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para a cana-de-açúcar, em 2005, os números de produção 
animavam os produtores  e já vinham crescendo desde 1994. A safra 
de 96/97 cresceu 14,29% em relação à safra anterior (95/96), 
com um total superior a 287 milhões de toneladas. Foi por esse embalo na 
produção sucroalcooleira que o pecuarista Rubens José de 
Souza, da Fazenda Santo Antônio, do município de Limeira do Oeste 
(MG), resolveu entrar nessa atividade, mas não teve muito sucesso. Há 
três anos no cultivo da cana, Souza só tem amargado prejuízos. 
A produção é fácil, no entanto, quanto mais 
se produz, maior é o prejuízo, diz. Segundo ele, o custeio 
para o cultivo de um hectare oscila entre R$ 3,5 mil a R$ 4 mil. Os insumos, o 
adubo, a mão-de-obra e o constante tratamento da cana são responsáveis 
pelo encarecimento da lavoura. Só de adubo é de R$ 600 a R$ 
700,00. O pecuarista de corte e também de leite estima um prejuízo 
de R$ 12 mil reais este ano por conta da cana.  Inversão 
de mercado Souza 
é um exemplo típico do produtor que se viu diante de uma oportunidade 
para garantir uma renda a mais na fazenda e, de repente, se vê numa situação 
pior do que estava anteriormente. Há 30 anos na pecuária, ele decidiu 
partir para o plantio da cana-de-açúcar em função 
dos baixos preços da arroba do boi. A pecuária estava ruim, 
se fosse hoje para eu entrar na produção da cana, não entraria, 
destaca. 
   A propriedade do pecuarista é de 302 hectares, sendo 
desses, 120 disponibilizados para o cultivo de cana (39,74% do total). O 
custo de produção chegou a mais de 50 mil reais, a preço 
de custo. Se este ano não melhorar não compensa mais. 
   
Com a inversão do mercado, o boi, que antes pagava mal, agora está 
lhe garantindo bons resultados. Não tem comparação, 
é como comparar a seleção brasileira como o time do Guarani, 
por exemplo, diz, fazendo uma analogia sobre qual atividade é melhor 
atualmente, a pecuária de corte, o leite ou a cana. Em segundo lugar vem 
a pecuária leiteira. A produção dele é de 500 litros 
ao dia, com um preço de R$ 0,85 por litro, na região. 
  Em 
termos de investimento, Souza ainda não tem como crescer mais na pecuária 
de corte. Estou no limite, não tenho como aumentar a quantidade de 
gado. O pecuarista trabalha com as raças holandesa meio sangue para a produção 
de leite e o nelore para o abate.  A 
busca por melhores caminhos A 
garantia da rentabilidade na fazenda vai depender muito de saber como o mercado 
reagirá diante da atividade escolhida. No caso cana, houve esse excesso 
de produtores, alta oferta, preços baixos e o encarecimento da produção. 
Isso pode acontecer em qualquer atividade, é uma questão de 
mercado, analisa Gabriela Tonini, especialista em pecuária da Scot 
Consultoria. Segundo ela, o importante é o pecuarista entender bem a atividade 
em que ele pretende entrar, quais serão as perspectivas de mercado, e, 
se for preciso, arriscar também. 
   Dependendo de onde o produtor 
estiver, a aplicação de tecnologia e um manejo bem elaborado podem 
lhe garantir melhores resultados, explica Tonini. Por exemplo, com 
um manejo adequado de pasto é possível garantir maior retorno, em 
termos de economia. De acordo com a especialista, a distribuição 
correta de animais por área fará com que o consumo seja mais eficiente, 
e com isso o pecuarista gastaria menos com a recuperação do pasto. 
    Outra questão levantada pela analista de mercado são os 
altos custos de produção do boi. Se por um lado o boi está 
rendendo mais, os preços de insumos, sal mineral, entre outros, também 
aumentaram.     A diversidade na produção também é 
uma saída para épocas de vacas magras. Quanto mais você 
diversifica, maior é a chance de se proteger em épocas de preço 
baixo, avalia Tonini. Nem todo o trabalho com a cana-de-açúcar 
pode representar prejuízos. Pelo menos para Genebaldo Alves de Lima, pecuarista 
do município de Iturama, em Minas Gerais. Ele trabalha a produção 
de gado e também arrendou parte da propriedade dele para o cultivo da cana. 
