A maior produção de fitomassa indica maior oferta
de palha sobre o solo, podendo, ainda, dar uma idéia
sobre a reciclagem de nutrientes, desde que se conheça
o padrão de extração de nutrientes pela
espécie selecionada.
De qualquer maneira, quando essas plantas são cultivadas
após a cultura principal, o manejo da parte aérea
deve ser retardado até pouco antes da cultura começar
a produzir sementes viáveis, tomando-se o cuidado de
não picar demasiadamente os resíduos, o que
acelera a sua decomposição, e de distribuí-los
o mais uniformemente possível sobre o solo.
Na escolha, deve ser levada em consideração,
também, a disponibilidade de sementes, as condições
do solo, a sua rusticidade, especialmente quanto à
tolerância ao déficit hídrico, e a possibilidade
de utilização comercial. Outro ponto de importância
a ser observado é conhecer o potencial de elas serem
hospedeiras de pragas e doenças. Assim, é possível
alterná-las de tal modo que a cultura subseqüente
não sofra prejuízos, pelo contrário,
se beneficie das características favoráveis
da cultura anterior.
Essas plantas devem possibilitar, ainda, um fácil manejo
com a camada de palha formada, oferecendo pequena resistência
aos componentes de corte das semeadoras, de tal modo que o
plantio subseqüente possa ser realizado sem dificuldades
operacionais.
A quantidade de palha sobre o solo e a uniformidade da sua
distribuição podem servir de referência
para uma avaliação preliminar sobre as condições
nas quais o SPD está se desenvolvendo. O SPD deve ter
pelo menos 50% da superfície do solo coberta com resíduos.
Igualmente importante é a distribuição,
a mais uniforme possível, dos resíduos sobre
o solo. Dessa forma, maximizam-se os benefícios da
cobertura do solo para o SPD. Por outro lado, a taxa de decomposição
dos resíduos vegetais modifica a cobertura do solo
ao longo do tempo, sendo importante o cultivo de plantas especializadas
na produção de fitomassa, para incrementar a
cobertura deixada pelas culturas produtoras de grãos.
Na região Sul, devido às condições
climáticas, com inverno mais frio e melhor distribuição
de chuva, é possível manter, com maior facilidade,
uma cobertura adequada do solo com palha durante todo o ano.
Esta é a principal característica que a diferencia
da região dos Cerrados, onde o inverno seco inviabiliza
a produção das culturas em condições
de sequeiro. Desse modo, o estabelecimento de uma cobertura
do solo com plantas semeadas para essa finalidade, em março
ou abril, constitui o maior desafio para o SPD na região
dos Cerrados e adjacência. Soma-se a isto o fato de
que as condições climáticas da primavera-verão
condicionam uma alta taxa de decomposição desse
material, de tal sorte que a cobertura do solo é reduzida
rapidamente, devendo haver um aporte constante desse material
ao solo. Em razão disso, o sistema de rotação
de culturas é de fundamental importância como
mecanismo para aumentar a taxa de cobertura do solo. O sistema
mais usado é soja-milho, em que a soja fornece menor
quantidade de resíduos de rápida decomposição,
ao passo que os restos culturais do milho são em maior
quantidade e de maior persistência como cobertura. Dessa
forma, plantas de cobertura devem ser introduzidas no sistema,
com o objetivo de aumentar a oferta de palha sobre a superfície.
O modelo ideal de planta de cobertura para essa condição
seria aquele que apresentasse alta produção
de fitomassa com alta taxa de absorção de nutrientes,
especialmente nitrogênio e fósforo; alta tolerância
ao déficit hídrico, às pragas e doenças;
com efeito alelopático sobre as plantas daninhas; de
fácil estabelecimento e controle; baixa taxa de decomposição
e, ainda, alto valor agregado. Impossível reunir todas
essas qualidades em apenas uma espécie, o que leva
ao raciocínio lógico da necessidade de ser usada
mais de uma espécie, sendo que uma irá procurar
suprir a deficiência de outra em algum quesito, além
de incrementar a diversificação da rotação
e da sucessão de culturas.
Exceto na região Sul, onde é possível
o cultivo de culturas de verão e de inverno, nas demais
regiões, na busca de maior cobertura de solo, algumas
alternativas se sobressaem como estratégias para o
cultivo das mesmas, visando ainda, um menor grau de interferência
sobre o rendimento da cultura principal. Dentre essas alternativas,
sobressaem o cultivo antecipado da cultura de cobertura, cultivo
em sucessão à cultura principal, a sobressemeadura
e o cultivo de safrinha ou segunda safra.
