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motivos são os altos preços das commodities no mercado internacional. 
O produtor não investia há 3 anos. Ele continuou plantando e as 
máquinas ficaram velhas. Agora ele tem que investir ou investir, 
analisa Fransico Matturro, presidente da Câmara Setorial de Máquinas 
e Implementos Agrícolas, órgão ligado à Abimaq. Outro 
fator que, segundo Matturro, levou a retomada neste setor, foi a atenção 
dada pelos grandes agricultores à produção voltada exclusivamente 
para a agro energia. 
   É a primeira vez na história 
que a cadeia alimentar se divide com a cadeia de agro energia, e isso fez o preço 
das commodities disparar. Não tínhamos a cadeia de agro energia 
forte como ela é hoje, enfatiza Matturro, que viu na alta da produção 
do milho para abastecer o mercado norte-americano de etanol um dos fatores responsáveis 
pela retomada do mercado de máquinas agrícolas.
   Afinal de 
contas, o milho é uma das lavouras mais mecanizadas e conta com um portfólio 
abrangente para auxiliar o produtor. José Carlos Cruz, pesquisador da Embrapa 
Milho e Sorgo conta que o grande diferencial de uma lavoura mecanizada, além 
da eficiência, é o ganho em escala. Uma lavoura mecanizada 
vai produzir muito mais, e hoje existem máquinas para desde o preparo do 
solo até as colheitadeiras, passando por pulverizadores e irrigadores. 
Temos hoje, por exemplo, pulverizadores para aplicar fungicidas em plantas de 
mais de 2 metros de altura, explica.
   Paulo Yamanaka, engenheiro 
agrônomo do núcleo de produções de sementes da Coordenadoria 
de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura 
e Abastecimento em Avaré, interior de São Paulo faz coro com Cruz. 
Para ele, a mecanização de uma lavoura é de fundamental importância 
para elevar sua produção. Irrigação pode aumentar 
a produção. A safrinha, por exemplo, é altamente mecanizada. 
Sojicultores colhem a soja e plantam a safrinha, que em tese não produz 
tanto, por causa do clima, mas a irrigação reverte este quadro. 
O que estrangula a produção de milho é a falta d´água. 
É uma lavoura sensível a variações de temperatura, 
explica. Para Yanamaka, a mecanização de uma lavoura leva o produtor 
a um círculo virtuoso. Existem lavouras mecanizadas com produções 
altíssimas, de 12 toneladas por hectare. E quem colhe mais, investe mais 
em plantadeiras, pivôs, pulverizadores...
   Segundo Yanamaka, 
na região de Avaré existem cerce de 650 pivôs. Ali existem 
desde lavouras com mecanização de ultima geração até 
mecanizações mais simples. A grande maioria, ainda segundo o engenheiro 
agrônomo, de última geração. Pivô é 
o grande diferencial nas produções. Plantadeiras a ar também, 
já que estas realizam uma distribuição mais uniforme das 
sementes. As plantadeiras a disco, às vezes jogam duas ou mais sementes 
por vez, o que compromete a produção. 
   A mecanização 
hoje é fundamental para o agricultor que quiser lucrar com a atividade. 
Do mesmo jeito que é impensável se construir uma estrada na 
base da pá e de picareta, é complicado plantar e colher na base 
da enxada. Não se pode pensar na agricultura brasileira sem o uso de máquinas 
como os tratores, analisa Ricardo Inamaso, pesquisador da Embrapa Instrumentação 
Agropecuária. Em sua opinião, a mecanização das lavouras, 
além de tornar a produção mais eficiente, humaniza o trabalho. 
É verdade que as máquinas agrícolas acabam tomando empregos 
de camponeses. Porém a mecanização força uma maior 
tecnificação dos trabalhadores que, conseqüentemente, irão 
ganhar mais para operar máquinas ao invés de cortar, algumas vezes 
15 toneladas de cana em um único dia. Arlindo Carvalho, gerente de planejamento, 
custos e meio ambiente da usina Santa Adélia, de Jaboticabal, interior 
de São Paulo acredita que a mecanização favorece não 
só os que irão se beneficiar dos lucros, mas também os trabalhadores 
Hoje falta mão de obra qualificada. A tendência natural será 
o pessoas se instruir para operar as máquinas, sejam elas tratores, colheitadeiras 
ou plantadeiras.
   A Usina Santa Adélia teve 52% da safra de 
2007 colhida com máquinas. O plantio é 35% mecanizado. Focada na 
colheita de 2008, 75% da safra será mecanizada, inclusive dos fornecedores. 
E, segundo Carvalho, em 2014, 560 de toda a safra será mecanizada, do 
plantio à colheita. Com a mecanização nós não 
aumentamos a produção de cana, mas sim, melhoramos essa produtividade, 
agilizamos, tornamos mais prático. Vale a pena investir em mecanização, 
afirma.
   Carvalho, no entanto, insiste na importância de se ter mão 
de obra qualificada ao operar as máquinas, além disso, todo o canavial 
deve se adequar à mecanização. Se o canavial não 
for adequado, reduz sua longevidade. Se não tiver mão de obra preparada, 
diminui a capacidade de produção, pois as máquinas acabam 
arrancando as soqueiras, compactam o solo, pisoteiam as mudas. É preciso 
treinamento, conscientização, as máquinas precisam ser adequadas 
e as variedades de cana também, explica Carvalho. 
