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governo brasileiro decidiu agir e reeditou as regras do Sisbov, que é o 
conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados para caracterizar 
a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade 
da pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes da 
exploração econômica da bovinocultura.
   Identificar, 
registrar e monitorar, individualmente, todos os bovinos e bubalinos nascidos 
no Brasil ou importados são os procedimentos recomendados, e muitas vezes 
obrigatórios para quem quiser exportar. Os métodos adotados nesse 
sentido devem ser previamente aprovados pelo Ministério da Agricultura, 
Pecuária e Abastecimento (Mapa).
   Em 2007 o Brasil exportou 1.615.042 
toneladas de carne, que renderam 4,42 bilhões de dólares. Para a 
UE foram destinadas 185.160 toneladas in natura, que trouxe 1,02 bilhão 
de dólares de lucro para o Brasil.
   A União Européia 
é o principal importador dos produtos do agronegócio brasileiro 
e absorve 31,4% do total embarcado pelo setor. Em 2006, as exportações 
para o bloco somaram US$ 15,5 bilhões. Países Baixos, Itália, 
Bélgica e Alemanha são os maiores compradores dos produtos do agronegócio 
brasileiro na UE. Na pauta de exportações para o bloco, predominam 
o complexo soja (36,5%), produtos florestais (14,7%), carnes (11,7%), café 
(11,9%) e sucos de fruta (6,2%). Novo 
Sisbov Com 
o novo sistema, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro, o Ministério 
pretende rastrear a procedência da carne, desde o nascimento do animal até 
o abate. A adesão do pecuarista é voluntária, porém, 
quem planeja vender aos mercados que exigem o controle de rastreabilidade da carne, 
como a UE, precisa ingressar no Sisbov.
   Ao se cadastrar no serviço, 
o pecuarista tem de cumprir uma série de exigências, entre as quais: 
informar dados como a identificação do rebanho no órgão 
estadual de defesa sanitária, o CPF, a inscrição estadual 
do estabelecimento, além de preencher o termo de adesão. Em seguida, 
ele escolhe uma certificadora, credenciada pelo Mapa, que irá verificar 
o cumprimento dos procedimentos previstos no Sisbov.
   O Mapa está 
inspecionando cerca de seis mil propriedades denominadas "ERAS (Estabelecimento 
Rural Autorizado Sisbov)" para selecionar as fazendas, que integrarão 
a lista de estabelecimentos habilitados a exportar para UE. As vistorias estão 
sendo realizadas nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, 
Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo.  Reviravolta Porém, 
a União Européia resolveu suspender a importação da 
carne brasileira. O bloco não aceitou a primeira lista de 2,6 mil fazendas 
apresentadas pelo MAPA que estariam preparadas para exportar carne à Europa. 
Segundo veterinários europeus, somente 300 fazendas, ou 3% do total das 
propriedades brasileiras estariam de acordo com as exigências sanitárias 
feitas pelo bloco. Entre as exigências, constam a necessidade de comprovação 
de que o gado está há mais de 40 dias na propriedade e mais de 90 
dias em um Estado livre da febre aftosa. Mato Grosso do Sul, Paraná e São 
Paulo já estariam descartados por ter sido detectada a doença no 
rebanho destas Unidades nos últimos 2 anos.
   O Governo, por sua 
vez, enviou à comissão avaliadora a lista com as 2,6 mil fazendas 
que, segundo ele, estariam adequadas às exigências dos europeus. 
No entanto, a Europa se recusou a publicar a relação em seu diário 
oficial, mas ressaltando que a decisão não foi tomada por causa 
de uma suposta ameaça à saúde dos consumidores e, sim, de 
uma suspensão técnica. 
   Desde o final de janeiro o Governo 
sabia que não teria garantias de que a exportação seria mantida. 
Alertamos que, no momento, não há garantias de que a produção 
de carnes fresca de bovinos, obtidas de animais oriundos de fazendas constantes 
na referida lista, poderá ser exportada para aquele bloco econômico 
(UE), afirmou a Secretaria de defesa Agropecuária do Ministério 
da Agricultura em carta. O documento, que circulou internamente no governo, é 
datado do dia 28 de janeiro e assinado por Ari Crespim dos Anjos, do Ministério 
da Agricultura.
   Pressionada, principalmente por setores ligados à 
pecuária européia  sobretudo por bovinocultores irlandeses 
 o comissário de saúde do bloco, Marcos Kyprianou, que por 
meses veio defendendo os esforços do Brasil, se viu obrigado a ceder e 
acatou a suspensão.
   Consideramos autorizadas cerca de 300 
propriedades a exportar para a UE, com base em inspeções prévias. 
Agora, não há um alista de propriedades brasileiras autorizadas 
e, neste momento não há propriedades brasileiras autorizadas a exportar 
para a UE, disse Kyprianou.
   O governo julgou, por meio de nota divulgada 
pelo Ministério da Agricultura injustificável e arbitrária 
a suspensão das exportações da carne brasileira pela União 
Européia. A nota cobra, também, transparência e previsibilidade 
por parte dos europeus para o retorno à normalidade do relacionamento comercial 
no setor já que, segundo o documento, os critérios europeus não 
foram definidos. 
   O MAPA alegou que enviou uma lista oito vezes maior 
do que a pedida pelos europeus, pois todas as propriedades inclusas na lista atendiam 
às demandas do bloco e, portanto, não poderia escolher entre elas.
   
