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MILHO - PROTEGER O SOLO PROTEGE A PRODUTIVIDADE
rev 98 - abril 2006

Assim, haverá um SPD mais estabilizado na medida em que o sistema de rotação adotado possibilitar a manutenção de uma camada de palha sobre o solo ao longo do tempo, e assim poderão ser conseguidos todos os benefícios dessa prática.

A quantidade e a qualidade da palha sobre a superfície do solo dependem do sistema de rotação adotado e, em grande parte, do tipo de planta de cobertura e do manejo que lhe é dado. Primeiramente, deve-se selecionar aquelas espécies com maior potencial para as condições locais, tomando-se por base a rapidez com que se estabelecem e as suas produções de fitomassa. Quanto mais rápido o estabelecimento, maiores os benefícios físicos advindos da cobertura na proteção do solo e na supressão de plantas daninhas.

A maior produção de fitomassa indica maior oferta de palha sobre o solo, podendo, ainda, dar uma idéia sobre a reciclagem de nutrientes, desde que se conheça o padrão de extração de nutrientes pela espécie selecionada.

De qualquer maneira, quando essas plantas são cultivadas após a cultura principal, o manejo da parte aérea deve ser retardado até pouco antes da cultura começar a produzir sementes viáveis, tomando-se o cuidado de não picar demasiadamente os resíduos, o que acelera a sua decomposição, e de distribuí-los o mais uniformemente possível sobre o solo.

Na escolha, deve ser levada em consideração, também, a disponibilidade de sementes, as condições do solo, a sua rusticidade, especialmente quanto à tolerância ao déficit hídrico, e a possibilidade de utilização comercial. Outro ponto de importância a ser observado é conhecer o potencial de elas serem hospedeiras de pragas e doenças. Assim, é possível alterná-las de tal modo que a cultura subseqüente não sofra prejuízos, pelo contrário, se beneficie das características favoráveis da cultura anterior.

Essas plantas devem possibilitar, ainda, um fácil manejo com a camada de palha formada, oferecendo pequena resistência aos componentes de corte das semeadoras, de tal modo que o plantio subseqüente possa ser realizado sem dificuldades operacionais.

A quantidade de palha sobre o solo e a uniformidade da sua distribuição podem servir de referência para uma avaliação preliminar sobre as condições nas quais o SPD está se desenvolvendo. O SPD deve ter pelo menos 50% da superfície do solo coberta com resíduos. Igualmente importante é a distribuição, a mais uniforme possível, dos resíduos sobre o solo. Dessa forma, maximizam-se os benefícios da cobertura do solo para o SPD. Por outro lado, a taxa de decomposição dos resíduos vegetais modifica a cobertura do solo ao longo do tempo, sendo importante o cultivo de plantas especializadas na produção de fitomassa, para incrementar a cobertura deixada pelas culturas produtoras de grãos.

Na região Sul, devido às condições climáticas, com inverno mais frio e melhor distribuição de chuva, é possível manter, com maior facilidade, uma cobertura adequada do solo com palha durante todo o ano. Esta é a principal característica que a diferencia da região dos Cerrados, onde o inverno seco inviabiliza a produção das culturas em condições de sequeiro. Desse modo, o estabelecimento de uma cobertura do solo com plantas semeadas para essa finalidade, em março ou abril, constitui o maior desafio para o SPD na região dos Cerrados e adjacência. Soma-se a isto o fato de que as condições climáticas da primavera-verão condicionam uma alta taxa de decomposição desse material, de tal sorte que a cobertura do solo é reduzida rapidamente, devendo haver um aporte constante desse material ao solo. Em razão disso, o sistema de rotação de culturas é de fundamental importância como mecanismo para aumentar a taxa de cobertura do solo. O sistema mais usado é soja-milho, em que a soja fornece menor quantidade de resíduos de rápida decomposição, ao passo que os restos culturais do milho são em maior quantidade e de maior persistência como cobertura. Dessa forma, plantas de cobertura devem ser introduzidas no sistema, com o objetivo de aumentar a oferta de palha sobre a superfície.

O modelo ideal de planta de cobertura para essa condição seria aquele que apresentasse alta produção de fitomassa com alta taxa de absorção de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo; alta tolerância ao déficit hídrico, às pragas e doenças; com efeito alelopático sobre as plantas daninhas; de fácil estabelecimento e controle; baixa taxa de decomposição e, ainda, alto valor agregado. Impossível reunir todas essas qualidades em apenas uma espécie, o que leva ao raciocínio lógico da necessidade de ser usada mais de uma espécie, sendo que uma irá procurar suprir a deficiência de outra em algum quesito, além de incrementar a diversificação da rotação e da sucessão de culturas.

Exceto na região Sul, onde é possível o cultivo de culturas de verão e de inverno, nas demais regiões, na busca de maior cobertura de solo, algumas alternativas se sobressaem como estratégias para o cultivo das mesmas, visando ainda, um menor grau de interferência sobre o rendimento da cultura principal. Dentre essas alternativas, sobressaem o cultivo antecipado da cultura de cobertura, cultivo em sucessão à cultura principal, a sobressemeadura e o cultivo de safrinha ou segunda safra.