O contrato é de 10 anos. A situação dele é melhor 
em função de ser arrendador  o custo de plantio, insumos, 
tratamento do solo e mão-de-obra são todos do arrendatário. 
   No caso de Lima, ele precisava investir na fazenda, melhorando a área 
de pastagem. Uma das saídas foi destinar parte da área para a produção 
da cana. No final das contas, não gastou com o serviço de correção 
de pastagem e ainda está recebendo uma quantia anualmente referente ao 
arrendamento, e, ao final do término do contrato, ele receberá a 
área pronta para o plantio.  Cooperação Foi 
com o cooperativismo que pequenos, médios e grandes produtores da região 
de Cascavel, no Paraná, se animaram mais a produção, além 
de receberem incentivos para associar demais atividades dentro da fazenda. Aquele 
que antes só tinha a renda com a safra de milho ou soja, por exemplo, agora 
conta com a criação de frango. Ou aquele que produzia leite, agora 
tem uma criação de porcos. Tudo isso em busca de integrar ainda 
mais a produção, fomentar a rentabilidade e garantir o suporte técnico 
necessário para o desenvolvimento da atividade agrícola. Áureo 
Schimidt é um dos 2.900 produtores sócios da Cooperativa Agropecuária 
Cascavel (Coopavel). Pequeno produtor de leite, soja e milho, Schimidt representa 
bem o estilo de produção da maioria dos associados, já que 
cerca de 70% deles são de pequenas e médias propriedades. 
  Ser 
associado é melhor porque é mais seguro o pagamento. Temos veterinário 
a nossa disposição, são feitas reuniões, palestras 
e dias de campo para ajudar, explica. É muito importante esse 
trabalho, a gente aprende melhor as técnicas, como produzir a silagem, 
a armazenagem dela, todas as orientações técnicas de como 
fazer uma boa ordenha, isso tudo é feito para nós, complementa. 
    Com 38 anos de existência, a sociedade reúne atualmente 
produtores de gado, leite, frango, suíno e grãos da região. 
A cooperativa começou com o trabalho na produção de 
insumos, comercialização de grãos e atendimento de assistência 
técnica, conta Dilvo Grolli, diretor-presidente da Coopavel. A 
rentabilidade de pequenos produtores de grãos não garantia a sustentabilidade 
do negócio. Foi pensando nisso que, nós fomentamos outras atividades 
para aumentar a renda desse pequeno produtor, explica Grolli. 
   Inicialmente 
trabalhando a questão do grão, a cooperativa, partindo desse princípio 
de incorporar outras atividades, em 1990, introduziu a produção 
leiteira, e de carne de frango e suína. A partir do grão captado, 
é produzida a ração, destinada exclusivamente aos cooperados, 
como forma de subsidiar a nova atividade. Nossa meta é aumentar as 
oportunidades para os produtores, e, acima de tudo, projetos que estão 
de acordo com a necessidade de mercado. Vamos produzir chapéus onde tem 
cabeças, vamos produzir botas onde tem pés, diz, fazendo uma 
analogia sobre a importância de se preocupar com as necessidades do mercado. 
    Dois pontos importantes são fundamentais para a consolidação 
de um sistema de cooperativa, de acordo com Grolli. Primeiro, ter o cooperado 
como razão da cooperativa e, segundo, ter de buscar produções 
viáveis.  O 
complexo sucroalcooleiro São 
cerca de 13.500 produtores de cana representados pela Organização 
de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana). A entidade 
integra as associações de cana da região Centro-Sul, e estima 
que esse número seja bem maior. Somando-se esse crescente número 
de produtores, mais uma constante produção, que este ano está 
acumulada em 1.912.864.715 de toneladas, segundo dados do Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a redução dos 
preços é um agravante para a rentabilidade na produção. 