Alguns setores do Governo acreditavam se tratar de um blefe, mas essa possibilidade 
logo foi descartada quando a União Européia desconsiderou a possibilidade 
de sofrer problemas de abastecimento de carne bovina com a entrada em vigor da 
suspensão das importações da carne procedente do Brasil. 
A medida é conseqüência da falta de acordo sobre a origem do 
gado. 
   "Há outros fornecedores de carne bovina. Temos os nossos 
e há outros países com carne bovina", disse o porta-voz europeu 
para questões de Agricultura, Michael Mann, ao ser questionado sobre a 
possibilidade da UE sofrer escassez do produto nos próximos dias. 
   
"Não acredito que exista uma grande diferença", acrescentou 
Mann, em referência à situação do mercado europeu após 
a interrupção do ingresso de carne do Brasil, o principal fornecedor 
do bloco europeu.
   A UE é responsável por 29,5% do total 
das exportações da carne in natura produzida no Brasil. Esse valor 
corresponde a 1,02 bilhão de dólares. Os frigoríficos, com 
receio de perderem receita com o embargo europeu anunciaram mudanças nos 
destinos finais dos seus produtos. Frigoríficos como o Friboi e o Marfrig 
buscarão outros mercados para absorver o excedente da produção. 
O Friboi informou em nota que deve exportar apenas 25% do total vendido para a 
UE no ano passado. Metade da carne que iria para o bloco será destinada 
aos mercados do Oriente Médio, Ásia e América Latina. O restante 
será vendido no mercado interno, o que deve derrubar os preços. 
Estratégia semelhante será seguida pelo Marfrig. Este, por sua vez, 
se empenhará em produzir carne cozida, já que este tipo de produto 
não sofrerá restrições por parte da Europa.  Voltando 
atrás A 
novela entre a União Européia e os exportadores teve mais um capítulo 
no começo do mês, quando o governo brasileiro admitiu a existência 
de falhas na lista de fazendas aptas a exportar carne para o bloco, e reduziu 
o número de 2.681 para 600 fazendas. Essa nova listagem será apresentada 
à UE no dia 14 de fevereiro.
   As 2.081 fazendas cortadas da lista 
apresentavam problemas burocráticos, como ausência de documentos 
sobre a importação dos animais, a inexistência de notas fiscais 
e a falto do número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) de alguns 
donos de rebanhos.
   Mesmo com o número acima daquele recomendado 
pela UE, o Ministro da Agricultura se disse otimista com a nova lista. Acreditamos 
que com toda a documentação em ordem, a UE aceitará a nova 
lista, afirmou Reinhold Stephanes após reunir-se com secretários 
de agricultura de cinco estados.
   Segundo o secretário de defesa 
agropecuária, Inácio Kroetz, a partir do dia 25 de fevereiro veterinários 
europeus farão vistorias aleatórias em propriedades brasileiras. 
Porém, essas visitas dependerão da aceitação ou não 
por parte do bloco, da lista de 600 fazendas apresentada pelo governo.
   
A missão européia avaliará fazendas em todos os Estados do 
País. Segundo o ministro, mesmo as propriedades não incluídas 
nessa nova lista poderão ser adicionadas posteriormente, desde que estejam 
de acordo com as exigências dos europeus quanto à sanidade do rebanho 
e rastreabilidade dos animais.   |