Essa soja safrinha que é plantada com a finalidade
de produzir sementes para a safra de verão acaba funcionando
como hospedeiro para o fungo, no período de entressafra,
explica Amélio DallAgnol pesquisador do Centro
Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSO), Embrapa Soja, de Londrina,
PR, que faz um alerta para esse fato apontando-o como principal
motivador do aparecimento precoce da doença nas lavouras
de soja este ano.
DallAgnol observa que é comum acontecer o aparecimento
da soja involuntária e/ou tigüera após
o término da colheita, problema decorrente da queda
acidental dos grãos no solo, seja na hora da colheita
ou mesmo durante a operação de transporte. A
soja plantada no pivô central tem um efeito parecido
só que numa proporção muitas vezes maior,
ressalta o pesquisador que é o atual presidente do
Consórcio Nacional Anti-Ferrugem da Embrapa Soja, em
parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA).
A preocupação com a soja de inverno é
tamanha que já atingiu até a esfera política.
Os estados de Mato Grosso e Goiás, que apresentaram
sérios problemas com a ferrugem na safra atual, criaram
uma resolução estadual que proíbe o plantio
da soja, por um prazo de 60 dias, após o término
da colheita. Os técnicos aguardam para ver se essa
medida, tomada em caráter emergencial, trará
algum resultado na próxima safra. Caso isso aconteça
já existe um esforço para transformá-la
em lei federal.
O outro motivo apontado pelo especialista para o insucesso
da soja em algumas regiões do país, foi o baixo
uso de insumos tecnológicos nas lavouras. O aparecimento
precoce do fungo e a alta pressão populacional sobre
as plantas não deram tempo nem mesmo para o produtor
aplicar uma dosagem preventiva, destaca DallAgnol
que relata casos de localidades onde a ferrugem pegou os produtores
de surpresa, antes mesmo da primeira aplicação,
tornando o problema quase que insolúvel.
A situação mais crítica foi verificada
nos estados de Mato Grosso onde houve casos de perda generalizada.
Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais
e São Paulo também enfrentaram sérios
problemas, mas por questões mais ligadas ao excesso
de chuvas. O aparecimento precoce da ferrugem que atingiu
as lavouras, ainda no seu estádio vegetativo e as condições
de clima favoráveis ao seu desenvolvimento provocaram
uma elevação nos custo de produção
das fazendas, relata André Pessoa, engenheiro agrônomo
e sócio diretor da Agroconsul, empresa responsável
pela organização do Rally da Safra, maior levantamento
de safra mantido com recursos da iniciativa privada.
Além disso, esse aumento excessivo no número
de operações de controle levou muito produtor
a buscar caminhos alternativos. Há relatos de produtores
que necessitaram fazer cinco até sete aplicações
de fungicidas para combater a doença, sendo que o normal
seria no máximo três, destaca o pesquisador da
Embrapa Soja que passou 18 dias viajando com o pessoal do
rally e viu de perto a situação nos principais
pólos de produção de soja do país.
Perda
na produtividade foi inevitável
Com
mais de 80% das lavouras de soja já colhidas a safra
brasileira da oleaginosa fecha o período com um volume
colhido próximo a 54 milhões de toneladas, isso
considerando as projeções mais otimistas. O
Mato Grosso que plantou 5.7 milhões de hectares colhe
pouco mais 15 mil t., número que mostra uma diminuição
na participação do estado de 29,3 em 2004/05
para 27,7%. A produtividade entre 40 e 45 sacas/ha., também
ficou muito abaixo do esperado para o estado que foi recordista
de produtividade nos últimos anos, com média
de 55 sacas de 60 quilos, por hectare plantado.
Coincidência ou não as cidades mais atingidas,
foram, justamente, aquelas onde a soja de inverno foi cultivada
no ano passado. Com exceção das regiões
de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso, cidades mais
ao Norte, que tiveram um nível de perda menor, todas
as demais regiões do estado tiveram suas produtividades
reduzidas pela ferrugem. Na região noroeste do estado
(Tangará da Serra, Campos de Julio e Sapezal), onde
a falta de chuva atrasou o plantio e depois dificultou a aplicação
dos produtos as perdas foram grandes. A região de Primavera
do Leste viveu a situação mais crítica,
com casos onde a perda decorrente da ferrugem foi total. Na
grande Primavera, a produtividade deve ficar entre 40 e 45
sacos por hectare, estima o pesquisador destacando que
na região centro-sul do estado (Rondonópolis,
Serra da Petrovina), a ferrugem também foi bastante
severa, mas houve também ataque por lagartas desfolhadoras
e percevejos.
