Para
o presidente em exercício da Federação
da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo
(Faes), Júlio Rocha Júnior, o mercado para os
pequenos e médios produtores precisa ser mais bem planejado.
"A atividade leiteira no Estado tem que deixar de ser
vista apenas como umas das responsáveis pela ocupação
da mão de obra e geração de renda para
a agricultura familiar para ser trabalhada com mais profissionalismo.
Isso requer a adoção de tecnologia para aumentar
o retorno no preço do litro do leite", disse o
dirigente da entidade.
A produtividade média de uma matriz leiteira no Espírito
Santo é de 1.140 litros por ano. O rebanho leiteiro
soma 347 mil vacas sendo que 75% da produção
é fornecido por pequenas propriedades com produção
diária de até 100 litros. A mudança de
comportamento dos consumidores, a reestruturação
da logística de industrialização e distribuição
de lácteos e a abertura do mercado internacional vêm
determinando uma rápida transformação
na cadeia agro-industrial de leite no Brasil.
Em agosto de 2005 o governo do Estado reduziu o ICMS do leite
de 12% para 7%, beneficiando cerca de 16 mil produtores. O
presidente da Faes, Júlio Rocha reconhece que a desoneração
tributária foi uma importante medida de apoio e contribuição
ao setor. Mas a pecuária leiteira capixaba ressente
de políticas de médio e longo prazo que incluam
necessariamente a capacitação técnica
do produtor
Resfriamento
O
presidente do Sindicato Rural de Cachoeiro de Itapemirim e
também produtor de leite no município, José
Garcia, relata que a IN 51, só veio a contribuir. "Praticamente
560 dos produtores de Cachoeiro de Itapemirim já adotaram
os tanques de resfriamento, a adaptação está
sendo boa, pois os produtores estão percebendo que
o melhoramento na qualidade do leite contribui principalmente
com o aumento do preço que é pago aos produtores.
No momento o valor está variando de R$ 0,40 a R$ 0,45",
diz José Garcia que informa ainda que a adaptação
aconteceu, através dos cursos oferecidos pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural, Administração
Regional do Espírito Santo (Senar-AR-ES) sobre Qualidade
do Leite.
Segundo o produtor de leite, Jonas Altoé, de Cachoeiro
de Itapemirim, a profissionalização da atividade
leiteira no Estado já vem ocorrendo gradativamente.
"O produtor já está percebendo que se não
se profissionalizar perde com produtividade e qualidade, consequentemente,
o valor do preço por litro de leite também cai",
confirma.
Já o produtor de Alegre, Romário Martins de
Oliveira, observa que nos últimos anos houve um crescimento
considerável do setor no Espírito Santo. "Porém,
vivemos hoje uma crise no agronegócio do leite, talvez
pela falta de incentivo do poder público, uma vez que,
temos conhecimento de que países vizinhos como a Argentina,
devido a esta proteção estatal, concorrem conosco
de maneira desleal, colocando seu produto subsidiado em nosso
mercado", indaga o produtor.
Romário Martins declarou que o maior impacto decorrente
da implantação da IN 51 decorreu do investimento
requerido para a aquisição do equipamento de
resfriamento. Um tanque de mil litros observou o produtor,
custa cerca de R$ 18 mil. Para ele o investimento se justifica
porque o além de melhorar a qualidade do produto o
equipamento permite flexibilidade do horário de ordenha
proporcionando condições de melhor administrar
os turnos da mão de obra.
Fiscalização
falha
Para
o presidente da Cooperativa Agropecuária do Norte do
Espírito Santo (Coopnorte), João Marcarini Filho,
a fiscalização é falha. "A questão
da qualidade do leite, não se resume ao resfriamento
do leite na propriedade. Começa na higiene da ordenha
e saúde da vaca. Além disso, não existe
uma fiscalização profissional - se age segundo
o interesse e a conveniência -, sem falar da Inspeção
Municipal e Estadual que não existe no setor leiteiro.
Os próprios municípios não têm
controle do leite produzido", informa João Marcarini.
Não somente a seca dos últimos meses, mas a
falta de profissionalismo também é um fator
que vem prejudicando a atividade para o presidente da Coopnorte.
"As secas sempre existiram no Espírito Santo,
então pergunto: Por que ela sempre encontra o produtor
de leite desprovido de reservas de comida? Porque o produtor
não tem nenhum critério técnico para
trabalhar a atividade leiteira, ela fica à deriva de
estação climática favorável, com
isso, toda a cadeia sofre a influência da improvisação
do produtor", indaga João Marcarini.
Foco
no leite
O
presidente da Cooperativa de Laticínios Selita, Rubens
Moreira, explica que a pecuária de leite no Espírito
Santo ainda é desmerecida por muitos órgãos
governamentais. "O sul do Estado já tem tradição
na produção de leite, o norte está se
consolidando, mas a pecuária de leite no Espírito
Santo ainda não está no foco dos órgãos
governamentais. No ano passado, o governo do Estado deu uma
grande contribuição com a redução
do ICMS, mas é necessário avaliar a competitividade
dos lácteos do Estado no mercado brasileiro e internacional
e trabalhar no sentido de melhorá-la", salientou
Rubens Moreira.
O preço recebido pela cooperativa em fevereiro e pago
em março está na faixa de R$ 0,50, livre no
bolso do produtor. Segundo Rubens os preços pagos pela
Selita, são um dos melhores do Brasil. "A remuneração
poderia ser melhor se não fosse o problema do aumento
das importações no ano passado, que está
vinculado à desvalorização do dólar
e a redução da competitividade do Estado em
relação a Minas Gerais e Rio de Janeiro",
justifica o presidente da Selita.
Com o objetivo de promover a melhoria da qualidade do leite
e derivados, garantir a saúde da população
brasileira e aumentar a competitividade dos produtos lácteos
em novos mercados, o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa) criou O Programa Nacional de Melhora
da Qualidade do leite (PNQL) com base na Instrução
Normativa 51, que estabelece critérios para a produção,
identidade e qualidade do leite.
Entre as exigências do programa, estão a obrigatoriedade
do resfriamento do leite cru e seu transporte a granel, além
do atendimento a requisitos básicos de sanidade e de
estrutura física para o acondicionamento do leite nas
propriedades rurais. Houve também uma mudança
radical nas normas de plataforma (contagem bacteriana, crioscopia,
acidez, redutase, células somáticas etc.), assim
como a introdução de normas de origem (animais
controlados, refrigeração na propriedade e coleta
a granel).
Atendendo a legislação, o Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural - Administração Regional
Espírito Santo (Senar-AR-ES) -, com o apoio do Serviço
de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Espírito
Santo (Sebrae-ES), realiza vários cursos voltados para
o produtor de leite para que conheçam os parâmetros
de qualidade adotados nessa legislação e quais
são os mecanismos de controle.
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