O cultivo antecipado da cultura de cobertura é conhecido regionalmente como plantio no pó, plantio no cedo ou plantio na poeira, e é usado principalmente naquelas regiões onde o período chuvoso se inicia mais cedo. Nesse sistema, busca-se antecipar o plantio da cultura de cobertura às primeiras chuvas, objetivando o estabelecimento das mesmas. O plantio pode-se dar em linha ou a lanço, com acréscimo de 30% na quantidade de sementes. A fitomassa produzida é dessecada na época mais adequada, de tal modo que o plantio da cultura principal não seja prejudicado, havendo a possibilidade de se retardar esse plantio com vistas à maior produção de fitomassa da cultura de cobertura. Geralmente, para a cultura principal, é dada preferência a cultivares de ciclo tardio, para que se mantenham por mais tempo culturas estabelecidas, promovendo a cobertura do solo, e que entrariam somente mais tarde num processo de decomposição, após a colheita, quando as condições de mineralização são menos favoráveis.

No cultivo em sucessão à cultura principal é importante que a cultura principal seja instalada o mais cedo possível e que esta seja de ciclo precoce, para que o plantio, na sucessão, das plantas de cobertura, seja feito quando ainda houver possibilidade de eventos de chuva, de tal modo que elas se estabeleçam. Outro fator importante a ser considerado é a escolha da espécie, devendo ser dada preferência àquelas de maior tolerância ao déficit hídrico.

Nesse particular, destacam-se o milheto e o sorgo, dentre as gramíneas, e o guandu, dentre as leguminosas. Há uma expectativa de que essas plantas possam ser utilizadas como forrageira ou na produção de sementes, como forma de reduzir os custos de produção, sendo os seus resíduos destinados à formação de palha. Essa prática, entretanto, deve ser implementada como regra quando já houver uma camada de palha sobre o solo, pois, caso contrário, corre-se o risco da quantidade de palha não ser suficiente para proporcionar as condições mínimas para um adequado desenvolvimento do sistema.

A sobressemeadura, que, embora usada em menor escala, mostra-se como uma possibilidade para se tentar aumentar o aporte de palha ao solo. Ela consiste no lançamento das sementes ao solo, quando ainda existe outra cultura estabelecida na área. Esta prática tem sido feita na cultura da soja, quando esta se apresenta no início do período de amarelecimento das folhas, e na cultura do milho, no enchimento dos grãos, usando principalmente o milheto, mas o sorgo é também usado e há outras espécies que se prestam a essa prática. Com isto, busca-se a germinação e o estabelecimento das plantas no período de maturação e pós-colheita da soja ou do milho, quando ainda há umidade no solo. O consumo de sementes nessa modalidade é aproximadamente o dobro daquele utilizado no semeio em linha.

O cultivo de safrinha ou segunda safra naquelas regiões onde as chuvas se estendem por um maior período, havendo condições para que seja cultivada uma segunda cultura, visando principalmente a produção de grãos. Nesse sistema, além da produção comercial, haverá oferta de quantidade apreciável de palha, que em muito incrementará a palhada total sobre a superfície do solo. Existem muitas opções de espécies para o cultivo na safrinha, de tal modo que a escolha da espécie e da cultivar deve recair sobre aquela que apresentar maior vantagem comparativa, levando-se em consideração o destino da produção e as condições ambientais para a sua produção.

Existem variações aos modelos apresentados acima, como forma de adaptação a uma situação em especial; entretanto, cabe destacar o plantio direto com pousio de inverno ou plantio direto no mato como sendo aquele que deve ser evitado a todo custo, pois é de baixa qualidade tanto como sistema de manejo quanto ao aporte de palha no solo. Nele, após a colheita da cultura de verão, o solo permanece em pouso até o próximo verão. Nessa situação, há o crescimento de plantas daninhas, que, dessecadas no início da próxima estação de plantio, proporcionam uma determinada cobertura morta sobre o solo. Essa cobertura é extremamente variável em quantidade e qualidade, pois depende do tipo de plantas daninhas que infestam a área e de sua distribuição. Geralmente exigem operação adicionais, o consumo de herbicidas aumenta e a qualidade da palha é baixa, além de dar origem a uma palhada desuniforme.

Em grandes áreas do Brasil Central, está sendo configurada, nos últimos anos, a necessidade de estabelecer um melhor aproveitamento da época das águas. O produtor que aposta em safras mais produtivas opta por cultivos normais de milho e soja, limitando as suas possibilidades de semeadura de culturas de inverno pela drástica diminuição da água de chuva. Aquele que opta por cultivos precoces está colhendo até o final de março, dificultando de igual forma o sucesso da cultura em sucessão, visando a formação de palhada e uma remota probabilidade de produção de grãos. Esse quadro aponta para a sobresemeadura, seja via aviação agrícola ou trâmpulo alto, como prática que viabilize a formação de palhada, conservando o recurso natural (solo) e agregando renda ao produtor.

Outra possibilidade bastante viável para a manutenção do SPD é a rotação agricultura-pecuária, em que as pastagens, especialmente as braquiárias, têm-se mostrado bastante eficientes na manutenção da palhada, e a produção de grãos com seu aporte anual de fertilizantes e corretivos mantém as altas produtividades das pastagens.


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