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VACA LOUCA - AFINAL, O BRASIL CORRE ALGUM RISCO?
rev 122 - abril 2008

O risco existe, porém, é pequeno e improvável. Essa é a afirmação da médica veterinária e pesquisadora da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), Ana Lúcia Alberti. A probabilidade seria a transmissão da doença por matrizes que foram importadas do Canadá, onde já houve caso confirmado da doença. Se alguns desses animais estivessem infectados, eles poderiam transmitir aos bezerros.“Não se tem certeza, mas suspeita-se de transmissão vertical, ou seja, da matriz ao filhote”, afirma a veterinária. Já o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento confirma a existência da transmissão. “Trabalhos demonstram que esse tipo de transmissão é responsável por menos de 0,5% dos casos da doença”, diz Guilherme Marques, Coordenador Geral de Combate a Doenças do Ministério.

Houve um caso no Japão em que o bezerro apresentou sintomas da doença com 19 meses de vida. Se o tempo de incubação é de um a cinco anos, provavelmente o animal foi infectado pela matriz.

O Brasil importou 474 animais canadenses de 2000 até maio de 2003, quando foi proibida a comercialização devido o aparecimento de um caso da vaca louca no Canadá. Todos os bovinos importados daquele país devem ser rastreados. O responsável é o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Caso algum desses animais apresente sintomas da vaca louca, ele deve ser abatido e enterrado em um local que não possa transmitir doenças.

Se alguma dessas matrizes importadas estivesse infectada, há chance, apesar de pequena, de algum bezerro ter nascido contaminado no Brasil. Os bovinos são abatidos com cerca de 24 meses. E a incubação dura entre doze e sessenta meses. Ou seja, há mais possibilidade do boi ser abatido antes de aparecer qualquer sintoma. Com isso, a carne do gado abatido chegaria aos mercados normalmente.

Com a transmissão pela matriz, a doença poderia se espalhar rapidamente, já que pecuaristas brasileiros estão usando técnicas de adubo e de alimentação perigosas.

Sangue do boi está virando fertilizante em muitas fazendas brasileiras. Frigoríficos estão vendendo o líquido para criadores alimentarem o capim. Segundo a pesquisadora, “adubar a pastagem com o sangue do boi é uma atividade de risco e pode transmitir doenças”, alerta Alberti. Uma delas poderia ser a Encefalopatia Espongiforme Bovina, nome científico da vaca louca.

A alimentação pode contaminar o gado e também o frango. O problema começa na farinha de osso do boi. Comercializada, principalmente, para alimentação do frango a farinha pode carregar a doença e transmitir para a ave que ingeri-la. Assim, o frango se infectaria e seria comercializado normalmente, já que os sintomas demoram, no mínimo, um ano para aparecer.

Além disso, muitos criadores bovinos usam a cama de frango como alimentação do gado (o que é proibido). Ela é composta por: restos de comida que as aves deixam cair, penas e fezes. Como a alimentação do frango continha farinha de osso, a cama de frango também passaria a ter. Esse produto “é cheio de nutrientes, mas, na verdade, é um subproduto”, afirma Alberti.

Se a farinha de osso possuía a proteína causadora da vaca louca. O frango se infectaria por ter ingerido. Ao deixar cair restos do alimento na cama de frango, esse “subproduto” também se contaminaria. Quando o pecuarista alimentasse o gado com a cama de frango, os bois contrairiam a doença.

Nesse caso, ambos animais seriam infectados e as carnes seriam comercializadas normalmente, já que demora a aparecer os sintomas. A ingestão de menos de um grama da carne é suficiente para o ser humano se contaminar. “A doença afeta o sistema nervoso da pessoa. Ela chega a ter paralisia e ao óbito”, alerta. Apesar de pequena, as chances reais da doença aparecer no Brasil existem. O alerta deve ser constante.


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