Aos
poucos, a carne de cordeiro tenta ganhar apreciadores fora dos restaurantes mais
sofisticados e entrar no mercado consumidor mais popular, potencialmene muito
maior e bastante atraente. O setor cresce há quinze anos, mas nos últimos
quatro a mudança foi enorme. No passado, a carne de cordeiro era consumida
praticamente só no exterior. Com o passar do tempo, restaurantes sofisticados
começaram a introduzir novos pratos. Antes, o consumidor comia fora
do Brasil, hoje ele pode desfrutar de ótimas carnes (de cordeiro) aqui
mesmo, comenta Belarmino Iglesias Filho, sócio do Rubaiyat (restaurante
fino de São Paulo). | |
A
maior demanda é de restaurantes de alto padrão do Rio de Janeiro
e, principalmente, de São Paulo. O custo é um entrave para que o
cordeiro se popularize. Ela é uma carne mundialmente mais cara, tem
um custo de produção maior e não é muito popular,
afirma Vieira, presidente da ASPACO - Associação Paulista de Criadores
de Ovinos. Mas eu diria que ela é uma carne ainda cara porque não
tem escala. É um produto elitista, mas tende a se popularizar, opina
Belarmino.
Em São Paulo, alguns supermercados já oferecem
a carne. O proprietário do Clube do Cordeiro, Beno Jateka, vende diretamente
para a capital paulista. Nossos consumidores são os restaurantes
mais finos e redes de supermercados em bairros mais nobres. Mas a exposição
pode até atrapalhar a popularização. Alguns supermercados
colocam o produto longe das carnes bovinas. Com isso, acabam transmitindo a idéia
de que o cordeiro é uma carne exótica.
Em algumas cidades
do interior de São Paulo, onde há criadouros e frigoríficos,
a carne já passa a fazer parte da alimentação no dia-a-dia
da população. Há locais que oferecem cordeiro no self-service.
Nós atendemos desses consumidores até restaurantes franceses,
afirma Jateka. E não é só em São Paulo.Há
lugares, como o interior do Paraná, que de domingo é dia de churrasco
de cordeiro, explica Renato Rigoni, da Fazenda Alamos.
Mas de um
modo geral o consumidor brasileiro ainda não tem conhecimento da qualidade
da carne. O cordeiro é uma carne vermelha mais digestiva, extremamente
leve e macia. Vem sendo desmistificado que é uma carne de difícil
preparo e demorada para cozinhar. Isso ocorreu por causa dos animais que eram
abatidos mais velhos. Desmistificar é coisa do marketing e pouco a pouco
vai alcançando as pessoas. É uma questão cultural,
explica Vieira.
Alguns criadores esperam que essa mudança de hábito
seja lenta, pois os produtores não estão preparados nem para abastecer
nem mesmo o mercado atual. O grande medo é incentivar o consumo de
carne ovina e não conseguir suprir a demanda, afirma Haddad, diretor
técnico do núcleo Nobre.
O problema é que a produção
não acompanha a demanda. Seis das sete fontes entrevistadas citaram a falta
de estrutura da cadeia produtiva como a grande culpada pela baixa produção.
Falta de padrão, de união, de organização e de estrutura.
Comércio informal e fragmentação da cadeia. Essas são
as críticas dos entrevistados. Em contra partida, um vizinho foi elogiado.
A grande maioria da carne importada vem do Uruguai. Eles têm uma cadeia
organizada, disse Vieira, da ASPACO.
Mas não há pessimismo
no setor. Segundo ele, em alguns anos o Brasil terá uma produção
padronizada, de qualidade e tão boa quanto a importada. Os produtores
estão investindo em genética. Os investidores estão entrando
e isso dá segurança. O governo também está se mostrando
interessado, afirmou.
Com uma cadeia produtiva organizada o produtor
brasileiro enxerga lucros e oportunidades para o futuro. O mercado está
crescendo em consumo. Vamos abrir um ponto de distribuição em São
Paulo, anunciou Beno Jateka. Outro produtor esperançoso é
José Bonifácio Fontao, Gerente de ovinos da Fazenda Santa Nice,
no Paraná. Trouxemos 5000 embriões da Nova Zelândia.
O projeto é chegar a 30 mil cabeças, afirmou.
As expectativas
dos criadores são confirmadas pelo presidente da Associação
Paulista de Criadores de Ovinos. Os produtores tem um horizonte enorme.
Há demanda reprimida. Muita gente sai para comprar e não acha,
disse Vieira. Segundo ele, pessoas do Oriente Médio (um dos maiores consumidores
da carne) visitaram a associação buscando fornecimento, mas teve
que negar porque não há produção suficiente. A expectativa
do presidente é de uma cadeia produtiva organizada e produzindo com qualidade
em cinco anos. |