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FEIJÃO - ELE NÃO PODE FALTAR!
rev 123 - maio 2008

Toneladas de soja e milho, menos triticale e mais feijão. Essa é a receita da colheita da safra de Ricardo Ghirghi, produtor do município de Taquarivaí, região sudoeste do Estado de São Paulo, e que ainda está no mapa das cidades produtoras de feijão, ao lado de Itaporanga, Taquarituba, Paranapanema, Capão Bonito e Guaíra.

Mesmo perante os resultados desanimadores das vendas ocorridas nos anos anteriores e o forte apelo para o cultivo do milho, que está com boas perspectivas de preços, a família Ghirghi não desanimou com o faturamento da segunda safra do feijão, que aconteceu na região (no mês de maio do ano passado), e resolveu investiu mais 25% de sua área para o plantio da primeira safra, colhida em dezembro.

“Quem foi insistente e soube aproveitar, hoje colhe os bons frutos. Desde novembro do ano passado, o mercado está rentável para o produtor. Agora, é o momento de aumentar a receita e colocar as contas em ordens, pois nunca sabemos quando os preços irão se manter em alta”, diz satisfeito, o produtor da Fazenda Água Clara.

Para Ricardo Ghirghi, os produtores de feijão podem até investir ainda mais para o plantio, deste ano, motivados principalmente pela “gangorra” em que se encontra o mercado, na “velha história” de pouca oferta e muita procura. “Já alcançamos o preço de R$ 230 reais a saca do feijão carioquinha, uma das variedades mais consumidas e com a venda garantida. No entanto, já prevemos baixa e já estamos comercializando a R$ 110, a saca. Porém, ainda é uma grande diferença em comparação aos anos anteriores, quando o mercado pagava ao produtor apenas R$ 40, por saca”, aponta. “A concorrência acirrada com o milho e com a soja, fatores climáticos, instabilidade do mercado, descapitalização dos produtores e até dificuldades para obtenção de crédito para o custeio da lavoura levaram pequenos produtores a diminuir e até parar com o cultivo. E a região que há mais de 20 anos era tradicionalista no plantio do feijão está com dificuldades de se manter com a tradição. Nós tentamos continuar mesmo com as dificuldades com o plantio do feijão, que já totalizam mais de 30 anos”, revela.

Para produzir toneladas de grãos por ano, a Fazenda Água Clara, que possui em 1.040 hectares mantém um quadro permanente de funcionários e alta qualificação profissional. Com uma estrutura de armazenamento para 250 mil sacas, a família Ghirghi passou a prestar serviços até para outras fazendas. E ainda, há uma frota de tratores, colheitadeiras, máquinas e implementos, incluindo pivôs centrais. E o retrato de um grande produtor. “Graças a um cultivo que começou lá há muito tempo, com o feijão, podemos agregar ao longo dos anos outras culturas. O feijão é uma cultura diferente, pois traz benefícios para o produtor, pois entra na rotação de outras culturas, por ter um ciclo mais curto. Aqui na nossa região, ele se encaixa perfeitamente na rotação de soja e milho e auxilia e melhora a fertilidade do solo”, revela Ricardo Ghirghi.

Entenda: Preços x Queda na safra

De acordo com os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o preço do feijão poderá cair nos próximos meses. Tudo isto ocorrerá, se a segunda safra do produto (que começa em maio) confirmar a expectativa de produção em torno de 3.437 milhões de toneladas, havendo possível excesso do grão no mercado. Estes dados mostram o que acontecem em 2006, quando os preços despencaram, devido à grande produção. Na safra seguinte, com os produtores desestimulados e com as más condições climáticas, os preços subiram e, em dezembro, o valor no atacado atingiu marcas históricas de R$ 300.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2007, a produção somou 3,3 milhões de toneladas. O que representa cerca de 19 quilos por pessoa ano. É mais do que em 2000, quando representava cerca de 15 quilos por pessoa. Mas quando se olha para trás é fácil perceber que na década de 50, consumia 30 quilos por pessoa. “A queda de consumo acentuada foi ocasionado por vários motivos, um deles foi o estilo da nova vida moderna. Mais mulheres trabalhando fora, o corre-corre exige comida de preparo mais rápido. Acabamos copiando hábitos da dieta européia e norte-americana, onde o feijão não tem esse destaque”, conta Ricardo Ghirghi.

De acordo com a Embrapa Arroz e Feijão, o Feijão respondeu por 2,5% da produção brasileira de grãos na safra 2006/07. Produziu 3,34 milhões de toneladas em uma área de 4,1 milhões de hectares, uma redução de 3,3% e 3,9%, respectivamente. Com exceção do Rio Grande do Sul, que manteve praticamente a mesma com leve redução de 0,4% e a produção aumentou em 26,4% em comparação ao ano passado, devido às condições climáticas. Ainda de acordo com o trabalho da Agroconsult, o grão teve um pequeno recuo na produção total no País, somando as diferentes épocas de plantio.

“Com a esperada queda de produção na safra das águas, que representa mais da metade da oferta, os preços do grão poderão subir a partir de dezembro e estimular o produtor para o plantio da segunda safra. Com isto mais uma vez conseguiremos ressarcir os prejuízos, ocasionados na região sudeste, em agosto e setembro pela falta de chuvas. Com isto, só restou as lavouras irrigadas e que já eram poucas, havendo assim falta de produtos e até de novos produtos”, conta o produtor Ricardo Ghirghi.

De acordo com ele, o produtor com o “sobe e desce” do mercado acaba sendo o vilão da história, mas não é assim. “Hoje, o produtor ‘dança conforme a música’. Quando o mercado está pagando mais, o produtor conseqüentemente irá receber mais e irá pedir mais. Vale ressaltar que houve épocas amargas também em que o mercado pagava pouco e o produtor como precisava escoar o produto, acabava vendendo a preço de custo ou em muitas vezes muito abaixo. Então nós, não somos vilões”. Na visão do produtor, o que falta para impedir esta “gangorra” de mercado é um apoio governamental, planejamento e incentivo para com isto manter um preço médio e impedir a alta e baixa dos preços”, finaliza.

Este quadro revela a situação do produtor de feijão, no País. A Revista Rural tentou entrevistar os pequenos produtores, que são maioria no Estado de São Paulo, mas infelizmente muitos não quiseram falar sobre o mercado.


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