Com a segunda maior área de soja do país, 3.8
milhões de hectare, o Paraná, entrou, pela primeira
vez, para a lista dos estados que mais perdas sofreram por
causa da ferrugem asiática. Os agricultores paranaenses
viveram durante o desenvolvimento da safra uma situação
climática extremamente desfavorável, facilitando
o aparecimento do fungo Essa situação foi também
registrada nas regiões Norte e Centro Sul do estado,
onde a doença configurou-se como uma epidemia, ou seja,
de ocorrência generalizada e alta agressividade, lembra
Claudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja que acompanha
os trabalho no estado. Por conta disso a produção
paranaense sofre uma frustração nas estimativas
iniciais de 12.2 milhões t. e fecha com 9.1 milhões
t. e produtividade de 39 sc/ha. Os estados de Goiás
e de Minas Gerais também enfrentaram ataque precoces
da ferrugem o que fez cair as estimativas iniciais da produção.
No caso dos agricultores goianos o clima foi o principal inimigo
com longos períodos de chuva e dias nublados. Muitos
relatos de produtores dão conta que os fungicidas não
tiveram a mesma eficácia dos anos anteriores para o
controle da ferrugem. Especula-se que a causa poderia ser
a seleção de população do fungo
resistente aos produtos, não havendo, no entanto, comprovação
para essa suposição, destaca DallAgnol.
A produção total foi de 6.6 milhões de
t. de soja para uma produtividade de 45 sc/ha.
Já os sojicultores de Minas Gerais, um dos primeiros
a registrar a ocorrência de focos da doença,
tiveram, como fato marcante da atual safra, o elevado número
de aplicações de fungicidas. Há relatos
de propriedade que chegaram a fazer cinco até sete
pulverizações, número bem acima da média
do estado que deve fechar entre duas e meia e três aplicações
de fungicidas. O volume de soja colhido nas cidades do triangulo
mineiro foi de 2.6 milhões t., com produtividade de
43 sc/ha.
A grande surpresa veio do Rio Grande do Sul. Após amargar
dois anos de péssimos resultados os produtores gaúchos
se recuperam marcaram a terceira maior safra do país,
8.3 milhões toneladas de soja. No estado a incidência
de ferrugem nas lavouras também foi bastante alta,
mas a severidade não foi considerada importante, com
exceção de algumas regiões. A produtividade
de 35 sacas por hectare ficou dentro da média histórica
da região fato que trouxe ainda mais alivio para os
agricultores, destaca o representante da Agroconsult.
Ferrugem
é causa de prejuízos
Desde
de 2002 a ferrugem asiática já acumula prejuízos
que chegam a 5 bilhões de dólares, atingindo,
direta ou indiretamente, todos os segmentos da cadeia da soja
no Brasil. Na parte dos produtores o efeito é sentido,
sobretudo, no aumento das aplicações de fungicidas
durante a safra, fato que reflete na já apertada margem
de lucro da atividade agrícola.
Só para se ter uma idéia o custo de cada aplicação
de fungicida é de cerca de US$ 30,00/ha. Se pegarmos
um cenário, que foi bastante comum este ano, de cinco
aplicações ao longo da safra, esse gasto já
sobe para US$ 150,00/ha. Na conversão, considerando
o dólar a R$ 2,14, da um valor de R$ 321,00. Isso só
com fungicidas. Na outra ponta da cadeia, o preço pago
pela saca de 60 quilos, nas principais praças de comércio
se manteve na casa dos R$ 15,00 a R$ 17,00. Isso vezes 16,6
sacas que totaliza uma tonelada, esse valor é na melhor
das hipóteses de R$ 282,00, ou seja, insuficiente até
mesmo para cobrir os gastos com pulverização.
A saída está na opinião dos especialistas
está primeiro na contensão imediata do problema
através de ações pontuais e regionalizadas.
Segundo é o desenvolvimento de novas variedades de
sementes resistentes ao fungo da ferrugem asiática.
As pesquisas, no entanto, apontam para uma solução
nesse sentido num prazo de cinco a dez anos. Como o
país não pode esperar tanto tempo para ver o
problema da ferrugem equacionado o negócio é
manter vigilância sobre a lavoura desde já, para
que na próxima safra o problema ocorra, mas em menor
intensidade, conclui DallAgnoll.
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