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Em 2003 foi inaugurada a primeira pista construída especificamente para 
arrancadas de tratores e ficou conhecida pela população como Tratoródromo. 
Este é um projeto totalmente verde e amarelo, é único 
no mundo e teve início aqui no Brasil, afirma Heinz Schreiber Junior, 
o organizador do evento, que é mais conhecido como Alemão. 
   
Com o crescente sucesso da categoria em Maripá os organizadores estão 
expandindo as emoções das arrancadas para outros estados. Nos dias 
7 e 8 de junho foi a vez de São Paulo assistir a queima de pneus no Esporte 
Clube Piracicabano de Automobilismo (ECPA), em Piracicaba a 142 km da capital. 
    Os tratores, que podem atingir até 130km/h, percorrem 200 metros 
lado a lado com o concorrente. As modificações são pequenas, 
a traseira não sofre nenhuma alteração, apenas um motor mais 
potente e uma embreagem mais forte, além da parte externa do veículo. 
Munidos de nitros (um gás que aumenta a potência do motor por alguns 
segundos) as máquinas partem ao sinal verde e é quando o público 
vai ao delírio. Eu nunca esperava encontrar uma máquina tão 
robusta, fazer algo desse tipo. É espetacular, se surpreende Jair 
de Brito nas arquibancadas do EPCA. 
   Dos 20 pilotos disputando o título 
da temporada, dois chamam mais a atenção. Darli Drisner (Equipe 
Cobra) e Nika (Equipe Penélope Charmosa) são as duas mulheres que 
se tornaram as atrações principais. Por vestir roupão cor-de-rosa 
e ter o trator pintado da mesma cor, Nika chama mais atenção e agrega 
mais torcida. Ela deu um show de pilotagem. Ninguém imaginaria que 
uma mulher poderia pilotar que nem ela. Acho que todo mundo está torcendo 
por ela, opina o piracicabano Adalto Paiva. 
   Um dos fatores determinantes 
para a entrada de Nika nas pistas foi a reação dos homens após 
ela passear com um dos tratores em 2004. Eu estava assistindo a um dos GP, 
em Campo Grande (RS) e ao final pedi para dar uma volta em um deles. Quando eu 
voltei para os box, os homens começaram a tirar saro e dizer que se fosse 
na pista a gente não teria coragem, lembra Nika. A reação 
masculina foi a faísca para o início da carreira. Mulher, 
quando desafiada, né? Para mostrar que também pode estar competindo, 
a gente monto o trator e estávamos lá, fazendo o show junto com 
eles, lembra a piloto.  Preconceito 
ou medo? Será 
que correr ao lado de uma mulher é indiferente? No início os homens 
afirmaram considerar as mulheres um concorrente qualquer, todos negaram que houvesse 
qualquer diferença, mas no fundo, os pilotos sabem que perder para o sexo 
feminino é diferente. A mulher não está trabalhando? 
É legal correr com elas, sem problemas, diz Dorval Conci Junior, 
da Equipe Motorsport. Uma mulher também fala com propriedade do assunto. 
Não há nenhum problema. Os homens dão dicas para mim, 
então a gente tem uma relação muito legal, afirma Darlim. 
    Mas ao final todos acabam soltando que realmente é diferente 
correr contra o sexo oposto. Na hora do sorteio, para ver quem vai arrancar 
com quem, os homens sempre ficam apreensivos, se é para correr com a Darlim 
ou com a Penélope, sabe? Porque perder para mulher você sabe que 
o machismo pesa mais, então dá uma amarelada, comenta Nika. 
E a acusação tem fundamento. Depois de Dorval ter dito que não 
vê problemas em concorrer com as mulheres, ele solta: Perder para 
mulher é complicado. 
   Mesmo sem saber, Penélope inspirou 
as mulheres que estavam no autódromo. A auxiliar de escritório, 
Franciani Bettini, foi convidada pelo namorado a comparecer ao ECPA no segundo 
dia de provas e imaginou uma mudança de profissão. Até 
me inspirei na Penélope. Quem sabe eu não começo a correr 
de trator?, indaga entusiasmada. 
   Além do ótimo clima 
entre os pilotos, os agricultores não deixaram as atividades da fazenda 
para se dedicarem exclusivamente à velocidade. Eu moro perto de Maripá, 
em Tupãssi, eu planto milho, amendoim, fumo, soja, e também corro, 
explica Emilio Tavares, mais conhecido como Schumacher. Já para o paraguaio 
Alexandre Poland, que também é produtor rural diz que correr serve 
como terapia. Para mim isso aqui é para relaxar, se eu vir correr 
e me estressar mais, aí não estaria certo, comenta o campeão 
de 2007. Zerinho 
Bomba Show Outra 
atração do evento é o show da Equipe Zerinho Bomba Show que 
realiza diversas manobras com os tratores, além de usar efeitos sonoras, 
rojões e sinalizadores, os três pilotos passam muito perto do público 
realizando os famosos zerinhos. O público não tira os 
olhos dos três tratores que realizam a apresentação. As 
manobras são inacreditáveis. Como nós poderíamos imaginar 
um trator fazendo aquelas coisas?, indaga Zico Daniel, dono de uma oficina 
de trator em Piracicaba. A auxiliar de escritório Franciani Bettini, também 
se surpreendeu. Fiquei até meio assustada, eles chegaram muito perto 
do muro, comenta a paulista. 
   A equipe, formada por três pilotos 
- Duda Maluko, Dika Boratcho e Stübbe Magoo  iniciou as apresentações 
em 2003, quando as arrancadas passaram a ser realizadas no tratoródromo 
de Maripá. A gente achava que seria legal ter mais alguma coisa entre 
as provas, algo que levantaria o público, afirma Dika Boratcho, o 
inventor das manobras nesta modalidade. Etapa 
Piracicaba Ao 
final, o vencedor da etapa de Piracicaba foi Ivan Schanoski, da Equipe Azulão 
FM Racing, que na final derrotou o seu primo, Anildo Schanoski, da equipe 601 
Racing. A Nika, da Penélope Charmosa ficou em quinto lugar, devido a duas 
queimadas na largada. 
   Fato inusitado foi o acidente ocorrido com o piloto 
da Equipe Bad Boy, Alexandre Schwaenberger, no primeiro dia de arrancadas. No 
final da pista, o piloto perdeu controle da máquina após problemas 
mecânicos e acabou se chocando com o muro de proteção que 
ficou totalmente destruído, assim como o trator. Já Alexandre saiu 
ileso do acidente. 
   A próxima etapa do Arrancadão de Tratores 
no Brasil acontece na cidade de Não-Me-Toque (RS) nos dias 18 e 19 de outubro. 
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