   Outro 
problema que Carvalho enxerga na mecanização das lavouras de cana-de-açúcar 
é a falta de planejamento dos produtores ao adotarem as máquinas. 
Segundo Carvalho o canavial tende a perder de 4 a 5 toneladas por hectare se este 
não estiver adequado à mecanização por hectare. Um 
hectare de cana rende entre 97 e 101 toneladas de cana.
   Na nossa 
região houve uma redução de 8 para 7 cortes na vida de um 
canavial. A mecanização foi maior do que a adequação 
das lavouras a esta nova realidade. Isso faz perder a longevidade do canavial. 
Acertando a lavoura, acerta-se a produtividade em relação a mecanização. 
   A mecanização das lavoura está revolucionando a 
agricultura nacional, e mais precisamente as lavoura de algodão. É 
o que pensa Odilon Reni, pesquisador da Embrapa Algodão. Hoje existe 
produtor no cerrado que planta de 3.000 a 4.000 hectares de algodão. E 
isso é a média. Como ele poderia tratar isso sem a mecanização?, 
indaga. Para o pesquisador, a mecanização é um segmento de 
extrema importância na abertura de novas fronteiras. O boom do algodão 
começou com a invenção de uma máquina para descaroçar 
o algodão. Metade da população mundial usa o algodão. 
Como atender a essa demanda sem o algodão?, explica.
   Segundo 
Reni, sem a mecanização, somente com o uso de uma enxada, o produtor 
pode trabalhar um hectare por ano. Com tração animal, de 6 a 8 hectares 
podem ser plantados. Já com a tração mecânica, pode-se 
trabalhar pelo menos 150 hectares por ano. O uso das máquinas é 
mais rápido e relativamente mais barato do que processos manuais. A colheita 
mecanizada de algodão sai por menos da metade do que a colheita manual. 
Ela é mais rápida, mais barata e consegue uma maior uniformidade 
no produto, enfatiza o pesquisador. Reni ressalta que existe apenas uma 
limitação para a mecanização das lavouras. Uma topografia 
acidentada, acima de 10% de declividade dificulta ou impede o trabalho das máquinas. 
No Nordeste, por exemplo, as lavouras de cana de açúcar são 
trabalhadas manualmente por causa do seu relevo acidentado, explica. 
   
O nível de mecanização das lavouras brasileiras está 
cada vez maior. Tanto que até mesmo culturas tradicionalmente manuais cada 
vez mais estão adaptando a sua produção para o uso das máquinas. 
A cafeicultura, por exemplo é uma delas. Com a abertura de novas fronteiras 
agrícolas, o café acabou conquistando espaços no cerrado 
das Minas Gerais. Área que engloba o triângulo mineiro e a região 
do Alto Paranaíba. Ali, segundo Vilmar Donizetti Roza, técnico agrícola 
da Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio 
(ACARPA), cerca de 60 a 70% da colheita é mecanizada e praticamente todos 
os 150.000 hectares de café em 55 municípios possuem algum tipo 
de mecanização.
   O cerrado mineiro corresponde a cerca de 
10% da produção nacional de café. Nessa região, 
a produção é em sua maioria mecanizada. Já no sul 
de Minas e no Espírito Santo, ela é mista. As áreas de encosta 
são feitas manualmente. Em São Paulo, Paraná e Bahia, é 
praticamente tudo mecanizado, afirma Roza. Segundo ele, hoje as lavouras 
de café podem contar com máquinas para todos as etapas da lavoura. 
Hoje existem máquinas para controlar o mato. A adubação 
é feita com adubadeira acoplada a um trator. O controle de pragas e doenças, 
além da nutrição das folhas são feitas através 
de pulverização. Temos também o granuladeiro para aplicar 
o granulado de solo e para fazer o controle de pragas e doenças, 
explica o técnico agrícola. 
   Outra lavoura que não 
é tradicionalmente mecanizada, mas que segue na esteira das demais e se 
tecnifica a cada dia é a citricultura. Em Bebedouro, interior de São 
Paulo, uma das principais regiões citricultoras do Brasil, todas as lavouras 
possuem algum nível de mecanização.
   Aqui a 
adubação é mecanizada, a aplicação de herbicida 
é mecanizada, a capinagem é feita com roçadeiras mecânicas, 
a pulverização é feita com pulverizadores mecânicos. 
Só a colheita, o plantio de mudas e a pulverização de pés 
novos, com menos de 2 anos de idade é feita manualmente, conta Walkmar 
Brasil de Souza Pinto, citricultor e engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura 
de Bebedouro. O citricultor acredita que a mecanização tornou a 
sua produção mais eficiente. Lavoura mecanizada é mais 
rápida e mais barata. O mesmo tratorista faz tudo. A mesma pessoa aduba, 
pulveriza, capina. Não tem jeito, mecanização teve que entrar 
na lavoura, pois assim tivemos maior rapidez e um custo mais baixo na produção. 
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