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de profissionalização do setor passa também pelo fim das 
queimadas e o fim do corte manual da cana.
   Fornecedores do setor sucroalcooleiro 
e o governo do estado de São Paulo assinaram, no dia 10 de março, 
o Protocolo Agroambiental. O documento limita para 2014 a prática das queimadas 
nos canaviais paulistas. Essa medida é de cunho social e principalmente 
ambiental. 
   O corte manual da cana é muito desgastante e há 
cerca de sete mortes de trabalhadores por ano devido ao excesso de esforço 
físico. Já as queimadas, emitem cerca de 2.852 quilos de gás 
carbônico para produzir mil litros de etanol (álcool combustível). 
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 |     Para 
efeito de comparação, quando os mil litros são consumidos 
pelos carros, é dissipada quase a metade, 1.520 quilos de CO2.
  Hoje 
em dia, as usinas e os produtores estão diminuindo a quantidade de plantio 
manual e adquirindo novas máquinas para o trabalho no campo. Atualmente, 
não tem mão-de-obra suficiente, tem que pegar 40% de fora 
do estado, afirma Antônio de Pádua Rodrigues, Diretor Executivo 
da ÚNICA (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar).
   
A transformação da mão-de-obra é lenta, já 
que a plantação dura de quatro a cinco anos e é no momento 
do plantio que o produtor escolhe se usará máquina ou não.
   
Apesar da maioria das usinas terem se comprometido (141 das 170 existentes em 
São Paulo), algumas só deixarão as queimadas quando a lei 
obrigar. Em 2021 será proibida a prática. Até lá, 
os agricultores vão se adaptando, mas e os trabalhadores rurais?
   
A mecanização é um ganho ecológico, social e 
também para a usina, mas não é só isso. O trabalhador 
está sabendo o que está acontecendo, afirma Sidnei Augusto 
Colombo, Proprietário Usina Colombo, se referindo que os bóias-frias 
sabem que o futuro deles caminha para o desemprego. 
   A sociedade condena 
as queimadas por três razões: esforço desumano do trabalhador; 
fuligem que atinge os trechos urbanos e; poluição do ar que pode 
causar doenças respiratórias. As usinas também perceberam 
que a colheita por máquinas é mais rentável. Com isso, a 
tendência é de aumento da mecanização e fim das queimadas 
antes do previsto.
   Mas o assunto não é simples assim. Hoje 
nós temos 180 mil plantadores, diz Antônio de Pádua 
Rodrigues, Diretor Executivo da ÚNICA (União das Indústrias 
de Cana-de-Açúcar). E continua: é uma questão 
inevitável. De um lado tem uma legislação e você tem 
que eliminar a queima da cana por razões ambientais. Se isso é o 
que a sociedade quer. Depois vai ter que resolver o problema social, completou 
Pádua.
   Hoje os produtores têm falta de mão-de-obra 
para o corte do canavial, mas para os próximos anos a tendência é 
a inversão. Os agricultores estarão atrás de trabalhadores 
qualificados para operar as colheitadeiras e não precisarão dos 
cortadores manuais. O que a gente percebe é que ao longo do tempo 
a mecanização depende de mão-de-obra qualificada. E uma mão-de-obra 
qualificada é difícil, afirma Colombo. Se hoje esse tipo de 
trabalhador é escasso, em cinco anos deverá ser ainda pior.
  	
A tendência é diminuir os postos de emprego dos cortadores e abrir 
para operadores de máquina. Fecham oito portas para trabalhadores 
desqualificados e abre uma para um super qualificado, aponta Humberto César 
Carrara Neto, Gerente Agrícola da Usina São João. 
   
Nós temos que pensar e tomar mais cuidado. Não adianta falar 
em evitar a queimada e aumentar o desemprego, afirma Colombo. A questão 
é para onde vão os 180 mil trabalhadores. Qualificar o bóia-fria 
é uma opção. Na verdade a gente tem que ir tentando 
transformar o trabalhador para ser operador de máquina, mecânico, 
e outras atividades, afirma Colombo. A mecanização deve gerar 
setenta e duas mil vagas nos próximos anos, segundo o diretor da ÚNICA.
   
Mesmo qualificando os trabalhadores, há um déficit de 108 mil vagas. 
Os especialistas não encontraram saídas para empregar tanta gente. 
O governo, a prefeitura, sindicato é que vão ter que empregar 
esses trabalhadores, alerta Pádua.  |