Vestidos
de espigas de milho, agricultores e estudantes de agronomia realizaram em Brasília,
Cuiabá e São Paulo, manifestações de apoio à
liberação do plantio e comercialização de sementes
de milho geneticamente modificadas. Em Cuiabá, estudantes e fazendeiros
distribuíram em bairros carentes 15 toneladas de alimentos, além
de panfletos para conscientizar as pessoas sobre o direito de escolha de plantar
milho transgênico, orgânico ou comum.
No último dia
20 de março, o deputado Federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) recebeu,
um abaixo-assinado com mais de 30 mil assinaturas de agricultores brasileiros
pedindo a liberação do cultivo do milho transgênico. O documento
foi entregue ao presidente da CTNBio Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança, Walter Colli, durante Audiência Pública
no Congresso Nacional, em Brasília, onde estão sendo discutidos
os pedidos de liberação comercial de milho geneticamente modificado.
A pressão dos agricultores para a legalização das
sementes transgênicas leva em conta a maior tolerância delas aos agrotóxicos
e também às pragas. E agora, as suas reivindicações
ganham embasamento científico, já que renomados cientistas de respeitados
órgãos de pesquisa afirmaram que o consumo de vegetais transgênicos
não faz mal para a saúde. Milhões e milhões
de pessoas em todo o planeta vêm consumindo o milho transgênico e
não existe um único relato sequer de efeito adverso nem para o homem,
nem para os animais e nem para o meio ambiente", afirma Leila Oda, Presidente
da Associação Nacional de Biossegurança (ANBIO) e cientista
da FioCruz.
Outro argumento que os agricultores e especialistas esperam
convencer a CTNBio a liberar o plantio de milho transgênico é o do
maior aproveitamento das lavouras e dos recursos ambientais, pois as perdas agrícolas
representam um grande desperdício de água, combustível, além
de degradar o solo da plantação perdida.. De acordo com a Embrapa,
as perdas agrícolas anuais das lavouras de milho atingem 19% do total da
produção.
O lobby de defesa da liberação
das sementes de milho geneticamente modificadas é grande e tem entre seus
seguidores diversas associações, como a Associação
Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), a Associação Nacional
de Biossegurança (ANBIO), além de contar ainda com o apoio de diversos
cientistas da CTNBio. A CTNBio é composta dos melhores cientistas
do Brasil, então afirmar que a liberação do milho transgênico
é prejudicial a saúde é afirmar que os cientistas brasileiros
são irresponsáveis, afirma o presidente da ABRASEM, Iwao Miyamoto.
Miyamoto vai além: Diz que a comercialização e o plantio
de sementes de milho geneticamente modificadas é uma questão de
sobrevivência desse setor agrário: A liberação
(da comercialização e plantio das sementes geneticamente modificadas)
vai aumentar a produtividade, baixar os custos, aumentar o lucro dos produtores
e vai competir de igual para igual com países como Uruguai, Argentina e
Estados Unidos. Esses três países já utilizam sementes
transgênicas em suas lavouras.
Mesmo com todas as possíveis
vantagens do plantio e comercialização do milho transgênico,
a aprovação foi adiada mais uma vez. A reunião da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança que aconteceria no dia 22 de março
em Brasília foi cancelada pelo presidente, Walter Colli, após longa
discussão sobre a participação da sociedade civil como ouvinte-observador
na reunião. Alguns integrantes da comissão não permitiram
que membros da organização não governamental Greenpeace participassem
do encontro. O fato de alguns membros da CTNBio não quererem a presença
da sociedade civil na reunião coloca em dúvida toda a certeza e
segurança que eles dizem haver sobre a liberação comercial
dos transgênicos, disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de
engenharia genética do Greenpeace. Se de fato existe cautela na tomada
de decisões, não há porque restringir a participação
da sociedade. Mas agora cabe perguntar, afinal, o que esses membros da Comissão
tentam esconder ao vetar a nossa presença.
Ambientalistas
do grupo vegetal-ambiental da CTNBio levantaram dúvidas sobre relatórios
e Colli foi obrigado a adiar a decisão para os dias 18 e 19 de abril. Porém,
a próxima reunião promete facilitar a aprovação da
liberação do plantio e comercialização do milho transgênico,
já que o presidente da República, Luís Inácio Lula
da Silva sancionou a Medida Provisória 327 (agora convertida na Lei 11.460/07)
com a emenda que prevê a redução do número de votos
necessários na CTNBio para a liberação comercial de transgênicos
no País. Agora são necessários 14 votos ante aos 18 necessários
antes da mudança.
