Garantir
a sustentabilidade da vida e da biodiversidade dentro das zonas agrícolas
é o preceito fundamental praticado pelos adeptos do modelo de agricultura
conservacionista que, hoje, tem como seu principal expoente o SPD, Sistema Plantio
Direto. Esse conceito vem sendo largamente utilizado por técnicos e extensionistas
rurais, tanto na agricultura como na pecuária, na busca de aumentar a consciência
do homem do campo, para a preservação dos recursos naturais disponíveis
em suas propriedades para seus filhos e netos. Dentro da agricultura este modelo
é largamente utilizado no cultivo de culturas anuais como, milho, soja,
arroz, feijão, algodão, trigo, aveia, mas, também em menor
proporção em culturas perenes como, café, cítricos
e cana de açúcar. De alguns anos para cá, outro setores estão
atentando para essa idéia, como por exemplo o setor de hortaliças
que vem ampliando bastante seus estudos no âmbito do SPD, como forma de
torná-lo seu modelo oficial de produção. Sem a necessidade
de remoção do solo por arado e gradagens e com a adoção
da rotação de culturas, idéia essa tida pelos agricultores
e técnicos como essencial para a manutenção do sistema, os
resultados em algumas localidades que têm seus produtores engajados com
esse paradigma, mostram resultados bastante animadores.
No entanto, a
realidade mostra uma gama enorme de produtores que ainda não atentaram
para esse conceito, por ceticismo ou por desconhecimento puro da técnica,
e que não estão desfrutando dessa realidade, ressalta Márcio
João Scalea, gerente técnico de plantio direto da Monsanto do Brasil.
Segundo ele, por motivos muitas vezes de falta de sustentação econômica,
alguns produtores realizam práticas que oneram a produtividade, além
de causar prejuízos ao meio ambiente em regiões já bastante
castigadas. Dados da Embrapa Solos, RJ, mostram que dos 42,5 milhões de
ha. ocupados pela agricultura com culturas anuais, aproximadamente 40% passam
por algum tipo de preparo no solo antes do plantio, situação que
ocorre ainda em maior proporção com os 7,5 milhões ha. utilizados
com culturas perenes. Com as áreas de pasto a realidade é ainda
mais catastrófica, pois, dos mais de 120 milhões ha. cobertos com
pastagens cultivada no país, cerca de 80 milhões ha. apresentam
algum nível de degradação, situação que se
agrava em partes do Brasil Central e das regiões Norte e Nordeste.
Scalea observa ainda que devido a rapidez na aplicação do SPD, sua
prática vem contribuindo sobremaneira para a integração lavoura
pecuária e proporcionando a recuperação gradativa de grandes
áreas nos estados do RS, PR, SP, GO. E isso de forma rentável tanto
para quem arrenda a terra, no caso o agricultor que ganha o direito de trabalhá-la
por período estabelecido em contrato. Segundo o técnico, para o
agricultor isso é extraordinário, pois é como se ele adquiri-se
uma área com um tamanho duas três vezes maior que a sua, podendo
triplicar sua produção de uma safra para outra. Para o arrendatário,
no caso o pecuarista, o negócio também é interessante, pois
garante a ele receber dentro de 4 - 5 anos suas terras de volta, totalmente renovadas
com seus micro e macro nutrientes e cobertas com pastagem abundante. A idéia
vem dando tão certo, que já existe até uma bolsa de arrendamento
na região do vale do Paranapanema em São Paulo, com 32 municípios
filiados, só para produtores que precisam de terra. O engenheiro agrônomo
da Monsanto do Brasil, observa que no sistema de plantio convencional este esquema
não funciona porque, o processo abarca toda uma série de procedimentos
como aração e gradagem, tempo este que indisponibiliza a terra para
plantio.
A prática do SPD está garantindo a preservação
de áreas de plantio que melhoram substancialmente em intervalos de 2 a
4 anos e, em alguns casos, com um manejo relativamente simples do solo, explica
Segundo Pedro Luiz de Oliveira Machado, engenheiro agrônomo e pesquisador
da Embrapa Solos, RJ. Segundo ele, o plantio direto tem demonstrado de forma incisiva
que o manejo convencional das terras nem sempre é o mais correto. Há
muito tempo que o plantio direto vem se democratizando no sentido de ocupar seu
espaço entre pequenos, médios e grandes produtores rurais. "A
prática é "mais natural" porque a partir do momento em
que revolve-se menos o solo, e não se altera a sua estrutura está
se manejando o solo de uma forma menos agressiva, evitando sua degradação,
já que o revolvimento excessivo do solo proporciona o surgimento da erosão,
desde a laminar até a formação de voçorocas, que podem
tornar a área irrecuperável", conclui. São realizados
anualmente, analises do solo em diferentes regiões, a fim de aperfeiçoar
as estratégias de manejo da fertilidade para a produção de
alimentos, sem esquecer os cuidados com o meio ambiente. Outro estudo de importância
executado pela Embrapa Solos é o de avaliação da contribuição
das frações da matéria orgânica na agregação
do solo. A agregação do solo é um fenômeno importante
no combate à erosão. Estes estudos de fracionamento físico
da matéria orgânica também servem como indicadores de degradação
do solo, explica Machado. "Os pesquisadores buscam checar se existe um indicador
de degradação da matéria orgânica do solo que forneça
uma espécie de aviso antecipado da degradação antes que ela
se consolide, alertando ao agricultor de que determinado manejo de solo acarretará
sua degradação completa em cinco ou dez anos", conclui.