    Dá para entender que o preço do açúcar 
diminuiu em função da oferta do produto. Houve maior produção 
e por isso o preço caiu, analisa Ismael Perina Júnior, presidente 
da Orplana. O que não é o mesmo em relação ao 
álcool, pois não estamos com excesso de álcool, destaca. 
A estratégia, segundo ele, foi em função do grupo de distribuidoras 
resolverem se unir e não pagar o preço estipulado. Pensaram 
eles, por exemplo, por que vou pagar R$ 0,90 por litro de álcool 
se posso pagar R$ 0,60?, exemplifica Perina, ao se referir à 
pressão das distribuidoras para baixar os preços. 
  A 
falta que houve de álcool nos postos foi em função disso. 
As distribuidoras não compraram, forçaram a baixar os preços, 
e quem saiu prejudicado foram os produtores e os consumidores. Os produtores, 
que amargam prejuízos na lavoura de cana, e o consumidor que sentiu pela 
falta do produto na bomba do posto, explica Perina. Um dos fatores 
que mais animou a produção de cana foi a confecção 
de carros flex [que funcionam tanto a álcool como a gasolina]. Esse foi 
um ponto importante e o que alavancou mais a produção, destaca. 
 Quanto 
mais doce melhor As 
baixas registradas tanto nos preços pagos pelo açúcar como 
pelo álcool no mercado empurraram para baixo também os preços 
pagos aos produtores da cana. Isso porque é a partir desses valores que 
é elaborada uma média de preço base que é multiplicada 
pelo índice de Açúcar Total Recuperável (ATR), encontrado 
na cana (daí, que se tem o preço ao produtor). Portanto, esse o 
valor pode variar, de uma produção à outra  tudo dependerá 
da quantidade de açúcar encontrado no caldo. 
   O preço 
médio do quilograma do ATR para efeito de emissão da Nota de Entrada 
de cana entregue durante o mês de abril de 2008, referente à safra 
2008/2009, ficou em R$ 0,2538, de acordo com o Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, 
Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana-SP). 
    No caso do arrendamento, são estipulados previamente valores 
de quilograma de ATR por tonelada. Esse número também é variável, 
dependendo muito da região de cultivo, diz o presidente da Orplana. 
Esse valor é acordado entre as partes, o arrendador e o arrendatário. 
Há regiões com melhores condições para garantir a 
qualidade do açúcar da cana, e outras que esse índice é 
menor, e por isso o valor do quilo do ATR também será. Só 
para ilustrar, a região de Ribeirão Preto, por exemplo, pode ter 
um índice de variação de 20 a 28 toneladas de cana por hectare, 
o que pode render 122 kg de ATR.  Custos 
pra lá de salgados Além 
dos preços baixos os custos da lavoura estão cada vez mais altos. 
Nós estamos vivendo um momento de explosão de custo de produção, 
do aumento do preço diesel, da mão-de-obra e dos insumos. Isso tudo 
está prejudicando o trabalho. Para se ter uma idéia, o custo de 
produção por tonelada de cana está em torno de R$ 50, e de 
receita bruta R$ 33. Estamos amargando um déficit de R$ 17, analisa 
Perina. 
   Para Sidney Augusto Colombo, proprietário da Usina Colombo, 
localizada na região de Catanduva, no estado de São Paulo o clima 
também não tem ajudado a produtividade. Está complicado, 
a chuva deixou cair muito a produção, a cana vegetou muito e por 
isso ela fica com um teor de açúcar mais baixo, explica. O 
aumento da chuva aumenta a tonelagem da cana, mas prejudica na maturação 
da planta, que acaba influenciando na baixa quantidade de açúcar, 
mesmo aplicando o maturador, que serve como estimulante nesse processo. 
   
O produtor estima que este ano a produção sofra uma queda de 13,58% 
em relação ao ano passado. Anualmente, a usina processa cerca de 
cinco milhões de toneladas, na safra toda. 
  A lógica de mercado 
da cana, segundo Sidney, é que todos querem ganhar mais. As distribuidoras, 
no momento, querem ganhar mais que os outros. Para o usineiro, faltam medidas 
do governo para melhorar a situação no setor, para expandi-lo e 
garantir a produtividade.   |