Quem
foi insistente e soube aproveitar, hoje colhe os bons frutos. Desde novembro do
ano passado, o mercado está rentável para o produtor. Agora, é
o momento de aumentar a receita e colocar as contas em ordens, pois nunca sabemos
quando os preços irão se manter em alta, diz satisfeito, o
produtor da Fazenda Água Clara.
Para Ricardo Ghirghi, os produtores
de feijão podem até investir ainda mais para o plantio, deste ano,
motivados principalmente pela gangorra em que se encontra o mercado,
na velha história de pouca oferta e muita procura. Já
alcançamos o preço de R$ 230 reais a saca do feijão carioquinha,
uma das variedades mais consumidas e com a venda garantida. No entanto, já
prevemos baixa e já estamos comercializando a R$ 110, a saca. Porém,
ainda é uma grande diferença em comparação aos anos
anteriores, quando o mercado pagava ao produtor apenas R$ 40, por saca,
aponta. A concorrência acirrada com o milho e com a soja, fatores
climáticos, instabilidade do mercado, descapitalização dos
produtores e até dificuldades para obtenção de crédito
para o custeio da lavoura levaram pequenos produtores a diminuir e até
parar com o cultivo. E a região que há mais de 20 anos era tradicionalista
no plantio do feijão está com dificuldades de se manter com a tradição.
Nós tentamos continuar mesmo com as dificuldades com o plantio do feijão,
que já totalizam mais de 30 anos, revela.
Para produzir
toneladas de grãos por ano, a Fazenda Água Clara, que possui em
1.040 hectares mantém um quadro permanente de funcionários e alta
qualificação profissional. Com uma estrutura de armazenamento para
250 mil sacas, a família Ghirghi passou a prestar serviços até
para outras fazendas. E ainda, há uma frota de tratores, colheitadeiras,
máquinas e implementos, incluindo pivôs centrais. E o retrato de
um grande produtor. Graças a um cultivo que começou lá
há muito tempo, com o feijão, podemos agregar ao longo dos anos
outras culturas. O feijão é uma cultura diferente, pois traz benefícios
para o produtor, pois entra na rotação de outras culturas, por ter
um ciclo mais curto. Aqui na nossa região, ele se encaixa perfeitamente
na rotação de soja e milho e auxilia e melhora a fertilidade do
solo, revela Ricardo Ghirghi. Entenda:
Preços x Queda na safra De
acordo com os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o preço
do feijão poderá cair nos próximos meses. Tudo isto ocorrerá,
se a segunda safra do produto (que começa em maio) confirmar a expectativa
de produção em torno de 3.437 milhões de toneladas, havendo
possível excesso do grão no mercado. Estes dados mostram o que acontecem
em 2006, quando os preços despencaram, devido à grande produção.
Na safra seguinte, com os produtores desestimulados e com as más condições
climáticas, os preços subiram e, em dezembro, o valor no atacado
atingiu marcas históricas de R$ 300. De acordo com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2007, a produção
somou 3,3 milhões de toneladas. O que representa cerca de 19 quilos por
pessoa ano. É mais do que em 2000, quando representava cerca de 15 quilos
por pessoa. Mas quando se olha para trás é fácil perceber
que na década de 50, consumia 30 quilos por pessoa. A queda de consumo
acentuada foi ocasionado por vários motivos, um deles foi o estilo da nova
vida moderna. Mais mulheres trabalhando fora, o corre-corre exige comida de preparo
mais rápido. Acabamos copiando hábitos da dieta européia
e norte-americana, onde o feijão não tem esse destaque, conta
Ricardo Ghirghi.
De acordo com a Embrapa Arroz e Feijão, o Feijão
respondeu por 2,5% da produção brasileira de grãos na safra
2006/07. Produziu 3,34 milhões de toneladas em uma área de 4,1 milhões
de hectares, uma redução de 3,3% e 3,9%, respectivamente. Com exceção
do Rio Grande do Sul, que manteve praticamente a mesma com leve redução
de 0,4% e a produção aumentou em 26,4% em comparação
ao ano passado, devido às condições climáticas. Ainda
de acordo com o trabalho da Agroconsult, o grão teve um pequeno recuo na
produção total no País, somando as diferentes épocas
de plantio.
Com a esperada queda de produção na safra
das águas, que representa mais da metade da oferta, os preços do
grão poderão subir a partir de dezembro e estimular o produtor para
o plantio da segunda safra. Com isto mais uma vez conseguiremos ressarcir os prejuízos,
ocasionados na região sudeste, em agosto e setembro pela falta de chuvas.
Com isto, só restou as lavouras irrigadas e que já eram poucas,
havendo assim falta de produtos e até de novos produtos, conta o
produtor Ricardo Ghirghi.
De acordo com ele, o produtor com o sobe
e desce do mercado acaba sendo o vilão da história, mas não
é assim. Hoje, o produtor dança conforme a música.
Quando o mercado está pagando mais, o produtor conseqüentemente irá
receber mais e irá pedir mais. Vale ressaltar que houve épocas amargas
também em que o mercado pagava pouco e o produtor como precisava escoar
o produto, acabava vendendo a preço de custo ou em muitas vezes muito abaixo.
Então nós, não somos vilões. Na visão
do produtor, o que falta para impedir esta gangorra de mercado é
um apoio governamental, planejamento e incentivo para com isto manter um preço
médio e impedir a alta e baixa dos preços, finaliza.
Este
quadro revela a situação do produtor de feijão, no País.
A Revista Rural tentou entrevistar os pequenos produtores, que são maioria
no Estado de São Paulo, mas infelizmente muitos não quiseram falar
sobre o mercado. |