A
euforia que tomou conta do agronegócio brasileiro em relação
aos biocombustíveis se justifica. Com o preço elevado do petróleo,
com as condições favoráveis oferecidas pelo país,
e com o desenvolvimento acelerado das pesquisas envolvendo o biodiesel, o Brasil
se vê diante de uma nova e promissora perspectiva. Apesar disso, é
imprescindível planejamento e seriedade para não comprometer a produção
nacional de alimentos e encarar a disputa por espaço no mercado internacional
sem calcanhares de Aquiles. A partir de janeiro o diesel comum passou
a ter 2% de biodiesel na fórmula. Isso acarretou mudanças na produção
de combustíveis limpos no Brasil. Se em janeiro de 2005 o país
não produzia um litro sequer de biodiesel, em 2008 serão fabricados
1,3 bilhão de litros. |
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Comparando
os meses de dezembro dos últimos três anos, percebe-se o aumento
superior a 4.000% (dezembro de 2005 a 2007). O crescimento assustador é
compreensível devido à exigência do governo em incluir o biodiesel
ao combustível comum.
Algumas usinas estão sendo ampliadas
e novas estão em fase de implantação. Atualmente, a capacidade
de produção brasileira é de 2,4 bilhões de litros/ano.
Contando as indústrias que estão solicitando autorização
do governo o número ultrapassa quatro bilhões de litros.
Existem duas fontes de matéria-prima para a produção de biodiesel:
óleos vegetais e gorduras animais. Os óleos vegetais correspondem
por cerca de 94% da produção nacional. No caso de gorduras animais,
as mais comuns são o sebo bovino e a banha de porco.
Apesar da
variedade de fontes, praticamente 90% é produzido da soja. Não porque
o grão contenha grande porcentagem de óleo, nem mesmo devido ao
baixo valor. Na verdade, é por conta da logística existente
e devido aos 22 milhões de hectares plantados no Brasil, explica
Frederico Duraes, Chefe Geral Embrapa Agroenergia. A quantidade de soja plantada
oferece logística e dá segurança de fornecimento às
usinas.
Para o futuro, a intenção é que os fabricantes
deixem de usar soja e passem a utilizar produtos diversos, como a semente do algodão,
mamona, girassol, entre outros. O caroço do algodão sempre foi,
e ainda é, usado para produzir óleo alimentício, mas com
o destino ao biodiesel, ele passa a ter mais valor. E esse é um dos desafios
da Embrapa Agroenergia, agregar valor aos produtos. A entidade vem pesquisando
algumas espécies a fim de encontrar as melhores oportunidades para o produtor
e para toda cadeia.
O órgão pretende detectar quais são
as espécies mais eficientes para cada tipo de solo e clima e desenvolver
sementes visando aumento da produtividade. Além disso, também realiza
diversos trabalhos específicos. Exemplo disso é a Mamona. Um dos
desafios é tornar a semente apta para o plantio em grande escala, já
que ela possui cerca de 50% de óleo. Além disso, a torta contém
uma toxina que impede o uso na alimentação de animais. Com o estudo,
além de melhorar a produtividade, a toxina deverá ser excluída
e a torta poderá ser comercializada para alimentação animal.
A venda da torta é essencial para agregar valor ao produto e conseqüentemente
reduzir o preço do biodiesel.
Os estudos não estão
encerrados, mas a expectativa dos pesquisadores da Embrapa e dos Ministérios
(do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
é que as mais usadas nos próximos cinco anos sejam o girassol, o
pinhão manso,a mamona, o algodão, o dendê, o amendoim e a
soja.
O aumento da produção deve se manter por um longo
período já que o governo determinou a porcentagem mínima
de biodiesel de 3% em julho desse ano e de 5% para 2010. E não há
por que a indústria automobilística brasileira não começar
a pensar em produzir um motor totalmente a diesel, porque não há
nenhuma razão para que a gente não use biodiesel, discursou
o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.
O
Brasil tem condições de ser uma potência nessa área.
Isso porque as matérias-primas são grãos, amêndoas
e sementes vegetais, todas provenientes do solo o que não falta
no Brasil. Além de o país possuir solo e clima variados, há
alguns vegetais que podem ser cultivados em solos secos, como o caso do Pinhão
Manso. Exportação As
condições produtoras brasileiras deverão tornar o país
o maior produtor de biodiesel. Além do consumo interno, que deverá
chegar a 2,1 bilhões de litros em 2010, existe grande possibilidade de
o Brasil exportar o combustível para a Europa. O mercado externo
será bom para o Brasil, afirma o Ministério. E o especialista
da Embrapa concorda. Pode-se exportar no futuro. Ele tem um lastro de crescimento
muito grande. Pode se tornar o programa do Brasil de energia, afirma Frederico.
O velho continente utiliza o combustível há mais tempo que o
Brasil e já apresenta maior mistura do biocombustível ao diesel
- apesar de não ser determinado pelo governo. A grande questão é
que a Europa precisará de algum fornecedor do combustível, pois
ela não terá terra disponível para plantio. E o Brasil já
tem produção e investimento em tecnologia, além de quantidade
e qualidade e solo. |