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o caso de Fernando Farhat, que criava cavalos e há cinco anos abandonou 
a eqüinocultura para começar na criação de ovelhas. 
Criar ovinos é milhares de vezes melhor, pois é mais prático, 
mais lucrativo, dá maior retorno e mais rapidamente; e o giro financeiro 
é mais rápido, enumera o pecuarista de Cajuru, interior de 
São Paulo. O criador cita ainda outras vantagens: A ovelha pari duas 
vezes por anos. A vaca dá cria uma vez por ano. Pode-se alocar até 
10 ovinos por hectare, enquanto que um pecuarista que cria bois pode alocar no 
máximo um animal por hectare. A arroba do boi, hoje está em 60 reais. 
A do carneiro custa 150 reais, enfatiza. 
   Farhat escolheu trabalhar 
com as raças Dorper e Santa Inês; esta desenvolvida no Brasil e conhecida 
pela rusticidade e adaptabilidade às condições de pasto, 
de norte a sul do País. É um animal de boa carcaça, 
bom acabamento, carne boa e pouca gordura, explica o criador. Já 
a raça Dorper, segundo Farhat é mais exigente no que diz respeito 
à alimentação. Seu manejo é mais exigente, pois os 
animais desta raça têm um pouco de lã e comem uma quantidade 
diária maior de comida. O Santa Inês ganha peso até 
1 ano e meio, enquanto que o Dorper ganha até 9, 10 meses. Ele é 
mais precoce, mas come mais e ganha mais peso no inicio. Depois pára, 
explica.
   Roberval Farias, outro criador de Santa Inês, acha que 
a raça é a melhor opção para cruzamentos, principalmente 
com as raças Dorper e Texel. Hoje em dia existem linhagens muito 
boas. Os cruzamentos mais indicados são Dorper e Texel com uma matriz Santa 
Inês, pois aliam a boa adaptabilidade da Santa Inês com a boa carne 
das raças Dorper e Texel. Segundo Farias, os criatórios no 
Sudeste atingiram um nível de excelência grande. As linhagens 
no Sudeste estão cada vez melhores. A seleção aqui está 
sendo rigorosa, acredita o criador, que possui propriedade em Franco da 
Rocha, município da Grande São Paulo.
   Outro cruzamento bastante 
utilizado é o da raça Dorper com Texel. Segundo os criadores, os 
filhos destas duas espécies apresentam um desempenho superior ao dos pais. 
Dorper com Texel dá uma conformação maravilhosa. Colocando 
uma sobre a outra dá heterose, dá uma excelente carcaça, 
afirma o criador Eduardo Avelino Bergstein, criador dessas duas raças há 
dez anos.
   Seleção genética é o foco principal 
dos criadores. E isso é tanto um problema quanto a solução 
para o plantel brasileiro. Esse paradoxo se explica pelo fato da maioria dos ovinocultores 
centralizarem seus criatórios na produção de animais de pista. 
Por um lado, esse esforço é benéfico, pois acaba desenvolvendo 
ótimas matrizes e reprodutores. Por outro lado, segundo Bergstein, titular 
da Fazenda Serrana, isso, involuntariamente, acaba lesando a atividade como um 
todo. Não há lógica desenvolvimento genético 
sem aplicá-lo no sistema produtivo. Este precisa crescer enormemente já 
que 70% da carne consumida no Brasil é importada do Uruguai, Nova Zelândia 
e Austrália. Segundo Bergstein, o desenvolvimento de plantéis 
para atender a demanda interna é primordial para o sucesso da ovinocultura.
   
Opinião semelhante compartilha outro criador. José Roberto Sobral, 
que cria a raça Texel em Pedra Bela, no interior paulista acredita que 
para a atividade deslanchar de vez, é preciso alinhar uniformemente o desenvolvimento 
genético à produção de carne de qualidade. Não 
se pode descolar a criação de animais de seleção para 
atender ao grande número de novos criadores, daquela que é destinada 
a produção de carne para abastecer um mercado potencialmente muito 
promissor. Carne é o grande objetivo. Não temos oferta. Importamos 
carne de outros países, enfatiza Sobral, ovinocultor desde 2000.
   
Mas não são só estes os entraves da criação 
de ovelhas. É quase unanimidade entre os criadores que um dos principais 
problemas é a falta de frigoríficos especializados no abate de ovinos. 
Essa limitação acaba fazendo os criadores de reféns, já 
que a demanda pelo abate é muito maior do que sua oferta. Não 
dá para produzir carne em altos volumes, pois não existem abatedouros 
suficientes para atender uma alta procura. Não temos um padrão de 
corte melhor porque faltam frigoríficos e mão de obra especializada, 
ressalta Roberval Faria, que cria ovinos desde 2000. Para ele, o mercado tem que 
crescer pelo menos 80% para conseguir atender a demanda interna. 
   Mas, 
para que a isso aconteça, é necessário um longo caminho. 
