Na
criação extensiva ou mesmo nos confinamentos
o risco dos animais serem acometido por uma verminose ou por
parasitas que agem externamente caso do carrapato, berne e
da mosca-dos-chifres é constante.
Sendo
assim o controle sistemático sobre o rebanho é
apontado como condição fundamental para a manutenção
dos índices de produção nas fazendas
de criação. Agora, uma pergunta que se faz recorrente
no campo é qual programa de controle sanitário
que oferece a melhor relação custo beneficio
ao produtor? Estudos realizados por empresas do setor e institutos
de pesquisa, mostram que na relação de custos
da propriedade o controle sanitário responde por 2%
a 4%, valor considerado irrisório pelos especialistas
para que o produtor negligencie a saúde dos seus animais.
Paulo Colla que é médico veterinário,
por acompanhar grandes projetos de criação pecuária,
fala que o primeiro passo para o produtor garantir um controle
sanitário eficiente no rebanho, não importa
o tamanho do projeto, é buscar o auxílio de
um médico veterinário. Isso porque o grande
objetivo de um controle estratégico no rebanho é
sempre a prevenção. Segundo ele, o tratamento
profilático é sempre muito mais barato do que
o curativo que demanda investimentos em tempo, mão-de-obra
e capital. O produtor deve se pautar pela prudência,
exclama o veterinário que aponta a falta de um trabalho
de extensão rural como o principal limitante para o
desenvolvimento de algas regiões.
O professor Romário Cerqueira Leite do departamento
de doenças parasitárias da escola de veterinária
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), comunga da
mesma opinião. Para ele depois que os animais já
estão apresentando sintomas não adianta mais
o criador correr atrás do prejuízo.
Nos últimos dois anos o pesquisador viajou por mais
de 15 estados brasileiros, que juntos representam mais de
70% do rebanho de corte do país, para participar de
simpósios e palestras sobre o protocolo 5,7,9
(referência aos meses do ano que se deve fazer a dosificações)
desenvolvido pela equipe do professor Ivo Biachim, do Centro
Nacional de Gado de Corte CNPGC, Embrapa Gado de Corte, de
Campo Grande, MS.
Há muito tempo o CNPGC desenvolve pesquisas nos rebanhos
da região do Brasil Central, com animais zebuínos
e mestiços (½ sangue zebu x taurino), para avaliar
qual a melhor relação custo benefício
na aplicação dos vermífugos, destaca
o professor. O resultado desse trabalho indica que o melhor
esquema de controle de helmintos, para animais zebuínos,
deve englobar o período seco do ano. A pesar das raças
européias apresentarem uma maior fragilidade ao ataque
desses agentes essa regra vale também para elas.
O professor da UFMG defende o controle estratégico
com três dosificações anuais fixas, uma
primeira no início da seca outra durante a seca e a
última no início das águas. Quanto ao
uso de outros protocolos ele acha que não é
certo abrir polêmica quanto à eficácia
de um ou de outro, pois o Brasil possui uma indústria
farmacêutica séria e por isso o criador precisa
mesmo é se preocupar com os medicamentos de procedência
duvidosa (piratas).
Ambos os especialistas concordam que um controle sobre os
parasitas depende de um estudo sobre as condições
endêmicas que envolvem a propriedade. Não existe,
nem pode existir, um calendário sanitário engessado
pela resistência que esses agentes criam sobre o princípio
ativo dos medicamentos. Seria muita pretensão
achar que é possível erradicar espécies
que povoam a terra, muito antes do homem se quer existir.
Os estudos sobre epidemiologia devem respeitar as variações
climáticas, aporte de vermes nos animais, através
de exames laboratoriais, além do índice das
populações que vivem no ambiente. Esse último
caso pode ser determinante para o controle das infestações
no rebanho já que apenas 5% dos vermes chegam a parasitar
o animal. O restante ou fica nas pastagens ou retornam a ela
junto com as fezes dos animais infestados. O exame de OPG
(exame de fezes) deve ser feito pelo menos a cada dois meses
no rebanho. O professor da UFMG mostra que para se evitar
gastos desnecessários o exame por amostragem é
mais indicado. Uma forma de fazer isso é passar um
lote pelo tronco e a cada dez animais pegar amostra de um.
Isso vai possibilitar se ter um índice por amostragem
bastante significativo para identificar a espécie e
o grau de infestação.
Além desse controle é indicado também
que o pecuarista faça dosificações estratégicas
nos bezerros, a partir da desmama, e nas vacas na fase do
periparto. No primeiro caso essa dosagem é importante
para evitar a mortalidade precoce dos bezerros causada por
vermes que parasitam o sistema gastro-intestinal. Já
no segundo o risco não está tanto na perda do
animal e sim no risco de infestação pela perda
de imunidade comum nas vacas depois da gestação.