O cultivo antecipado da cultura de cobertura é conhecido
regionalmente como plantio no pó, plantio no cedo ou
plantio na poeira, e é usado principalmente naquelas
regiões onde o período chuvoso se inicia mais
cedo. Nesse sistema, busca-se antecipar o plantio da cultura
de cobertura às primeiras chuvas, objetivando o estabelecimento
das mesmas. O plantio pode-se dar em linha ou a lanço,
com acréscimo de 30% na quantidade de sementes. A fitomassa
produzida é dessecada na época mais adequada,
de tal modo que o plantio da cultura principal não
seja prejudicado, havendo a possibilidade de se retardar esse
plantio com vistas à maior produção de
fitomassa da cultura de cobertura. Geralmente, para a cultura
principal, é dada preferência a cultivares de
ciclo tardio, para que se mantenham por mais tempo culturas
estabelecidas, promovendo a cobertura do solo, e que entrariam
somente mais tarde num processo de decomposição,
após a colheita, quando as condições
de mineralização são menos favoráveis.
No cultivo em sucessão à cultura principal é
importante que a cultura principal seja instalada o mais cedo
possível e que esta seja de ciclo precoce, para que
o plantio, na sucessão, das plantas de cobertura, seja
feito quando ainda houver possibilidade de eventos de chuva,
de tal modo que elas se estabeleçam. Outro fator importante
a ser considerado é a escolha da espécie, devendo
ser dada preferência àquelas de maior tolerância
ao déficit hídrico.
Nesse particular, destacam-se o milheto e o sorgo, dentre
as gramíneas, e o guandu, dentre as leguminosas. Há
uma expectativa de que essas plantas possam ser utilizadas
como forrageira ou na produção de sementes,
como forma de reduzir os custos de produção,
sendo os seus resíduos destinados à formação
de palha. Essa prática, entretanto, deve ser implementada
como regra quando já houver uma camada de palha sobre
o solo, pois, caso contrário, corre-se o risco da quantidade
de palha não ser suficiente para proporcionar as condições
mínimas para um adequado desenvolvimento do sistema.
A sobressemeadura, que, embora usada em menor escala, mostra-se
como uma possibilidade para se tentar aumentar o aporte de
palha ao solo. Ela consiste no lançamento das sementes
ao solo, quando ainda existe outra cultura estabelecida na
área. Esta prática tem sido feita na cultura
da soja, quando esta se apresenta no início do período
de amarelecimento das folhas, e na cultura do milho, no enchimento
dos grãos, usando principalmente o milheto, mas o sorgo
é também usado e há outras espécies
que se prestam a essa prática. Com isto, busca-se a
germinação e o estabelecimento das plantas no
período de maturação e pós-colheita
da soja ou do milho, quando ainda há umidade no solo.
O consumo de sementes nessa modalidade é aproximadamente
o dobro daquele utilizado no semeio em linha.
O cultivo de safrinha ou segunda safra naquelas regiões
onde as chuvas se estendem por um maior período, havendo
condições para que seja cultivada uma segunda
cultura, visando principalmente a produção de
grãos. Nesse sistema, além da produção
comercial, haverá oferta de quantidade apreciável
de palha, que em muito incrementará a palhada total
sobre a superfície do solo. Existem muitas opções
de espécies para o cultivo na safrinha, de tal modo
que a escolha da espécie e da cultivar deve recair
sobre aquela que apresentar maior vantagem comparativa, levando-se
em consideração o destino da produção
e as condições ambientais para a sua produção.
Existem variações aos modelos apresentados acima,
como forma de adaptação a uma situação
em especial; entretanto, cabe destacar o plantio direto com
pousio de inverno ou plantio direto no mato como sendo aquele
que deve ser evitado a todo custo, pois é de baixa
qualidade tanto como sistema de manejo quanto ao aporte de
palha no solo. Nele, após a colheita da cultura de
verão, o solo permanece em pouso até o próximo
verão. Nessa situação, há o crescimento
de plantas daninhas, que, dessecadas no início da próxima
estação de plantio, proporcionam uma determinada
cobertura morta sobre o solo. Essa cobertura é extremamente
variável em quantidade e qualidade, pois depende do
tipo de plantas daninhas que infestam a área e de sua
distribuição. Geralmente exigem operação
adicionais, o consumo de herbicidas aumenta e a qualidade
da palha é baixa, além de dar origem a uma palhada
desuniforme.
Em grandes áreas do Brasil Central, está sendo
configurada, nos últimos anos, a necessidade de estabelecer
um melhor aproveitamento da época das águas.
O produtor que aposta em safras mais produtivas opta por cultivos
normais de milho e soja, limitando as suas possibilidades
de semeadura de culturas de inverno pela drástica diminuição
da água de chuva. Aquele que opta por cultivos precoces
está colhendo até o final de março, dificultando
de igual forma o sucesso da cultura em sucessão, visando
a formação de palhada e uma remota probabilidade
de produção de grãos. Esse quadro aponta
para a sobresemeadura, seja via aviação agrícola
ou trâmpulo alto, como prática que viabilize
a formação de palhada, conservando o recurso
natural (solo) e agregando renda ao produtor.
Outra possibilidade bastante viável para a manutenção
do SPD é a rotação agricultura-pecuária,
em que as pastagens, especialmente as braquiárias,
têm-se mostrado bastante eficientes na manutenção
da palhada, e a produção de grãos com
seu aporte anual de fertilizantes e corretivos mantém
as altas produtividades das pastagens.
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