Primeiro,
o Brasil não é auto-suficiente na produção de trigo,
produz por ano apenas três milhões de toneladas de trigo e consome
10,5 milhões de toneladas. Só em 2007, cerca de 6,6 milhões
de toneladas foram importadas, ou seja, quase 70% para suprir a necessidade de
consumo. Com isto, o suprimento do mercado interno infelizmente depende exclusivamente
das importações, principalmente, da Argentina. Em segundo lugar,
existe neste momento uma demanda mundial maior provocada pelo aumento de consumo
dos países asiáticos, como a China e a Índia. Em terceiro
lugar, a colheita de grandes produtores registrou quebras significativas na safra
passada, comprometendo o estoque mundial. Com isto, as cotações
internacionais do trigo atingiram os mais elevados patamares dos últimos
vinte anos. O estoque mundial do trigo com a safra comercial 2007/2008 atingiram
a marca de 112 milhões de toneladas, uma queda de 10%, se comparado com
a safra de 2006/2007, onde os índices chegaram a 125 milhões de
toneladas, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria
do Trigo ABITRIGO.
Finalmente, a Argentina tradicional fornecedora
do Brasil também enfrenta problemas decorrentes de sua política
de impostos de exportação (retenções) de cereais com
o objetivo de conter a inflação interna, não permitindo desde
o início de dezembro a exportação do cereal. A escassez do
trigo provocou um aumento no preço do produto no mercado internacional.
O preço do pão francês já teve alta de 20%,
em média, nos últimos 12 meses, sendo que no mês de abril
sofreu novo repasse entre 10% a 15%. As massas também subiram, em média
25%, e os biscoitos e bolachas atingiram o reajuste de 21%. Ao longo de doze meses
os alimentos que o utilizam o trigo, tiveram um aumento em cerca de 20%, segundo
dados das entidades ligadas ao setor. E a notícia é de mais aumento
para o próximo semestre.
De acordo com o Alexandre Pereira da Silva,
presidente da Associação Brasileira da Industria de Panificação
e Confeitaria - ABIP, as indústrias processadoras de trigo estão
realizando grandes esforços, na medida do possível, para não
repassar o aumento de preços à farinha, que nos mesmos períodos
registrou aumentos de 19,33% e 23%. Entretanto o fôlego das empresas está
chegando ao seu limite e outros reajustes de preços serão inevitáveis.
Além dos preços altos, as indústrias podem enfrentar a falta
do produto. Parcerias
Conjuntas Para
ajudar o mercado a superar a crise, as principais entidades do setor ABITRIGO,
ABIP, ABIMA (Associação Brasileira das Indústrias de Massas
Alimentícias) e ANIB (Associação Nacional das Indústrias
de Biscoito) recorreram ao governo e entregou no mês de abril, uma lista
de medidas que podem socorrer de imediato o setor. Entre as ações,
está a suspensão temporária do recolhimento do AFRMM (Adicional
de Frete para Recuperação da Marinha Mercante), que corresponde
a 25% sobre o valor do frete. Eles também querem a inclusão dos
produtos derivados de trigo no projeto de reforma tributária e a desoneração
incidente sobre o trigo e seus derivados, mesmo que em caráter emergencial,
do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Este imposto pode representar até 36% do custo do produto final em determinados
Estados. E finalmente, a imediata suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC),
incidente sobre as importações de trigo. Esta medida representa
uma redução de 10% no custo de aquisição do produto
importado. Em dezembro de 2007, o governo argentino liberou sete milhões
de toneladas de trigo para exportação, sendo 3,2 milhões
de toneladas para o Brasil. No início do mês a Argentina liberou
mais 1,2 milhão de toneladas, sendo que as últimas remessas foram
feitas em parcelamento. A Argentina garantiu a exportação de dois
milhões de toneladas. O anúncio da isenção do TEC
incentivou a exportação, porém, o governo liberou apenas
um milhão de toneladas, com a isenção da taxa. E a Argentina
acabou adiando por quatro vezes a remessa. A incerteza desta demanda para o mercado
causou aos moinhos brasileiros uma incerteza futura. No momento, o que espera
do mercado argentino é a liberação de 1,2 milhão de
toneladas. Neste caso, o Brasil tem preferência por oferecer o melhor preço
ao produtor argentino.
De acordo com Luiz Martins, representante da ABRITRIGO,
sem o trigo, o Brasil passou a importar dos Estados Unidos e Canadá, a
preço e custos de frete maiores. Infelizmente, a produção
interna de trigo já está esgotada para vender. Outro fator conhecido
para os produtores é a competição do mercado. O preço
do milho safrinha compete diretamente com o trigo. Se o preço é
melhor que o trigo, os produtores investem em áreas de milho. Hoje, o Brasil
tem condições para o plantio, no entanto, não tem as mesmas
condições da Argentina. O que falta também é
uma parceria para estimular o produtor, comenta Luiz Martins. O governo
está atento às solicitações emergenciais do setor.
Há também previsto um plano denominado de Qüinqüenal de
apoio à Triticultura, na tentativa de fortalecer o mercado e se livrar
da dependência futura da importação do trigo. Entre estas
ações, está também a idéia dos moinhos paulistas
financiarem 25% da produção de trigo. Mas, por enquanto são
somente especulações, diz o representante da ABRITRIGO. O
grão das contradições Segundo
as entidades do setor, em 1986 o Brasil chegou a ser auto-sustentável e
se conseguiu até uma variedade diferenciada de trigo. Mas, a demanda foi
maior e a necessidade de um produto com qualidade e quantidade condenou o Brasil
a dependência, principalmente, da Argentina e de outros países.
Hoje o trigo comercializado nos Estados Unidos está na faixa de 400
até 550 dólares. Na Argentina, o preço era negociado a R$
470. O mercado está fechado e quem sofre hoje com a situação
são os pequenos moinhos, principalmente, dos Estados do Paraná e
Rio Grande do Sul, afirma o presidente da ABRITRIGO.
De acordo com
as entidades, o preço do trigo nacional subiu 25,55% em 2008, na comparação
com o ano passado, passando de R$ 522 a tonelada para R$ 656. Em 2006, o produto
custava R$ 410 a tonelada. O trigo argentino está ainda mais caro. A tonelada
passou de R$ 470 em 2007, para R$ 688 em 2008, uma alta de 53,44%.
Para
este ano, segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias
de Massas Alimentícias - ABIMA, Cláudio Zanão, não
há perspectiva de redução de preço. Não
há trigo para vender. Tivemos um 2007 muito bom e esperávamos o
mesmo para 2008, mas infelizmente não será assim. O que precisamos
agora são de medidas para amenizar os aumentos de preços,
alerta Cláudio Zanão.
De acordo com a ABIMA, o preço
da farinha de trigo brasileira na indústria, passou de R$ 1.066 para R$
1.312 a tonelada, entre 2007 e 2008, uma alta de 23,07%. No ano passado, o item
já havia subido 19,33% na comparação com 2006. O Brasil é
o segundo maior produtor mundial de biscoitos, com faturamento anual de R$ 7,41
bilhões. No setor de massas, o País é o terceiro produtor
do mundo, com faturamento de R$ 4,67 bilhões. Mais em contra partida, o
trigo neste momento vira o vilão da estória e tem uma estimativa
que a safra brasileira chegue a quatro milhões de toneladas, no ano que
vem. |