Segundo Leite, uma vaca adulta defeca cerca de 10% do seu
peso por dia. Ou seja, uma vaca adulta que pesa cerca de 500
quilos libera no pasto 50 quilos de fezes diariamente o que,
nos casos de infestação, pode significar um
grande risco de contaminação ambiental.
As perdas dependem da espécie. Por isso é importante
que se faça a análise epidemiológica
da propriedade. Quanto ao uso dos medicamentos, é importante
que o pecuarista encare esse custo como investimento, insumo
de produção, que vai lhe trazer retorno lá
na frente. O problema é a cultura do pecuarista brasileiro
de ainda olhar esses produtos como remédio, destaca.
O
dia-a-dia das fazendas
No
campo prático ainda são comuns as perdas precoces
de animais nos rebanhos por problemas causados por verminoses
ou por decorrência das chamadas doenças oportunistas
que acometem os animais debilitados. E a melhor forma de se
medir a gravidade do problema é acompanhar os índices
zootécnicos comparando a pecuária comum daquela
pratica com uso de tecnologias na sua gestão. Os índices
de mortalidade do rebanho até a desmama, por exemplo.
Na média nacional o índice gira entre 8% e 10%.
Esse número nas propriedades que fazem uso do controle
estratégico de pragas e doenças cai para 2%.
Outro número que funciona como indicativo da importância
dessas ferramentas para o produtor aumentar o giro da fazenda
é o índice de fertilidade do plantel. Em muitas
regiões do Brasil as fêmeas dão a primeira
cria somente aos 48 meses. Em muitas fazendas que usam alta
tecnificação esse tempo já foi reduzido
pela metade para os 24 meses, com uma taxa de prenhes superior
a 85%. A redução na idade abate dos quase 50
meses para 18 a 20 meses é outra conquista da pecuária
moderna. Isso já possibilita para as propriedades apresentarem
taxas de desfrute superior a 40% o que na pratica significa
maior rentabilidade para o negócio do criador. Na fazenda
Shangrilá, de Piraju, SP, o criador Marcos Graça,
mantém um controle sanitário para seu plantel
de 180 animais Santa Gertrudis PO (elite) e 120 animais ½
sangue (comercial) com tudo que tem direito. Marcos fala que
para ele o bem estar dos seus animais vem em primeiro lugar.
O protocolo seguido na fazenda segue as três vermifugações
fixas para os animais no pós desmama, além das
dosagens extras, feitas em períodos considerados críticos
na vida dos animais.
Segundo Graça a preocupação é
sempre com os parasitas externos, principalmente carrapatos
e bernes, uma vez que o criador não tem problema com
a mosca-dos-chifres. Ele explica que, o amplo espectro dos
medicamentos usados no controle, permite que o controle sobre
as verminoses seja feito de tabela. O gasto atual na fazenda
com a sanidade do rebanho de matrizes comerciais é
de R$ 40,00. Isso inclui as duas vacinas de uso obrigatório
contra febre Aftosa, duas contra Raivas e duas contra Carbúnculo
Sintomático, causador da manqueira. No rebanho elite
o criador segue um protocolo adicional que eleva esse valor
para mais de R$ 120,00, valor gasto com vacinas reprodutivas
e outras aplicações extras de medicamentos.
A primeira dose é feita no bezerro até 24 horas
depois do parto junto com a pesagem a trato do umbigo. A segunda
aplicação acontece na ocasião da segunda
pesagem aos 120 dias e depois somente na ocasião da
desmama o que totaliza três vermifugações.
A partir daí segue o calendário de três
aplicações por ano até a fase do abate,
explica Graça. No rebanho PO o intervalor diminui um
pouco. Os bezerros recebem também as aplicações
de segurança até 48 horas após o parto
e depois são vermifugados a cada 60 dias até
os 18 meses. Esse custo o criador diz não contabilizar
por que os animais de pista são um hobby.
Na avaliação do consultor Mauricio Palma Nogueira,
da Scot Consultoria a relação custo benefício
para os pecuaristas que usam tecnologia é sempre positiva.
Palma mostra a importância mercadológica do controle
sanitário numa amostragem que pega os números
do setor de 1995 até 2005. Nesses dez anos o rebanho
passou de 158 milhões de cabeças para 191 milhões,
crescimento de 20,89%. Os abates, em milhões de cabeças,
cresceram 54,68% de 27,54 milhões para 42,6 milhões.
A produção de carne por tonelada também
cresceu passando de 6,1 milhões de toneladas para 9,7
milhões de toneladas, mostrando, inclusive, que houve
aumento na produtividade, o que significa animais sendo abatidos
mais pesados.
De acordo com o consultor na outra ponta está o criador
muitas vezes esse tipo de informação não
chega e quando chega não esclarece todas as dúvidas.
E como quem paga a conta é o pecuarista é importante
que esse trabalho de levar tecnologia para o campo seja mais
pragmático por que se não tiver ganho o produtor
não faz. É preciso desmistificar na cabeça
do criador que comprar medicamento veterinário não
causa de problema na propriedade,conclui Palma.
|