro das normas ambientais. O produto é destinado a um público 
que acredita colaborar com o meio ambiente e/ou com a própria saúde. 
As diferenças na criação elevam o preço do produto, 
mas, apesar do valor, a marca obtém boa porcentagem no faturamento da empresa 
já que é destinado a um público seleto. Hoje, o Organic 
Beef representa 3% do total comercializado de carnes (in natura) pelo Friboi. 
O consumo vem crescendo e nós esperamos que isso cresça para 5% 
em 2010, afirma o Diretor de Inovações da JBS, Antonio Zambelli. 
    A empresa passou a atuar neste nicho de mercado após verificar 
os costumes de consumo na Europa. A idéia surgiu em 2001 quando detectamos 
uma tendência na Europa com os consumidores que estavam valorizando os produtores 
que procuravam não utilizar alguns produtos ou não atingir os animais, 
comenta Zambelli. Com isso, a empresa passou a investir no seguimento e hoje possui 
a única marca entre os orgânicos. 
   O Friboi também 
é líder no comércio de carnes de grife para churrasco no 
Brasil. A Maturatta, lançada a mais de 10 anos, hoje representa 
4% do faturamento do frigorífico. Apesar de ambas serem destinadas a um 
público seleto de alto poder aquisitivo, a empresa procurou abocanhar todo 
o público top ao lançar a Cabaña Las Lilas. O 
quilo da carne atinge R$ 67,00 no ponto de venda, e é comercializado em 
apenas algumas lojas de poucos supermercados, em boutiques de carne e em restaurantes 
especializados. A Cabaña Las Lilas é o Rolls-Royce das carnes, 
é tida como uma carne especial, aponta Flávio Saldanha, gerente 
de marketing do Friboi. O alto preço e a pouca venda fazem com que a marca 
seja responsável por 1% do faturamento com carnes in natura. 
   Apesar 
do mercado de marcas ser crescente, hoje ele representa apenas 8% do faturamento 
do Friboi. O Brasil ainda não possui esse costume, mas é esse 
o nosso desafio. Em 2010 nós queremos chegar a 10% do faturamento com o 
mercado de marcas, afirma Zambelli, diretor da JBS. 
   A tendência 
é recente, mas o início desse tipo de comercialização 
é de longa data. O Restaurante Rubaiyat, considerado a melhor carne de 
São Paulo, pratica esse tipo de comércio há quase 30 anos, 
como explica o sócio do empreendimento, Belarmino Filho. Nós 
fazemos isso desde 89, no sistema boutique, dentro do restaurante mesmo. 
Apesar de não vender fora do próprio negócio, Belarmino foi 
um dos pioneiros a embalar a carne com marca no Brasil. 
   A tendência 
é investir neste tipo de mercado já que os principais frigoríficos 
estão nesta toada e é assim que acontece na Europa e EUA, por exemplo. 
Lá esse mercado está bem mais avançado, diz Zambelli, 
do Friboi.  O 
Marketing das Raças Além 
das marcas, há quem acredite que o mercado possa usar as raças como 
marketing. Mas será que o consumidor final irá ligar a raça 
à qualidade da carne? Para o Gerente Executivo da Associação 
dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), André Luis Locatelli, a resposta 
é positiva. Ele realiza um trabalho para atingir o consumidor final com 
a marca Nelore Natural. O Programa de Qualidade Nelore Natural 
tem o objetivo de colocar no mercado a carne com uma marca e que ela seja símbolo 
de um produto padronizado Nelore Natural, e assim chegar até 
o consumidor final, explica. Segundo ele, o marketing do Nelore é 
a saúde do consumidor, já que a carne possui grande teor de gordura 
subcutânea, que forma uma camada em cima da carne, e assim, a pessoa pode 
retirá-la caso deseje. 
   Mas parece que a questão nutricional 
tem menos relevância que o prazer. As carnes de raças que possuem 
o marmoreio, como Angus e Wagyu, são suculentas e de extrema maciez, mas 
em contra partida os consumidores levam mais gordura. 
  Tanto a raça 
Angus como a Wagyu estão crescendo no mercado nacional. Em novembro de 
2006 o Restaurante Rubaiyat, considerado a melhor carne de São Paulo, iniciou 
a comercialização da carne proveniente da raça japonesa Wagyu, 
que apresenta o maior grau de marmoreio possível. De lá pra cá 
as vendas desta raça aumentaram 500%, apesar do bife custar cerca de R$ 
150 , como explica o sócio do restaurante, Belarmino Iglesias Filho. O 
mercado é super crescente, o Wagyu, de 100 kg por mês, passamos a 
500 kg, sendo que cada bife custa 80 dólares. 
   Devido à 
demanda de qualidade, a carne de Angus vem ganhando espaço nesse mercado. 
Hoje, é o segundo maior mercado do Brasil, está chegando perto 
do Nelore. Crescimento anual de sêmen de touro Angus é de 38%, 
aponta o presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), Renato 
Ramires Júnior. Ao ser questionado sobre a demora da raça começar 
a se expandir no Brasil, Ramires aponta dois motivos. Um deles é a chegada 
da tecnologia. O Angus está explodindo porque está aparecendo 
com a tecnologia que está promovendo a qualidade, e o mercado está 
reconhecendo isso. A segunda razão seria, segundo ele, que o mercado 
consumidor está demandando uma carne mais saborosa e macia e que o Red 
Angus é a raça que pode proporcionar essas características 
ao consumidor. 
   Um fato que embasa a opinião de Ramires é 
o depoimento do proprietário do Restaurante Red Angus. Recém inaugurado, 
o estabelecimento fica lotado nos finais de semana e oferece apenas carne de Angus. 
O proprietário, Eloy Tuffi, disse que abriu o negócio porque não 
conseguia vender a carne que produzia no interior de São Paulo e hoje diz 
que não há condições de suprir a demanda. Se 
eu tivesse 200 toneladas de Angus, venderia tudo, afirma Tuffi. Para ele 
o sucesso do negócio é a diferença da qualidade da carne 
Angus para a de Nelore. Todo mundo está acostumado a comer o Nelore. 
Na Austrália, nos EUA e na Europa só tem Angus. Todo mundo fala 
que a melhor carne é da Argentina. Porque lá é Angus!, 
afirma Tuffi. 
   O gerente de projetos especiais do Marfrig, Renato Galindo, 
acredita no crescimento da marca Angus e diz que ela pode representar uma mudança 
na cadeia produtiva. A gordura intramuscular é responsável 
por 11% a mais de maciez. É uma carne mundialmente conhecida pela qualidade 
e com isso o pecuarista também receberá mais e é isso que 
precisamos: remunerar toda a cadeia produtiva, explica.   |