E aí voltamos ao problema da falta de sincronia entre o desenvolvimento 
genético e a produção de plantéis voltados para a 
produção de carne. Nos últimos anos a ovinocultura viu leilões 
milionários e grande atenção da mídia especializada 
nestes eventos. Porém, estes animais de pista pouco interagiram com os 
rebanhos comerciais. Esse desencontro criou um abismo de qualidade entre animais 
de elite e plantéis comerciais, que não conseguiram seguir os padrões 
de exigência do mercado. São poucos os criadores de animais destinados 
ao abate que compram sêmen de animais P.O. para melhoramento genético. 
Muitos dos ovinos, por conta da falta de melhoramento genético, acabam 
indo para o abate com uma idade avançada, o que interfere na qualidade 
da carne. 
   O mercado de ovinos está passando por uma transformação 
muito grande, especialmente o mercado de carne. A cultura brasileira não 
tinha o habito de comer cordeiro. A demanda explodiu e os padrões não 
acompanharam esse crescimento. O mercado quer carne com marmoreio, distribuição 
da capa de gordura. O criador está se adaptando às exigências 
do mercado, que já estão no nível internacional. Outros países 
já têm esse padrão, explica o criador José Roberto 
Sobral. Segundo ele, institutos de pesquisas como a Esalq. de Piracicaba e o Instituto 
de Agronomia de Nova Odessa estão trabalhando para que o rebanho brasileiro 
atinja os padrões internacionais de exigência. Com a cadeia 
formada, seremos exportadores, acredita o criador.
   Outra dificuldade 
que os pecuaristas encontravam ao procurar melhorar os seus rebanhos eram as limitações 
ao adotar técnicas de fertilização como inseminação 
artificial, transferência de embriões ou inseminação 
por tempo fixo. Segundo Edson Siqueira, médico veterinário e gerente 
técnico da divisão de caprinos e ovinos da Alta Genetics, os ovinocultores 
se viam obrigados a recorrerem a técnicas caras para fertilizar seus animais, 
o que limitava bastante o número de criadores com condições 
de inseminar. Antes, as inseminações eram feitas por laparoscopia. 
Isso encarecia muito o processo. Somente criadores de animais de pista ou de reprodutores 
recorriam a elas, explica Siqueira. Segundo ele, hoje em dia os pecuaristas 
podem se valer de técnicas mais modernas e mais baratas também. 
Agora o processo é trans cervical. Isso auxiliou a difundir a técnica 
para produtores de rebanhos comerciais. Barateou o processo. Tem-se ampliado o 
número de produtores que utilizam essa técnica. E essa é 
uma boa ferramenta para melhorar o rebanho, ressalta o veterinário 
da Alta Genetics.
   Mas, mesmo com os entraves e contra-tempos com os quais 
os ovinocultores se depararam, é consenso que o rebanho comercial brasileiro 
deu um salto de qualidade na última década. O Brasil desenvolveu 
genética própria. A Santa Inês é uma raça desenvolvida 
no País. São 2 animais muito diferentes se formos comparar os da 
década de 90 com os de hoje. O Brasil provou que consegue desenvolver genética 
própria da raça Santa Inês, Dorper e Boer (no caso de caprinos). 
Muitos animais vêm de fora, mas muito em breve o rebanho brasileiro não 
vai dever em nada aos rebanhos da Austrália, Nova Zelândia e África 
do Sul acredita Siqueira.
   Não somente as raças descritas 
por Siqueira estão bem cotadas entre os criadores. A raça lanada 
Texel é uma das mais promissoras em matéria de desenvolvimento genético, 
como afirma José Roberto Sobral. A Texel ganhou adaptabilidade e 
desenvolvimento genético no Brasil. Ela está sendo trabalhada há 
mais de 50 anos no que se refere a desenvolvimento genético da raça. 
Reprodutores vieram da Holanda, Alemanha e França. Com isso se criou uma 
base genética muito forte nos plantéis do Rio Grande do Sul e também 
em São Paulo. Somos referência mundial. Essa raça, segundo 
Sobral levou vantagem em relação as demais em matéria de 
formação genética porque os criadores tiveram tempo e preocupação 
de desenvolver a genética no País.
   O Brasil, nos últimos 
anos, se tornou um voraz consumidor da carne de ovinos. E a produção 
interna não acompanhou esse crescimento do consumo. As condições 
parecem propícias para se investir nesta atividade. O que falta, segundo 
os criadores, são pequenos ajustes, como a busca por um rebanho comercial 
com alto desenvolvimento genético para uma maior padronização 
da carne, plantas frigoríficas especializadas no abate de ovinos e uma 
melhor interligação dos elos da cadeia produtiva. Temos de 
adequar a produção para atender consumidores de uma faixa de renda 
que exige uma produção de qualidade superior, afirma o criador 
José Roberto Sobral. O veterinário da Alta Genetics Edson Siqueira 
é otimista quanto ao futuro da ovinocultura. Segundo ele, todas as raças 
demonstram potencial para crescimento e a atividade deixou de ser uma promessa. 
A ovinocultura está consolidada, mas tem muito a crescer ainda. Precisa 
aumentar a produção para depois galgar a exportação 
da carne. Precisamos sustentar a demanda. Isso mostra o potencial de crescimento 
para todas as raças.   |