Para o pesquisador, a diminuição da erosão do solo através
do plantio direto, em relação ao convencional, já bem documentada
pela pesquisa, tem como resultado prático um decréscimo do aporte
de fertilizantes e corretivos a médio prazo pelo aumento progressivo da
fertilidade natural do solo, proporcionando maior rentabilidade no sistema. Então,
a questão do plantio direto justamente por não permitir uma ação
direta no solo e mantê-lo coberto (por palha ou resíduos da própria
cultura) e basear-se, fortemente, na rotação de culturas deve ser
uma questão incorporada na pesquisa de uso das terras. "A Embrapa
Solos está há bastante tempo desenvolvendo pesquisas em apoio ao
plantio direto. Estas pesquisas já estão fornecendo subsídios
importantes", enfatiza. segundo ele, um dos principais trabalhos feitos é
o de comparação entre o Plantio Direto e o convencional (aração
e gradagem). "Hoje é possível além de ver a quantidade
da matéria orgânica do solo também observar a qualidade deste
componente. Temos condições não só de avaliar o Plantio
Direto em relação ao convencional, mas também, dentro do
Plantio Direto, podemos avaliar diferentes rotações de cultura.
Ou seja, tanto no Plantio Direto quanto no convencional, avaliamos a contribuição
de diferentes adubos verdes na qualidade da matéria orgânica e o
efeito disto na melhoria das propriedades físicas e químicas do
solo", explica.
Dados obtidos pela Embrapa Soja de Londrina, PR
e pelo IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná, utilizando técnicas
convencionais de isolamento de microorganismos mostram que o Plantio Direto realmente
causa um aumento considerável da biodiversidade do solo. Segundo os técnicos,
isso já era esperado, uma vez que o Plantio Direto cria condições
mais favoráveis ao crescimento de organismos e fauna do solo (minhocas,
formigas, etc.) que praticamente são ausentes das áreas de plantio
convencional em virtude da desagregação e da compactação
do solo nestas áreas.
A solução encontrada pelos
técnicos para esse problema foi a criação de um manejo no
pós colheita. Essa técnica consiste na aplicação de
um herbicida a base de "glifosato", poucos dias após acolheita
da cultura de verão, desde de que está área fique sem ter
nenhuma lavoura implantada. O técnico mostra que essa técnica é
indicada para áreas onde se vá deixar sem cobertura durante o inverno
ou em lavouras onde haja um intervalo de pelo menos 60 dias entre a colheita de
verão e o plantio da cultura de inverno. " O manejo pós colheita
garantirá melhor controle de plantas daninhas durante a cultura de inverno
e também durante a cultura de verão subsequente, reduzindo a necessidade
de misturas e aumentando a eficiência de herbicidas pós emergentes".
Outros benefícios que essa técnica oferece destaca-se: a redução
de plantas daninhas perenizadas no momento do plantio da cultura de verão;
Eliminação de fontes de inóculo para doenças bem como
de fonte de alimentação para pragas que venham a atacar as culturas
subsequentes: Melhoria da plantabilidade na cultura de verão, já
que não haverá plantas perenizadas para atrapalhar o plantio, além
da redução significativa do banco de sementes no solo.
Outra forma encontrada pelos agrônomos e que vem sendo utilizada com eficácia
para controle das plantas daninhas em SPD é o manejo complementar. A técnica
consiste em dividir o manejo pré plantio de verão em 2 aplicações,
sendo uma primeira feita entre 3 e 4 semanas antes do plantio e a segunda no dia
do plantio (aplique e plante). Essa prática garante os seguintes benefícios
segundo o técnico: Eliminação de necessidade de misturas
para controle de plantas difíceis, gerando maior segurança aos aplicadores
bem como antecipando a aplicação de plantio em muitas situações;
Forte controle do primeiro fluxo de germinação de plantas daninhas
que teriam que ser controladas na pós emergência da cultura de verão,
o que faz com que os herbicidas pós emergentes da cultura tenham muito
melhor performance; Melhoria no controle na pós colheita da cultura também
no caso de plantas daninhas resistentes aos herbicidas pós emergentes convencionais.
"Caso se faça dois manejos antes do plantio, reduz-se e muito a quantidade
de plantas a serem controladas, reduzindo portanto as perdas em decorrência
desses agentes".
Uma prática que vem mostrando resultados
satisfatórios, não nas regiões de Cerrado, mas também
em outras regiões como parte do Paraná e São Paulo, onde
a temperatura limita a implantação de uma cultura como a aveia,
por exemplo, é a cobertura das áreas de plantio com sorgo híbrido.
Segundo o técnico, essas espécies trazem a vantagem de sua grande
precocidade, aliada a rusticidade e resistência à seca, possibilitando
a produção de excelentes palhadas em intervalos inferiores a 30
dias. Isso já é feito com o milheto só que está cultura
é mais tardia e mais susceptível a alterações de temperatura."
O plantio no pós é uma recomendação muito interessante,
pois permite em poucos dias a dessecação e o plantio com boa palhada",
ressalta o técnico da Monsanto. Outro forte aliado do plantio direto é
certamente a biotecnologia que causou uma verdadeira revolução na
agricultura nos últimos anos. |