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desembarcar em terras brasileiras, Sr.Yoshimura encontrou no litoral Sul de São 
Paulo, mas exatamente no Vale do Ribeira, o clima propício para prosseguir 
com a plantação milenar. Sendo assim, três anos depois que 
o junco brotou, Sr. Yoshimura distribuiu as novas mudinhas aos colonos da região, 
em grande maioria imigrantes japoneses. A multiplicação da cultura 
rendeu frutos para o Vale do Ribeira, que se tornou única produtora de 
junco das Américas, com produção de 50 toneladas da fibra 
seca por ano. E mais do que expressiva fonte de renda, a cultura de junco contribuiu 
para a absorção de mão-de-obra local, preservação 
da tradição e uma forma alternativa de geração de 
emprego, com o artesanato. 
  Neste ano completa o centenário da migração 
japonesas. E muitos ainda se lembram com clareza sobre a história da chegada 
do navio Kasato Maru ao armazém 14 do porto de Santos, no dia 18 de junho, 
há um século atrás, quando as primeiras 158 famílias 
japonesas chegaram no Brasil. Um deles é o Sr. Takashi Yoshimura, filho 
do Sr. Shigeru Yoshimura, o responsável pela introdução da 
planta de junco no Brasil. São mais de 55 anos dedicados ao cultivo. Hoje 
a produção está nas mãos dos meus filhos, eu só 
acompanho, conta com uma voz tranqüila. Na época que começamos, 
vendíamos o artesanato para muitos viajantes e comerciantes da região, 
diz Sr. Takashi, que seguindo a tradição japonesa, não diz 
sobre a lucratividade da produção. Não dá muito 
dinheiro, pois tem muitas despesas, mas dá pra viver, 
esclarece. 
  Elisa Okiyama é uma senhora simpática e muito 
falante, mas que não revela de forma alguma a sua idade. A família 
Okiyama foi uma das primeiras no cultivo de junco. Nós recebemos 
as primeiras mudinhas do Sr. Yoshimura, que deu para toda a gente daqui, 
diz. Foram mais de 40 anos dedicando-se a plantação, que também 
dividiu áreas com a colheita de arroz, do chá, e até do bicho-de-seda. 
Com o tempo, o preço do junco não ajudou e nós acabamos 
arrendando nossas terras, para viver e vencer as dificuldades. E assim vamos passando 
dias, sorridente, argumenta. Dona Elisa Okiyama, é a segunda geração 
de imigrantes japoneses e trabalhou durante anos em suas próprias terras 
para ajudar no sustento da família. Hoje, vive em uma casa construída 
nos mesmos moldes japoneses e ao fundo existem as terras arrendadas para um outro 
produtor. A gente diz que japonês é muito persistente, 
explica. 
   A produção de junco que trabalha a cadeia produtiva 
completa, desde o plantio até a industrialização da fibra, 
de dois anos para cá está sendo vista com outros olhos, principalmente 
pelos profissionais do Sebrae-SP e da Associação Comercial Industrial 
e Agropecuária de Registro (SP), que perceberam que os menos de 10 produtores 
de junco, não trabalhavam juntos e se viam como concorrentes, realizando 
tradicionais artesanatos. Muitos também já estavam abandonando a 
atividade e havia também uma acirrada concorrência com os produtos 
provenientes do mercado chinês. Por meio do Programa Empreender os 
seis produtores empresários puderam se organizar para formarem 
o Núcleo de Junco, e que hoje apostam na diversificação de 
produtos, com a valorização do design, para manter a tradição, 
comenta Ricardo Flórido, consultor do Projeto Empreender. 
  Junto 
com esta ação, o cultivo de junco escreve hoje uma nova história, 
mudando a vida de muitas famílias de pequenos produtores, que praticamente 
são todos filhos e netos dos imigrantes japoneses. O junco torna 
viável a sobrevivência de muitos produtores, despontando como alternativa 
em pequenas áreas. Com isso, o Sebrae, parceiro deste Núcleo, deu 
importância à criação de uma logomarca: o Junco, que 
foi registrada e que será usada a partir de agora como ferramenta para 
a conquista de novos mercados, diz Daniel. 
   Além de virar 
a marca e ir além dos tradicionais tatames, esteiras para a praia e chinelos, 
os novos produtos - desenvolvidos por uma empresa especializada  já 
rendem bolsas, pastas, mochilas, almofadas, pufes, cestos e jogos americanos. 
Com isto, ofereceremos novas linhas de produtos. Já estamos em contato 
com grandes empresas e aguardamos fechar grandes vendas, argumenta o produtor 
Douglas M. Naoi, da DAI Artefatos de Junco, que conta que tanto o catálogo 
quanto agora a logomarca fazem parte de uma estratégia de reforçar 
no consumidor a identificação dos produtos dos descendentes de japoneses 
no Vale do Ribeira. Douglas M. Naio é um dos seis produtores que dão 
continuidade a herança deixada pelo pai, há mais de 50 anos. 
   
Para o gerente do Sebrae-SP no Vale do Ribeira, Daniel de Almeida, a nova postura 
dos produtores de junco do Vale do Ribeira é fruto de uma nova forma de 
compreender o negócio. Este é o objetivo do Sebrae-SP, promover 
o empreendedorismo, fomentar o desenvolvimento sustentável e o aperfeiçoamento 
técnico, diz. 
   Um dos adeptos à inovação 
Hélio Tamada, empresário à frente da Naboro Tamada - negócio 
criado por seu avô há mais de 50 anos  é um dos que 
reforça que por meio da união, os produtores ficaram mais fortes 
e que agora possam dar um novo ânimo ao negócio deixado de pai para 
filho. 
   De uma muda clandestina às inovações do design, 
é a geração de produtores de junco, como Douglas Naoi e Hélio 
Tamada que renovam a tradição do junco, com profissionalismo, visão 
de negócio e inovação em produtos. E a tradição 
trazida pelo Sr. Yoshimura que produziu junco até sua morte, aos 82 anos 
de idade, e que os descendentes e imigrantes japoneses ainda querem manter.  Tradição 
vence competição do mercado  A 
planta de junco tem raiz em forma de pequenas batatas, de onde crescem os juncos, 
e atingem um tamanho em torno de 1,50m. Depois do processo de secagem, apenas 
10% é aproveitado para industrialização. Nesta fase, o junco 
vai para o tear onde ele é penteado e aparado nas extremidades de acordo 
com a medida da esteira que será tecida. Os teares produzem esteiras em 
fitas que depois serão cortadas para produzirem diversos artefatos. 
  Agora 
com a criação da logomarca, foram criados mais de 40 novos produtos. 
A nossa intenção é abrir novos mercados fora da temporada 
de verão. Queremos aproveitar para ampliar a comercialização 
dos nossos artesanatos, diz Douglas Naoi, que produz 40 toneladas de junco. 
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