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os dados atuais do cultivo da soja e do algodão transgênicos, a estimativa 
é de que a sociedade brasileira terá recebido benefícios 
sócio-ambientais bastante expressivos até a safra 2016/17. Para 
chegar a essa conclusão foram considerados o plantio acumulado nesse período 
de aproximadamente 320 milhões de hectares de soja, dos quais 274 milhões 
de hectares seriam de soja RR, tolerante a herbicidas à base de glifosato, 
e de 23 milhões de hectares de algodão, sendo 16,6 milhões 
de algodão Bollgard, resistente a insetos, os dois tipos de culturas analisados, 
que estão aprovados e em cultivo no Brasil. O estudo da Céleres 
ouviu 93 agricultores de soja em sete estados (MT, MS, GO, MG, BA, PR e RS) e 
90 produtores de algodão em cinco estados (MT, MS, GO, MG e BA).
   
Com o plantio da soja transgênica, no período de 10 anos, serão 
economizados 42,7 bilhões de litros de água, o equivalente ao volume 
de água suficiente para abastecer uma cidade de quase 100 mil habitantes 
ao longo do período, 305 milhões de litros de óleo diesel, 
combustível suficiente para abastecer uma frota de 127,1 mil veículos 
(caminhonete tipo S10, por exemplo) em 10 anos, além de uma redução 
de emissões para a atmosfera de 919 milhões de toneladas de CO2 
(dióxido de carbono), ou seja, o mesmo que plantar 6,8 milhões de 
árvores, quantidade necessária para neutralizar tal liberação, 
em igual período. Outro dado de extrema importância sócio-ambiental 
é o da redução do uso de diferentes ingredientes ativos utilizados 
no cultivo de soja transgênica: a queda desse uso no Brasil, apenas com 
o plantio da soja RR, será de 35,6 mil toneladas de ingredientes ativos 
dos diversos tipos de agrotóxicos até 2017.
   Já com 
o cultivo de algodão transgênico, no período de 10 anos, os 
benefícios serão ainda maiores uma vez que, proporcionalmente, o 
algodão convencional utiliza um volume maior de agroquímicos em 
seu plantio na comparação com a soja convencional. Assim, o algodão 
transgênico permitirá uma redução do volume de ingrediente 
ativo ainda maior que no caso da soja: 41,5 mil toneladas no mesmo período 
analisado. Além disso, serão economizados 13,5 bilhões de 
litros de água, volume suficiente para abastecer uma cidade de 30 mil habitantes 
por 10 anos, 77,3 milhões de litros de óleo diesel, ou seja, o equivalente 
para o abastecimento de uma frota de 32,2 mil veículos pelo mesmo período, 
além de uma redução de emissões para a atmosfera de 
198,67 mil toneladas de CO² (dióxido de carbono), o que representa 
o plantio de 1,5 milhão de árvores, quantidade necessária 
para neutralizar tal liberação, em igual período. 
   
Tanto no caso da soja como no do algodão, a redução do volume 
de agrotóxicos dispersados no meio ambiente vai trazer, ainda, uma inversão 
bastante positiva da matriz de agroquímicos utilizada atualmente nas lavouras 
brasileiras. Haverá uma redução no uso de agroquímicos 
das classes I e II (os mais agressivos para o meio ambiente e para a saúde 
do trabalhador) que serão substituídos pelos agroquímicos 
das classes III e IV (menos agressivos). 
  Essa 
redução de ingrediente ativo restringindo o uso dos produtos mais 
agressivos, e economia de água, combustível e emissões de 
CO² para a atmosfera, de acordo com a consultora ambiental Paula Carneiro, 
da Consultoria Céleres, também foram analisadas em metodologia própria 
baseada na matriz SWOT/Porter. Ela explica a matriz de análise da atratividade 
e do risco ambiental desenvolvida pela Céleres fundamentou-se nos diversos 
aspectos da agricultura: genética e biologia dos OGMs, meio ambiente físico 
(solo, água e ar), biodiversidade, alimentação, saúde 
e segurança do trabalhador rural, qualidade de vida e produção 
agrícola e pesquisa. 
   Ressaltando que o modelo desenvolvido é 
um instrumento válido para Avaliação de Impacto Ambiental 
(AIA), a consultora ambiental informa que, tanto no caso da soja RR como no caso 
do algodão Bollgard, a conclusão da análise foi de que "as 
vantagens sócio-ambientais desse plantio apresentam um resultado totalmente 
coerente com a contínua adoção da tecnologia em todo o mundo, 
especialmente quando a população mundial demanda cada vez mais alimentos 
e, ao mesmo tempo, em que há necessidade de não se expandir ainda 
mais as atuais fronteiras agrícolas". Para Miyamoto, "só 
com a adoção de novas tecnologias na agricultura, conseguiremos 
vencer esse desafio de melhorar a produtividade preservando o meio ambiente", 
finaliza o presidente da Abrasem. Meio 
ambiente com benefícios econômicos Com 
relação aos benefícios econômicos das duas culturas, 
Anderson Galvão, diretor da Céleres, explica que, no caso da soja, 
esses benefícios econômicos já vêm sendo acompanhados 
por estudos anteriores e se mostraram consistentes no estudo atual. "O padrão 
de crescimento de adoção do cultivo da soja RR no Brasil evidencia 
um padrão eficiente de absorção de tecnologia, apesar das 
dificuldades enfrentadas na regulamentação e liberação 
do uso da biotecnologia agrícola", avalia. 
   Ao analisar o 
período 1996/97 a 2006/07, a Céleres avalia que a renda incorporada 
pelo produtor brasileiro com o plantio da soja RR chegou a US$ 1,5 bilhão, 
mas que, potencialmente, poderia ter atingido US$ 4,6 bilhões. Sobre o 
plantio de algodão Bollgard, iniciado somente na safra 2006/07, o estudo 
fez uma projeção dos benefícios econômicos potenciais 
para os produtores até a safra 2016/17 e concluiu que, a partir de uma 
área plantada acumulada de 23 milhões de hectares, dos quais 16,6 
milhões de hectares transgênicos, eles poderão atingir US$ 
4,8 bilhões no período.
   De acordo com Anderson Galvão, 
"pelas entrevistas realizadas durante o estudo, ficou claro que os produtores 
de algodão nem pensam em não utilizar a biotecnologia. Pelo contrário, 
querem o quanto antes os novos tipos de algodão transgênico já 
disponíveis em outros países que concorrem com o Brasil no mercado 
internacional", segundo informou. Para ele, os benefícios da tecnologia 
não podem ser menosprezados, principalmente se considerado que a agricultura 
sempre foi uma atividade cíclica. "É bom lembrar que o Brasil 
acaba de passar por dois anos de dificuldades no setor. A biotecnologia pode não 
ser a solução de todos os problemas, mas com certeza é uma 
ferramenta que pode ajudar o produtor a melhorar suas condições 
de trabalho e seus resultados", finaliza.  |