Para o agrônomo, produtor rural e presidente
do Clube Amigos da Terra (RS), Almir Rebelo de Oliveira, a decisão do presidente
Lula ao sancionar a Lei 11.460/07 foi um passo muito importante a favor do desenvolvimento
brasileiro. Foi um reconhecimento do presidente Lula aos benefícios da
biotecnologia. Ele sabe que o Brasil precisa andar e decidiu apoiar a tecnologia
que vai garantir os programas voltados para a produção de alimentos
e biocombustíveis, declarou. Manifestou, entretanto, sua preocupação
em relação "àqueles que querem nos impedir de usar menos
agrotóxicos e aterrorizam os cientistas da CTNBio para fazer valer sua
campanha contrária a aprovação do plantio dos transgênicos
no Brasil." Na opinião de Almir Rebelo, os grupos opositores são
muito fortes e "utilizam até estratégias envolvendo o
sistema judiciário e espalham o medo entre os consumidores, só para
retardar o processo de evolução da agricultura brasileira.
A principal vantagem da liberação do milho transgênico
é a economia que essas lavouras darão aos produtores. Milton Casaroli,
diretor do Sindicato Rural de Londrina explica: "Com a plantação
de milho transgênico, haverá importantes ganhos econômicos
para o País, já que usaremos menos agrotóxicos nas lavouras
e ainda assim teremos maior produtividade na colheita", afirmou. Destacou
ainda os ganhos para o meio ambiente: "haverá menos agrotóxicos
e menos uso de combustível porque diminuirá a circulação
de maquinário agrícola". Segundo ele, todos esses benefícios
já podem ser constatados nas atuais lavouras de soja transgênica.
Estudo apresentado no início deste mês pela ABRASEM, informa
que, só no caso da adoção do milho transgênico, os
agricultores brasileiros terão uma economia anual de US$ 192 milhões
havendo a liberação de plantio. E esse número é
modesto já que fizemos uma estimativa baseada em somente 50% de área
plantada com a cultura de milho transgênico", acrescenta Iwao Miyamoto.
Além disso, o mesmo estudo da ABRASEM estima que a adoção
do milho transgênico no Brasil reduzirá o consumo de agrotóxicos
em 1.739 toneladas por safra.
Contra ou a favor dos transgênicos,
todos concordam com uma coisa: O Brasil precisa produzir mais e melhor. Estudo
da ABRASSEM mostra que 65% do milho produzido no Brasil é destinado ao
setor de rações, gerando alimentos para criações de
frango, porcos e ovos, de extrema importância na dieta alimentar do brasileiro,
sem falar nas exportações do segmento dentro do agronegócio.
O milho é componente intrínseco de mais de 600 produtos. O milho
faz parte de uma grande cadeia interligada, passando pelos produtores, criadores,
indústrias e consumidores. Com relação ao resguardo do patrimônio
genético do milho, constantemente argumentado pelos opositores da biotecnologia,
existem 18 centros internacionais de germoplasma do milho, incluindo o Cenargen
- Centro Nacional de Recursos Genéticos da Embrapa. Ou seja, o Brasil possui
um banco de sementes geneticamente modificadas.
Essa última
batalha, junto com a sanção da Lei 11.460/07 deixou os defensores
dos transgênicos mais próximos da vitória. A CTNBio, porém,
só poderá cumprir sua função quando os dois lados
abandonarem posições radicais para discutir racionalmente sobre
tecnologias almejadas por um setor crucial da economia. Milho
em alta no mercado O
momento atual é extremamente favorável ao plantio de milho. Pelo
levantamento da Conab, a produção de milho na safra 2006/2007 deverá
ficar entre 41,9 milhões de toneladas e 42,9 milhões de toneladas,
o que significa um ganho de até 3% ou 1.2 mil toneladas. A região
centro-sul responde por 89,5% da produção nacional, em média.
O milho hoje se tornou muito valorizado por conta do etanol americano, que é
produzido a partir desse vegetal.
Alem disso, o milho tem uma grande
importância na economia. A produção do grão ocupa mais
de 4 milhões de postos de trabalho no campo, além de 3.350 empregos
diretos e 30 mil indiretos nas indústrias de processamento. O milho é
matéria-prima para uma centena de outros produtos, correntemente utilizado
pelas indústrias de papel e têxteis, na produção de
cerveja e em artigos farmacêuticos, dentre outros.
A indústria
do milho processa 10% da produção nacional e movimenta um mercado
de cerca de R$ 1,5 bilhão por ano. Em 2004 o Brasil importou 328.757 toneladas
de milho, número esse que seria bem menor se as lavouras utilizassem sementes
geneticamente modificadas.
Segundo Paulo Bertolini, membro da Associação
de Produtores de Grãos Diferenciados APGD, se a atual área
plantada de milho no Brasil fosse de variedade Transgênica Bt, a cada safra
haveria um ganho superior a US$ 700 milhões para os agricultores, gerado
por um ganho de produtividade anual de 24% e uma economia de US$ 340 milhões
em função da redução do uso de defensivos agrícolas.
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